31 maio 2009

Sobre sexo com mulheres mais velhas

'They don't tell, they don't smell and they're grateful as hell'

Ainda não sei se qual dos atributos me incomoda mais. De qualquer forma, pouco importa porque quem me contou isto não o voltará a repetir. A ninguém.

A propósito de multiplicação

"Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma."

"O que é preciso é cada um multiplicar-se por si próprio."

"O desdobramento do eu é um fenómeno em grande número dos casos de masturbação."

(Pensamentos de Fernando Pessoa in Caderno Assírio e Alvim, oferta da minha amiga P.)

Caderneta do 8 e coisa

A fotogénica fotógrafa que parte guitarras em cima do palco. A miúda tranquila dos olhos bonitos. A perita em etiqueta do humor corrosivo. A optimista das muitas causas e dos coentros sempre à mão. A conservadora que atura um bando de perigosas esquerdalhas. A irónica provocadora das frases curtas. A mãe de família que é contra o casamento. A susceptível da cultura enciclopédica. A executiva que atravessa o mundo e fala japonês. A desenhadora que tem um sopro no coração. A impaciente que fotografa as restantes.

(obrigada, dorean, pela sugestão)

30 maio 2009

Personalidade múltipla

direitos reservados

Três


Mil e noventa e seis dias depois, ainda aqui estamos.
Parabéns a nós!

29 maio 2009

Última Hora

téu..téu.. téutéutéu... Interrompemos a emissão para notícias sobre a actualidade económica mundial:



e pronto,

A jorna está feita. beijinhos e abraços que vou de fim-de-semana!

28 maio 2009

Alguém me ajude

Alguém me ajude a perceber por que razão as separações por vontade dos homens implicam sempre a existência de outra pessoa. Os homens não são capazes de sair de um amor por si mesmos?

27 maio 2009

é irritante

ler uma conclusão que começa com "Em ordem a evitar uma situação (...)" ou é só o meu mau feitio?...

A morte de Ofélia

hoje irá morrer Ófelia no meio do seu sono profundo. viveu 84 anos.

tinha mau feitio e era teimosa. foi sempre a minha companhia nocturna de whisky e poesia existencialista escrita à janela do meu quarto, das leituras pela noite dentro, dos trabalhos a tinta da china fora de horas e dos eternos cigarros.

viveu 17 anos 12 dos quais na minha companhia, até que saí daquela casa que era tão dela como minha.

Ofélia! Ofélia!

obrigada pela amizade silenciosa que foi tão importante para mim.

26 maio 2009

Migalhinhas

É impressionante o quanto as pessoas auto-devassam a sua vida privada no ciber-espaço. Usando apenas o facebook, o linkedin, o blogger e o tweeter fiquei a descobrir:
1. Que o João (nome fictício), divorciado, que mantém há quase dois anos uma relação estável com uma mulher mais velha, continua a enganá-la com uma outra com metade da idade, sem que nenhuma saiba da outra;
2. Que a Maria (nome fictício), casada, conheceu, nas nano-férias que tirou com as amigas a aproveitar o 1º de Maio, um novo amor, que tem um cão - um labrador dourado chamado Spock- e uma família linda com dois rapazes e uma recém nascida, iguais a ele;
3. Que a Ana (nome fictício) que trabalha no gabinete ao lado do meu anda à procura de um novo emprego porque, aparentemente, se envolveu com o colega Jaime (nome fictício) e foi trocada por outra - que comenta afectuosamente todos os posts que o Jaime debita;
4. Que a Cristina (nome fictício), quarentona, não conseguiu esquecer o Manuel (nome fictício) e que lhe manda, todas as semanas, 'hugs', 'cuddles', 'hearts' e e-postais, desconhecendo que a mulher dele os consegue ler;
5. Que o Zé (nome fictício) é guitarrista numa banda de covers e costuma actuar num certo bar, todas as quintas, e que não deve trabalhar às sextas, pelo volume de mensagens, posts, updates e comentários que 'uploada' durante esse dia;
6. Que o Jorge (nome fictício) almoça das 13.00 as 15.00 e que deve ter sido deixado pela mulher, pois passou a aceder aos sites de interacção social a partir das 11.30 da noite e a fazer parte de uma série de grupos para solteiros, singles, divorciados, 'procuradores de companhia' e afins.
7. Que a Patrícia (nome fictício) teve mais um bébé lindo, que o marido não gostou nem queria.

Tudo isto e muito mais. Para todos verem.

hoje errei

E o meu chefe disse: "não estava habituado. é bom ver que está mais humana". Fiquei sem saber se é bom ele ser mais simpático ou eu ser mais falível.

Bem me parecia

Michael C. Goodward, aqui

25 maio 2009

Não há seis sem sete

Desafio fio as minhas múltiplas a postarem na próxima segunda-feira, 1 de Junho: Embirrações é o tema. O resto é convosco.

Por detrás do espelho

Todos os dias abro o meu mail e vejo-te online. Não te digo nada, mas sei que te ligas porque um dia te pedi que o fizesses.
Vejo que mudaste a tua fotografia num site social qualquer, que sabes que frequento, no dia em que chegaste de férias. Noto, em plano de fundo o Guggenheim, que eu adoraria visitar, como te indiquei. Reparo também que agora és 'amigo virtual' de duas amigas minhas, sem saber muito bem de onde se conheceram.
Tenho saudades de andar de bicicleta; lembro-me dos vários sms que me enviaste a perguntar onde comprar uma e dos outros tantos que recebi na tentativa de combinarmos um passeio, que nunca aconteceu. Eu deixei de poder, tu disseste que tinhas pena, pois via-la abandonada a um canto todos os dias.

Continuas online. Como ontem, anteontem, e todos os outros dias. E eu não digo nada.

