Boa tarde, não conheço a menina, vai mudar-se para aqui? Desculpe não lhe ter dito logo boa tarde mas ainda não conheço bem os vizinhos, mudei-me há duas semanas para aqui, morreu o meu marido e vim para o pé da minha filha, vive aqui no primeiro direito. A casa ficou muito grande e a minha filha, que é doutora nos correios, disse logo mãe vens para nossa casa, o Alipio vai gostar muito de te ter connosco, as miúdas vão ficar radiantes. O Alípio é o meu genro, não sei se conhece, um rapaz assim forte e de bigode, uma jóia de rapaz, conheço-o há mais de vinte anos e digo-lhe que a minha filha nem com uma candeia tinha encontrado rapaz mais bem formado e trabalhador do que ele. De modos que vim para aqui há duas semanas, a casa onde eu vivia com o meu marido ficou de repente muito grande, dava comigo a falar ao telefone e a voz a fazer eco em toda a casa. A vizinhança aqui é boa, tudo gente de bem, a minha filha chega à hora do jantar e eu já preparei tudo, as miúdas já estão granditas e sempre agarradas ao telemóvel e ao computador, mal consigo arrancar-lhes uma palavra, o Alípio gosta muito do meu ensopado de borrego, e é assim a vida, num momento está tudo como deve ser e no minuto a seguir já não existe nada para além da minha voz a bater nas paredes da sala.
4 comentários:
muito bonito a forma como captas os mais velhos, revela capacidade de ouvi-los.
e um jeito enorme para contá-los, claro.
sem palavras.
nº 1.
sim lindo, lindo. quando precisares de um admirador incondicional para a tua escrita, manda mensagem, a qualquer hora do dia ou da noite. :)
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