E agora eu era cirurgiã e inventava a forma de descobrir todas as pessoas que te habitam. Deitava-te numa cama, alisava o teu peito até encontrar o ponto de incisão perfeito e deslizava as tenazes indolores com que te abriria . Pegava o teu coração na minha mão, olhava-o de todos os lados e encontrava uma multidão. Junto das veias reconhecia o homem duro a quem nada lhe importa, o recitador de certezas inabaláveis, o suicida tranquilo que se ri da desgraça, o encantador de serpentes em frente do seu público. Espreitava o lado das artérias e encontrava o homem sério que evita sorrir para não se desmoronar, o tímido que perde a voz em curvas inesperadas, o marinheiro que não suporta o barulho das ondas. E agora eu era cirurgiã, sentia nos meus dedos as costuras de que és feito, e tudo finalmente estaria no seu lugar.
4 comentários:
Adorei o brincopoema.
A senhora do guichet diz: criscolu.
A mim soa-me a crise no colôn..
Ou seja m.... da g.....!
e digo mais joshua, que bem se brinca neste brincopoema adelaide.
gostei. e muito.
Enviar um comentário