reuniram-se as múltiplas só porque sim, tinham saudades de estar
juntas. Têm um blog em comum onde em geral não escrevem. Quando se encontram falam do blog e de outras coisas. Em
geral começam a falar do blog e logo o tema varia. Falam muito de política actual,
mas desta vez, derivado ao facto
que a situação do país e do mundo está muito escaldante e que cada cabeça sua
sentença e antes que fosse só esse o tema do jantar e se engalfinhasem todas, resolveram vetá-lo (só por este jantar, porque elas não
se aguentam e que porque a diferença faz parte da vida).
Também perdem horas a falar de crochet: eu agora cada vez que penso em homens,
começo logo a imaginar como fazer naperons, ou, o sexo tântrico para mim é como
o crochet, sempre são coisas que eu penso que um dia gostava de experimentar,
uma tipa numa festa de bdsm ia toda vestida de cabedal e por cima tinha um
vestido de rendas negro como os dos panos de tabuleiro das avós. De síntese
ficou uma bela reportagem gráfica, a tarefa de ver a casa dos segredos para poder falar disso com propriedade no próximo jantar, uma sala com as janelas abertas há dois dias
para fazer sair o cheiro a cigarros e, apesar de que aparece um facalhão no registo gráfico, não temam, estava destinado ao bolo
de brigadeiro, ainda não foi desta que matámos o oito e coisa. A recuperação
pode estar por um fio. Ou não. Só nós
dDeus e as oito e coisa nove e tal é que sabemos.
30 setembro 2012
24 setembro 2012
Tem dias
Tem dias em que acordo e sinto que estou fora do tempo. Ou que o meu tempo já passou. Olho em volta e sou a inveja.
Inveja da lisura da pele. Inveja dos anos que se tem pela frente quando se tem vinte. Inveja de tudo o que se pode vir a fazer. Inveja da surda admiração que a juventude acorda. Não por nada de especial, mas pela simples e fugaz perfeição material dos corpos ainda intocados.
Descubro: o meu tempo já passou.E quando o tive, fui a mais inconsciente das criaturas, sentada na soberba de tudo o que havia de vir.
Tem dias que deviam ser noites. O sono é a melhor forma de esquecimento.
17 setembro 2012
O prazer da leitura
O projecto Hysterical Literature de Clayton Cubitt.
À nossa frente, mulheres que lêem um livro. Tudo o que as faz hesitar, suspirar, sorrir, passa-se fora do nosso olhar.
Não me importava de ser a próxima cobaia.
09 setembro 2012
As férias
Sabe,
menina, este ano só vou uma semanita, aluguei uma casita no Algarve, é mais por
causa da minha filha, está a ver o que seria se a miúda não tivesse nada para
contar das férias às amigas da escola, as outras miúdas cheias de histórias e a
minha sem nada para lembrar, por isso este ano aluguei um apartamentozito perto
de Quarteira, mas este ano só dá mesmo para uma semanita.
Eu gosto muito das minhas férias e aproveito para fazer o que não
faço durante o resto do ano: sento-me na esplanada da praia a vigiar os
mergulhos da miúda - e dos magarefes que já começam a por olho nela – e
hidrato-me por dentro, uma duas três minis até ficar saciado. Chega, então, a
vez de me hidratar por fora: levanto-me da cadeira de poliuretano da esplanada,
deixo a mini e os tremoços, pego na miúda pela mão (às vezes até a ponho aos
ombros) e mergulhamos os dois na água cálida deste mar, “oh pai não me atires
assim tão alto, oh pai olha que os meus amigos estão todos a olhar para nós, oh
pai pára com isso”, mas eu não ligo. Do que a miúda precisa é de uns bons
momentos com o pai desde que a mãe ma começou a entregar todos os
fins-de-semana de 15 em 15 dias, dizia que eu era violento, que a guerra me
tinha pisado uns parafusos, mas verdade verdadinha é que eu não nunca fui do
tipo de levantar a mão a uma mulher, posso ter dito umas coisas das quais me
arrependo, mas nunca nenhuma das duas levou uma cachaporra daquelas, isso era
no tempo dos meus pais quando fugíamos à escola, aí sim era porrada a valer,
três dias a mondar o campo, e agora vem-me esta miúda queixar-se dos três
mergulhos com que a atiro à água. Duvido que estes miúdos estejam preparados para
a vida, com que responsabilidade é que vão tomar conta de nós, dos seus pais,
se não sabem nada de nada da vida, é tudo dado por adquirido, até esta semanita
de férias aqui neste apartamentozito em Quarteira?
Como é que vou pagar as férias? Isso é só fazer contas, graças a
deus que nunca me falhou essa vocação. No meu caso, deixo acumular duas contas
de eletricidade e quando receber o aviso de corte vou logo à loja do cidadão e
pago em dinheiro vivo. Este ano vou fazer o mesmo com o gás, já tenho gás natural
no bairro onde vivo, graças a deus, duas contas acumuladas e a garantia de
férias no apartamentozito do Algarve. Não se preocupe menina, eu depois faço
horas extraordinárias neste carro onde a conduzo, se for preciso 12, 13, 14
horas por dias. A única coisa certa é que a minha miúda vai ter que o que
contar às amigas quando voltar à escola.
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