27 novembro 2006

Atrofio de final de dia




Encalhada no trânsito ou encalhada na vida? Boa pergunta. Porra, quero chegar a casa, raisparta a vida, maldita a hora em que troquei o mar por este projecto mal amanhado de cidade. Odeio Novembro, mês aziago, ainda não é natal e já tenho que levar com os cartazes a lembrarem-me que tenho que fazer as incortonáveis compras e eu que odeio lojas e tudo o que seja superfície comercial. E a chuva e o temporal dos últimos dias? Goteiras por todo o lado, a roupa que não seca. E a casa? Ui, que belo pandemónio. Xiça, dor-de-cabeça agora, onde é que está o paracetamol (a porra do ibuprofeno lixa-me o estômago). Este carro parece um cemitério de garrafas vazias, deve haver aí alguma que tenha água, se é que um novo ciclo de vida não se iniciou já dentro dela. Quero lá saber, o-que-não-mata-engorda. Tenho fome, não me apetece cozinhar, não fui às compras, tenho um buraco no estômago, pastilha, é isso. É melhor comer duas. Porra, acabaram-se as pastilhas. Onde é que estão os cigarros? Bib-bip, sms? (quem será). Só me faltava esta agora. Só me faltava esta agora. Só me faltava esta agora. Não era esta a estrada que eu queria, não era esta a cidade que eu queria, não era esta a vida que eu queria.
Há algo de fundamentalmente errado nisto tudo.
Está na altura de me fazer à estrada de novo.

11 comentários:

Anónimo disse...

Mas que vida tao frenética!!
O reboliço da vida citadina realmente deixa qualquer um fora de si!
Ore se vê pessoas 'prá esquerda, ora pessoas 'prá direita! Ufa! Até cansa de ver! E sempre com a sua típica e inconfundível pressa!
Ou pa comprar presentes ou pa ir às compras, ou pa ir a qualquer lado!
Tanta pressa que até irrita! APRE!!

=S

Anónimo disse...

e há algo de fundamentalmente certo nesta posta.
ele há dias assim.
no entanto, cuidado com as estradas que por vezes também não passam apenas de sereias sedutoras..

Anónimo disse...

às vezes a aventura é mesmo ficar.

Eu já me fiz à estrada muitas vezes, mas nunca para fugir de nada. Porque por muito que se corra, há coisas das quais não nos livramos. Essas há que enfrentar e esperar pelo melhor.

Ainda ontem fui obrigada a uma reflexão sobre escolhas recentes. Escolhi fazer-me à estrada e dois anos depois ainda não tenho a certeza que tenha sido a escolha correcta. Tenho de saber viver com isso.

8 e coisa 9 e tal disse...

anónima (maria!),

é, de facto, irritante a pressa urbana, parafraseando-te: APRE! continua aí à beira-mar plantada.


o chofer a dançar com a criada,

sim, sim eu sei o q são essas estradas 'sedutoras'. afinal andei em 'contra-mão' tantos anos... não é verdade q não me arrependa de nada. mas as estradas estão percorridas e contra isso, batatas!

no baile da d. ester,

sempre alerta, sempre atenta (como as guias, certo?)!racionalmente sei muito bem que a grande aventura consiste em ficar. mas há dias assim. ou não?

pirata,

eu sou uma corsária, escafandrista, estrela do mar e tudo o q mais q quiser associar ao mar. disso nunca duvide. viu o filme do fellini, 'e la nave va', viu? (depois conversamos)

qual era a frase q proporia, alternativamente ao 'tenho de me fazer à estrada' (sim, é uma tradução directa do 'i gotta hit the road', kerouacs e quejandos). mas pareceu-me apropriadada.

a imagem a passear consigo de boné debaixo do braço salvou-me o dia! :)))

a todos, SALVE!
passou-me o atrofio. Essa é que é essa.

Anónimo disse...

a mim salvou-me o dia imaginar-te a ti a passeares com o pirata de boné debaixo do braço...

bem hajam, hehehe

Anónimo disse...

Querida, isso é um mal q qcontece a muitos e muitas q regressam daqueles caprichosos brinquedos vulcânicos mergulhados no meio do Oceano Atlântico. sempre q retorno dos Açores tenho uma neura do género. será coincidência? Como diz o provérbio, não há bela sem senão.
Eu cá por mim gostaria muito q te arrumasses por aqui perto, mas se tiveres mesmo q te fazer à estrada ide-vos com saúde e que ninguém se magoe.. mas deixa un poquito para nosoutras (orienta aí um corrector de portunhol, ó Celina!
Saudades tuas.

Anónimo disse...

o boné era na mão meninas... talvez como quem tira o chapéu, em sinal de boa educação

mas pirata, fazer-se à vida não é o mesmo que fazer-se à estrada. E sempre houve em Portugal que se fizesse ao mar. E à estrada, claro está, que não somos só umas ilhas. Lá pq a beat generation generalizou o tema on the road não quer dizer que não existisse antes. Eles descreveram-no como um estilo de vida. Antes havia os hobos lá pelos USA. OS que aqui havia nem nome tinham. Ou tinham?

