26 fevereiro 2010

mundo ideal

a gente devia era viver com xs amigxs e visitar os amores, disse a minha amiga isabel

Os pobrezinhos

Os Pobrezinhos
Tão engraçados
Pedem esmolinha
Com mil cuidados

Todos sujinhos
                                               E tão magrinhos
A linda graça
Dos pobrezinhos

De porta em porta
Sempre rotinhos
                                               Tão delicados
Os pobrezinhos

Não façam mal
Aos pobrezinhos
Dêem-lhes pão
E tostõezinhos                 
    
Os pobrezinhos
tão engraçados
pedem esmolinha
com mil cuidados.

Armindo Mendes de Carvalho

25 fevereiro 2010

"Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra?"

«Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir. Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Ora bem, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no Céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem.» «Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.»

vida em marte

24 fevereiro 2010

PedraLírioForçaSol

O sol queimava. Juntou toda a força que conseguiu para se esconder debaixo da pedra. Devagar, o caule arqueou-se, as folhas tocaram no chão, até que os estames finalmente sentiram a terra. Parecia um lírio morto. Mas era apenas um lírio que sobrevivia à vida.

23 fevereiro 2010

Não poderia ser Primeira Ministra

Por uma simples razão: coro quando digo mentiras....

Existências (II)

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E só me dizem agora....

22 fevereiro 2010

Com um treinador assim...

Jorge Jesus, sobre o alegado cansaço dos jogadores do Benfica:

"Exigem ao Benfica três factores: vitória, goleada e nota artística. Isso é na patinagem."

daqui

(quem não sabe o que é o SETI, dê um pulo aqui)

Todos os dias

Detesto ser dona de uma casa. Irrito-me com o pó que se acumula, a roupa que não tenho pachorra para engomar, a comida que tenho de fazer, as compras de que devo lembrar-me, a casa de banho que tem de ser esfregada,  as coisas que nunca estão onde devem, a desarrumação que invade tudo com a simples condição de existirmos numa casa.O jeito que me dava um homem-a-dias.

Pergunta

Enquanto cidadã de um estado de direito, será que faz sentido manifestar-me contra algo que não afecta os meus direitos (nem as minhas liberdades ou garantias), mas sim os de outros cidadãos do mesmo estado de direito?
Não.
Ah, e verdade, falta-me o 'democrático'. Estado de Direito Democrático.
Espera...continua sem fazer sentido.

21 fevereiro 2010

Pasatiempo

Cuando éramos niños
los viejos tenían como treinta
un charco era un océano
la muerte lisa y llana
no existía

luego cuando muchachos
los viejos eran gente de cuarenta
un estanque era océano
la muerte solamente
una palabra

ya cuando nos casamos
los ancianos estaban en cincuenta
un lago era un océano
la muerte era la muerte
de los otros

ahora veteranos
ya le dimos alcance a la verdad
el océano es por fin el océano
pero la muerte empieza a ser
la nuestra.

Mario Benedetti

Existência

Pequenos estilhaços de vida correm-me pelas veias.
Restos mínimos de uma lâmpada partida escorregam na minha existência.
Caminho devagar no fio da navalha.
Em bicos dos pés devagarinho para não me cortar.
Gotas de sangue escorrem na lâmina de aço frio.
São lágrimas que não consigo conter nos meus olhos.
Olho em volta e somos muitos.
Somos mesmos muitos.
Olho em volta e sinto-nos perdidos.
Os olhares vazios que se trocam buscam constantemente qualquer coisa.
E pergunto-me será que temos consciência, será que eu tenho consciência.


Olho à minha volta e sinto a navalha em que caminho a cortar os meus olhos que lacrimejam pedaços de lâmpada.
O que será que buscamos?
Tão avidamente e tão perdidos......

Hills Like White Elephants

E agora? O que é que eu queria dizer com isto?

