Sempre me enervou a mania de se dizer que aquilo que não se conhece não existe. Da mesma forma que dizer que uma doença é incurável apenas significa que nós não sabemos ainda como ela funciona e por isso não temos as ferramentas para poder lidar com ela.
Uma das coisas fabulosas da ciência é o seu constante avanço, e de um dia para o outro deitar por terra tudo aquilo que até então se acreditava ser verdade absoluta.
Desde a descoberta da estrutura do DNA, em 1953, e sabendo já da existência de genes que definem aquilo que somos (já Mendel no seu convento o tinha descoberto com as ervilheiras por volta de 1865), se diz que o dogma central de toda a biologia molecular é gene - rna- proteína. É esta a base de tudo o que se ensina nas faculdades em todo o mundo, o DNA serve como livro de receitas para fazer proteínas, usando uma molécula mensageira (RNA) para levar a informação do núcleo ao resto da célula.
Quando se começou a conhecer a estrutura de todo o genoma humano, e se descobriu que apenas 2% era constituído por genes, rapidamente apareceu a denominação junk DNA, ou seja tudo aquilo que não entra no tal do dogma instituído por académicos conceituados é lixo, não serve para nada se não serve para fazer proteínas.
Qualquer pessoa com mais de dois neurónios funcionantes entende que seria altamente improvável que 98% do genoma não servisse para nada, e que estivesse lá para proteger o restante dos ataques maléficos do exterior ou que fosse apenas resquício da evolução darwininana.
Hoje foi publicado um artigo na nature (ainda não disponível online) que leva precisamente nesse sentido; durante 4 anos um consórcio de cientistas em vários sítios do mundo dedicaram-se a estudar 1% desses 98% do qual nada se sabe. E chegaram à conclusão de que serve para muito, apesar de ainda não saberem bem o quê nem como.
Cada vez mais me convenço da teoria de que Deus de facto joga aos dados, e nós é que não sabemos para onde os atira. (nerd, queres explicar esta vs a outra teoria dos dados?).
6 comentários:
belíssimo post :-)
ah, que surpresa. começava a achar que ninguém apreciava as minhas postas científicas.
"Sempre me enervou a mania de se dizer que aquilo que não se conhece não existe."
Um conselho: evita os sociólogos... :p
("algo só existe quando lhe atribuo um significado", ou seja, as Nuvens de Magalhães não existiam para o hemisfério norte, até o sr. Magalhães as descobrir. Mas já existiam para o hemisfério sul... ai, tanto antropocentrismo!!)
alguma coisa contra os sociólogos, cara siona?
Não respondo, senão perco metade dos meus amigos... :)
siona, eu até os evitava mas como vês não consigo. cada um tem a sua cruz.
Enviar um comentário