Anónimo disse...

tum tum, água!! a personalidade multipla tem destas coisas, e as angustias do ir e do ficar exponenciam-se aqui pelas bandas desta trintona.

Oito e coisa, leio isto, e leio-me também, com excepção do paracetamol, claro, se ainda fosse propolis ou coisa que o valha...

SE eu vou lá não fico aqui se fico aqui não vou lá, e quando vamos ou ficamos a nossa sombra anda sempre atrás de nós, a sacana!

Não concordo que ficar seja a grande aventura, assim como reconheço que o ir pode às vezes não passar de uma ilusão. Ir ou ficar não é a questão, o que de facto importa é o projecto de vida que se vai perseguindo e que vai sendo diferente ao longo da vida.

E se a campainha que diz "faz-te à estrada"(ou ao caminho, ao sendero, ao trilho, uatever), aparece muitas vezes e fora dos dias de neura, então... faz caso!

Anónimo disse...

mas os dias de não neura são só o prelúdio dos dias de neura que vêm aí...desconfia-se logo....que belo dia este..belo dia??..será mesmo?..e se não for?...aaaiiiiiiiiii...e tumba, lá está a neura outra vez..

Anónimo disse...

Toma lá para a neura :

Serradura

A minha vida sentou-se
E não há quem a levante,
Que desde o Poente ao Levante
A minha vida fartou-se.

E ei-la, a mona, lá está,
Estendida, a perna traçada,
No indindável sofá
Da minha Alma estofada.

Pois é assim: a minha Alma
Outrora a sonhar de Rússias,
Espapaçou-se de calma,
E hoje sonha só pelúcias.

Vai aos Cafés, pede um bock,
Lê o "Matin" de castigo,
E não há nenhum remoque
Que a regresse ao Oiro antigo:

Dentro de mim é um fardo
Que não pesa, mas que maça:
O zumbido dum moscardo,
Ou comichão que não passa.

Folhetim da "Capital"
Pelo nosso Júlio Dantas ---
Ou qualquer coisa entre tantas
Duma antipatia igual...

O raio já bebe vinho,
Coisa que nunca fazia,
E fuma o seu cigarrinho
Em plena burocracia!...

Qualquer dia, pela certa,
Quando eu mal me precate,
É capaz dum disparate,
Se encontra a porta aberta...

Isto assim não pode ser...
Mas como achar um remédio?
--- Pra acabar este intermédio
Lembrei-me de endoidecer:

O que era fácil --- partindo
Os móveis do meu hotel,
Ou para a rua saindo
De barrete de papel

A gritar "Viva a Alemanha"...
Mas a minha Alma, em verdade,
Não merece tal façanha,
Tal prova de lealdade...

Vou deixá-la --- decidido ---
No lavabo dum Café,
Como um anel esquecido.
É um fim mais raffiné.

Mário de Sá-Carneiro

8 e coisa 9 e tal disse...

pirata,

já a minha mãe dizia 'ó ... és uma sonhadora!' (ela ia mais longe e dizia 'fantasista'). pois sou, e isso se calhar reflecte-se no q digo e no q escrevo.

aprecio as sugestões (olhe q pensei nelas!), mas 'fazer-me à vida ou 'ir à vida' não me parece expressão adequada para designar aquilo q estava a sentir naquele momento. a estrada era uma metáfora utilizada naquele contexto e a vida - como metáfora alternativa - não a substitui eficazmente. se é importada dos U.S of A, tant pis. Diariamente importamos referências daqui e dali, nacionais ou estrangeiras. os processos de impregnação cultural são assim mesmo, vamos absorvendo aquilo q para nós faz sentido.

gosto da estética da beat generation, li os autores e tenho um fascínio especial por estradas e viagens. lá por ter nascido neste canto à beira-mar plantado, não vou entrar em esquemas de linguagem/pensamento redutores só pq eles não estão culturalmente indexados à minha língua-mãe. mas prezo a língua de Camões e sou uma acérrima defensora da mesma.

no baile da d. ester,

eu e a outra múltipla percebemos a intenção do pirata e o boné em na mão em sinal de respeito. só que a imagem fez-nos sorrir, o q queres?
'fazer-me ao mar', hummm...

tumtum,

haja saúde para nos fazermos à estrada (presumo q o corrector não fosse p mim)!

seteepicos,

se calhar é melhor começar, como dizes, a fazer caso (desses múltiplos dias de neura).

o chofer a dançar com a criada,

nesses dias dias de neura proponho-te um passeio com o pirata de boné na mão (ontem salvou-nos o dia, amanhã pq não? isto se ele estiver p aí virado, claro).

poet-bomber,

hehehe! já cá faltavas.