Pedido de esclarecimento

querida oito,
quando escreveste ali em cima 'um blogue de mulheres sérias', o que querias tu dizer?

foi você que pediu?

20 fevereiro 2010

Cenas da vida conjugal (vi)

Noite de Sábado. No remanso do lar, à mesa apreciam-se algumas iguarias, regadas a vinho branco de excepção. A conversa não podia estar mais animada, achava eu, até que reparo na cara dele virada e fixada no écran alienante.
- Mas... o que é que estamos a fazer? Estamos... estás a ver televisão? Estás a ver futebol? (só agora me dou conta que o aparelho esteve sempre ligado).
- Claro! Estamos a ver o TEU Sporting.
- Mas TU ÉS do Benfica!
- Pois claro: aqui em casa só se vê futebol em duas circunstâncias: uma) para ver o meu Benfica ganhar duas ) para ver o teu Sporting perder.
- [Hoje mato-o. E vai ser assim:]

As Curtas do Oito aos Sábados - Nº4

Querida múltipla, devo dizer-te que tenho sido uma fiel seguidora das curtas metragens do oito aos sábados. Por isso, tomei a liberdade de juntar também os meus 'bitaites'. Aqui fica o primeiro:


Título Original: La Ruta Natural
Realizador: Àlex Pastor
Argumento:  Àlex Pastor, Martí Roca
País: Espanha (Barcelona)
Ano: 2004
Prémios: Best National Production (Almería International Short Film Festival), Audience Award European Filmschools (Angers European First Film Festival), Audience Award  e Yelmo Cineplex Award (Barcelona Curt Ficcions), Best Short Film (Barcelona Film Awards, Guadalajara Mexican Film Festival, Iberoamerican Short Film Competition, Milan Film Festival), Students Jury Award (Milan Film Festival), Best Student Cinematography (Palm Springs International ShortFest), Best Screenplay (Sitges - Catalonian International Film Festival), Short Filmmaking Award International (Sundance Film Festival)

Ali naquela nave

Ali naquela nave central, a ouvir uma língua que não é a minha, veio tudo de novo a mim. Ali naquela nave, veio de novo a mim a ausência que não desaparece, o espanto da perda que não se dilui nem à força dos anos que passam - e são já tantos -, ali voltei a ser como há onze anos atrás, um corpo desamparado que chora . A morte é um mistério para os que cá ficam.

As curtas do Oito aos Sábados - Nº3

Depois da Austrália e dos EUA, deixo-vos este Sábado com um realizador espanhol que foi premiado com esta curta-metragem no festival Internacional de Cinema de Palencia, Espanha, em 2007.

Qual seria a banda sonora que escolheríamos para a nossa vida?

Aqui fica, "I think, therefore you are" de  2007 por Mario Viñuela.

Tenham um bom fim de semana! 

19 fevereiro 2010

mais aqui

Réptil

Descobriu que era um réptil no dia em que decidiu livrar-se da pele que trazia agarrada a si. Nenhum outro sinal denunciava a sua condição, o sangue corria quente nas veias, nem uma escama pelo corpo fora, o coração era ainda muito mais do que um músculo que não desiste de bater. Fez o primeiro golpe e passou muito tempo a arrancá-la de si. A pele caía em pedaços no chão, restos de tecido sem dor nem memória. Já não tinha gravado na pele o manual de instruções para vidas banais. Podia errar sem medo.

18 fevereiro 2010

Sim não talvez

- Are you sexually active?
- No, I usually just lie there.

16 fevereiro 2010

VOU-ME EMBORA..

Vou-me embora..
Porque às vezes morremos e renascemos numa mesma vida.
Porque às vezes me perco nos mais ínfimos pormenores daquilo que sou
e na maior parte das vezes daquilo que não sou mesmo nada.
Porque às vezes me esqueço de ser quem sou,daquilo que fui e daquilo que quero vir a ser.
Porque às vezes me faz bem estar sozinha num canto onde só ouço a minha respiração e com isto tento abafar os pensamentos.
Porque às vezes me farto de pensar, de querer e de sentir.
Porque às vezes me esqueço mesmo de mim.
Porque às vezes perco as forças e tenho medo, e sinto-me pequenina e perdida.
Porque às vezes fico emaranhada dentro da minha cabeça como um novelo cheio de nós.
Poque às vezes sinto um aperto no coração ou no peito, sei lá, e acho que vou morrer.

