03 março 2009

As minhas mãos


As minhas mãos nas mãos da minha filha, quando caminhamos nas ruas, nos aeroportos, à saída da escola, a caminho do parque e das compras, as mãos da minha filha nas minhas mãos que acariciam, abraçam, que às vezes se zangam, que fazem a comida. As mãos da minha filha, pequeninas mas já firmes, lentamente vão aprendendo a crescer e a viver, cheias de esperanças e possibilidades.
As minhas mãos nas mãos da minha mãe. Cortei-lhe as unhas, limei-as, mas não me deixou pintá-las, fiz-lhe carinhosamente massagens nas suas mãos ainda belas que se despedem da vida, cada dia um bocadinho mais.
As minhas mãos nas mãos do meu amor, no sexo, na cara nas costas, nas suas coxas ossudas.
As minhas mãos uma na outra, pondo creme todos os dias para atenuar a secura das mãos que esfregam, lavam, arrumam, escrevem, acariciam, arrancam unhas e fumam cigarros, para atenuar o passar do tempo que às vezes confunde passado com futuro.
As minhas mãos todos os dias amassam as letras que deslindam a pergunta: que faço eu para ser feliz?

1 comentário:

dizia ela baixinho disse...

tudo o que escreveste neste post e ainda o facto de o teres partilhado connosco.

de mim soltou-se um sorriso, e certamente um sono que se adivinha descansado.

:)