Queres ir almoçar fora de novo? Só tens de me prometer que não irás colocar a tua mão sobre a minha e acariciá-la com o teu polegar, nem dizer que eu estou bonita hoje, nem que quando eu quiser basta dizer que te tornarás disponível - 'volto a colocar-me no mercado' - porque eu não quero, não gosto e não vou ouvir, nem ver, nem imaginar o que há muito percebi que desejo mas não posso, ou melhor, não devo, ou ainda, não arrisco sequer, porque, no fundo sou uma cobarde de merda sem vontade de nada.

Nem tudo o que parece é

Uma noite qualquer na segunda vida. A minha boneca está num clube a dançar uma dança acrobática que me mataria em dez minutos. Só mesmo ali posso fazer uma mistura de ginástica rítmica e de um musical da broadway. Ao meu lado, uma amiga alemã explica-me as incríveis possibilidades do hipnotismo virtual. Uns minutos depois, junta-se a nós uma outra amiga, minha companheira de gargalhadas e aventuras e disparates. No meio da conversa, dou por mim a sorrir da estranheza da situação. Somos três acrobatas dançarinas na segunda vida. Na primeira, as minhas amigas são homens. Bem vindos a mais um dia no segundo mundo, onde quase nada do que parece é.

Espalhem a boa nova

Ela voltou.

24 maio 2009

1001 maneiras

Tentei cortar os pulsos, mas doia quando a faca penetrava na pele.
Depois pensei em comprimidos, só para descobrir que não tinha nenhuns em casa e a farmácia mais perto era longe demais. A injecção de ar, por não ter seringas em casa, também estava fora de questão.
Electrocussão, demasiadamente dramática; veículos em movimento ou saltos da janela do prédio demasiado espalhafatoso - um suicídio é, afinal, um acto íntimo e privado.
Afogamento na banheira parecia-me ridículo e ingestão de venenos, detergentes e afins, pouco saboroso.
Optei por sintonizar a RTP1 no festival da Eurovisão. A menina da Turquia paralisou-me com as suas ancas saltitantes e o tutu da Albanesa desferiu o golpe da misericordia.
Vejo-vos na próxima vida!

23 maio 2009

Bifidus activo


Preciso de comprar iogurtes! Escolho cuidadosamente os meus. Há-os de todos os sabores possíveis e imaginados, sozinhos ou misturados, líquidos, grossos, macios, ásperos, em boião de vidro ou plástico, de quinhentas mil formas e desenhos. Em qualquer hipermercado encontro corredores imensos, gigantescos, com uma iogurdiversidade explosiva e luxuriante, digna de qualquer anal, memorial ou compêndio. Tanta abundância, tanta ostentação, tanto possível desperdício, tanta liberdade que me oferecem para escolher os meus iogurtes, e tão pouca aquela que tenho para poder determinar e apreciar o tempo em que não estou sujeita ao lastre da empresa onde passo tanto do meu tempo, e que me evidencia constantemente o quão dispensável e inseguro é o meu trabalho e me faz agradecer a sorte que tenho por trabalhar cada vez mais horas por dia e poder descansar 2 generosos minutos para degustar o liquido branco redentor com todos os produtos alquimicos necessários terminados em azzze, em zzuum, ttuum, iiidiis e iiddus que me protegem dos vírus, bactérias, doenças e cancros e garantem eficazmente a minha saúde, bebe saúde, bebe alegria, bebe liberdade. Companhia de vida de duração limitada, muito boa tarde, fala a precária nº 425 bem vestida e aparentada, em que posso ajudar?

22 maio 2009

consecutivamente...

...irritante: "qualidades altamente razoáveis"!

Vamos lá a participar

3.30 da manhã. De novo sem conseguir dormir.
Que fazer?

1. Ficar na cama a rebolar de um lado para o outro até que toque o despertador
2. Ver televisão
3. Responder a mails e actualizar o facebook
4. Fazer um chazinho de valeriana
5. Acabar o ponto cruz
6. Outras 1
7. Outras 2

Pede-se aos carissimos leitores deste blog que enviem sugestões para colocar nos pontos 6. Outras 1 e 7, Outras 2. A mais original integrará o primeiro e a mais votada o segundo.

21 maio 2009

Caderneta de curso

A marrona que queria ser um génio. O rapaz alto e com cara de mau. A colega que percebia os textos incompreensíveis do professor delirante. A aspirante a artista que usava cinto de ligas e desenhava nas aulas. O engatatão que levou à cama uma colega virgem enquanto faziam um trabalho de grupo. O desvairado de bigode farfalhudo e sandália de cabedal. A rapariga de olhar triste por quem todos suspiravam. A boazona bombástica que ria alto. A rapariga atinada que casou com um homem rico. A colega-sempre-simpática-e-bastante-chata. O intelectual que nem os professores percebiam. O sarcástico que atacava toda a gente. O graxista que perseguia professores.

consecutivamente irritante

É, consecutivamente, ter de ler coisas como "neste consecutivo, considera-se que".

20 maio 2009

beijos via-andorinha

foto B. Berenika
(no regresso a casa a pé e ao ouvir um som muito familiar lembrei-me disto)

Quando era pequena, muito pequena, e tinha outras três irmãs pequenas muito pequenas também (vá, 1, 3 5 e 6 anos para aí) a minha mãe começou a passar quase metade do ano fora do país durante um bons anos, longe da nossa vista, portanto. A minha irmã mais velha ocupava-se de nós o melhor que podia. E para que o coração não ficasse demasiado longe da mãe, dada a lonjura da vista, tínhamos o seguinte ritual nos meses de verão:

Pespegávamo-nos as 5 à janela no final do dia e antes de ir para a cama:

- Estão a ouvir as andorinhas (como não? elas faziam ninhos por baixo do nosso telhado)?
- SIIIIIIIIIIIIIIIIIM (em coro)!
- Então vamos mandar muitos beijinhos que as andorinhas vão levar à nossa mamã.

E era assim que todas as noites beijávamos a nossa mãe-à-distância.