Por tudo isto e muito mais decidi que me vou embora, vou de viagem. Vou-me embora e deixo a minha pele num canto qualquer desta cidade.
Deixo a minha pele vazia escondida e vou desaparecer por um tempo, e quando voltar trarei num frasquinho aquilo que sou e perdi algures.
Quando voltar voltarei a encher a minha pele e só espero encontrá-la no mesmo canto em que a deixei.
Vou trazer num frasquinho aquilo que sou porque a alma não tem tamanho mas tem densidade.

13 fevereiro 2010

Eu Não Sei Que Faz o Sol

Eu não sei que faz o sol
que não dá na minha rua
hei-de me vestir de branco
que de branco anda a lua

Não vi ribeira sem água
nem praça sem pelourinho
nem donzelas sem amores
nem padres sem beber vinho

Lindos olhos de pau preto
nariz de pena aparada
dentes de letra miúda
boca de carta cerrada

Lindos olhos tem a cobra
quando olha de repente
mais vale um bom desengano
que andar enganado sempre

José Afonso

Marcelo D' Bróculos em Português de Portugal


Marcelo D' Bróculos, nunca tinha estado ali. Uma brisa empestada do sabor ácido de algum citrino apodrecido resgatava as suas narinas impedindo-o de se concentrar no que apostava, só podia ser o mais divino e doce cheiro que alguma vez sentiria, transportado num corpo feminino com tal candura e magia, que Marcelo, como um reflexo incontrolado, quase estendeu a mão para agarrá-lo,  ao passar por si. E a alma dentro daquele corpo tinha um nome. D. Ana Alva, chegava à cidade, sem fortuna, despojada de tudo e da família que a guerra do outro lado do mar lhe tinha roubado sem mesericórdia.
Marcelo D' Bróculos, nunca tinha estado ali, naquele lado das chegadas ao porto de Lisboa mas sabia muito bem o que ali estava a fazer.
O seu casamento com Ana Alva tinha sido previamente acordado, ainda ela era senhora de uma imensidade de bens, favoráveis à muito instável situação financeira da sua própria família, e quebrado o contrato após o seu imprevisto estado de ruína, facto a que Marcelo tinha decidido fechar os olhos, depois de confrontado de antemão com uma fotografia da sua prometida. Por isso, escreveu-lhe e rogou-lhe que viesse na mesma, contra todos os pedidos encarecidos do pai e da mãe e até ameaças de vir a ser o único dos irmãos Bróculos a não ser contemplado em testamento.
Mas Marcelo estava nesta fase, já perdidamente apaixonado, tendo como único senão, o facto de que D. Ana Alva não o conhecia a ele, nem sequer por fotografia, um luxo de escolha somente reservado à ala masculina casadoira. E ali estava ele, naquele impasse, consumido pela ideia de que no momento em que ela desse a volta ao fundo do pontão do cais para voltar vagarosamente a passar por ele, ele teria de a interpelar, apresentar-se e que ela poderia querer fugir para sempre desaparecendo para sempre da sua vida com o seu cheiro a amêndoas doces.
Mas foi em vão que Marcelo se martirizou. D. Ana Alva deu a volta ao pontão, voltou vagarosamente até chegar ao pé dele mas em vez de passar, baixou-se até ao chão para agarrar o que Marcelo depois pode ver, ser a fotografia dela que inadvertidamente lhe tinha caído do bolso.
Olhou-a intensamente recebendo a fotografia de volta e quando ela lhe exibiu um sorriso tão doce como era doce o seu cheiro, ele soube inequivocamente que Ana se viria a chamar Ana Alva D' Bróculos.

