26 outubro 2007

Pá, e agora?...

Anda para aí uma grande agitação por causa do Tratado de Lisboa e do referendo. Anda tudo a discutir a democracia representativa, a democracia directa, a legitimidade popular do tratado, o exercício de cidadania europeia, a (falta de) inteligência nacional para perceber o texto, o diabo à solta.

Acho porreiro que o novo tratado seja assinado nos Jerónimos, que tenha o nome de Lisboa, que tenha sido negociado pela presidência portuguesa enquanto o presidente da comissão é um português e que tenha sido que tenha sido anunciado ao mundo em português. E sim, isto é mesmo “porreiro pá.” Numa vitória portuguesa querem expressão que nos traduza melhor? Somos mesmo porreiros!

Agora, o problema do nacional porreirismo é este:
i) poucos gostam de trabalhar e acreditam naquilo que fazem;
ii) poucos acreditam que os outros acreditam naquilo que eles fazem;
iii) muito poucos não se importam que os outros não gostem deles e fazem opções;
iv) muito poucos planeiam e coordenam;
v) quase todos fazem as coisas à ultima hora;
vi) todos aproveitam a oportunidade para brilhar.

O problema que o nacional porreirismo agora tem para resolver é este:
Como as últimas eleições foram uma coisa assim à pressa, de surpresa, ninguém esteve para perder tempo a estudar, pensar e explicar o que seria, ou não, aceitável para Portugal nas grandes questões institucionais europeias e, ao invés, os quatro grandes partidos políticos apenas escreveram nos respectivos programas eleitorais que defendiam a realização de um referendo (ver aqui as transcrições do PS, PSD e CDS ), esperando usar a questão europeia como cravo no espinho da governação do próximo – sim, porque acho que ninguém queria mesmo ganhar aquilo….

A m*** foi que as negociações correram bem e o tratado foi mesmo concluído pela presidência portuguesa e até vai chamar-se “de Lisboa”. Agora, ninguém quer estragar a fotografia de família, que até está porreira.

Eu não gosto muito da União Europeia, não sou a favor do referendo e até me irritei quando uma jornalista portuguesa, ao entrevistar o Presidente do Conselho, dirigiu uma pergunta ao Primeiro Ministro português. No entanto, confesso que aguardo, expectante, a maneira bonita como (todos) me vão dizer que não disseram o que escreveram, porque o que queriam dizer era outra coisa e que não, ninguém mentiu nem ninguém está a enganar ninguém e que, quando for oportuno, até vão poder explicar a posição de Portugal no novo xadrez e no novo conceito de soberania nacional…. Sim, porque não acredito que eles vão manter a promessa. E isto é que é triste. E é isto que já nem deixa perguntar "antão pá?...".

6 comentários:

-pirata-vermelho- disse...

Espanto!

Alma gémea!

Eu costumo sintetizar apontando a falta de hábitos de trabalho que, claro! engendram a incapacidade de planeamento - o resto são sequelas típicas. Toda as que voc~e aponta e mais algumas de natureza histórica, atávica.


(Deu-me um grande prazer, hoje...
Obrigado!)

Anónimo disse...

bingo!

Anónimo disse...

sinceramente acho que esta coisa de comentar os problemas nacionais com a justificação de que os portugueses não gostam, não sabem não querem trabalhar é um exercicio bacoco e que não faz bem nenhum ao país. fazem-se manifestações, é porque os portugueses não gostam de trabalhar, caem pontes é porque os portugueses não gostam de trabalhar, a sopa está fria, a culpa é dos portugueses que não querem trabalhar..

com análisis pseudopoliticas destas e melhor é estar calada...

8 e coisa 9 e tal disse...

Ai meu Deus: ainda bem que achou que valia a pena não ficar calad(o/a) e ter elevado o meu desabafo à categoria de análisis pseudo politica. Aguardo, ansiosa, que me explique, então, a verdadeira causa para todo este embaraço ou trapalhada sobre a ratificação do tratado.

Anónimo disse...

estimada oito e coisa, devo-me ter explicado mal, precisamente achei que o melhor seria ter estado calada, mas isto é a minha singela opinião. De qualquer maneira, lá está, você tem todo o direito a desabafar o que e como quiser no seu blog.

Quanto à verdadeira causa para toda a polémica que envolve o referendo, tenho a dizer que se a soubesse montava já um blog para escreve-la, mas também não acredito que existam causas verdadeiras e únicas, a realidade é bem mais complexa do que unicausal. Quanto à questão do referendo em si,pessoalmente acho que deveria ser dado crédito aos portugueses quanto á sua inteligência para entender o tratado, o que não quer dizer que não se devessem fazer debates locais sobre o mesmo para que os cidadãos pudessem esclarecer e discutir as suas dúvidas. A democracia tem necesariamente que ser mais participativa, principalmente em questões fulcrais como esta.

Eu por acaso até sou europeísta, mas não me aquece muito nem arrefece que o tratado seja assinado em Lisboa ou em Haia, embora compreenda que de vez em quando fazem faltas "simbolos" que ajudem a construir aquilo que ninuém sabe o que é e que se chama identidade nacional.

8 e coisa 9 e tal disse...

Não apreciou a minha fina ironia... Mas, como dizia alguém, "eu faço o meu dever, os outros que façam o seu". Até à próxima.