31 agosto 2014

Frase sábia do meu avô

(que a dizia pausadamente e em sotaque ribatejano)
É preciso a gente ter sorte com os porcos, mas os porcos também precisam de ter sorte com a gente.

O que eu tenho pensado nisto!

25 agosto 2014

Irrita-me

Escrever coisas originais e profundas, com um leve sentido de humor a correr ao longe, e depois sair do duche e ir-se tudo com o turco da toalha!

Ainda sobre a inveja

É tudo verdade, querida múltipla. Mas o que me irrita é que nessas ditas fotografias a praia está deserta, as barrigas são verdadeiros hinos ao tónus muscular, os gins são preparados na perfeição e os pores-do-sol parecem vir de Hollywood. Dentes brancos em bronzes felizes. Imagens perfeitas ao lado das quais os retratos das minhas férias, quando os há, parecem sempre tirados do quarto da criada...

Ah!, o tempo...

Há músicas que me fazem cantar. Como esta.
O refrão: "Morena no fundo quer/tempo para ser mulher".

21 agosto 2014

A inveja é uma coisa lixada

E não há nada pior do que ter inveja das férias dos outros. Sou um poço de maus sentimentos. A azia cresce. A veia da testa está quase a explodir. Rezo aos santinhos da meteorologia por chuva no algarve, granizo no alentejo, uma vaga de alforrecas assassinas,  chuva de gafanhotos e pragas bíblicas diversas. 
Mas o que me salva é a internet. Blogues, instagram, facebook, twitter, enchem-se de fotografias das férias dos outros. Suspiro de alívio. Sorrio de maldade. As férias dos outros são afinal uma grandecíssima merda. 
As férias que exibem, sorridentes e orgulhosos, são o meu pesadelo. Praias cheias de gente. Guarda-sóis de colmo a fingir que estamos nas caraíbas. Sunset parties em cima da praia. Restaurantes gurmê da treta. Ir ao mar como quem entra no metro, com licença faz favor. Regressar a uma toalha rodeada de gente, música, gritos, jogos de raquetes, futeboladas. Dormir em apartamentos, bandas de moradias geminadas, ter a vida de todos os dias naqueles dias que deveriam ser de fuga. Gente. Muita gente.
Não há nada melhor do que os outros para deixar de ter pena de mim mesma. 

do regresso ao trabalho

O que mais custa não é a otite, a bronquite ou mesmo a estupidez dos colegas. Não são as graçolas, o perímetro abdominal do cro-magnon do economato ou a unha fúngica daquela-com-ar-de-puta-velha do 4.º andar.
São os sapatos. São os meus próprios sapatos que, a cada passo durante todo o dia, insistem em provar, de forma absoluta, que os meus pés já não estão naquela areia a escaldar, a correr para o mar. Que insistem em lembrar-me que estou condenada a mais 347 dias sucessivos de permanente aperto aos calos...

Vês?

Não te dizia quetambém  elas têm saudades tuas?! Pouco a pouco, havemos de voltar. Todas... E que lindo dia será esse!

11 agosto 2014

Porque

Porque as palavras já foram quase todas inventadas e as da poeta devoraram o tempo.

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner, Mar Novo