31 julho 2006

Ganhar ou não ganhar o euromilhões?



O meu pai adora fazer o euromilhões, todas as semanas me pede palpites de números, e prontamente lhe respondo (também digo sempre os mesmos, por isso é fácil!). Agrada-me a ideia de pensar que pode haver uma enxurrada de dinheiro para os meus pais, para mim e para os meus irmãos e sobrinhos. Mas outro dia, o meu pai insistia que uma pessoa quando ganha muuuitoo dinheiro modifica necessariamente o seu carácter, pois tudo passa a ser possível. A ideia não é nova, mas vinda do meu pai, uma das pessoas mais íntegras, nobres e honestas que conheço, incomodou-me imenso, e fiquei a pensar se de facto teria que ser assim.

Comecei então a perguntar a quem me aparecesse à frente o que pensavam sobre o ganhar de repente o euromilhões, ou qualquer outro prémio de sorte grande, (da económica, claro, porque para a taluda do amor ou a rifa do trabalho mais fixe ainda não há fundos de reserva).
Várias foram as respostas e divagações sobre o tema e algumas puseram-me a pensar. Um dos temas que surgiu foi a inveja e o assédio que surge a quem tem muito dinheiro por parte de pessoas que utilizam a lambebotice como forma de obtenção de riqueza e privilégios. Foram lembrados vários episódios, uns mediáticos, outros mais próximos, como o do sr. António lá da aldeia que teve que fugir do sitio onde tinha morado toda a vida. Esta parte não me tinha ocorrido, não deve ser nada agradável ter que mudar de sitio à força... Outro dos temas foi o ter de aumentar a segurança, pois quem tem muito dinheiro vive sempre com o medo de que o podem roubar, raptar, ameaçar a família, etc, e nem aqui em Portugal nos escapamos disto.

Mas por outro lado, estão as inúmeras possibilidades de ter coisas próprias, de viver a magia do dinheiro, poder dar asas à nossa generosidade, capacidade de consumo (equilibrado e ecológico) e de criação. E aí encontrei os sonhos mais diversos, desde comprar casa, livros, discos, viajar, etc, ou passar a vida a cozinhar para os amigos e a viajar, dar dinheiro ao desbarato, não ter que estacionar nunca mais o carro ou fazer as tarefas domésticas, até ao entusiasmo de poder materializar alguns dos nossos sonhos de transformação do mundo: contribuir para a defesa dos animais, do meio ambiente, dos direitos humanos, do comércio justo, ou da equidade de género, no mundo inteiro, em Ermesinde ou na Colômbia.
Gostei de ver as pessoas a sonharem com as possibilidades que oferece um número com muitos zeros na conta bancária e todos os sonhos de vida que se multiplicaram, passando do individual ao colectivo. E encontrei pessoas muito diferentes na forma de ver, de gastar e de lidar com o dinheiro. Há gente que tem bastante dinheiro e passa a vida a preservar receosamente aquilo que tem para manter um status presente e um futuro que a qualquer momento pode acabar pois a morte não escolhe dia nem hora, vivem desconfiados e o dinheiro é uma fonte de prazer praticamente individual e restrita. No outro extremo encontrei pessoas, também com bastantes posses, que dão asas à sua generosidade e sem ser levianas, fazem circular a riqueza e aumentam o bem estar de quem lhes está sinceramente próximos, viajam, aproveitam a vida alegremente. Deparei-me também com pessoas que apesar de não ganharem muito, guardam sempre um pouco para apoiar aqueles que têm menos posses mas muita vontade de contribuir para o bem social e outras, também sem muitas posses, que vivem a pensar no que não têm e não partilham o que ainda tem.

Enfim, os diversos casos e situações fizeram-me pensar que já tendo pouco ou muito, há também uma atitude individual perante a riqueza e o seu uso e função, o que me aliviou.
Continuo a dizer ao meu pai os meus números do costume e a sonhar que, quando algum dia ganhar o euromilhões, para além de satisfazer todos os meus desejos e necessidades individuais, vou poder provar que o dinheiro tem que ser uma fonte de libertação e prazer e não de opressão, que se podem montar empresas e oferecer boas e justas condições laborais aos trabalhadores e trabalhadoras e acima de tudo, provar que o ócio deve ser um dos principais objectivos de toda a humanidade e não só de algumas (muito poucas) pessoas.
Até lá, continuarei a trabalhar e a fazer “política da vida quotidiana” aproveitando ao máximo os prazeres da vida, a praia anda fantástica...

Screen saver

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

Mário Henriques Leiria, no meu screen saver

Depois da festa

Mensagem recebida às 7h30 da manhã, Em que pensas?
Engasgada perante a evidência do que pensava escrevi Na guerra do Líbano, na bolsa de valores de lisboa e na política agrícola europeia.
Respondeu É justo. Conseguimos dormir em paz.

30 julho 2006

Quando o telefone toca

Diga a frase.

"Old shoes (& picture postcards) em repeat mode"

(muda o disco e toca o mesmo)

Alto e pàra o baile!















Nenufares para a D. Ester!
Beijos das multiplas.

29 julho 2006

Animamos casamentos, baptizados e comunhões

Ontem às 4 da manhã, depois de muita bebida e dancing desenfreado, uma de nós para o irmão da noiva:
- Achas que estamos a deixar mal vistos os convidados do lado da Mariana?
- Não. Ainda estou vestido.

27 julho 2006

Terminal

Cheguei de manhã muito cedo. Doía-me o corpo todo, as luzes da rua confundiam-se com a respiração dele ao meu lado. Só queria sair dali. Os meus ouvidos estavam cheios das horas paradas, o meu ombro tinha o peso do seu sono. A chegada seria uma vida nova para nós, prometeu antes da partida. Levantei-me, depositei a cabeça adormecida contra o vidro da janela. O que ele não sabia é que a chegada era o nosso fim.

As minhas idas ao cabeleireiro

Gosto de usar o cabelo curto. Para quem não saiba, é ainda mais difícil cortá-lo curto que comprido, há que encontrar o cabeleireiro certo que não só o faça bem como perceba o estilo que se pretende.

Descobri finalmente o Vítor, recomendado por uma amiga.

O Vítor tem um método todo seu: corta o cabelo a seco, para assim poder ver os jeitos e remoinhos que faz. Quando chego sento-me e digo “corte” e fico à espera. Ele senta-se atrás de mim numa cadeira mais alta do que a minha, acende um cigarro, semi cerra os olhos e começa a mexer no cabelo. Usa a mão direita, a esquerda, as duas. Pousa o cigarro no cinzeiro, de onde não voltará a sair. (Vejo a cinza a aumentar e o peso a deslocar-se para o lado do filtro. Penso, vai virar, cair em cima dos meus cabelos e provocar um incêndio. Nunca aconteceu).