Hoje, a minha mãe muito mais perto do que outrora, recebeu certamente os beijos que lhe enviei via-andorinha.

sinceramente

entre o meu marido e o meu filho, o que eu gosto mesmo é da Bimby.

Há palavras

que me fazem sentir em casa

p'amordedeus
tá fresquinho
n'énadadisso
ó pá

Conversas de ocasião

Parque de estacionamento do campo grande onde estão os carros rebocados pela policia.
- Está na bicha?
-Não, não, estou só a acompanhar uma amiga que está lá dentro a levantar o carro.
- Ahh, sorte a sua. O meu carro está ali, não têm mais nada que fazer estes gajos, a rebocar os carros todos, eu tinha deixado o meu carro muito bem estacionado, numa curva, não estava a incomodar ninguém, toda a gente deixa sempre ali os carros, e quando cheguei, vi-lhe o sítio. Filhos da puta é o que eles são todos, não têm mais nada que fazer.

Wishful thinking

RRING RRING

- Estou?
- Olá, sou eu. Estás boa?
- Sim, mas que voz é essa? passa-se algo errado?
- Não....bem...euhhh, sim, quer dizer, talvez, não sei o que fazer.
- Então? Conta.
- É que fiz o teste e deu um risco azul. O que é que achas?
- Bem, talvez estejas grávida. Sabes que o teste tem uma fiabilidade entre 80 e 90 e tal porcento, mas há a possibilidade de falsos positivos.
- É, se cahar é isso...
- Mas como te sentes? tens as maminhas inchadas?
- Um pouco
- E dói-te a barriga?
- Parece que me está a vir o período
- Então é bem provável que estejas grávida. Porque não repetes o teste?
- Ahh... este já é o terceiro

O dia em que o tracinho apareceu azul

Foi o dia em que apareceram dois traços cor-de-rosa. Eu acabei. O mundo continuou. Oito meses depois oiço “aqui tem mãe”. Estava nua e em sangue. A chorar. Como eu. Passados uns segundos, nasci.

19 maio 2009

Teste de gravidez online*

8 e coisa decidiu inovar e ser o primeiro blogue a fazer um teste de gravidez online. Isto é, as etapas que se seguirem serão efectuadas em quase tempo real (apenas com o delay necessário para escrever as etapas), sendo o resultado anunciado aqui. Comecemos então o teste:

- desembalar o teste, retirando-o da caixa e rasgando o invólucro de plástico;
- ler as instruções atentamente, com as mãos ligeiramente a tremer;
- retirar a tampa do teste e impregná-lo da necessária urina;
- colocar o teste em cima de uma superfície lisa:
- esperar os 5 minutos mais longos da vida;
- fumar vários cigarros, enquanto se roi as unhas;
- voltar ao local onde se colocou o teste e olhá-lo de esguelha;
- fumar mais um cigarro;
- pegar novamente nas instruções e ver a interpretação do resultado: 'se aparecer uma linha azul na janela maior, então é porque o seu teste é positivo e está grávida';
- dirigir-se muito lentamente em direcção ao teste, olhar para as duas janelas, respectivos riscos e...
[a tensão arterial desceu subitamente a oitoecoisa, que entretanto desmaiou, pelo que não pode divulgar o resultado agora. Pedimos desculpa pela interrupção, retomaremos a emissão assim que possível].

*este post é respostado por dois motivos: (1) porque está dentro do espírito do desafio proposto para hoje; (2) vá-se lá saber porquê, na lista de entradas no 8ecoisa via google este post ocupa a 2ª posição. Fica a interrogação: há (ainda) quem pense que é possível fazer um teste de gravidez online? Lamentamos, mas a resposta é um rotundo NÃO.

will you still love me tomorrow

O tracinho azul na máquina branca. O tracinho azul no saco do lixo. O saco do lixo no contentor. Sorrio olá meu amor e cá dentro falo sozinha será que ainda me vais amar quando eu for barriguda e mal me conseguir mexer?, abraço-te e vejo o tracinho azul no contentor será que ainda me vais amar quando eu não for só eu?, sorrio e bebo vinho a merda do tracinho azul e a vida que agora sucumbe nesta vida dentro de mim.

À espera do tracinho azul

17 maio 2009

Ouvisto com estes quatro que a terra há-de comer

Reportagem frenética à porta do coliseu. A carpete vermelha dizem eles. Red carpet para os íntimos.
"Temos este tapete lindo, neste lugar deslumbrante, a noite está maravilhosa" diz a nirvânica lili caneças.
"Temos muito cuidado com a preparação dos globos de ouro, desde a unha até ao cabelo" diz a maya a mostrar a unhaca vermelha.
"Eu acredito que tudo é possível, se for feita justiça ganhamos este ano", diz um dos gémeos manequins.
"É a primeira red carpet das minhas filhas" diz uma grávida de gémeos.
A realidade é bem mais estranha do que a ficção.

Os animais são animais

Os animais são animais. Os animais não são pessoas. Podemos viver com eles, amá-los e ter desgostos enormes quando morrem. Compreendo e conheço tudo isso.
Mas não compreendo que se queira fazer deles o que não são. Há pouco, no telejornal, uma senhora seráfica explicava que tinha cremado a sua cadela. Como o marido se recusou a ter um santuário à matilde em casa, a senhora seráfica dorme com as cinzas da cadela na gaveta da mesa de cabeceira. Que arrepio.

16 maio 2009

Amante a dias

Procura-se um amante a dias. Oferece-se um romance que não levará a lado nenhum.

Resposta à caixa de comentários ou ao mail oitoecoisa arroba gmail ponto com.

15 maio 2009

a internet é muito boa mas faz mal ao meu trabalho

às vezes faço um intervalo no meu trabalho para dar uma volta por aí. A desgraça acontece quando tropeço em sítios como este, onde descubro coisas como estas




Porque os minutos seguintes desaparecem a querer ver mais.

