31 maio 2006



Estou mesmo a precisar
de uma injecção
de essência de rosas.
Coisas que são difíceis de dizer quando se está com os copos
a) inovador
b) preliminar
c) proliferação
d) sensação

Coisas que são MUITO difíceis de dizer quando se está com os copos
a) especificidade
b) anticonstitucional
c) invertebrado
d) transubstanciação

Coisas que são ABSOLUTAMENTE IMPOSSÍVEIS de dizer quando se está com os copos
a) Obrigado, mas não quero ir para a cama contigo
b) Não bebo mais álcool esta noite
c) Sinto muito, mas não és o meu género
d) Não me apetece nada ir comer qualquer coisa às roulottes
e) Boa noite Sr. Agente, está uma linda noite não está?
f) Nem vou discutir contigo
g) Oh não, não posso – ninguém está interessado em ouvir-me cantar
h) Obrigado, mas nem vou tentar dançar. Não tenho a menor coordenação psico-motora e odiaria fazer figura de parva
i) Onde é que é a casa de banho? Recuso-me a vomitar no meio da rua!
Não dormi em casa esta noite. Como presente de regresso tinha estourado metade do quadro da electricidade, o frigorifico estava desligado desde ontem e os gatos miavam como se lhes tivessem arrancado respectivamente o baço e o fígado pelo nariz na minha ausência.

Para me divertir tinha de manhã reunião no banco para fazer seguro da casa e seguro de vida por causa do empréstimo que vou pedir para a linda casa que quero comprar (que estranho ter de definir quantos milhares de euros penso que valha a minha vida no caso de morte ou invalidez permanente), e tinha que fazer quilos de fotocópias para a mediadora que está a tratar da burocracia da dita (thank heavens for little mediadoras).

Descobri que ser adulto significa ter reuniões, fazer declarações de impostos, rubricar páginas e assinar a última, ser tratada por sôtora, marcar almoços com os colegas de curso em vez de jantaradas na feira popular e ter de actualizar uma agenda com os números do canalizador, electricista e mestre de obras. Para que raio tinha tanta pressa?!


Como seria eu se fosse homem?

Vi o filme "tudo sobre a minha mãe" do almodovar e dei por mim a pensar nisto. Acho que se fosse homem gostava de inventar novas masculinidades, talvez da mesma forma que tento inventar outras formas de ser mulher. Não sei se usaria o cabelo comprido ou curto e oxalá esta decisão estivesse só dependente da forma da minha cara e não da pressão social de me chamarem de uma forma pejorativa “maricas” ou de uma empresa que me dissesse que o meu cabelo estava directamente relacionado com o meu emprego, assim como a minha gravata. Talvez usasse colares e pulseiras, são objectos tão bonitos... Continuaria a ser pela não violência e pelo diálogo como a única forma possível para resolver problemas. Mas talvez a pergunta não seja por pensar como é o outro sexo mas por pensar mais além do corpo nu, onde os genitais e a orientação sexual não sejam referências que nos aprisionem mas que nos façam possíveis.
...

Talvez se pudesse ser alguma coisa diferente daquilo que sou gostasse mais de ser um elfo, tocar guitarra eléctrica e ser maga, mais além do sexo mas sem deixar de ser sexuad@.

30 maio 2006

Devo dizer que hoje acordei sentindo-me assaltada pela maldita metáfora. Por isso, quando ao espelho da casa de banho, enquanto a água escorria fresca em cascata, olhei o meu amor que passava por trás de mim de caminho, não duvidei a estranheza na sua expressão ao reconhecer somente a semelhança entre mim e a outra.
De qualquer forma, não baixei as armas, nem sequer em sentido figurado.

Porque haveria? Escolhi olhar as coisas pelo seu lado positivo e deixar que o meu amor me pudesse trair o dia inteiro com a outra de mim. Considerei aquilo como um belo presente, uma forma inquestionável de demonstração do meu carinho por ele. Além disso apetecia-me realmente poder sair de casa para ir encontrar-me com a minha amiga hipérbole, que tem o condão de me conseguir fazer sempre sentir melhor.

A rose is a rose is a rose is a rose

Todos temos múltiplas personalidades, a única diferença é que eu o admito e outros não. Outros vivem na ilusão de serem pessoas estruturadas, regidas por um plano de acção, mesmo que tortuoso mas claro, dentro de uma qualquer lógica interna tantas vezes invisível para os outros.

Eu não. Eu sou eu e sou a outra e a outra e a outra, que é ao mesmo tempo eu. Dissociável e indissociável, única porque múltipla.

É essa a minha riqueza e a minha desgraça.

Que fazer quando eu não estou de acordo comigo? Que faço quando quero caminhos que não me agradam?

Se me mato, morrem também as outras que eu sou. Qual de nós está registada como pessoa? Qual de nós fará a estatística oficial?

Todas as pessoas têm um segredo

Todas as pessoas têm um segredo. Todas as pessoas têm muitos segredos. Dou por mim a descobrir-te, és afinal uma pessoa como todas as outras. Nem mais nem menos. A diferença que te separa dos outros é afinal uma coisa minha, o meu amor por ti, estranha vertigem e vício que me prende a ti. Nessa vertigem cabe uma outra, cujos efeitos em mim são mortais: a de descobrir que não sou única, que é impossível que o seja, e que me leva a olhar-te e à maneira como te mexes no mundo para encontrar vestígios, indícios, provas de que sou uma mulher como tantas outras. Encontro-os ou acho que os encontro e morro um bocadinho, o chão desaparece e eu fico a pairar, silenciosa e triste.

Hoje sinto-me assim. Esbelta, estilizada, como se tivesse saido numa capa de revista. Talvez seja a influência do massacre da publicidade de produtos de dieta, anticeluliticos e beleza rápida em menos de 10 dias com que começei a ser invadida agora que começou o verão. Ignoro os pneus da michelin que insistem em fazer parte da minha figura e deixo que a publicidade actue por osmose, só por osmose. E tenho a certeza que na minha outra vida no século XVI já fui uma reconhecida modelo de beleza.
E se uma pessoa com personalidade múltipla resolver suicidar-se?
Será considerado que essa pessoa cometeu homícidio?
uma questão a explorar...

Oito e coisa nove e tal



Faltou a luz e gerou-se
A confusão natural
E a Locas encontrou-se
Nos braços do Amaral
Logo esta grita aflita:
Acendam o castiçal!

Eram pr'aí sete e pico
Oito e coisa nove e tal
Eram pr'aí sete e pico
Oito e coisa nove e tal

http://mafras.no.sapo.pt/mp3/109.mp3