O Vítor parece o Eduardo mãos de tesoura depois de uma visita ao casal ventoso. Parece sempre um bocado janado (e provavelmente está mesmo), pega na tesoura e começa a cortar de uma maneira que a mim me parece aleatória. Todas as vezes que lá vou penso que é desta que vou ficar com uma pelada, que terei de corrigir com corte à soldado raso, mas é este frissom de roleta russa que me faz continuar a ser-lhe fiel. (hoje enquanto me escortanhava alguém o chamou, ele virou a cabeça e continuou a tesourar. É agora que me vaza um olho. Não foi).

A dona do cabeleireiro é uma senhora mais velha loira de óculos, que sofre das cruzes e se veste com roupas largas para esconder a perda de formas femininas que chegam na menopausa. O Vítor não se deve dar muito bem com ela, de cada vez que ela fala ele olha para mim e revira os olhos. Quando ela lhe pede para ele fazer alguma coisa a resposta é invariavelmente a mesma “não vê que agora estou ocupado?”

A menina que lava o cabelo deve ter saído há pouco da adolescência, e é cúmplice do Vítor. Hoje ele disse-lhe “jurei pela minha mãezinha. E sabes bem o que eu sinto pela minha mãe, não sabes?” Ela “pois”.

Chegou ao fim e deixou-me, ao contrário do que eu lhe tinha pedido, o cabelo mais comprido atrás. Disse-lhe que não gostava. Com um ar seguríssimo respondeu-me:

“como conselheiro de imagem que sou, digo-lhe que é assim que lhe fica bem. A menina tem uma cara redonda e assim alonga. Mesmo que me peça não corto mais”.

Eu obedeci e calei-me. Paguei e vim-me embora.

Última hora

1ª página d' "O crime" hoje
"Droga 'marada' vendida em plena baixa - mesmo nas barbas da polícia"
Terá sido a DECO a denunciar o problema?

Boxe

O coraçao é um punho fechado que dà socos dentro do peito.

26 julho 2006

Dúvida de WC

Por um estranho caso da biologia humana, o meu intestino funciona apenas quando devidamente estimulado o olho. Abotoo-me por isso a qualquer coisa impressa que me vem à mão no caminho para a casa de banho.
Hoje foi a dica da semana, essa fabulosa publicação periodica de distribuição gratuita. Acabava eu de me congratular por mais um sudoku feito e bem feito, quando passo os olhos pelos classificados.
Anúncios de vendedores de herbalife contei 6, compradores de velharias e antiguidades (disponibilidade de deslocação ao domicilio) 5, senhoras a oferecerem os seus préstimos como empregadas domésticas 3.
Encontrei também dois anúncios da Prof. Benedita (doutoramento obtido em harvard, depois da graduação em Yale, sem dúvida alguma). Anuncia então a douta Benedita
"cartomante, astróloga telepata, trata casos difíceis, desesperados. Tudo tem solução. 35 anos de experiência. Só senhoras"
(uma astróloga telepata lerá os pensamentos aos astros?)
Ora, esta última afirmação deixou-me perplexa. Ou a Sra. Prof. Dra. Benedita tem um problema com os homens ou são os homens que têm um problema com ela? Serão os problemas deles mais dificeis de resolver ou não constituem desafio suficiente às capacidades da Sra.? Ou será que só as mulheres têm casos difíceis, desesperados mesmo?
Mais adiante encontro outro: "leituras do rosto, mãos, corpo. Aconselhamento. Credenciados/as com experiência. Só senhoras".
O mistério adensa-se. Será que as mulheres têm o futuro inscrito em braille na pele?

Publicidade enganosa

Passei por uma loja de ferragens de bairro, anunciavam orgulhosos "vendemos parafusos para todos os fins".
Tive a tentação de entrar e pedir dois para a caixa dos pirolitos

Arrumação

Há uns anos descobri uma frase que me acompanha, não sei onde a ouvi ou li, mas repito-a para mim mesma muitas vezes. O coração tem mais quartos que uma casa de putas, isso é evidente, o que se calhar não é evidente é que as pessoas que os ocupam sejam forçadas uma e outra vez a mudar de poiso. O que não é evidente é esta incerteza que me leva a mudá-los de quarto todos os dias, da escuridão da cave para o desconforto do sótão e daí para o quarto luminoso do primeiro andar, o que não é evidente é que não consiga encontrar em nenhuma delas um espelho que me devolva a certeza de que está tudo no sítio certo.

Os dias

O meu Carlos faz-me falta, não é que conversássemos muito, mas sempre era uma companhia ao meu lado, sentado na poltrona agarrado ao jornal ou a ver o noticiário. Os dias eram mais pequenos quando ele estava comigo e não reparava tanto na porta do prédio a fechar, agora estou sempre com atenção à vizinha do 2º esquerdo que chega à noitinha do trabalho, ao rapaz do 1º direito que não tem respeito por ninguém e bate com a porta a qualquer hora, os dias eram mais pequenos e agora são tão grandes, deve ser porque não está ninguém sentado na poltrona, porque ninguém me pede um copo de água, porque ninguém se zanga com as notícias, ai malandros que vão outra vez subir os preços, seus gatunos, sempre a roubar quem não tem, porque aos ricos não lhes faz diferença que a gasolina suba ou que a luz fique mais cara, deve ser porque agora já não importa a ninguém se vou à praça de manhã, não importa a ninguém o que destino para o almoço ou para o jantar e por isso acabo por não destinar nada e por comer a mesma sopa durante dias, quase sempre de agriões porque diz que faz bem à circulação e eu sinto as pernas muito pesadas, os dias eram mais pequenos e derivado a isso sento-me na poltrona do meu Carlos, sinto-lhe as mossas e as rugas das costas, cheiro o ar à procura dos restos da presença dele ali, pareço um perdigueiro a farejar a caça, à volta da poltrona horas a fio, a encostar o nariz ao cadeirão à espera de encontrar o cheiro da mão que segurava o cigarro, veja lá que até do cheiro do tabaco eu sinto falta, quando o meu Carlos era vivo eu dizia-lhe que não fumasse, que o cheiro me agoniava, que empestava a casa inteirinha e depois eu que gastasse a manhã de 3ª feira e esfregar e lavar para arrancar o fumo amarelo que invadia tudo, porque era à 3ª feira que eu fazia as limpezas grandes. Desde que o meu Carlos se foi deixei-me de limpezas, não vão elas roubar o que ainda posso guardar, os detergentes ganham pó no armário, o pó ganha pó nos móveis, e talvez assim consiga tornar os dias mais pequenos outra vez, talvez consiga sentir que está outra vez alguém sentado ali e dê por mim a ir buscar um copo de água à cozinha para uma mão que acabou de apagar o cigarro.

