Há uns tempos li na newsweek um artigo sobre a tendência mundial de se ter filhos cada vez mais tarde ou mesmo escolher não os ter.
Tem a ver com a entrada definitiva das mulheres no mundo do trabalho, onde lutam com as mesmas armas e disponibilidades com os homens. Algumas não têm filhos porque não querem, outras porque querem avançar na carreira antes de o fazer, outras porque querem gozar o que o dinheiro lhes dá sem o partilharem com as obrigações da maternidade, outras ainda (a maioria segundo o artigo) porque ainda não chegou "o momento certo".
Detenho-me nas mulheres porque me parece que há muito mais em jogo para nós/elas do que para eles. Um homem pode ter filhos aos 50 ou 60 anos, sempre aconteceu. Uma mulher não, nós temos um tempo limitado para poder fecundar os óvulos, é uma reserva finita e com temporizador.
As mulheres que vão avançando pelos 30 sem filhos estão a romper um padrão desde há séculos institucionalizado, as suas mães e avós começaram a ter filhos por volta dos 20 anos, e as únicas que não o faziam eram as "tias", mulheres desinteressantes por quem homem algum conseguia ser atraído.
Hoje não é assim, há mulheres lindas e cheias de interesse que ainda não têm filhos. até mesmo por opção, ou à espera do tal momento ideal.
No entanto, fica sempre um complexo de culpa assumido ou não. Culpa perante a herança familiar, que não se está a cumprir a herança genética e social que as nossas antecessoras nos passaram. Culpa em relação a si mesmas, por não estarem a cumprir o seu papel de mães. Culpa em relação aos filhos não nascidos, que teriam o direito a gozar uma mãe na plenitude da sua juventude, força e saúde, o que lhes permitiria terem mais anos de progenitores a gozar.
As escolhas são feitas e publicamente assumidas. Na intimidade, alguém está a ser desapontado por isso, o que causa ansiedade e infelicidade.
4 comentários:
Ora aqui está mais um exemplo onde os papeis de género se confundem com os sexuais!
Desde sempre, e por uma questão primeira de sobrevivência, à mulher sempre foram atribuídos os papeis de mãe. Mulher era sinónimo de mãe, era essa a sua função social e os famosos instintos maternais (ou o sexto sentido) nem sequer eram postos em causa e todas as mulheres pelo facto de o serem tinham-nos, da mesma forma que também eram o sexo fraco, as mais sensíveis e por aí fora... Ora, acontece que, para o bem e para o mal, a História tem muitos tempos e os tempos da evolução social, económica e política nem sempre correspondem aos tempos das mentalidades...
E na verdade, a maiorida das sociedades ocidentais ainda hoje cobram à mulher o seu papel de mãe e mulher, a pesar de lhe começarem a conceder, ainda com muita relutância, um papel mais activo na sociedade... Eu, pessoalmente, continuo a considerar este como um preconceito de género!
Claro que cobram. Claro que as mulheres se estão a querer livrar disso, mas isso demora muito tempo.
Falava não de como os outros vêem as mulheres mas de como as mulheres sentem (ou podem sentir) as escolhas que fazem. Divididas entre o ser e o querer, entre o que sempre viram e o padrão que estão a quebrar.
As mudanças acarretam dor.
E por outro lado...
Quando toca o relógio biológico e o parceiro do lado não está para aí virado, é melhor sair da frente. Mulher a querer ter um filho tem poder equivalente a uma manada de búfalos em corrida desenfreada. Quem estiver na frente ou corre com a manada ou é espezinhado. E que belo é sentir esse poder Matriarcal.... Tão bom sentir os olhos de alguém que quer (mesmo) ter um filho.
"Faz amor comigo. Vamos ter um filho... " Há coisas tão ancestrais, vontades tão fortes que vêm dos confins do Universo.
"...numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe", usando a minha fonte de citações favorita.
E vem-me à cabeça uma frase para homens desesperados: "Amor, o que queria mesmo era fecundar-te..."
è verdade multipla, é uma mudança que acarreta dor, como todas as mudanças, Apesar de que cada vez mais mulheres estamos conscientes de que existimos para além do nosso papel de mãe, a sociedade continua a insistir teimosamente neste. Em cada reunião familiar surge a pergunta, então quando é que me dás um netinho(como se fossemos uma fábrica de presentes), então quando é que tens um filho?; as amigas perguntam uma e outra vez: e tu não queres ter filhos?, estando já cansadas de saber a resposta. E as heranças sociais levam tempo a dissolver-se, por mais que tenhamos consciencia delas. POr isso há dor e é preciso aprender a conviver com ela, a acreditar que a energia para cuidar de filhos não é maior quando se tem 20 ou 30 anos e que quando chegar a altura chegará, se chegar. E se não chegar, há sempre muitos outros outros projectos de vida igualmente válidos, alguns até só concretizáveis quando não se tem filhos.
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