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21 novembro 2010

maos, cabeça e ouvido

Antes gostava das maos dos homens músicos. Fascinavam-me. Os dedos comprimidos  e soltos dos pianistas, aos maos mais sólidas mas ao mesmo tempo ágeis dos percursionistas, os dedos pausados e presentes dos contrabaixistas, as maos decididas dos bateristas. As suas maos entravam pelos meus sentidos, fantasiava imaginando-as compondo (n)o meu corpo. E nesse antes em que gostava das maos dos homens músicos deixei-me materializar a fantasia e encontrar-me com a realidade possível. O baterista por quem me entusiasmei  era divertido, com o sentido de humor inversamente proporcional  ao conhecimento que um corpo necessita ser tocado todo por inteiro; destes encontros guardo boas memórias de noites de riso na praia e umas composiçoes desajeitadas e elementares. Já o pianista sim sabia como fazer do meu corpo uma sinfonia enfeitiçada, recordo deliciosas noites numa casa antiga e alta no bairro da lapa em lisboa com uma janela minúscula por onde entrava o rio (e também nao esqueço as suas profundas crises existenciais e depressivas que às vezes me faziam adormecer de esgotamento emocional em plena conversa). Outro, um baixista, ajudou a rescatar a fantasia e, na única noite que passámos juntos, fez soar e ressoar as minhas notas mais intimas  e salvou-me de um ataque de tosse que eu tinha e que só parava quando voltávamos entusiasmadamente à sexjam session. O tratamento antitussico estendeu-se até os corpos se renderem à exaustao e ao calor suave dos raios do sol que nascia. Dele pouco sei, perdemos o contacto e os amigos em comum, mas aquelas maos, meu deus, ficarao para sempre aqui num cantinho especial do meu álbum de memórias musicais. 

Com o tempo, aprendi que quem vê maos nao vê composiçoes e, apesar de que ainda algumas maos de homens músicos me transtornam a sensualidade, hoje em dia dou mais atençao a outros indícios de conhecimentos musicais que escasseiam no meio sonoro. Ou isso ou ando surda.

08 janeiro 2010

caféalmofadamantaareia

Hoje apareceste, nao sei quem és exatamente mas eras tu de certeza, apareceste nua na cama onde eu dormia com o meu homem, dizias tenho frio, como diz a minha filha quando se quer meter na nossa cama. A tua nudez parecia imensa apesar da tua magreza, o teu sexo depilado era uma montanha majestosa que me invadiu os olhos e me entrou pelo corpo dentro, uma montanha imensa que eu nao era capaz de escalar apesar de todo o desejo de alcançar o teu cume. Convidei-te a deitar e de montanha transformaste-te num imenso areal com dunas. Pedi ao meu homem que brincasse com a tua areia e a transformasse num castelo, que revolvesse as tuas ondas como tao bem o faz comigo, eu nao era capaz, nao sei tocar um corpo igual ao meu, nao conheço o corpo feminino, é para mim um misterio maior que a fisica quantica. Timidamente disse, dá-me os teus pés, e com toda a sabedoria que as minhas maos gretadas sao capazes, massajeei os teus pés devagar, explorando cada milimetro, enquanto olhava deleitada esse areal como uma praia exótica das costas do Indico. O despertador tocou, procurei debaixo da manta e já nao estavas lá, partiste de novo para o fundo do meu inconsciente mas nem as duas chavénas de café que já tomei conseguiram apagar a força da natureza que entrou em mim.

03 março 2009

As minhas mãos


As minhas mãos nas mãos da minha filha, quando caminhamos nas ruas, nos aeroportos, à saída da escola, a caminho do parque e das compras, as mãos da minha filha nas minhas mãos que acariciam, abraçam, que às vezes se zangam, que fazem a comida. As mãos da minha filha, pequeninas mas já firmes, lentamente vão aprendendo a crescer e a viver, cheias de esperanças e possibilidades.
As minhas mãos nas mãos da minha mãe. Cortei-lhe as unhas, limei-as, mas não me deixou pintá-las, fiz-lhe carinhosamente massagens nas suas mãos ainda belas que se despedem da vida, cada dia um bocadinho mais.
As minhas mãos nas mãos do meu amor, no sexo, na cara nas costas, nas suas coxas ossudas.
As minhas mãos uma na outra, pondo creme todos os dias para atenuar a secura das mãos que esfregam, lavam, arrumam, escrevem, acariciam, arrancam unhas e fumam cigarros, para atenuar o passar do tempo que às vezes confunde passado com futuro.
As minhas mãos todos os dias amassam as letras que deslindam a pergunta: que faço eu para ser feliz?