25 julho 2006

LES UNS ET LES AUTRES, E O CORSO

Todos a dormirem a sesta ao mesmo tempo porque o corso era um gajo susceptível e não permitia barulho.
As reuniões eram intervaladas assim, o corso decidia e em dois minutos estavam todos a contar carneirinhos.
Dia após dia. Mas andava qualquer coisa no ar. O corso andava disperso e ausente, em reuniões secretas que levavam horas e para as quais nunca convocava nenhum elemento do staff.
As sestas passaram a escassear e na ausência dum hábito já tão vincado, áquela hora, ouvia-se bocejar em todos os corredores da empresa. Ninguém dizia nada, ninguém se atrevia a comentar o assunto porque todos sabiam que o corso era um gajo susceptível e orgulhoso. Até ao dia, em que no meio duma convocatória de urgência, um dos funcionários mais atrevidos e destemidos, um gajo forte, baixo de peito lançou para o ar a questão há muito entalada na garganta de todos.
- Sinto-me confuso. Estes festims já não são o que eram. O que se passa corso?
- Cala-te! - explodiu o corso agitando as mãos no ar. - Já vão perceber. Estou à espera de um telefonema importante. Vamos receber um novo sócio nesta casa. É da Córsega como eu. Alguém com quem a minha família travava um luta secular que agora finalmente se resolveu. Vão ser ditadas novas regras de conduta e em conjunto com a sesta vamos passar a ter sessões terapêuticas subordinadas às grandes correntes metafísicas e filosóficas que espero que venham a ser uma enorme benesse para todos.
Uma voz feminina ecoa na sala.
- A chamada que esperava Sr...
- Passe, passe...
Uma momento de pausa e depois a confirmação do outro lado da linha, outra voz feminina.
- Como está caro amigo?
- D Hermengarda! - o corso exibiu um sorriso de orelha a orelha. - Como folgo em ouvi-la minha cara senhora.
- Temos que ser rápidos hoje, caro amigo e conterrâneo. Já estou atrasadíssima para o meu cházinho que, como sabe, é impreterível que seja à hora combinada.

Estava à procura de uma fotografia

Encontrei no meio dos meus papéis a ficha da clínica onde nasci. Última menstruação: 12 Fevereiro. Parto: espontâneo com episiotomia. Sangue perdido: Pouco.

Vejo o ganho de peso da minha mãe enquanto eu crescia na sua barriga
Maio: 54,5
Julho: 56
Agosto: 57
Outubro: 60
Novembro: 61.5

Nasci numa tarde de Dezembro, às 17h50. Tinha 3.180 Kg, media 48 cm. A minha mãe não sei.

Estranho encontrar assim o início da minha existência. Tento pensar na minha mãe com aquela idade, era mais nova do que eu agora.

Encontro também a ficha pediátrica dos meus primeiros dias de vida. Vejo que até aos 15 dias perdi imenso peso. Lembro-me que me disseram que comecei a ter otites aos 4 dias, imagino a angústia e o desespero dos meus pais. Vejo que ao 18º começo a ganhar peso, o alívio que isso deve ter sido.

Terceiro papel. Consulta médica aos 11 meses. “Senta-se e gatinha. De pé ajudada. 12 dentes.” Não me resta nenhum daqueles dentes. Agora estou sentada, mas não me lembro da última vez que gatinhei. Aguento-me bem de pé sozinha.

Estava à procura de uma fotografia. Ainda estou.

25 Julho 1999

Todos os anos, por esta altura, assaltam-me as mesmas perguntas: o que teria acontecido se nao tivesse decidido ir para casa naquele domingo à noite? O que teria acontecido se nao me tivesse despedido de ti numa das bocas do metro de Alvalade e nao tivesse parado no primeiro lanço de escadas, e voltado para tràs e dito adeus, enquanto tu olhavas o meu desaparecimento a sorrir?

Sao 13:00 e olho para fora da janela do comboio. Espera-me uma reuniao de trabalho. Tenho que me despachar. Olho na outra direcçao e daquela janela vejo a Torre de Belém e o rio ao fundo. Sinto uma trepidaçao na mala. Tiro os headphones dos ouvido. Atendo o telefone: estou? Do outro lado uma voz feminina que nao conheço. Saio em Alcantara-Mar. Apetece-me explodir de raiva. Estou furiosa. Maldigo-te a ti e à vida, a puta da vida. Também tu? Porra, também tu? Sento-me na berma da estrada, apoio a cabeça nos joelhos. Nao sei quanto tempo fico ali. Levanto-me e saco umas moedas da carteira, vou a uma cabine telefònica, apanho um tàxi e parto para a realidade.

A minha irma no fundo da rua com uma saia comprida. Subimos as duas a ladeira. O telefone a tocar sem parar. Pego no telefone e numa agenda e marco numeros. 3 horas nisto. A tua mae sentada a olhar para mim. Pessoas que nunca vi a entrarem e a sairem. Cumprimentos mecanicos, sorrisos mecanicos, respostas mecanicas. As palavras sao iguais, todas iguais, todas igualmente inuteis. Calem-se, foda-se. Nao me digam nada, nao me chorem, nao vertam lagrimas. Que flores? Onde é que ele està? Decido as flores. Enterro a cabeça na almofada e choro mais uma vez de raiva. Tomo qualquer coisa para dormir. Nao suporto o teu cheiro ali presente. Odeio-te com tudo o que tenho dentro de mim.

Acordo. è mesmo verdade. A parte de tràs de uma igreja, eu sentada num banco, 2 amigos, um de cada lado. Volto para dentro e vejo-te. Peço para te ver. O teu pai, que nunca vi, de pé, conversa numa pose coktail. A tua mae muda desde ontem, de olhar enxuto e perdido, sentada ao pé da tua avò. O cheiro enjoativo das flores, nao suporto o cheiro das flores, vou para fora e apetece-me vomitar. Um tasco ao fundo da rua, emborco umas imperiais, outra irma ao lado, amigos que aparecem e que se juntam, pessoas que nao conheço e que se juntam. Falamos, rimos, o ruìdo ocupa o espaço todo daquela sala. Eu rio-me cada vez mais e mais alto. Desato às gargalhadas. Aparece a minha mae e saio dali para fora. Vou para um quarteirao da cidade e faço a ronda inteira dos nossos bares. Perco-me em ruas e em cervejas. Ali sinto pela primeira vez o teu naufràgio.

Acordo. è mesmo verdade. A cabeça pesada e a nàusea sempre presente. Chego atrasada e vejo-te outra vez. Estàs a sorrir e trazes um ar irònico. Despeço-me com um beijo e dou-te uma flor. Jà nao te tenho tanta raiva, mas sò porque estàs a sorrir. Volto-me de costas quando vejo a cal. Ouço um estalido metàlico. A porta fechou-se. Volto para casa no mesmo comboio que me trouxe. Deito-me na cama e perdida na realidade pergunto-me: o que teria acontecido se nao me tivesse despedido de ti numa das bocas do metro de Alvalade e nao tivesse parado no primeiro lanço de escadas, e voltado para tràs e dito adeus, enquanto tu olhavas o meu desaparecimento a sorrir?