14 maio 2009

Os ais



por Mário Viegas, esse grande senhor do teatro que tão bem diz poesia.

Depois da raiva

vem o silêncio.

12 maio 2009

O dia em que a realidade foi mais estranha que a ficção - Desafio fio fio em III Actos

Acto III

Até podia parecer que no meio de um dia assim, a parte do almoço seria a melhor. Errado outra vez. Ainda fui na conversa do formador quando já perto da uma da tarde nos informou que apesar de existir ali uma cantina nas instalações da casa dos artistas, como era Domingo pouca coisa haveria para comer, a não ser talvez, umas omeletes que as cozinheiras se prestassem a cozinhar. E lá fomos nós, com o estômago a dar horas, direitos à cantina onde descobrimos ser hora de ponta. Os velhotes ex-actores e artistas estavam todos a almoçar aquela hora tal como nós, mas não omeletes. Havia à escolha carne ou peixe no forno com batatas e salada e sopa de legumes. Perguntei à senhora que servia se podia pedir qualquer um dos pratos e eis quando ela me informa que aqueles pratos estavam somente destinados aos residentes e que se tivesse sido informada mais cedo pelos formadores da workshop, poderia ter feito mais comida a contar connosco. De novo, senti as narinas a ferverem. Perguntou se desejava comer uma omelete ou uma sopa. Pedi só a sopa, sentei-me, comi e saí sem pagar. Que me desculpem os mais susceptíveis às questões da moral e dos bons costumes mas caralhosmafodam se eu não havia de tirar pelo menos um pequeno prazer daquele dia!

Definições

Raiva (s.f)

1. Doença própria dos cães, caracterizada por acessos furiosos; hidrofobia.

2. Grande irritação; fúria; ódio.

3. Prurido da dentição (nas crianças).

4. Espécie de bolo seco.

5. Ant. Infâmia; labéu; descrédito; mancha na reputação.

Contra (prep)

1. Denota as seguintes relações: oposição; inimizade; contradição; direcção; proximidade; encosto.

adv.

2. Contrariamente.

s. m.

3. Contrariedade, oposição; objecção; obstáculo; inconveniente. (Us. mais no pl.)

Luz (s.f)

1. O que (iluminando os objectos) os torna visíveis.

2. Candeeiro, vela ou outra coisa acesa.

3. Efeitos de luz imitados num quadro.

4. O que ilumina o espírito.

5. Claridade.

6. Brilho, fulgor.

7. Critério.

8. Evidência.

9. Ilustração.

10. Publicidade.

Morre (intr)

1. Cessar de viver.

2. Secar-se.

3. Extinguir-se, acabar.

4. Fig. Sofrer muito; não medrar.

5. Não vingar.

6. Não chegar a concluir-se.

7. Desaguar.

8. Cair em esquecimento.

9. Definhar.

10. Perder o brilho.

11. Ter paixão (por alguma coisa).

Conclusão:

Um cão com hidrofobia mastiga um bolo seco em oposição aos efeitos da luz imitados num quadro. Não chega a concluir-se.

O dia em que a realidade foi mais estranha que a ficção - Desafio fio fio em III Actos

Acto II

No átrio de entrada do Centro de Formação, as pessoas preenchem dados incompletos nas fichas de inscrição e eu também recebo uma da senhora sentada à secretária. Preencho a ficha e pergunto se falta alguma coisa. A senhora anafada e cheia de afrontamentos faz um esgar, leva as mãos à boca e tem o maior ataque de tosse registado no último século. Em meia dúzia de segundos percebo o quanto me deixei afectar pelas últimas notícias dos jornais. Quero levantar-me dali com um salto e correr a fugir da possível gripe e prego a todos os deuses por uma máscara. O medo absurdo de cair no rídiculo impede-me de me mexer, bem como a todos os outros presentes e fico ali a meio metro da fera, a piscar os olhos com olhar complacente enquanto ela despeja as bactérias todas em cima de mim.
Na sala de aula estão à volta de 40 pessoas e o formador. Reparo sobretudo em duas pessoas. A senhora ao meu lado que gostava de brilhantes. Toda ela brilhava. Pequenos fio embutidos no têxtil do casaco brilhavam como fios de oiro. A mala doirada poisada em cima das pernas cruzadas. Cabelo de permanente em carapinha. Cinquenta anos de idade, imagino. Pulseiras e fio com banho de oiro. Relógio gordo e exuberante cravejado a diamantes falsos mas desta vez em prateado. Caneta para tirar apontamentos também doirada. Mas o que me espanta verdadeiramente naquela senhora é uma incrível característica. Durante todo aquele período até às 18 horas da tarde, quando todos os restantes batem o pé, trocam de posição nas cadeiras desconfortáveis, suspiram de ânsia, desenham rabiscos abstractos nas bordas dos cadernos, aquela senhora cor de sol consegue manter-se hirta como se embutida em cimento, sem mexer um centímetro do corpo, sem inclinar o pescoço sequer para olhar para o bloco de apontamentos bastando-lhe revirar os olhos, sem trocar a ordem dos pés cruzados, sem abrir a boca, sem olhar para o lado. Fabuloso.
A outra personagem em que reparo é uma rapariga nova, trinta e tal anos. Num dos intervalos vem falar comigo, diz.me que é psicóloga desempregada. Fala a cem à hora como se estivesse carregada de coca e tremem-lhe as mãos a segurar o cigarro. Pergunta se ouvi falar de um incêndio numa casa que até passou no telejornal e conta-me que era a casa do namorado com quem ela vivia e que ela tinha perdido as coisas todas que lá estavam dentro. Cinco minutos depois, fala-me da tragédia do namorado que faleceu recentemente. Pergunto-lhe se está a falar do mesmo namorado a quem tinha ardido a casa e ela confirma. Estava condenado ao azar aquele rapaz, penso eu no momento em que ela tira os óculos escuros da cara e olha para mim com um ar muito desolado pronta para iniciar a tragédia seguinte. Pois, entretanto fiquei cega de um olho...
Depois deste momento único que tem tendência a provocar a gargalhada nervosa que tive de conter à força para não ferir susceptibilidades, voltámos à aula para continuar a ouvir o discurso do formador de escrita que parecia só ter lido uma única autora durante a vida. Enid Blyton. Entre as 9 da manhã e as seis da tarde, aquele homem, quarentão, timbre de voz a fazer lembrar o Prof. Marcelo, preocupou-se e bem em oferecer-nos alguns exemplos de boa literatura. Mas todos eles pertenciam ao universo das aventuras dos Cinco. Pensei que triste era não ter ali agora o famoso cão Tim para lhe morder o rabo.
Caralhosmafodam! O dia estava a correr bem.

