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05 março 2009

Catabuuum!

(....)
- Memórias perfeitas, memórias perfeitas.... Talvez uma, numa noite linda numa aldeia da costa alentejana, numa casa minúscula onde deixámos os amigos a dormir e saímos para o pátio. O medo de sermos apanhados e a enorme paixão que tínhamos tornaram-na numa queca memorável.

- E eu lembro-me uma vez no cinema Ávila, sessão de um filme japonês do qual mal me lembro, umas oito pessoas no cinema para além do partenaire e moi même. Que eu desse por isso, não fomos apanhados. Ainda há mais cházinho?

- Eu estava aqui muito quietinha, mas puxam por nós e já não há nada a fazer... Lembro-me de uma vez com um namorado muito antigo, no tempo em que os animais ainda falavam: o balcão da cozinha da casa dos pais dele, enquanto toda a família se entretinha num almoço no jardim, mesmo ali ao lado. Ai mai gódinho...

- Uma das vezes que recordo com mais prazer foi numa madrugada de um mês de primavera com um dos meus grandes amores a namorar na janela da minha casa (que dava para a rua e para um jardim público), aberta de par em par, e o som da chuva a cair na estrada e nas plantas. Não faço a mínima ideia se alguém nos viu, eu pelo menos garanto que não vi ninguém. Também eu tomava mais uma chávena de chá...

- Bem, eu tinha uma amiga cuja fantasia mais louca era fazê-lo no meio do relvado do estádio do Sporting. Ainda gostava de lhe perguntar se foi bom...

- Ó meninas, como o chá já acabou... E se abríssemos uma garrafinha de Periquita? E para a Dona Gertrudes venham dois pastelinhos de bacalhau e um powerade com uma palhinha. E a propósito de fantasias, ó Dona Capitolina, conte-nos lá o que se passa com o senhor Américo da mercearia..

Splaaaaash!

Continuam elas entre dentada e golada, desfiando memórias como quem desfia um novelo sem fim:

- A praia tem os seus encantos, mas só se for de enseada e em escarpa, porque os longos areais têm a desvantagem de estarem muito iluminados. A areia tem os seus inconvenientes, por isso recomenda-se o uso de uma toalha.

- Isso, na praia também é fixe mas só se não está frio e se tem uma toalha grande. Mas lembro-me de uma vez atrás de uns arbustos, ao pé de uma discoteca na praia do Burgau, essa vez não sei porquê foi mágica, com um holandês com umas meias de lã lindas e do qual não consigo recordar o nome, nem a cara nem nada. Deve ser do alzheimer...

- E eu lembro-me de uma noite de verão com chuva de estrelas anunciada (era Agosto, pois era). Colchões na varanda à espera da dita chuva, nono andar de um prédio de nove andares. Não vi estrela nenhuma, só a porra do amor, do sexo, do desejo e o rio ao fundo, um braço grande de rio a fazer uma curva. Era a primeira vez, ainda por cima... O resto está no 'esquecimento', o sítio ideal para as memórias-perfeitas. Humm, memória-perfeita, conceito a desenvolver... Alguém tem mais memórias perfeitas?