24 julho 2006

Sinais exteriores de beleza

Durante muitos anos desejei três acessórios para mim reveladores de um certo tipo de beleza. De dois deles livrei-me, o terceiro continua a perseguir-me ao fim de todos estes anos.

Primeiro, aparelho nos dentes. Daqueles que pareciam um clip enfiado num céu de boca de plástico, que se punha ou tirava de dentro de uma caixa. Tinha um bocado de inveja de quem os tinha, por isso periodicamente abria um clip mesmo e punha à frente dos dentes, tendo tido como único resultado riscar o esmalte de uns quantos dentes definitivos. Quando aparecerem aqueles de quadradinhos individuais em cima de cada dente a coisa perdeu a graça. O seu carácter permanente e a aparência de saliências em cada cubo metálico dava-lhes um ar bélico e nada atraente para mim. Curei-me.

O segundo era partir um qualquer membro, de preferência inferior para poder usar muletas (símbolo máximo de se ser muito cool), e exibir orgulhosa um gesso branco pronto a ser decorado com assinaturas e desenhos dos amigos. O destino apesar de não ter sido muito generoso comigo, atirou-me um rebuçado. Aos 12 anos parti o braço esquerdo e ganhei estatuto de heroína, ao não ter vertido uma única lágrima depois de tão doloroso acidente no campo de jogos da escola.

O terceiro são óculos. Achava, e continuo a pensar da mesma forma, que as pessoas ficam todas mais bonitas de óculos. Sou a amiga preferida daqueles que os têm de usar ou passar a fazê-lo, porque faço imensos elogios ao novo visual. Ando há anos a ir a consultórios de oftalmologistas na esperança de um astigmatismozinho ou uma hipermatropia (sinceramente, tanto me faz). Mas até hoje nada. No entanto, mantenho-me fiel ao último clínico que me prometeu que por volta dos 40 é garantida a receita do almejado apêndice facial.

SPAM

23 julho 2006

Anedota que me faz sempre rir ou A prova de que nem tudo é mau nas Selecções do Reader’s Digest

Uma senhora no autocarro lia um artigo sobre estatísticas numa revista. Decide comentar com o viajante do lado:
- O senhor sabe que de cada vez que abro a boca morrem 15 pessoas?
- Muito interessante minha senhora. Já experimentou lavar os dentes?

Celulite mental

Falemos de um tema incómodo que poucas pessoas conhecem: a celulite mental. A celulite mental é ainda um segredo bem guardado, encerrado nas mesmas gavetas em que se guardaram os estudos epidemiológicos sobre este tema. Embora não tenham conseguido determinar as causas da patologia, estes estudos provaram que a celulite mental tem graves efeitos ao nível do comportamento, resultando num adormecimento progressivo das faculdades críticas de raciocínio. Estima-se que 1 em cada 10 pessoas seja afectada por esta enfermidade, podendo este rácio subir se se confirmarem as hipóteses de contágio. Governos, multinacionais farmacêuticas e autoridades internacionais de saúde recusam-se a discutir uma questão que alegam não existir. Por razões que desconhecemos, criou-se um silêncio estratégico em torno da celulite mental. Estaremos perante uma conspiração global pela estupidez?

22 julho 2006

Militarizaçao da vida quotidiana

Opera Vegetale, Tsuyoshi Ozawa
Accademia Carrara, Bergamo

Ionian Song

Just because we have broken their statues,
Just because we have driven them out of their temples,
The gods did not die because of this at all.
O Ionian land, it is you they still love,
it is you their souls still remember.
When an August morning dawns upon you
a vigor from their life moves through your air;
and at times an ethereal youthful figure,
indistinct, in rapid stride,
crosses over your hills.

Constantine P. Cavafy

21 julho 2006

Metropolitano

As pessoas que vão sozinhas no metro usam um ar sério, como fotografias tipo passe tridimensionais.
Ao lado do meu reflexo no vidro pareceu-me ver o meu indicador direito a preto.

Quantos F estão aqui?

FINISHED FILES ARE THE RE
SULT OF YEARS OF SCIENTI
FIC STUDY COMBINED WITH
THE EXPERIENCE OF YEARS...

Mais uma chávena de chá

- Dona Arlete, hoje estou um bocado ralada.
- Ò Dona Preciosa, não me diga que são outra vez os joanetes a ralarem-lhe os pés?
- É isso mesmo, Dona Arlete, não é qualquer sapatito que me caiba, agora tenho de usar aquele calçado ortopédico que é muito confortável, bem sei, mas estava tão habituada ao meu calçadito. Olhe, uma apoquentação, é o que é. A propósito não tem aí mais uma pinguinha de chá?
- Ó Dona Preciosa, já se serviu de duas taças e olhe que agora tenho de poupar os pacotitos que vou aviar ali à mercearia da esquina, que isto a crise afecta todos, mas sobretudo aqueles que têm uma pensão poucachinha, que é o meu caso, por falar nisso ainda não chegou o chequezito da pensão do meu marido.
- Ó Dona Arlete, que maçada. Não é que não a perceba, mas não acha que esta a ser um bocado forreta? Hoje nem sequer umas bolachitas...
- Não se queixe, Dona Preciosa, não se lamente, quem dá o que pode a mais não é obrigada. E sou eu, aliás, que ofereço sempre o cházinho. Às vezes a Dona Lurdes lá se chega à frente, mas cá para nós não é a mesma coisa, pois não?
- Que falta de chá, diz a Dona Arlete para com os seus botoes.
Entra a Dona Lurdes
- Desculpem o atraso neste cházinho que tanto aprecio, mas fui ali comprar um vernizito à loja do chinês. É a crise, não dá para mais.
- Ó Dona Lurdes, ainda bem que fala no assunto. Eu por acaso também comprei um verniz na mesma loja, mas aquilo é um bocado manhoso. Quer-se dizer, ficou um bocado feio quando fui fazer a barrela. Estalou tudo. Rico dinheirinho tão mal empregue... e com as necessidades que passo, sabe como é...
- Pois eu agora, Dona Preciosa, também ando preocupado com o meu aspirador. Avariou-se, coitadinho, também já era velhinho, é verdade, tinha-me sido oferecido pela minha nora, que mora lá para os lados de São João da Talha e agora tenho de varrer tudo com a vassoura e não chego ao canto onde estão as baratas. Uma arrelia é o que é. E eu toda curvadita e sofro tanto derivado aos bicos de papagaio. Uma arrelia, é o que é.
Entra a D. Hermengarda
- Estou muito atrasada, desculpem, estimadas amigas. Mas é que no caminho vinha a pensar no Hans-Georg Gadamer. Considera que a praxis não está subordinada à teoria, como simples técnica resultante da dedução de um saber teórico. A prática é co-natural à teoria. Procurando distinguir-se da metafísica, tem como virtude fundamental a phronesis, entendida como ligação entre a razão (logos) e a experiência moral (ethos), entre a subjectividade (da consciência) e a objectividade (do ser). As grandes abstracções pluridisciplinares. Olhem, uma ralação, há dois dias que não penso noutra coisa.
- Ó Dona Hermengarda, não seja por isso. Amanhã podemos fazer um novo cházinho e discutir a questão em conjunto. Mas olhe, já agora traga você uns pacotinhos de chá, que eu estou farta de dar para esse peditório
- Está bem Dona Arlete, mas não lhe prometo nada. Vou ver se avio uns pacotitos avulso. E agora, queiram desculpar, mas tenho de ir. Desculpem a pressa, mas tenho de ir ler Edmund Gustav Albrecht Husserl, fundador do movimento fenomenològico que ao que parece era discípulo de Franz Brentano y Carl Stumpf. Influenciou vários autores e em grande medida Max Scheler e também o interesse de Herman Weyl na lógica intuicionista na imprevisibilidade.
Sai a D. Hermengarda, depois de se ter abotoado a 2 taças de chá.
- Sabem, diz a Dona Preciosa, é mesmo sovina esta Dona Hermengarda. Além disso, cá para nós que ninguém nos ouve, é uma obcecada, é o que é. Deve ser derivado ao marido que a deixou pela prima da cunhada da cabeleireira que vive ali para os lados da Mouraria. Não tem mais nada que fazer nas horas vagas é o que é. E a gente que ature e que lhe afague a tristeza. Mas temos de ser umas para as outras, não é?