Câmara hiperbárica

Uma impressora pergunta à outra:
- Essa cópia é tua ou é impressão minha?

Desesperacimento

Morre a tua luz, cada dia um pouco mais. O teu corpo definha, enfraquecido pela tristeza que te entrou pela proximidade da morte. A doença e a sua cura extirparam-te o tumor, o humor, esqueceste o amor que tinhas dentro de ti. Já não ouço as tuas gargalhadas, desinteressas-te de tudo, como se a morte fosse a única alternativa, como se nada mais importasse a não ser  o dia em que fecharás os olhos para sempre. Abandonas as palavras e deixas o silêncio, cada dia mais intenso, como gritos surdos com que nos feres os tímpanos da alma. Morres sem morrer como se nos habituasses ao que será o futuro sem ti. Às vezes já não sei quem és tu. E minha tristeza deu lugar à raiva e a raiva deu lugar ao gelo que me mina o coração. Depois de tantos anos a conhecer-te já não sei quem és. Nem quem sou para ti.

A Raiva

A raiva que lhe preenchia as noites.

A raiva que corria nas suas veias.

A raiva que lhe rasgava a pele.

A raiva de golpes desferidos pela memória que não falhava nunca.

A raiva que sempre cedia às lembranças da luz.

A raiva contra a luz que não morria.

A raiva, muita raiva, tanta raiva que era impossível não consentir.

A raiva, essa raiva, aquela raiva, muita raiva, tanta raiva suprimiu-se à custa de tanta raiva.

Raiva por ela, raiva por ele, raiva pela raiva, muita raiva, tanta raiva.

Até não sobrar mais nada, até às palavras perderem o sentido à custa de serem lidas até à exaustão.

Até não haver mais nada, senão ela.

Sem raiva.

Food for thought

(recebido por e-mail hoje)

What is eaten in one week:

Take a good look at the family size and diet of each country, and the availability and cost of what is eaten in one week.

1 - Germany: The Melander family of Bargteheide
Food expenditure for one week: 375.39 Euros or $500.07



2 - United States: The Revis family of North Carolina
Food expenditure for one week $341.98


3 - Italy: The Manzo family of Sicily
Food expenditure for one week: 214.36 Euros or $260.11


4 - Mexico: The Casales family of Cuernavaca
Food expenditure for one week: 1,862.78 Mexican Pesos or $189.09


5 - Poland: The Sobczynscy family of Konstancin-Jeziorna
Food expenditure for one week: 582.48 Zlotys or $151.27


6 - Egypt: The Ahmed family of Cairo
Food expenditure for one week: 387.85 Egyptian Pounds or $68.53


7 - Ecuador: The Ayme family of Tingo
Food expenditure for one week: $31.55


8 - Bhutan: The Namgay family of Shingkhey Village
Food expenditure for one week: 224.93 ngultrum or $5.03


9 - Chad: The Aboubakar family of Breidjing Camp
Food expenditure for one week: 685 CFA Francs or $1.23

impossível não consentir

Movimento derramado do corpo mas também do coração, o laço que os uniu durante o tempo daquelas noites foi dissolvido a golpes desferidos pela raiva muita raiva tanta raiva que era impossível não consentir.

Agora vive às escuras. Mas prefere essa cegueira à simples lembrança da luz daquelas noites que só lhe acendem a raiva muita raiva tanta raiva que é impossível não consentir.

Aquela raiva muita raiva tanta raiva que é impossível não consentir.

Um isqueiro

Tens um isqueiro novo. Daqueles que não faz sequer chama. Mas escolheste um cigarro para deixar uma marca na pele.

À boca de cena

Era uma vez um rapaz que tinha medo do escuro. Ladrões e monstros entravam no quarto quando a luz se apagava. Uns eram maus e grandes, os outros também. O rapaz cresceu e quis ir viver para o sítio onde a luz nunca morre. Dormia ao lado do palco e à noite era visitado por damas dramáticas e senhores muito compostos. Uns e outros eram a fingir. Pouco importava que fossem personagens. Ao lado do palco as horas de escuridão eram menos solitárias.

Oxigénio

Para acender uma vela precisamos de fazer fogo

1772: Sheele fez experiências que demonstravam a existência de um gás especial no ar, mais leve e brilhante que os outros. Não publicou as seus resultados até 1777.

Uma vela dá luz enquanto houver cera na sua estrutura

1774: Priestley fez experiências semelhantes às de Sheele, aumentando o conhecimento a que o outro tinha chegado. Esse gás fazia aumentar a intensidade do fogo e permitia que ratinhos sobrevivessem 4 vezes mais tempo que os que respiravam ar normal. Publicou estes resultados.

A chama só dura enquanto houver oxigénio no ar

1775: Lavoisier fez experiências semelhantes e chegou a resultados idênticos. Chamou ao gás oxigénio, que em grego significa formador de ácido.


