O taxista pedrado que quase dormia ao volante e me obrigou a encurtar a viagem, o taxista evangelizador que ouvia cassetes de cultos da igreja universal de deus, o taxista que organizava festas trance, o taxista-sósia-do-alberto-joão-jardim que garantia que a Madeira não precisava do continente para nada, o taxista que tinha sido bombeiro mas não era estúpido e fugiu dessa perigosa profissão depois de ter levado com uma trave na cabeça que o deixou vinte dias no hospital, o taxista que percebia de bruxedos e desfiava receitas infalíveis (menina, duas gotinhas de sangue da menstruação na bebida de um homem e ele fica louco), o taxista que garantia estar a ser envenenado pela mulher e me fez cheirar a garrafa de água do luso com cheiro a amoníaco.
Alguém tem cromos para a troca?
Alguém tem cromos para a troca?
18 comentários:
sim, tenho.
o taxista que me conduziu uma vez a 140 km hora pelas ruas de lisboa durante a noite e que ao chegarmos ao meu destino se vira para trás, tira os óculos com um sorriso 00sex e me pergunta de sobrolho levantado, "então, teve medo?"
os óculos escuros, diga-se..
O taxista que atirou para o banco de trás o guia de Lisboa e disse: "não sei onde é, faça favor de procurar".
Tenho o taxista salazarista, mas acho que já toda a gente tem repetido.
ofogareiro.blogspot.com
Acho que nas alturas em que andava de táxi, tinha tendencia para os taxistas que gostavam mais da conversa do que guiar o taxi e fazer clientes. Uma das vezes apanhei um arquitecto que como não tinha saida na seu campo andava a conduzir táxis à noite e era muitissimo interessante ficámos a conversar sobre arquitectura, já depois de chegada ao destino. Outra vez foi um taxista pai que andava preocupado com a sua filha adolescente e com quem também fiquei imenso tempo a conversar sobre as melhores estratégias para melhorar a sua comunicação com ela. E a super estrela foi num dia às duas da manhã que apanhei um taxista caboverdeano que estava desesperado porque a sua mulher o tinha traido e ficou a conversar comigo até às 5 da manhã, chorando baba e ranho de todo o tamanho e desafogando as suas mágoas. Depois não me cobrou a viagem
o taxista ex-paramédico que me informa que o paciente da ambulância ao lado está a bater a bota, pelo que vê da nesga de janela.
A caderneta está-se a compôr, muito obrigada a todos os participantes. Ouvi falar da história reinadio e swinger, alguém se acusa?
leia-se da história do 'taxista reinadio e swinger'
esse nunca ouvi, mas gostava de ouvir...;)
ah ganda pirata, bela colecção o senhor tem. Gestão de sinergias é muito bom, cá para mim mudo de vida.
Desculp! Esses não são cromos taxistas, não me baralhe as cadernetas
Caro pirata,
Apesar de ter gostado muito dos seus cromos, tachista não´é bem o mesmo que taxista, as cadernetas continuam a ser diferentes.
Assim sendo, mande-os para Angola!!
Não tem mais nada para a troca?
psiquiatria sintética? gostei dessa, será que é só juntar água e sai o mal todo da cabeça em três tempos
De um jantar de alto nível com três das personalidades múltiplas, descobrimos a receita para o nosso problema: psiquiatria sintética em ideias feitas e vagas.
Amigo pirata, vai uma fatiazinha de cheese cake aqui na casa construída sobre um cemitério de insectos e animais rastejantes?
Eu já sabia que o Rei estava vivo (trad. Elvis is alive), e desconfiava de outra coisa que só agora tive a confirmação.
Sartre vive... não só em alguns de nós mas em coisa real (ou virtual?)
Sob o pseudónimo de pirata-vermelho, Sartre descaíu-se com a sua tirada sobre o cheese cake no canadá.
Isto é um desafio sobre o tema "o seu a seu dono"
"La musique du jazz, c’est comme les bananes, ça se consomme sur place"
O taxista que te explica o funcionamento da rede de taxis lisboeta, a concorrência entre a rádiotáxis,a autocoope e outras que tais, a comunicação central-praçadetáxis-viaturasmóveis, as novas tecnologias que protegem os taxistas de todo o género de malfeitores, os preçários, os radares e sua localização preferencial, a forma de os evitar, etc.
O taxista que nos faz roer as unhas até ao fim (ou cravar as unhas no banco com força e cerrar os dentes como alternativa) enquanto remói e questiona se a 2ª guerra mundial não terá afinal sido algo grandioso com um propósito legítimo e purificador (arggh! ainda há disto?!) e outras coisas indiscritíveis que eu me recuso a pôr em palavras.
O taxista em noite de bola (pleno Euro 2004 entenda-se, no dia em que a equipa portuguesa acho eu, mas não juro, jogou e ganhou qualquer coisa muito importante), lisboa de pantanas, tudo na rua, tudo pintado, gritos, buzinas, personagens saídas de um circo em tons de verde e encarnado, surreal. Num momento de loucura metemo-nos num táxi. O condutor estava tão entusiasmado ou mais que os restantes manifestantes, um tanto ou quanto ébrio, punha o braço de fora da viatura e agitava-o contente, tocava a buzina de vez em quando e avançava lento, não querendo perturbar os felizes passeando no meio da rua. Mais do que uma vez afirmou, enrrolando a língua, que nem gostava assim muito de futebol, que nem bebia quando estava de serviço. Ficámos muito mais descansados.
O taxista que timida e delicadamente nos pergunta se vamos votar no referendo a favor da despenalização do aborto. Que sim, que votamos no Sim. A sua cara ilumina-se. Pede desculpa pela curiosidade e sente necessidade de justificar: sou autarca pelo Bloco de Esquerda, diz.
O taxista que resolveu dar-me uma palestra sobre como as coisas já não são o que eram e "os jovens de hoje, Ai os jovens de hoje!". Este deve ser padrão.
O taxista que gosta de partilhar silêncios. Numa noite em que levei uma amiga a casa para trocar de sapatos para lá das 3 da manhã. À porta de casa ela sai e desaparece para dentro do prédio. Eu fico, no táxi, à espera. E nisto suspiro. Eu e o taxista no escuro, em silêncio. Um bom silêncio. Isto pode demorar, pensei.
"Olhe, desculpe, importa-se que eu vá lá fora fumar um cigarrinho?"
"Importo sim. Vai lá fora fazer o quê?! Abra aí a janela..."
"Posso?"
"Pode pois, se me der um a mim também."
E sorri.
E eu sorrio também.
E acendo o meu e estendo-lhe um que acende.
E ficamos assim momentos-horas a olhar as estrelas, a ouvir o silêncio da noite e a sentir o fresco na cara, bem acompanhados, a fumar o nosso cigarrinho.
Soube-me a maravilhas. E a ele também, acho.
Tive a clara sensação que não havia outro sítio em que quisessemos estar.
À excepção deste último os restantes cromos estão para a troca.
zero fem, bela colecção. Alguns são repetidos e fáceis, como o da organização das centrais-praças-chamadas-créditos-fiscais-etc, ou os que maldizem a juventude. Outros são muito mais raros e valiosos e valem bem este magnífico texto que aqui deixou.
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