20 julho 2006

Saudade gramatical

Porque é que eu hei-de ter de passar a usar um qualquer pretérito se para mim a pessoa ainda está no presente do indicativo?

Na noite passada

Moro no ultimo andar do nº22. Uns amigos meus moram no último andar do nº24. Ambos temos alçapões para o sótão, onde apenas existe um enorme espaço de que as pombas se tentam apropriar.

Ontem à noite recebi um telefonema do meu vizinho. Tinha chegado a casa depois de 2 dias de ausência, as portas do armário da entrada estavam abertas e o alçapão tinha sido tirado do sítio. Pânico.
Saio de casa, sempre de telefone na mão, não vá o eventual larápio ter saltado do seu sótão para o meu e estar prestes a cair-me no colo com o seu ar maléfico e intenções mais que certas. Desço as escadas do meu prédio, subo as dele. Dou com o meu amigo a falar muito baixinho. "as miúdas estão a dormir?" "não, é para o ladrão não se assustar". Claro.
Chamamos a polícia, não chamamos a polícia. Se calhar foi o vento, tenta ele. O vento como, se não há nada que tenha voado da bancada da cozinha?, respondo eu. Além do mais era preciso um tufão para fazer saltar o alçapão e movê-lo 1 metro para a esquerda.
"Vamos à esquadra, se telefonarmos só e eu disser que não falta nada não vem cá ninguém"
Metemo-nos no carro, vamos para a esquadra. Dirigimo-nos ao guichet, onde o chefe do posto tem uma televisão aos berros atrás de si. Tenta-nos ouvir no meio dos gritos do écran, até que decide baixar o volume.
"falta alguma coisa em casa? jóias?"
(talvez o diadema da beatriz, que tem 3 anos)
Não, sr. agente, não falta nada. Mas alguém violou a minha residência e queria que vissem o que se passa.
O sr. chefe do posto levanta-se, sai do guichet e dirige-se ao grupo de agentes que estão na porta, a rezar a todos os santos que seja mais uma noite tranquila.
Anuncia, "Santos, vá ali com este senhor ver o que se passa na sua casa. Silva, acompanhe-o"
O Silva era um quarentão, barrigudo e careca. O Santos parecia saído de um calendário pirelli para mulheres, alto, moreno, boca grossa, olhar intenso. Olho-lhe logo para as mãos (reflexo pavloviano) e descubro um anel na mão direita.
Quando chegam, o atlético Santos sobe ao escadote e espreita lá para dentro, não sem antes libertar a sua arma do coldre e desapertar o fecho de segurança. Olha para a direita e para a esquerda, "não há cá nada".
O meu amigo sobe mesmo lá para cima, o Santos não quer dar parte fraca e sobe tb. Eu fico a falar com o Silva.
"esta zona é perigosa? ouvi dizer que há muitos assaltos a velhotes"
"ah sim, mas é mais burlas. Fazem-se passar por agentes da EDP e coisas assim, e levam-lhes o dinheiro. Mas há por aqui gente muito pouco recomendável. Por exemplo, um senhor que mora aqui no nº 28... mas não posso dizer mais"

O meu amigo e o Santos descem.
O Silva
"quando estáveis lá em cima não visteis se havia pegadas?"
Pois que não, que estava escuro, que havia muita porcaria. Mas que há passagem entre os andares num cantinho do sótão. E que se terá de investigar durante o dia.
"Há que estar sempre um passo à frente deles, um alçapão assim não pode estar aberto", avisa-me o Silva.
Perguntam ao meu amigo se ele vive sozinho; ele diz que a mulher e as filhas estão de férias no Algarve. Troca de olhares e sorrisos cumplices entre os agentes da autoridade, imagino-lhes o pensamento "a família está fora, enfia a vizinha em casa".
Cumprimentamos os senhores de bacalhau, vão-se embora. Bebemos uns copos. Eu volto para casa, durmo trancada dentro do quarto não vá o diabo tecê-las. De manhã ligo para o empreiteiro para pedir tranca para o alçapão. Ainda tenho o PC.

Alguém sabe

se já inventaram ibuprofeno para a alma?

Coup de foudre



para ti.

19 julho 2006

Original Sound Track

Aqui nem tv, nem musica.
Apenas alguns passos na rua, umas palavras em russo e uns pombos chatos na janela.
É a banda sonora deste filme

Frases fatídicas em reuniões de trabalho

- Queria dizer só mais uma coisa
(seguido de meia hora de discurso)
- Só para dar uma achega
(ai chega, chega, chega, chega a minha agulha)
- Acho que se estão a esquecer de um pequeno detalhe
(se alguém conhecer um grande detalhe, mostre-me por favor)
- Eu sei que não tem nada a ver, mas...
(se não tem nada a ver, porque é que não guarda para si?)

Um pouco mais de encarnado

para a j.

Epifania na bicha da portagem

Estou a ficar igual à minha mãe.

(Pergunto-me se tem a ver com a genética ou decorre dos anos de observação. Concluo que devem ser as duas coisas.
Lembro-me de um documentário sobre gémeos separados à nascença, casual ou propositadamente, e de como eram ao mesmo tempo tão parecidos entre eles e com os pais adoptivos. )

A genética é tramada. A educação também. Onde fica o livre arbítrio?