Aposto que todas as vezes em que alguém repete a demonstração Sheele, Priestley e Lavoisier andam à tareia reivindicando a autoria da descoberta, escondendo à vista de todos a raiva com que ficaram contra a luz que morre. Sem oxigénio.


a corista

Corista reputada no casino da Figueira da Foz, a andaluza misteriosa causava furor na população masculina que naquele Verão de 1965 refrescava a vista longe dos olhares reprovadores das mulheres legítimas (que a odiavam com intensidade idêntica ao enlevo dos maridos). Dona de umas ancas musicais e de um decote vertiginoso, nem os seminaristas de férias escapavam à concupiscência libidinosa que exalava e ao inevitável sacramento da reconciliação bem provido de penitências mortificantes...
Era dona de um olhar felino e de uma desvergonha insinuada que cativava o mais polido dos filhos das boas famílias que a cortejavam engomados nos seus fatos de linho. Para lhes quebrar a a altivez mimada, bastava-lhe o sorriso trocista que aninhava sempre na ponta direita da sua boca. Imperava no meio deles por direito próprio de uma maneira tão eficaz quanto dissimulada. Não havia quem lhe regateasse um capricho, por mais excêntrico ou custoso que este fosse. Homens feitos perdiam fortunas por sua causa e uma multidão de adolescentes esperava cada uma das suas aparições com o fervor próprio dos crentes.
Todas as noites, no fim de cada espectáculo, era inundada de uma multidão de fãs, mais ou menos providos de buço, que se digladiavam para poder oferecer-lhe o último copo da noite e um braço para a conduzir ao carro.
As estrelas do cartaz empalideciam na sua presença e receavam medir-se com a sua popularidade. Achavam-na vulgar e desprovida de talento. Ninguém sabia bem qual era o seu.
Mais do que um desafio, ela era um destino. Um prenuncio irresistível de naufrágio. A encarnação feminina mais cabal do provérbio “vale o mal que faz pelo bem que sabe”. E eu bem sabia o bem que ela sabia…
Quando aquele bêbado idiota a atropelou com o seu AC Shelby Cobra 427 odiei-a, enraivecido, como se a culpa de morrer fosse sua. Mulheres assim merecem, no mínimo, a imortalidade…
Mari Luz, porque me abandonaste?!

O dia em que a realidade foi mais estranha que a ficção - Desafio fio fio em III Actos

Acto I
9:30 da manhã. Domingo. Casa do Artista. Workshop de ficção narrativa no centro de formação, uma iniciativa da produtora de eventos Storytime. Parece fácil apesar de nunca ter ido à casa do artista. Uma pessoa entra nas instalações, estaciona o carro e depois segue as indicações que lá hão-de estar afixadas. Errado. Na chegada ao portão vejo dois parques de estacionamento, um exterior fechado por cancela e sem máquina ou alguém para atender. Resta-me o parque interior. Desco a rampa até à cancela que tem uma máquina para meter moeda e tirar bilhete pela módica quantia de 1 euro por cada hora sendo que eu teria de permanecer ali até às dezoito horas. Contas feitas, volto a sair com o carro de marcha atrás para perceber que numa área de dois quilómetros não tenho nenhum sítio onde estacionar no exterior do edíficio. Volto lá para dentro. Desco a rampa, meto 1 euro e recebo o bilhete. Olho em frente depois de passar a cancela e vejo outra rampa de subida para o exterior que me daria acesso ao tal parque que estava fechado. No entanto tenho um sinal obrigatório à minha frente a avisar-me que devo seguir para a esquerda e enfiar-me no parque a pagar e sem refilar. Sinto um leve ardor nas narinas e resolvo seguir em frente. Estaciono o carro cá em cima ao ar livre num parque que é um mar de lugares vazios. Nenhuma placa informativa sobre a localização do centro de formação. Entro na recepcção de um edíficio que diz Residência. O segurança apressa-se a vir ter comigo com ar de quem se sente violentado.
- O centro de formação? - pegunto eu.
- Como é que entrou aqui?
- Hmm, subi ali pelo parque.
Ele exibe um meio sorriso como quem diz, olha esta tem a mania que é esperta e abana a cabeça.
- Não pode estar aqui. Tem de voltar a descer.
- Não vou pagar um euro por cada hora que aqui vou estar, que é até às dezoito.
- Um euro dá até às dezoito.
- A máquina lá em baixo diz que não.
- Está enganada, a máquina não diz isso.
- Diz sim.
- Está enganada, a máquina não diz isso.
- Ok, devo ter visto mal.
Silêncio.
- O centro de formação? - pergunto eu.
Ele faz o sorriso do Joker.
- Agora volta a descer e estaciona o carro lá em baixo e depois volta a vir aqui ter comigo a pé e eu explico-lhe onde é o centro.
O centro de formação, volto a perguntar de sobrancelha franzida, impávida e serena. Ele desiste do confronto com o batman.
- Ok, segue o parque sempre até lá ao fundo e depois encontra duas portas. Uma delas é a do Centro. Mas depois de entrar, feche-me a porta, se faz favor.
Sigo parque fora até não poder andar mais. 500 metros de parque. Encontro a porta e tal como ele tinha pedido, fecho-a atrás de mim e saio para o exterior. Está frio hoje. Vejo que me esqueci do casaco dentro do carro. Viro-me para voltar atrás e vejo que a porta fechada não tem maçaneta. Tinha-se partido algures no tempo e nada de improvisos, fica assim mesmo. Não posso voltar a entrar e já estou atrasada. O Joker tinha ganho. Caralhosmafodam!