Bruumm

À roda de um chá verde e de um bolo de maçã, vieram à baila experiências sexuais em sítios públicos. Começaram com o clássico do automóvel. Lança a Dona Gertrudes: pois eu vou revelar-vos parte de mim um pouco escabrosa mas posso garantir-vos que há uns 15 anos atrás o parque de estacionamento ao lado da sede da nossa democracia era um lugar seguro. Agora... já sabem, tenho uma família funcional, que é como quem diz: aqui fode-se aos sábados, quem está está, quem não está estivesse! Responde a Dona Preciosa: eu recomendo o carro mas em andamento e durante a noite….seguida da Dona Hermengarda, essa também me lembrei, mas não é para qualquer um. Já experimentei e tinha visões das manchetes nos jornais no dia seguinte, da minha morte com a entrada da embraiagem pela nuca... Não se conteve a Dona Capitolina: carro em andamento, presente - apesar de nunca ter pensado nas manchetes dos jornais. E a vantagem é que quando a viagem acaba a festa continua... Arrefinfa-lhe a Dona Lurdes: dentro do carro à beira mar e beira rio é muito bom, mas estou com a Dona Hemengarda , cuidado com o travão de mão. A Dona Arlete põe mais um cromo para a troca: eu nos carros lembro-me de uma vez ao pé do farol do Cabo Espichel, foi muito fixe, mas com tanta agitação partimos o espelho retrovisor do carro e o meu excelso teve de vir até Lisboa com o braço estendido a segurar o espelho. E remata a Dona Perpétua: os comboios também são fixes, uma vez no sud-express lisboa-paris, que saía de Lisboa ao fim da tarde, conheci um homem bem parecido, africano, já não me lembro de que nacionalidade, fortalhudo, e enrolámo-nos fogosamente, até que numa das paragens chegou mais gente e já ficámos com pouco que dizer um ao outro. E na praia, já alguém experimentou?

20 setembro 2008

Uma chávena de chá na blogoesfera

[Driiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim]
- Está lá?
- Viva D. Arlete, é a D. Preciosa.
- Ora, D. Preciosa, bom ouvidos a ouçam! É que vê-la 'tá quieto ó mau! Se nem na praça a encontro já...
- Pois é D. Arlete, é que desde que descobri que posso fazer as compras pelo computador, mando a listinha pelo meu neto, ele trata da encomenda e passado umas horitas aparecem uns moços jeitosos a entregar-me as compritas. Poupam-se-me os bicos de papagaio e os 4 lanços de escadas e ainda aproveito para olhar para a 'mercadoria'...
- Mercadoria? Está-se a referir às compras, D. Preciosa? Hãnnn?
- Deixe lá D. Arlete, deixe lá, que o meu motivo do telefonema é outro.
- Deixe-me adivinhar: é por causa dos nossos cházinhos. Ou da falta deles.
- Agora acertou. Sabe, faz-me falta aquele convívio. Está bem que a D. Hermengarda era uma lunática e só falava ultimamente em rever a Hermenêutica. Depois, parece que descobriu a 'luz' através de um filósofo alemão alinhado com o partido nazi, e desde que foi para a Floresta Negra na Alemanha em busca de mais documentação, nunca mais soubémos nada dela. Nem um postalito enviou, a ingrata.
- E a D. Lurdes? Ó que saudades dela também. Lembra-se do narguilé que o neto lhe tinha trazido de Marrocos? Nunca se esquecia de o levar para os nossos chás. Aliás, a bem da verdade, os chás eram quase sempre em sua casa. E se preparava umas mesas que eram uma categoria, ó se preparava, mesmo em épocas de maior carestia.
- Uma alma generosa, sem dúvida. Mas parece que agora se dedica a uma carreira de cantora a solo. Anda muito ocupada a promover a sua carreira e tourné, ela e um pianista de seu nome Nancy. Até já nem quer que a tratem por 'dona'. Tem um nome artístico que agora não se me lembra a memória.
- O quê?!
- Então, nunca é tarde para começar, não seja preconceituosa.
- Mas quem cantava não era a D. Gertrudes?
- Também, também. Pode ser que queiram fazer uma dupla, nunca se sabe.
- Duvido, a D. Gertrudes é outra a quem perdemos o rasto. A última coisa que soube dela é que andava numa missão no meio da Amazónia. Depois chateou-se com o 'sistema' e abriu um negócio de venda de sumos.
- Olhe D. Arlete, estava aqui a pensar com os meus botões...
- Diga D. Preciosa, sou toda ouvidos, deixe lá afinar o aparelho...
- E se fizéssemos um blogue?
- Um quê?!
- Um blogue. É um sítio onde escrevemos/dizemos umas balivernas e vamos pondo a conversa em dia. Pode ser que as ausentes se animem e apareçam também.
- E que nome daríamos ao gulobe?
- Blogue, be-lo-gue. Eu proponho Oito e Coisa Nove e Tal. É inspirado na canção do António Mafra. Parece-lhe bem?
- Parece-me muito bem.
- O meu neto vai tratar de tudo, então.
- Uma jóia, esse seu neto, uma jóia.

