26 setembro 2008

Nos últimos dias, todos os dias

É o título de um lúcido post da trapezista no Perante o riso geral. Transcrevemos na íntegra e, se for preciso, assinamos por baixo.

(nos últimos dias, todos os dias) Entro em discussões sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Entro porque interessa. Porque é preciso. Porque de cada vez que alguém agride alguém isso também me diz respeito. Por isso: Paremos todos de dizer que se está a discutir o casamento gay, o casamento homossexual ou o casamento entre homossexuais. O que se está a discutir é o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por agora, em Portugal, dois homossexuais podem casar-se (numa igreja, numa praia, num cartório, no quintal). O que ainda não acontece em Portugal (e note-se que o ainda tem que ter aqui muita força) é o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. O que ainda não acontece em Portugal é o acesso ao casamento civil por parte de todos. Ou seja, o que se discute são direitos fundamentais, não copos de água. Há um sentimento primário que não entendo no meio disto tudo. O que incomoda tanto tanta gente que ao seu lado alguém queira ser feliz? O que incomoda tanto tanta gente que alguém queira comprometer-se perante a lei e o Estado a cumprir como marido ou mulher (como cônjuge)? Porque é que de cada vez que se fala sobre isto há alguém que diz que não acha bem, que lhe faz impressão, que lhe dá nojo? De onde, de que lugar no cérebro, lhe vem esta ideia? Quando Espanha (que nem sequer é bem um país) aprovou a lei que permitia o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o primeiro-ministro José Luis Zapatero disse, perante os deputados, que aquela lei pretendia construir um país "mais decente". Porquê? Porque, para Zapatero, "uma sociedade decente é aquela que não humilha os seus membros". E pronto, é isto, só isto. É só esta a ideia que nos falta perceber. Será que é preciso chamar cá o Zapatero?

4 comentários:

dizia ela baixinho disse...

grande trapezista, grande texto.

e chama-se o Zapatero! cheira-me que vai ser preciso.

é que uma tal de 'disciplina de voto' e outros que tais fazem-me suspeitar que ainda temos um longo caminho pela frente no que este assunto diz respeito.

abraço

Anónimo disse...

há poucos que admitam que lhes dá nojo (por terem vergonha disso). Assim como há poucos que admitam que não votam Obama porque é preto (por não saberem bem de onde vem esse medo). E é preciso começar por admitir essas coisas vestidas de medo que estão escondidas dentro de nós não se sabe bem onde...
Não me sinto confortável ao pé de dois homens que se beijem. E também nada confortável com esse desconforto.
Voto no casamento entre pessoas do mesmo sexo.

gerou-se a confusão natural disse...

O primeiro preconceito que tenho de ultrapassar relativamente ao assunto diz respeito ao próprio casamento. Cada um faz da vida o que quer mas, nos dias que correm, tenho a sensação que os casamentos se fazem sabendo de antemão que se vão desfazer em mais ou menos tempo.E no entanto jura-se amor para a vida e afirma-se respeitar e servir o outro até que a morte os separe. Ou o contrato passa a socorrer-se de outro palavreado ou até acho que os contratantes deviam ser obrigados a cumprirem-no na íntegra, como castigo. Sou, pois, uma opositora militante do casamento e, embora tenha constituído uma família mais ou menos funcional, jamais cederei neste capítulo.Acho, caro manyfaces,que a sociedade reage com desconforto relativamente a quem quer que se beije. A quererem imenso casar, então tb voto pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo.

JPN disse...

gostei, gerou-se a confusão natural.

também apoio o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas para mim, e já o defendi, resolve apenas parte do problema. ficam por resolver os problemas entre as pessoas do mesmo sexo que - tal como alguns casais heterossexuais - ao casamento dizem não e nada.