O funil

O vizinho do lado que ouve música muito alto. A minha mãe que me enche o frigorífico de sopas que deixo azedar. A minha irmã que não sabe escolher namorados e me telefona em lágrimas todas as semanas. O café que esfria depressa porque o cretino do senhor antónio não escalda a chávena como lhe peço. Os jornalistas que são uns abutres e só falam de desgraças. Os velhos que entopem os balcões da caixa geral de depósitos para actualizar a puta da caderneta. O francisco que só sabe falar das gajas que anda a comer e me chateia a molécula porque o meu mal é estar há muito tempo sozinho e garante que isto passa quando eu for com ele ao bar das brasileiras simpáticas. Estou farto desta maltosa toda, estou farto do enfado que cresce em mim, da impaciência com que me olho ao espelho, da barriga que amolece e dos anos que vou coleccionando. Quero que se lixe esta merda toda, já não posso ser tudo o que quiser, tenho o frigorífico cheio de sopas, tenho um estranho rancoroso que olha para mim no espelho e me sorri bela merda em que te tornaste. Quero que se foda o funil que tenho à minha frente, estou-me nas tintas para que vá ficando cada vez mais estreito até ao dia em que já não caberei nele.

11 maio 2009

Apontamento de reportagem

O maior centro comercial da europa. Orgulho. O maior centro comercial da europa está entre nós. Já há onde ir nos tempos sem nada para fazer. Museus? Não, que isso dá muito trabalho e custa dinheiro. Praia? Não, que ainda apanho uma insolação e fico cheia de areia nos sapatos. Passear por não importa onde? Não, no maior centro comercial da europa temos tudo, mesmo tudo. Maravilha.
Uma amiga foi descobrir a razão de tanto orgulho.
Eu: E que tal?
Amiga: É enorme.
Eu: E não dizes mais nada?
Amiga: Hum... Sim, fiquei contente porque as esplanadas são ao ar livre, mas cobertas. Para os fumadores estarem ali na maior.

O amor é uma coisa. A vida é outra.

"O que eu quero fazer é o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Teixeira de Pascoaes meteu-se num navio para ir atrás de uma rapariga inglesa com quem nunca tinha falado. Estava apaixonado, foi parar a Liverpool. Quando finalmente conseguiu falar com ela, arrependeu-se. Quem é que hoje é capaz de se apaixonar assim?
Hoje em dia as pessoas apaixonam-se por uma questão prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão mesmo ali ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à minima merdinha entram “em diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reunem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bioecológica da camaradagem. A paixão, que deveria ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas em vez de se apaixonarem de verdade, ficam praticamente apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromisssos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o medo, o desiquilíbrio, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho” sentimental.Amor é amor. É essa beleza. É esse o perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor é para nos amar, para levar-nos de repente ao céu, a tempo de ainda apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor á uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma conveniência assassina.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita. Não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que se quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar. O amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.. Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
CARDOSO, Miguel Esteves, ”Último Volume”, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001. Copiado do corta fitas.

08 maio 2009

Minutos de ócio e riso

glowsun: I heard about this guy who broke into a lion's den at the zoo
glowsun: and got mauled
glowsun: and people were talking about how there should have been better defenses put up to prevent people getting into the cage
glowsun: a friend of mine suggested setting up some kind of deterrent
glowsun: for example, putting some sort of fierce animal in the cage, which would attack anybody who climbed in
Mais diálogos e monólogos virtuais aqui.

Miss Daisy


(sim, a das sobrancelhas giras, a dos olhos ainda mais, a da idade inconcebível)

Para ti, querida múltipla, os nossos melhores PARABÉNS!

07 maio 2009

Legalize-se

Não sendo inócua, a canábis é, das drogas ilegais, a mais consumida em todo o mundo. Apesar disso, a sua utilização não causa qualquer impacto negativo nos interesses colectivos da sociedade. E por isso, o Estado não tem o direito de proibir a sua utilização.
A proibição prejudica a saúde pública impedindo a aplicação de medidas de redução de riscos e fomenta a desinformação; promove o comércio ilegal financiando os grandes traficantes e desperdiça recursos na guerra ao tráfico e, apesar da descriminalização, continua a perseguir e a prender utilizadores. A proibição atenta contra a liberdade individual e o direito à não interferência do Estado na vida pessoal dos seus cidadãos.
A legalização protege a saúde pública, assegurando a não adulteração das substâncias e o acesso a informação correcta e credível; permite reduzir drasticamente o tráfico e contribuir com impostos para a educação, investigação e prevenção;
Por isso propomos a legalização da canábis para auto-cultivo (cultivo para consumo próprio) e a sua venda em estabelecimentos autorizados a maiores de idade.

Mais um desafio, mais uma viagem

Cuidado com o macaquinho. Proponho manutenção da raiva contra a luz que morre para dia 12 de Maio, e adiciono "o dia em que o tracinho (não) apareceu azul" para dia 19. Para quem está, esteve, gostava de ter estado ou espera nunca estar com uma vida que não a sua dentro de si. Porque me apetece.

Despostadum est

Entendeu a múltipla-autora do último desafio que estava agendado para 12 de Maio, 3ª feira, que tinha como tema a frase a raiva contra a luz que morre em anulá-lo.
Fica, portanto, cancelado o desafio. As minhas desculpas aos leitores e a quem achou que podia ser uma boa ideia.

I hate to be right...

Hoje, depois de ler este post da rititi e os comentários, reparei que me tinha fixado particularmente neste excerto: "Trabalhar duas horas menos em nome de um filho que só é pequenino uma vez é sinónimo de desleixo profissional, pessoal e moral e isto, amigos, não o dizem só as entidades patronais, não, são as mulheres as que recriminam esta decisão pessoal como uma traição à causa da mulher perfeita, ao biquini, ao descobrimento da pílula, ao direito ao voto e ao aborto, ao Sex and the City e aos milhares de anos de luta de sexos. Claro." Sim, claro que é claro. E lembrei-me da cabra, agora revisitada em tantas chefas!
A conclusão é inevitável: "Passámos de exigir direitos de igualdade, paridade e o caneco à obrigação social de renunciar a eles. E isto, desculpem-me a franqueza, é a maior filha da putice que nos podia ter caído em cima."
Ora eu.. eu... pois, eu nunca quis, quanto mais exigir, "igualdade", "paridade" e o caneco!...