As curtas do Oito aos Sábados - Nº 2

E a minha escolha para este Sábado vai para o senhor Kurt Kuenne, realizador e compositor Americano, que participou com uma colecção de curtas-metragens exclusivamente a preto e branco em mais de 120 festivais internacionais, tendo sido premiado mais de 40 vezes, sempre com produções de baixo orçamento.
Entre esta série de de curtas a preto e branco, iniciada em 2004 com “Rent-A-Person”, fazem parte também, “Validation” de 2006, “”Slow” de 2007 e “The phone book” de 2008.

Aqui fica VALIDATION (2006), argumento, realização e banda Sonora por Kurt Kuenne.

Winner - Best Narrative Short, Cleveland Int'l Film Festival, Winner - Jury Award, Gen Art Chicago Film Festival, Winner - Audience Award, Hawaii Int'l Film Festival, Winner - Best Short Comedy, Breckenridge Festival of Film, Winner - Crystal Heart Award, Best Short Film & Audience Award, Heartland Film Festival, Winner - Christopher & Dana Reeve Audience Award, Williamstown Film Festival, Winner - Best Comedy, Dam Short Film Festival, Winner - Best Short Film, Sedona Int'l Film Festival.

Tenham um bom Fim de semana!


12 fevereiro 2010

Um molho de bróculos para ti, um molho de bróculos para mim, outro para quem o apanhar.

Anda tudo a ler o Sol, é?

Ninguém escreve, ninguém comenta.... Eu poderia estar a fazer a mesma coisa se, no quiosque aqui ao pé,  o jornal não tivesse esgotado antes das 8.30 AM!

11 fevereiro 2010

Todo o vegetal dá um molho qualquer

Durante muito tempo achou que era preciso que os vegetais em questão fossem bróculos para darem um molho daqueles. Até ao dia em que dos mais inesperados e dignos alhos franceses brotou um molho tão intrincado a que se chamou górdio. Desde então espera Alexandre que a salve.

receita

Agarrei um molho de brócolos e cortei-lhe os caules, tal como se desfaz algo que esteve junto durante muito tempo e que agora quer voltar a ser várias unidades e nao um todo indefenido. Tirei o fio ao feijao verde como quem tira as asperezas da vida, cortei aos bocadinhos. Dei-lhes uma entalaleda em água a ferver, como quem depois de um choque solta mais o seu sabor. Numa wok, fritei o azeite com o alho cortado aos bocadinhos e quando ficou lourinho juntei os bróculos e o feijao verde, sempre em lume alto que vida nao é para ser vivida a meio gás, salteando tudo com molho de soja. Entretanto, pus o tofu no grelhador já quente, grelhando bem de um lado e do outro. Servi um copo de vinho tinto do bom, daqueles que afoga penas e solta alegrias. Saboreei o meu jantar sozinha pois finalmente consegui decidir-me, é melhor um molho de brócolos no prato que na vida.

especialistas

também na blogosfera há especialistas em molhos dos ditos. Ver aqui

História verídica da Oito

Olá, então? -- Que se passa? – Oh, coitadinho-- Quanto tens de febre?-- Tens ben-u-ron? -- Ah, estás em casa da tua mãe!-- Não, claro que te vou ver! Precisas que te leve alguma coisa? -- Ok, então passo aí, mas só posso ir ao fim do dia…. -- Olá! Estás melhor?-- Que bom! Toma, é para ti! -- O que é isso? É um molho de brócolos! Para te lembrares de mim!”