Os elogios, as críticas, o poder de encaixe

A propósito de uma reunião de trabalho que tive ontem, voltei a pensar num tema que me parece importante. O poder do elogio dos outros, a dificuldade em aceitar a crítica e consequente auto-análise, o poder de encaixe e de destrinçar o que de significativo existe em cada uma das anteriores.

Nem todos os elogios deviam ser apreciados. Deve-se dar valor ao elogio feito, a quem o faz e o modo como o desenvolve. No entanto, a maior parte das pessoas é muito sensível à lisonja, e há mesmo especialistas na matéria. Que o fazem com inteligência e que assim conquistam os corações (e mais outras coisas) do visado, o que traz consequências benéficas para ambos em âmbitos pessoais, profissionais e afectivos. Na realidade, os elogios devem ser tomados com tanta ou mais precaução que as críticas negativas. São potencialmente endormecedores dos membros, em especial do cérebro.

Quanto à crítica, deve-se tentar perceber de onde veio e porque é que veio. Por vezes é difícil, a maioria das pessoas tem a tentação de tomar as mesmas como ataques pessoais e daí cegar a sua capacidade de auto-análise. Dizer que alguém teve um acto irreflectido não significa que a pessoa o seja; dizer que alguém foi superficial não quer dizer que o seja; dizer que alguém foi sacana não quer dizer que o seja. Significa que naquele momento o foi, e que se alguém aponta essa falha se deve parar para pensar na causa da coisa. Pensar antes de falar – lembra-me o Calvin, que se perguntava porque é que pensamos mais rápido do que falamos, ao que Hobbes responde “provavelmente para pensar duas vezes antes de falar”.

Por último, o poder de encaixe, que deve ser usado em especial para a crítica mas também para o elogio.

Ou somos tontos e achamos que somos perfeitos, ou somos realistas e reconhecemos que temos falhas. Ninguém aprecia ter um dedo enfiado pelo hematoma adentro, especialmente se não se tinha notado que o mesmo existia. Mas serve, quanto mais não seja, para tomar consciência da sua existência e aprender a viver com ele. Ou a procurar o hirudoide que o cure.

Agora, em relação aos blogues. Sabemos que a partir do momento em que se é exposto aos olhares públicos, para além do grupo mais ou menos restrito de amigos, se está vulnerável às apreciações que possam surgir. Se não se quer saber disso basta excluir as caixas de comentários. Quando não se faz deve-se estar preparado para tudo.

No entanto, não são apenas os bloggers que têm de estar preparados. Também quem comenta em blogue alheio o deve estar. Não basta chegar a um sítio e dizer-se que não se gosta, e achar que o visado/a tem é que comer e calar.

Será fruto da esmerada educação que me deu a minha mãezinha, mas não comento posts de que não gosto. Cada um tem o blogue que lhe apetece e escreve o que quiser. Se algum dia fizer uma crítica a alguém é porque o assunto é de tal forma calamitoso que acende a minha indignação.

Não pretendo que as pessoas sejam iguais a mim, nem vou descrever um código de conduta apropriado. Já houve muita e boa gente que o fez, e nada tenho a acrescentar a isso.

Fiquei a pensar nas críticas e elogios que foram feitos a alguns dos meus posts e comentários. Fiz uma auto-crítica e verifiquei que alguns eram significativos e outros menos. Por vezes respondi mais inflamada ou irreflectidamente do que mereciam; outras não. O que apenas prova que sou humana.

18 julho 2006

Serviço público de leitura

Stepane Arkadievitch não escolhia as suas tendências nem os seus pontos de vista; estes vinham até ele, tal como acontecia no que respeitava ao feitio do chapéu e ao corte das roupas: usava o que estava na moda. Em virtude de pertencer a determinado círculo social e de necessitar de alguma actividade mental - coisa que geralmente se desenvolve na idade madura - era-lhe tão imprescindível possuir pontos de vista próprios como usar chapéu.

L. Tolstoi, Ana Karenina

Anedota muito velhinha, a propósito do monte dos vendavais

Estavam duas cabras a comer um rolo de película super 8

- então, estás a gostar?
- nem por isso, gostei mais do livro

17 julho 2006

Síndrome António Variações

Qual adolescência, qual carapuça, aos 30 é que chegam as angústias existenciais como devem ser. Fininhas, irritantes, exaltantes, aterrorizantes, atemorizantes, procrastinantes, e outras mais que entretanto se me ocorrerem.
Andamos sempre a perguntar-nos se as escolhas que fizémos foram bem feitas, porque parece nunca chegar aquela perfeita. Parece que falta sempre qualquer coisa. Que ainda não chegámos lá, onde quer que isso seja, o sítio onde achamos que temos de ir e onde temos lugar reservado à cabeceira de uma mesa.
é que o problema é que metemos na cabeça que a tal da mesa existe, e mais que nada já sabemos a forma, cor, textura e tamanho da mesma. Daí que se estamos numa que até é jeitosa e o menu não é nada mau, damos por nós a dizer "sim, é bem boa. mas ainda não é a minha mesa". E pimbas, lá nos metemos a caminho, à procura da próxima. Ou ficamos, na enorme certeza porém de que não é aquela, e que só serve enquanto não encontrarmos o Ikea que nos resolva os problemas.
Sim, claro, porque quando e se encontrarmos a mesa correcta, começamos a tratar do problema dos comensais. Que deviam ser mais assim ou mais assado. E se a mesa e os comensais parecerem adequados, começa o problema do menu. e por aí adiante.
É uma idade de inconstância, fazemos periodicamente uma paragem e a fatídica pergunta que tudo lixa.
Essa porra de síndrome antónio variações, do estou além, do quero ir onde não vou e que só estou bem onde não estou, e o diabo a quatro.
Por isso é que ando no yoga, a ver se consigo viver no aqui e agora. a ver se faço as pazes com o presente, e não ando sempre à procura do caraças do futuro ideal que meti na mona, vai-se lá saber quando e porquê.
O problema é tentar não nos lixarmos nesta estrada. Para não fazermos como um certo e determinado escritor muito apreciado aqui na casa, que numa idade próxima da das 8 e coisa escreveu e sentiu (e nunca mais disto se livrou) "onde é que eu me fodi?"

I hope I don't fall in love with you


imagem daqui

Um dos meus discos preferidos de sempre. Ter sido editado no ano em que eu nasci é uma feliz coincidência. Ou um recado do destino.

Um dia



Durante muito tempo foi-nos dito, e todas e todos acreditámos, que o trabalho se divide, os homens na praça, no público, as mulheres em casa. A biologia dos corpos foi durante muito tempo a explicação oficial da divisão sexual do trabalho. As mulheres, ao ter a capacidade de reprodução biológica foram encarregadas da manutenção do espaço doméstico, do cuidado dos filhos e anciãos. Os homens, ficaram com a responsabilidade do trabalho remunerado e reconhecido, de assegurar o sustento económico e de alcançarem um reconhecimento laboral num contexto onde o doméstico não tinha lugar. E ambos perdemos. Os homens perderam a possibilidade de gozar a sua paternidade, de assumir a casa e tudo o que isso implica como seu. As mulheres perderam a possibilidade de se exercerem somo seres pensantes e políticos.