07 abril 2008

E agora?

Estava tudo a correr tão bem, um blogue agradável, umas senhoras que vinham aqui e escreviam umas coisas, nuns dias havia postas para rir, noutros postas para pensar, noutros ainda postas para chorar, às vezes postas que não serviam nenhum fim em especial mas não ofendiam ninguém, um blogue que se visitava enquanto se tomava chá ou enquanto a máquina da roupa acabava de centrifugar, um blogue decente e familiar.
Estava tudo a correr tão bem e agora isto, uma poucavergonhaça que faz corar as pedras da calçada, como é que agora vou convidar as minhas amigas para mais um cházinho? E eu que queria tanto mostrar-lhes o serviço de chá que comprei na excursão da empresa da cunhada do senhor peixoto, foram só 50€ em 24 prestações que ando a pagar, tão jeitoso que é o serviço e agora não sei se posso dar-lhe uso, só de imaginar a dona arlete a olhar para isto dá-me um arrepio na espinha, coitada que vai logo sentir falta de ar e vamos ter de a sentar no sofá e dar-lhe a bomba que a alivia da sensação de sufoco, e agora como é que vamos ter conversas de gente nos nossos lanches quando levamos assim de chofre com aquele título?

15 novembro 2006

O cha(rro) das cinco nas caixas de comentários

- D. Preciosa, vai mais uma passa?
- Espere aí que ainda estou a enrolar este. Comprei esta bolota ontem no bairro, dizem que é uma categoria. Vem do Cazaquistão.
- D. Hermengarda, ainda bem que chegou. Vem mesmo a tempo, vamos estrear o narguilé novo que o meu neto me trouxe de Marrocos. Aquele menino é um santo, sempre a pensar na avó. Nada como os caretas dos pais, que nem um copinho de licor beirão bebem depois do almoço.
- Ai, D. Preciosa, não me diga nada. Ainda ontem estive a discutir com a minha filha as qualidades terapêuticas da cannabis e veja lá que ela me disse que eu ainda ia acabar a arrumar carros ali para os lados de Santos.
- Minhas amigas, os nossos filhos não percebem nada. Eles não viveram a noite escura do fascismo e não sabem o que são as conquistas de Abril. São subprodutos do neocapitalismo galopante e da sociedade de consumo imperialista. Sempre a censurar, sempre a dizer mal. Vsssssssssss. Este produto é mesmo do melhor.
- D. Arlete, não seja garganeira, dê cá disso antes que comece a queimar unha.
- Vsssssss. O que é que estávamos mesmo a dizer?
- Vsssssss. Não me lembro.
- Vsssssss. Eu também não.
- Vsssssss. O que é que isso interessa?