Vegetal? Sim, Obrigada

O valor dos vegetais tem vindo a ser progressivamente desleixado na sociedade de consumo actual. Composta por nutrientes de elevadissimo aporte calórico, ricos em gorduras saturadas e pobres em vitaminas e minerais, a dieta mais comum nos países mais desenvolvidos tem causado sérios distúrbios alimentares os quais, por sua vez, têm estado na génese de patologias tanto do foro físico como psíquico onerosas para os sistemas de saúde, a maior parte deles suportados ou comparticipados pelos governos locais, o que contribui para um maior desequilibrio orçamental.
Dito isto, é altura de por mãos à obra.
Povo comei bróculos. São ricos em proteínas e ferro e podem perfeitamente substituir a carne.
Desfrutai a cenoura. Para além dos carotenos, adjuvantes de uma boa visão e preventores de glaucomas e retinopatias, é um alimento fresco e doce, podendo ser fornecido a lactantes no periodo de diversificacao alimentar.
Aproveitai a courgette e o pepino. Com propriedades comprovadas na área da dermatologia, podem ser usados em saladas e sopas.

E, como é óbvio, sai mais barato comprar legumes que dildos. Para além de virem em vários comprimentos larguras e texturas são mais higiénicos porque podem ser substituidos com uma grande frequência, com custo muito reduzido.

da influência dos brócolos na fisiologia do sono

Ela era casada. Ela tinha filhos. Ela estava farta da vida que tinha, apesar de ser a vida com que sempre tinha sonhado. Um dia, nem se lembra bem como, descobriu que o amigo do marido era tudo o que lhe faltava. Encontravam-se às escondidas nas horas de almoço, ofereciam-se presentes, embaciavam os vidros do carro nos encontros roubados na rua a desoras. Estavam apaixonados.
Ela inventava pretextos para sair de casa. Ele esperava os momentos que ela roubava à vida. 
De vez em quando, encontravam-se à noite com todos os amigos comuns. Ela com o marido. Ele sozinho no meio dos outros. Ela tremia quando o via conversar com outras mulheres. Ele mordia a língua para suportar a mão do marido na nuca dela.
Nunca um molho de brócolos lhes tinha dado tantas insónias.

Don Broccoli

Marcelo Moglie Di Brocolli Acenzo è stato condannato! Il tentativo di uccidere la zia Rosetta aveva fallito e, in questa circostanza, ha dovuto accettare il posto di notte driver nella linea Firenze-Siena. Ma non è stato il lavoro notturno que lui faceva più paura; paura, proprio! è stata la lugubre presenza, nella cabina di pilotagio del treno, cio è la respirazione, ansimando sul collo, del fantasma della sua cugina Anchova Di Broccoli Salieri, la vedova de-prima-da-tempo di un importante diplomatico siciliano che aveva fatto carriera a Kuala-Lumpur. Più lei, fredda, desiderava, più se stava lui di rughe, prosciugato...
Marcelo non ha sopportato tanto fastidio e, quindi, si è ucciso. Con due colpi alla testa, forse imitando il portoghese Antero o semplicemente in una prova di esaltata sublimazione,
que daria, aqui vertido para português banal, por razões de complacência mal assumida, o seguinte texto não tão altissonante embora menos coxo:
Marcelo Moglio Di Broccoli Acenzo estava condenado! A tentativa de suicidar a tia Rosetta falhara e nessa circunstância, teve que aceitar o lugar de maquinista nocturno, na linha Firenze-Siena. Não era porém o trabalho nocturno que mais o amedrontava; assustadora, mesmo! era a lúgubre presença, na cabine da automotora, a respirar, a arfar junto ao seu pescoço, do fantasma macilento da prima Anchova Di Broccoli Salieri, viúva antes-do-tempo de um destacado diplomata siciliano que fizera carreira em Kuala-Lumpur. Quanto mais ela, gélida, anelava mais ele se encarquilhava, mirrado...
Marcelo não suportou tanta contrariedade e, por isso, matou-se. Com dois tiros na cabeça, talvez imitando o português Antero ou apenas num ensaio de exaltada sublimação.