Mas isso era antes, dir-se-ia. Hoje em dia, o número de homens que goza a sua licença de paternidade, que reclama a jornada contínua ou os seus dias concedidos pelas leis laborais para assistência à família, para cuidar os filhos quando estes estão doentes, para ir às reuniões da escola, para estar presentes e bater palmas nas actividades das crianças, para saír mais cedo para ir buscar os filhos, para cuidar dos seus idosos, sobe lenta, leeentamente, mas sobe, confirmam as estatísticas. Os homens dividem o trabalho doméstico e isso liberta tempo às mulheres para trabalharem, estarem com os seus filhos, exercerem actividades políticas e gozarem o seu ócio, em igualdade de condições.

Era bom, mas ainda não é real. Mas um dia será.

Evaporação


Foto: Direitos Reservados

15 julho 2006

Sàbado à tarde

Esplanar.
Mais que um verbo, um recado.

As hormonas e os escravos

Diz-se que as mulheres são escravas das suas hormonas. Começa-se na menarca (a 1ª menstruação) e a partir daí é o calvário mensal até se chegar à menopausa.

Temos flutuações hormonais durante os 28 dias do ciclo que nos alteram a fisionomia e o comportamento. Há alturas que estamos mais irritáveis, outros em que temos a libido nas nuvens e outros em que a vontade sexual vai dar uma volta ao bilhar grande e a única coisa que nos dá prazer na cama é ler.

Os homens riem, têm quase uma sociedade secreta de apoio psicológico aos nossos “momentos” vividos pela óptica do utilizador. Então estás em baixo? Sim, o Benfica joga em casa. Ou então, puf, ela está naqueles dias em que me basta olhar para ela e oiço logo “o que é que tu queres, hein?”

Eles acham que são superiores porque não têm nada disto. Eles acham que são imunes às crises hormonais. Nada poderia ser mais errado. Eles são muito mais escravos das hormonas que nós.

Nós temos 4 hormonas flutuantes, que dançam entre si dando-nos as overdoses ou underdoses responsáveis pela libertação do folículo e depois o desfazer do endométrio, e essas cenas todas.

Eles têm a testosterona. Sempre. Ali em cima. Portanto, pode-se dizer que neles a crise hormonal é permanente.

Ouvi nalgum lado que um homem tem, em média, um pensamento sexual cada 5 minutos. Chiça, que canseira. Se isto não é um escravo das hormonas eu não sei o que é.

Daí que os desgraçados quando chegam à andropausa (os que chegam, a maioria entrega a alma ao criador antes disso), ficam à rasca e acham que a sua masculinidade está em perigo. Se nós pensássemos o mesmo morríamos todos os meses.

Bom, na andropausa cai-lhes a hormona. O que significa que começam a ter disfunções sexuais, libido diminuída e uma enorme incapacidade em perceber aquilo tudo. Passam-se dos carretos. Acham que a vida já não tem sabor. Acham que mulher nenhuma poderá entender o que aquilo significa. Que estão sozinhos. Que já não servem para nada.

Isto leva-me a um outro assunto. À crónica hipocondria masculina. As doenças que eles têm são sempre gravíssimas e prostrantes, potencialmente incuráveis e decerto letais. Ao contrário das nossas, que é suposto passarem com uma aspirina e são quase sempre diagnosticadas como decorrentes de uma qualquer alteração hormonal (está para te aparecer o período, é? Tens gripe, toma uma aspirina que isso passa).

No outro dia estive a falar com o tio de uma amiga minha, que cada vez que tem uma queixa vai sempre a três especialistas e faz a média ponderada dos diagnósticos e prognósticos obtidos. Eu disse-lhe que de tanto procurar um dia havia de encontrar alguma coisa, ao que ele prontamente respondeu “ai, nem diga isso”. Ou seja, a coisa oscila entre a certeza de que há algo que não está bem, e que apenas não é descoberto pela incompetência do clínico, e o pânico de que de facto se possa vir a passar alguma coisa.

A sua intolerância à dor é bíblica. Os homens não suportam uma dorzinha sem se começarem a queixar como crianças com sono. Estamos bem tramadas, estamos. Acabamos sempre por nos armar em mãezinhas dos nossos homens, por mais viris e independentes que sejam.

Um confessou-me que mal tem os primeiros sintomas de gripe, liga logo à mãe e pede uma canja. E é um homem feito, casado com filhos e tudo. Mas a canjinha da mamã é que é.

Escravas das hormonas um caraças. Somos é umas estóicas é o que é.

Ter de lidar com as dores pré-menstruais com boa cara, seguido do período (3 a 8 dias) em que vemos saírem as nossas entranhas pelas partes baixas, passado uns dias vem a ovulação com o decorrente aumento da libido, seguido em poucos dias da respectiva quebra e retorno à fase pré-menstrual.
Isto para não falar dos casos em que há vontade de ter filhos e se depara com a infertilidade masculina. Aos homens é-lhes pedido que encham um frasquinho, às mulheres que tomem uma cavalada de hormonas para terem uma ovulação titânica, para depois lhes enfiarem uma agulha para recolher os ditos e depois os voltarem a pôr já fertilizados num tubo, e que fiquem bem quietinhas e não chateiem durante uns meses, culminando numa dor indizível e 20 anos de trabalho árduo de educação.

Não nos percebem? Nós também não, limitamo-nos a aceitar e ao mau tempo boa cara. E muito ibuprofeno no bucho.

