27 julho 2016

thin red line

Pediu-me que nos encontrássemos. Queria dar-me o manuscrito do livro que acabou de escrever e que vai ser publicado depois do verão. Tal como eu - e como tantas outras pessoas da nossa geração -, também ele teve um pai que esteve na guerra. Com a morte do pai, começou a falar com camaradas, a estudar fotografias. O livro é filho disso.
Não nos conhecíamos até àquela tarde. Quando cheguei, um homem alto aproximou-se e disse estou aqui. E estava. Deu-me o envelope com as provas do livro. A sombra era curta, o calor era muito. Ele queria falar. E falou. Os olhos azuis, as mãos grandes que mostravam fotografias e papéis, as histórias que contava. Até que numa curva da história, os olhos ficaram ainda mais azuis, as palavras deixaram de ser pronunciadas, uma raiva ou desespero ou tristeza apareceu a mordê-lo por dentro. O homem estava a chorar. 
Agora tenho o livro à minha frente. Lá dentro, está o homem que tropeçou numa curva da história em frente a uma estranha. 

23 março 2016

desencontros

Ela queria conversar, ter alguém com quem divagar da vida com o calor dos corpos e encontrar luzes para questões inexplicáveis. Ele queria carinho, estava cansado de sentir tudo em cima dos ombros dele, de sentir-se só. Mas como não sabiam como dizer isso um ao outro, depois de 10 cervejas em cima e uma noite louca de dancing, propuseram-se sexo. Como acontece quando se procura uma coisa e se escolhe outra, correu tudo muito mal. As divagações ficaram mudas e inventaram a palavra rechasco, e a solidão ficou ainda mais pesada. Não se despediram porque nunca se conseguiram encontrar.


02 janeiro 2016

amor


Gosto tanto de estar com ela, aquele calor, o peso certo que me abraça e envolve o meu corpo, a paz que sinto na sua companhia pela noite dentro ou nas manhãs que se estendem. Gosto mesmo de estar com ela, adoro a minha cama e encontrar-me com ela todas as noites.