E a tua, qual é?



descoberto aqui

06 maio 2009

1,2,3, diga lá outra vez

123 milhões em jogo. Já cumpri a parte que me cabia neste jogo do destino.
O que fariam com 1,2,3, 123 milhões de euros?

Os CTT estão a melhorar os serviços

O carteiro toca sempre à mesma hora. Abria a porta sem pensar, um gesto mecânico igual a tantos outros. Até ao dia em que me cruzei na rua com o carteiro. Ombros largos, um negro quase azul de sorriso irónico. Desde então, nunca as escadas do prédio me pareceram um lugar tão erótico.
Obrigada, CTT.

Uma manhã igual às outras



11 da manhã do dia 15 de Janeiro na estação de Liverpool Street em Londres.

Ou como a publicidade pode dar manhãs de boa disposição.

04 maio 2009

É na nádega, se faz favor

Responde o senhor enfermeiro à pergunta braço direito/braço esquerdo. “Aonde?!?!” “Tem tempo, tem tempo”, diz solícito quando vê os meus olhos a saírem da sua órbita regular, mas menos de 1 segundo depois: “Vamos?”
Lá me virei. “Pelo menos…” Palmadinha para espetar a agulha “…estou de saias”, filosofo, “que isto de calças pela canela seria um todo nada mais estranho.” Espeta “E até foi rápido...” Pressiona “…ui…desde que liguei ao Saúde 24…” Abana para dissolver o monte deixado pela agulha gigante “…só passou 1.30h e já fui à médica e…” “Já está.” “Muito obrigado.”
Faço uma saída digna, ligeiramente atrapalhada pela minha rapidez expedita a embrulhar-se na cortina divisória. Há algo em mim que não quer ficar mais tempo com o homem que acaba de me ver o rabo, espetá-lo e marcá-lo com um inocente X a adesivo e algodão...

Mistério

Para onde desaparecem as moscas que voam durante o dia pelas casas?

Sou uma ovelha

e fui atrás do rebanho.
Facebook era a paragem. Um perfil aqui, uma fotografia ali, a excitação de descobrir pessoas conhecidas. A rede compõe-se. Atrás do manel vem o francisco, uma pessoa distante que vi três ou quatro vezes, uma noite na calçada da bica, um encontro fortuito não sei onde. O francisco é meu amigo, diz o facebook e eu quase acredito. Vou pondo fotografias de pessoas próximas que também estão lá, os meus amigos podem ver isso e tudo o que me dê na gana plantar ali. Há quem ponha videos, há quem diga que está a coçar a barriga e a olhar para a parede, há quem preencha quizzes para saber que personagem de livro é, que música ou animal seria, que personagem de série lhe caberia na pele, há quem troque mensagens intelectuais e quem troque piropos, há convites para exposições festas e concertos, há quem seja amigo de escritores que coitados nunca entraram no facebook e nem sabem o que por lá se passa, há quem reencontre amigos de infância e antigos amores, há quem photoshope fotografias em que aparece melhorado e suspire por uma versão real que apague as imperfeições que carregamos.
Decidi sair do facebook no dia em que percebi que tinha 40 amigos. Quarenta? Eu que me dou sempre aos suspeitos do costume, eu que não tenho paciência nem talento para fazer conversa, eu que tenho um limiar muito baixo de resistência ao aborrecimento. Eu com quarenta amigos que podiam ver o que eu ali plantasse, que podiam ver os nomes de quem estava na minha lista, que podiam espreitar as fotografias que ali pendurei? Decidi sair do facebook no dia em que uma pessoa que eu nunca vi mais gorda na vida me mandou um convite (a mariazinha quer ser sua amiga), a mariazinha que eu não conheço de lado nenhum e que tem 900 (novecentos!) amigos na sua lista.
Sou uma ovelha tresmalhada e sem amigos. Sobreviverei a tanta solidão?

03 maio 2009

Isto não faz sentido nenhum

como não queremos raiva contra a luz que morre, arregaço as mangas (que não tenho) e pego na inspiração (que inexiste) e escrevo estas linhas contra as dores de dentes e as dores de alma, contra as roupas que encolhem com as lavagens ou as que alargam com o uso, contra o tempo que passa demasiado depressa e me faz chegar atrasada à vida, contra os dentes que desaparecem e os buracos que permanecem, contra os autocarros que não cumprem os horários e o pólen que me faz espirrar até à metafísica (esta tem dono e não sou eu), contra os amores que acabam e aqueles que nunca começam, contra o tomate que não sabe a nada e nem encarnado é, contra o outono que se disfarça de vermelho e laranja para dissimular a nudez que se anuncia.

Os Alapardos

Grupo regional cançoneteiro da freguesia de Caixão à Cova.
Fui procurar e não havia nenhum mas fica aqui a proposta.

um sábado qualquer

Hoje parece verão, está boa a noite. Tenho a janela aberta enquanto escrevo estas linhas e entra-me um fresquinho suave que ajudar a disseminar o fumo dos cigarros que ainda não consigo deixar de fumar, junto com o som das buzinas e os gritos cantados da vitória do barça para o campeonato ou a final, ou uma coisa desse género mesmo muito importante para a adrenalina de grande parte desta cidade. À tarde fomos à fundação joan miró ver uma exposição sobre o processo de morte, da doença, das despedidas dos outros e de nós mesmos, uma exposição muito bela e impactante ao mesmo tempo, depois vimos um teatro infantil com uma riqueza de estratégias artísticas inversamente proporcional os seus poucos meios e regressámos a casa caminhando lentamente pelas ruas desta cidade inundada em cada esquina pela emoção do futebol, vibrámos com os golos, bebemos uma cerveja sentados numa esplanada, jogámos aos sustos da criança que diz buuu visivelmente escondida e chegámos serenos a casa, com a alegria da vida que caminha de mãos dadas com a tristeza da morte que nos rodeia.

02 maio 2009

rage against the dying of the light



Através das palavras de Dylan Thomas e da interpretação de John Cale, um recado para este blogue.