21 julho 2006

Mais uma chávena de chá

- Dona Arlete, hoje estou um bocado ralada.
- Ò Dona Preciosa, não me diga que são outra vez os joanetes a ralarem-lhe os pés?
- É isso mesmo, Dona Arlete, não é qualquer sapatito que me caiba, agora tenho de usar aquele calçado ortopédico que é muito confortável, bem sei, mas estava tão habituada ao meu calçadito. Olhe, uma apoquentação, é o que é. A propósito não tem aí mais uma pinguinha de chá?
- Ó Dona Preciosa, já se serviu de duas taças e olhe que agora tenho de poupar os pacotitos que vou aviar ali à mercearia da esquina, que isto a crise afecta todos, mas sobretudo aqueles que têm uma pensão poucachinha, que é o meu caso, por falar nisso ainda não chegou o chequezito da pensão do meu marido.
- Ó Dona Arlete, que maçada. Não é que não a perceba, mas não acha que esta a ser um bocado forreta? Hoje nem sequer umas bolachitas...
- Não se queixe, Dona Preciosa, não se lamente, quem dá o que pode a mais não é obrigada. E sou eu, aliás, que ofereço sempre o cházinho. Às vezes a Dona Lurdes lá se chega à frente, mas cá para nós não é a mesma coisa, pois não?
- Que falta de chá, diz a Dona Arlete para com os seus botoes.
Entra a Dona Lurdes
- Desculpem o atraso neste cházinho que tanto aprecio, mas fui ali comprar um vernizito à loja do chinês. É a crise, não dá para mais.
- Ó Dona Lurdes, ainda bem que fala no assunto. Eu por acaso também comprei um verniz na mesma loja, mas aquilo é um bocado manhoso. Quer-se dizer, ficou um bocado feio quando fui fazer a barrela. Estalou tudo. Rico dinheirinho tão mal empregue... e com as necessidades que passo, sabe como é...
- Pois eu agora, Dona Preciosa, também ando preocupado com o meu aspirador. Avariou-se, coitadinho, também já era velhinho, é verdade, tinha-me sido oferecido pela minha nora, que mora lá para os lados de São João da Talha e agora tenho de varrer tudo com a vassoura e não chego ao canto onde estão as baratas. Uma arrelia é o que é. E eu toda curvadita e sofro tanto derivado aos bicos de papagaio. Uma arrelia, é o que é.
Entra a D. Hermengarda
- Estou muito atrasada, desculpem, estimadas amigas. Mas é que no caminho vinha a pensar no Hans-Georg Gadamer. Considera que a praxis não está subordinada à teoria, como simples técnica resultante da dedução de um saber teórico. A prática é co-natural à teoria. Procurando distinguir-se da metafísica, tem como virtude fundamental a phronesis, entendida como ligação entre a razão (logos) e a experiência moral (ethos), entre a subjectividade (da consciência) e a objectividade (do ser). As grandes abstracções pluridisciplinares. Olhem, uma ralação, há dois dias que não penso noutra coisa.
- Ó Dona Hermengarda, não seja por isso. Amanhã podemos fazer um novo cházinho e discutir a questão em conjunto. Mas olhe, já agora traga você uns pacotinhos de chá, que eu estou farta de dar para esse peditório
- Está bem Dona Arlete, mas não lhe prometo nada. Vou ver se avio uns pacotitos avulso. E agora, queiram desculpar, mas tenho de ir. Desculpem a pressa, mas tenho de ir ler Edmund Gustav Albrecht Husserl, fundador do movimento fenomenològico que ao que parece era discípulo de Franz Brentano y Carl Stumpf. Influenciou vários autores e em grande medida Max Scheler e também o interesse de Herman Weyl na lógica intuicionista na imprevisibilidade.
Sai a D. Hermengarda, depois de se ter abotoado a 2 taças de chá.
- Sabem, diz a Dona Preciosa, é mesmo sovina esta Dona Hermengarda. Além disso, cá para nós que ninguém nos ouve, é uma obcecada, é o que é. Deve ser derivado ao marido que a deixou pela prima da cunhada da cabeleireira que vive ali para os lados da Mouraria. Não tem mais nada que fazer nas horas vagas é o que é. E a gente que ature e que lhe afague a tristeza. Mas temos de ser umas para as outras, não é?

14 julho 2006

O chá das cinco nas caixas de comentários

- Ó Dona Arlete, quer mais uma pinguinha de chá? Olhe que faz bem à vesícula, limpa tudo...
- Sim, obrigada, Dona Lurdes, mais uma pinguinha. Dona Lurdes, eu queria agradecer a visita tão simpática que me fez no outro dia.
- Ó Dona Arlete, eu também gosto muito de a ter por cá. É tão bom ter visitas, encher a casa de vozes, ficamos a sentir-nos menos sozinhas.
- Ó Dona Preciosa, vai mais um biscoitinho?
- Sim, Dona Lurdes, estes biscoitinhos são uma delícia, é por isso que eu não falho um chá aqui na sua casa.

Devo ser a mais furiosa, maldisposta e insuportável das múltiplas.
O que vale é que estou quase sempre calada.