10 fevereiro 2010

Por acaso

sendo que nada é por acaso, encontrei-me hoje num passado dos blogues. E percebi que houve um passado em que eu escrevia mais bonito. Em que me demorava e nem me passava pela cabeça escrever sobre o Benfica, broches ou o Boucherie Mendes. Escrevia coisas como:
Não dês corda ao relógio. Entende de uma vez que parámos o tempo.

E tinha orgulho disto. Escrevia sobre o amor e isso enchia-me de orgulho. E porque é que eu não escrevo mais destas coisas, pergunto. Acho que é porque percebi que amar não é dizer. Que há um discurso e depois há o amor. Aprende-se muito com os blogues.

Carências

Vou ali comer Metafísica.
Às pazadas.

A razão para não ir ao ginásio

Os funcionários/gerentes/ frequentadores assíduos são umas melgas absolutamente insuportáveis! Uma pessoa vai fazer uma visita e diz "muito bem, eu depois entro em contacto convosco" e eles ligam 350 milhões de vezes a perguntar "e então?", esperando que, de facto, se dêem justificações pormenorizadas sobre a razão porque não estamos interessados em beneficiar da sua cosmicidade benéfica!

amanhã

 

é dia de 8 e coisa 9 e tal molhos de brócolos

Fim de dia

Depois de me ter contado que é a enciclopédia da sala (todos me perguntam tudo, mãe) concluiu:
- Acho que tenho córtex a mais. Devia pôr um cartaz a dizer 'este espaço pode ser seu'.

09 fevereiro 2010

Tem Santa Paciência!

Meu Querido,
Há já mais de um ano que te insinuas, e eu te digo que não.
Nestas últimas semanas recebi mails, sms e telefonemas teus a demonstrar o teu interesse, a dar apoio e a partilhar alegrias.
E eu, como é óbvio, e como tu já percebeste, fui amolecendo.
Agora penso em ti mais que devia, desejo-te mais que queria.
Mas, ó caramelo, um preservativo na tua carteira que salta na reunião de hoje???
C**** que ta f**** ó meu c**** de m****

Uma teoria (de uma amiga, uma amiga)

Fazer um broche é como ir ao ginásio. Primeiro custa, não apetece, só a ideia até chateia. Mas depois uma pessoa sai de lá a sentir-se bem.

08 fevereiro 2010

Confio

Como um cego num espaço estranho sigo em frente.
Sem saber o que vem a seguir sem nunca saber com o que me vou deparar, como um cego sigo em frente.
Tateio o espaço e confio cegamente como um cego.
Confio e tenho medo, acredito e encolho-me, reconheço algo e tiram-me o tapete.
Como um cego não vejo, só intuo, umas vezes engano-me e outras acerto redondamente e surpreendo-me.
Como um cego sem bengala continuo, sigo este caminho que escolhi e não sei se é meu ou se sequer pertenço aqui.
Como um cego, sinto-me ao pé de ti...

.. e continuo a pedir-te que me dês a mão....

Trade-offs

Se me ligasses agora, eu deixava o meu marido por ti.
'Ring, ring'
Porra.

autoretrato


(malditas hormonas)

um dia ouvi esta música pela primeira vez



hoje pode ser o vosso primeiro dia.

07 fevereiro 2010

Existência

Num Universo infinito e em expansão como pode haver lugar para um Deus exterior a ele?

AcidezCorrenteCalmaCaminho

Não conseguia perceber onde tinha ganho aquela acidez que dissolvia tudo aos seus olhos. Lembrava-se de ter sido outra pessoa, mas também isso se perdia no nevoeiro do caminho. Vagas ideias de sorrisos, de uma alegria invencível, da certeza (ou seria esperança?) de que tudo correria pelo melhor. Mas essa pessoa que fora em tempos era agora pouco mais do que a areia transportada pela corrente do rio, fragmentos que  o olho nu não conseguia ver. Olhava-se no espelho e encontrava a mentira que todos à sua volta engoliam: estava na mesma, os olhos, as mãos, a calma dos gestos. Por baixo da pele, corria-lhe nas veias o passado e os seus habitantes. Se alguém pousasse a cabeça no seu peito, descobriria o que há muito sabia: vivia ali um coração forrado a silêncio.

