30 novembro 2006

Caderneta de cromos



O taxista pedrado que quase dormia ao volante e me obrigou a encurtar a viagem, o taxista evangelizador que ouvia cassetes de cultos da igreja universal de deus, o taxista que organizava festas trance, o taxista-sósia-do-alberto-joão-jardim que garantia que a Madeira não precisava do continente para nada, o taxista que tinha sido bombeiro mas não era estúpido e fugiu dessa perigosa profissão depois de ter levado com uma trave na cabeça que o deixou vinte dias no hospital, o taxista que percebia de bruxedos e desfiava receitas infalíveis (menina, duas gotinhas de sangue da menstruação na bebida de um homem e ele fica louco), o taxista que garantia estar a ser envenenado pela mulher e me fez cheirar a garrafa de água do luso com cheiro a amoníaco.

Alguém tem cromos para a troca?

18 comentários:

Anónimo disse...

sim, tenho.
o taxista que me conduziu uma vez a 140 km hora pelas ruas de lisboa durante a noite e que ao chegarmos ao meu destino se vira para trás, tira os óculos com um sorriso 00sex e me pergunta de sobrolho levantado, "então, teve medo?"

Anónimo disse...

os óculos escuros, diga-se..

Anónimo disse...

O taxista que atirou para o banco de trás o guia de Lisboa e disse: "não sei onde é, faça favor de procurar".

dorean paxorales disse...

Tenho o taxista salazarista, mas acho que já toda a gente tem repetido.

Anónimo disse...

ofogareiro.blogspot.com

Anónimo disse...

Acho que nas alturas em que andava de táxi, tinha tendencia para os taxistas que gostavam mais da conversa do que guiar o taxi e fazer clientes. Uma das vezes apanhei um arquitecto que como não tinha saida na seu campo andava a conduzir táxis à noite e era muitissimo interessante ficámos a conversar sobre arquitectura, já depois de chegada ao destino. Outra vez foi um taxista pai que andava preocupado com a sua filha adolescente e com quem também fiquei imenso tempo a conversar sobre as melhores estratégias para melhorar a sua comunicação com ela. E a super estrela foi num dia às duas da manhã que apanhei um taxista caboverdeano que estava desesperado porque a sua mulher o tinha traido e ficou a conversar comigo até às 5 da manhã, chorando baba e ranho de todo o tamanho e desafogando as suas mágoas. Depois não me cobrou a viagem

Anónimo disse...

o taxista ex-paramédico que me informa que o paciente da ambulância ao lado está a bater a bota, pelo que vê da nesga de janela.

8 e coisa 9 e tal disse...

A caderneta está-se a compôr, muito obrigada a todos os participantes. Ouvi falar da história reinadio e swinger, alguém se acusa?

8 e coisa 9 e tal disse...

leia-se da história do 'taxista reinadio e swinger'

Anónimo disse...

esse nunca ouvi, mas gostava de ouvir...;)

8 e coisa 9 e tal disse...

ah ganda pirata, bela colecção o senhor tem. Gestão de sinergias é muito bom, cá para mim mudo de vida.
Desculp! Esses não são cromos taxistas, não me baralhe as cadernetas

8 e coisa 9 e tal disse...

Caro pirata,

Apesar de ter gostado muito dos seus cromos, tachista não´é bem o mesmo que taxista, as cadernetas continuam a ser diferentes.

Assim sendo, mande-os para Angola!!

Não tem mais nada para a troca?

sete e pico disse...

psiquiatria sintética? gostei dessa, será que é só juntar água e sai o mal todo da cabeça em três tempos

8 e coisa 9 e tal disse...

De um jantar de alto nível com três das personalidades múltiplas, descobrimos a receita para o nosso problema: psiquiatria sintética em ideias feitas e vagas.
Amigo pirata, vai uma fatiazinha de cheese cake aqui na casa construída sobre um cemitério de insectos e animais rastejantes?

Anónimo disse...

