Ontem tive a oportunidade de rever um filme que só vi na tela do cinema, talvez há uns quinze anos atrás (já????), Les sous-doué ou, a turma dos repetentes, título escolhido para Portugal. Talvez uma comédia menor na paris dos anos 80. Valeu pela recordação das gargalhadas da altura quando ainda não sentia tanto esta urgência de análise. Sobrevivi a esta prova mas em muitas ocasiões deste tipo, em que o passado vem de encontro a nós, o pânico é normal instalar-se. Não quero ver, não quero ver o filme, ouvir aquela música que só fazia sentido quando pensava em ti e tu já nem existes dentro deste cenário onde eu actuo, não quero reencontrar a melhor amiga que tinha na altura 14 anos e que quase dizia as frases ao mesmo tempo que eu de tão parecidas que éramos, não quero revisitar a casa e sentir-me agora um gigante naquele quarto que até dava para correr, lembro-me tão bem, não quero repetir a dose daquela pratada de arroz de marisco no mesmo restaurante em que jantámos em sesimbra, cheios de amor, cheios de todas as palavras atropeladas umas nas outras, imersas em encanto. E se já não me rio com aqueles actores e até me esqueço de quem estava sentado ao meu lado a rir ao mesmo tempo que eu? E se aquela música especial, afinal é tão estúpida e medíocre de meter pena e tu te desvaneces como uma nota fantasma? E se agora odeio a minha "melhor amiga" porque ela olha para mim com os olhos de quem já não sabe o que penso, com a certeza de eu já não sei decifrá-la, com as palavras de uma pessoa que eu desprezaria em dois minutos se a estivesse a conhecer nesse momento? E se casa já não cheira a vocês? E se no restaurante, eu olho para ti e vejo que já não me amas?
2 comentários:
"The past is a foreign country: they do things differently there", escreveu L. P. Heartly. E é tão verdade.
Bonito texto. Escreves muito bem. E penso que todos nós sentimos o mesmo medo. As tuas palávras foram directas ao meu coração... também eu já perdi algumas amizades e recordações que se esfumaçam com o tempo... é a vida que segue o seu curso, quer queiramos, quer não. E o que nos parecia tão próximo, agora é que há de mais distante. Mas a mudança também traz coisas boas e é nessa que nps devemos focar no presente, com a certeza que também essas oum dia, se desvanecerão...
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