06 fevereiro 2010

lembrei-me disto

No man is an island entire of itself; every man
is a piece of the continent, a part of the main;
if a clod be washed away by the sea, Europe
is the less, as well as if a promontory were, as
well as any manner of thy friends or of thine
own were; any man's death diminishes me,
because I am involved in mankind.
And therefore never send to know for whom
the bell tolls; it tolls for thee.

John Donne 
MEDITATION XVII, Devotions upon Emergent Occasions

As curtas do Oito aos Sábados - Nº1

Ok, decido iniciar hoje uma nova série de postas aqui no nosso Oito. Curtas-metragens de todas as nacionalidades a partir de agora, todos os Sábados. Porque me apetece. Espero que gostem!

Hoje:

Mankind is no Island

Realizador: Jason Van Genderen

Argumento: Jason Van Genderen
País: Austrália

05 fevereiro 2010

e hoje é assim que me sinto

eu aqui em casa, com a vida aos bocados, a precisar de beber uns copos e de rir-me a bandeiras despregadas, a precisar de conversar sobre tudo e sobre nada, de desafogar esta mágoa que me anda cá no peito e de me instruir sobre as mais variadas posiçoes sexuais e as gajas a divertirem-se num qualquer primeiro andar a contar vindo do céu e a dar-lhe no periquita. Ai se a inveja desse pêlos nao haveria esteticista que desse conta do recado.

..

Uma prenda......um fantástico kit pirata.


Aii !!
Porque, como poderiamos nós viver sem a sagacidade, o ímpeto e a vontade quase indómita de tal comentador?

8 e coisa armado em edite estrela

uma múltipla perguntava-me qual a forma correcta: 'ter que' acabar um trabalho ou 'ter de' acabar um trabalho.

Esmagada pela minha ignorância, fui aqui onde descobri que:

é hoje é hoje


(para o chofer a dançar com a criada, pede-se o favor de comparecer ao almoço tardio do fuso de nova iorque)

04 fevereiro 2010

Hoje sinto-me assim

Tenho uma coisa para dizer

Não acho o George Clooney lindo. Pronto, já disse.

não sei porquê

 

lembrei-me disto.

Conheces

o Boda? Caralho t'a foda.

Desafio fiooo


'Molho de brócolos' é o desafio, dia 11 a data de publicação.
Vamos a isso, múltiplas?

03 fevereiro 2010

na rua ao fim da tarde

Na rua ao fim da tarde, caminho com o meu filho. Passamos ao lado do cartaz de uma peça do La Féria.
- Gaiola das Loucas? Tu quando danças devias estar lá.
Deixo de cantar e dançar ou espero que ele sobreviva à vergonha?

CaixaTeclaAuréolaFundo

Janeiro é o mais perigoso de todos os meses. Movida pela vertigem do ano novo, pela vontade de fazer tudo bem no tempo que agora se estreava, decidiu arrumar o armário do fundo. Foi nesses momentos de caos em que empilhava roupas que já ninguém usava, pequenas e grandes inutilidades deixadas ao esquecimento dentro do armário, foi nesses momentos que ela descobriu a caixa. Por baixo de uma gabardine de homem, um cubo de madeira de fecho metálico tocou-lhe no ombro e disse baixinho 'abre-me'. Se calhar não lhe tocou no ombro nem disse nada baixinho, se calhar ela viu uma auréola em volta da caixa, ou se calhar a curiosidade é maior em Janeiro. Sentou-se no chão e abriu o cubo de madeira lisa. Lá dentro, embrulhada em papel de seda, estava uma tecla de piano.Só lhe faltavam oitenta e sete teclas. Estava decidida. Este ano, ia aprender a tocar piano.

01 fevereiro 2010