Eu já sabia que o Rei estava vivo (trad. Elvis is alive), e desconfiava de outra coisa que só agora tive a confirmação.

Sartre vive... não só em alguns de nós mas em coisa real (ou virtual?)

Sob o pseudónimo de pirata-vermelho, Sartre descaíu-se com a sua tirada sobre o cheese cake no canadá.

Isto é um desafio sobre o tema "o seu a seu dono"

Anónimo disse...

"La musique du jazz, c’est comme les bananes, ça se consomme sur place"

XR Cork Regenerative Culture disse...

O taxista que te explica o funcionamento da rede de taxis lisboeta, a concorrência entre a rádiotáxis,a autocoope e outras que tais, a comunicação central-praçadetáxis-viaturasmóveis, as novas tecnologias que protegem os taxistas de todo o género de malfeitores, os preçários, os radares e sua localização preferencial, a forma de os evitar, etc.

O taxista que nos faz roer as unhas até ao fim (ou cravar as unhas no banco com força e cerrar os dentes como alternativa) enquanto remói e questiona se a 2ª guerra mundial não terá afinal sido algo grandioso com um propósito legítimo e purificador (arggh! ainda há disto?!) e outras coisas indiscritíveis que eu me recuso a pôr em palavras.

O taxista em noite de bola (pleno Euro 2004 entenda-se, no dia em que a equipa portuguesa acho eu, mas não juro, jogou e ganhou qualquer coisa muito importante), lisboa de pantanas, tudo na rua, tudo pintado, gritos, buzinas, personagens saídas de um circo em tons de verde e encarnado, surreal. Num momento de loucura metemo-nos num táxi. O condutor estava tão entusiasmado ou mais que os restantes manifestantes, um tanto ou quanto ébrio, punha o braço de fora da viatura e agitava-o contente, tocava a buzina de vez em quando e avançava lento, não querendo perturbar os felizes passeando no meio da rua. Mais do que uma vez afirmou, enrrolando a língua, que nem gostava assim muito de futebol, que nem bebia quando estava de serviço. Ficámos muito mais descansados.

O taxista que timida e delicadamente nos pergunta se vamos votar no referendo a favor da despenalização do aborto. Que sim, que votamos no Sim. A sua cara ilumina-se. Pede desculpa pela curiosidade e sente necessidade de justificar: sou autarca pelo Bloco de Esquerda, diz.

O taxista que resolveu dar-me uma palestra sobre como as coisas já não são o que eram e "os jovens de hoje, Ai os jovens de hoje!". Este deve ser padrão.

O taxista que gosta de partilhar silêncios. Numa noite em que levei uma amiga a casa para trocar de sapatos para lá das 3 da manhã. À porta de casa ela sai e desaparece para dentro do prédio. Eu fico, no táxi, à espera. E nisto suspiro. Eu e o taxista no escuro, em silêncio. Um bom silêncio. Isto pode demorar, pensei.
"Olhe, desculpe, importa-se que eu vá lá fora fumar um cigarrinho?"
"Importo sim. Vai lá fora fazer o quê?! Abra aí a janela..."
"Posso?"
"Pode pois, se me der um a mim também."
E sorri.
E eu sorrio também.
E acendo o meu e estendo-lhe um que acende.
E ficamos assim momentos-horas a olhar as estrelas, a ouvir o silêncio da noite e a sentir o fresco na cara, bem acompanhados, a fumar o nosso cigarrinho.
Soube-me a maravilhas. E a ele também, acho.
Tive a clara sensação que não havia outro sítio em que quisessemos estar.

À excepção deste último os restantes cromos estão para a troca.

8 e coisa 9 e tal disse...

zero fem, bela colecção. Alguns são repetidos e fáceis, como o da organização das centrais-praças-chamadas-créditos-fiscais-etc, ou os que maldizem a juventude. Outros são muito mais raros e valiosos e valem bem este magnífico texto que aqui deixou.