14 julho 2006

O LAGARTO

Era uma vez um lagarto muito verde e viscoso. Não era de todo um lagarto vulgar porque não comia insectos de qualquer tipo.
Era um lagarto vegetariano. Ocupado na sua vidinha rotineira, comendo folha após folha com alegria e vendo os outros lagartos a suarem as estopinhas antes de se resfastelarem a comer um mísero moscardo ou coisa que o valha.
A sua vida era simples, bela e corria sem preocupações.
Um dia o lagarto encontrou, de caminho entre uma oliveira e um chaparro, um magnífico e possante gafanhoto amarelo.
Deram os dois de caras, quando o tronco em que se apoiava se partiu e o lagarto escorregou até ao tronco logo abaixo onde o gafanhoto, traquilamente se entregava distraído à sua higiene pessoal de limpeza das patas traseiras.
- Chiça! - bramiu o lagarto. - Estas árvores não são de confiar!!
O gafanhoto torceu cada um dos olhos em direcções opostas procurando uma saída e depois congelou.
- Olá. - cumprimentou o lagarto. - Que tens tu? Assustei-te? Peço desculpa, cai sem querer.
O gafanhoto rodou um dos olhos na direcção dele e gaguejou qualquer coisa imperceptível.
O lagarto inclinou a cabeça e olhou-o de esguelha.
- Desculpa, não ouvi... 'tás meio branco tu... isso pode ser anemia... não é muito bom.
- Não me vais comer? -perguntou o gafanhoto espantado.
O lagarto soltou uma sonora gargalhada.
- Comer-te? Que nojo!! Ha ha ha, de forma alguma. Sou um lagarto vegetariano. Não como bichos como tu.
- Bichos como eu ?
- Sim, com pernas, asas e sobretudo bem falantes, -retorquiu o lagarto com um ar enjoado.
- Precisas de proteínas para viver. - elaborou o gafanhoto pensativo. - Eu tenho disso à brava. Só podes tar a fazer bluff a ver se me apanhas desprevenido.
- 'Tás-me a dar azia . - disse o lagarto enquanto lhe voltava costas para se ir embora.
- Espera!, gritou o gafanhoto saltando por cima dele até ficar á sua frente. - Deixas-me confuso assim. Violas as regras da selva.
- Também me estás a deixar confuso a mim. - respondeu o lagarto. - És um gafanhoto com um grave caso de anemia e nunca vi nenhum a roer as unhas como 'tás a fazer agora.
- Não tenho unhas.
- Hmmm... pois. Isso ainda é mais grave. Vais ficar sem pata, portanto.
- Estás a deixar-me doido!! - gritou o gafanhoto, já com menos uma pata. - Vem, tenta apanhar-me e comer-me!! E eu tento fugir!! É essa a ordem natural das coisas!!
- Tens a certeza que não és um camaleão? -perguntou o lagarto desconfiado. Já não estás branco, estás a ficar seriamente vermelho. Isso também não deve ser nada bom.
O gafanhoto suspirou profundamente roendo a outra pata nervosamente e abanando a cabeça em negação. - Eu sabia que não devia ter deixado a terapia tão cedo... - Lamentou-se.
- Aceita-me assim bicho camaleão. - Não te quero comer.
- Não sou nenhum camaleão!! - Gritou o gafanhoto batendo com a cabeça no chão, sem patas que o segurassem.
- Bom, - Respondeu tranquilo o lagarto, - é esse o meu diagnóstico. Comeste as duas patas da frente e agora mudaste de cor novamente e estás verde, verdinho como eu. Não sou nenhum catedrático mas...
O gafanhoto arrastou-se pelo tronco fora em direcção ao lagarto e desatou num pranto encostado ao seu ombro.
- Já não sou gafanhoto nem camaleão. Não passo dum coto sem pernas agora.
- Devias ter acreditado em mim. - Disse o lagarto em tom de consolo.
- Não podia. - Garantiu-lhe o gafanhoto. - Colocaste-me num drama existencial sem saída. Ousaste violar as leis mais básicas do nosso mundo, eu fujo e tu corres atrás de mim, é tão simples, porque tinhas que complicar?
- Sabes mal.
- Esquece isso!! Que querias que acontecesse? Agora ficavamos amigos ou coisa assim? Formavamos parceria? És doido lagarto!! Bichos como tu, com esse tipo de visão arriscam-se a ser banidos. Não me posso dar com amotinados, revolucionários!
O lagarto encolheu os ombros. - Sabes mal.
- Come-me!! Come-me duma vez por todas seu lagarto anarquista e dissidente!! Come-me e vive de acordo com a tua natureza!! É assim que tem de ser!!
E foi assim que um lagarto vegetariano muito verde e viscoso sacou dum alka-seltzer e comeu um gafanhoto amarelo só por descargo de consciência.

Liberdade, Igualdade, Fraternidade, longos caminhos...

foto daqui
"Enquanto os revolucionários proclamavam uma declaração dos direitos do homem e do cidadão, a escritora e militante Olympe de Gouges redigia um projeto de declaração dos direitos da mulher, inspirada nas idéias poéticas e filosóficas do marquês de Condorcet, que integrava a Assembléia. Desde o início da revolução, as francesas participaram ativamente da vida política e criaram inúmeros clubes de ativistas femininas. Em 1792, uma delegação encabeçada por Etta Palm foi até a Assembléia para exigir que as mulheres tivessem acesso ao serviço público e às forças armadas. Essa exigência não foi atendida e o movimento feminino foi suprimido pelo Terror. Robespierre proibiu que as mulheres se associassem a clubes, e o projeto de igualdade política de ambos os sexos foi arquivado." http://www.renascebrasil.com.br/f_feminismo2.htm

Hoje, 14 de julho é uma data para comemorarmos a enorme importância que teve a Revolução Francesa para a história da humanidade e da democracia, mas também para não esquecer que essas conquistas não foram iguais para todos os individuos, como até hoje, infelizmente continuam a não o ser, pelo menos no nosso país...

O lago dos vendavais

Começou por aquele pàssaro.
Aliàs, começa sempre com os pàssaros a voar.
As vezes o vento acompanha as nuvens que se formam negras de tao zangadas.
De repente, o cèu explode em furia.
Tem sido assim todos os finais de tarde.
Aqui no lago dos vendavais.

para a z.

Dúvida existencial




Is that a gun in his pocket or was he just pleased to see me?

Pedido

Alguém tem um casaco de malha que me empreste? É que está um bocado de frio aqui em Lisboa, corre uma aragenzinha e tenho medo de me constipar.

O chá das cinco nas caixas de comentários

- Ó Dona Arlete, quer mais uma pinguinha de chá? Olhe que faz bem à vesícula, limpa tudo...
- Sim, obrigada, Dona Lurdes, mais uma pinguinha. Dona Lurdes, eu queria agradecer a visita tão simpática que me fez no outro dia.
- Ó Dona Arlete, eu também gosto muito de a ter por cá. É tão bom ter visitas, encher a casa de vozes, ficamos a sentir-nos menos sozinhas.
- Ó Dona Preciosa, vai mais um biscoitinho?
- Sim, Dona Lurdes, estes biscoitinhos são uma delícia, é por isso que eu não falho um chá aqui na sua casa.

Devo ser a mais furiosa, maldisposta e insuportável das múltiplas.
O que vale é que estou quase sempre calada.

Liquidez

Hoje estou a àgua.
Quem me mandou celebrar a vida?
Vou ali submergir-me e jà volto.

Allons enfants de la patrie

imagem aqui
Eu estava quase quase a postar o caso Zidane-Materazzi e o jà famoso 'coup de boule', numa musica hilariante que me chegou ontem à caixa de correio.
(de qualquer modo podem ve-la aqui).
Resolvi apontar antes para uma efeméride historicamente bem mais interessante: a Tomada da Bastilha, a 14 Julho 1789, que deu origem, subsequentemente, à mais fundamental das declaraçoes.
Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
(Ordem dos factores: A fraternidade está em primeira linha: é a base. Sem ela não poderia existir nem igualdade e nem liberdade sérias. A igualdade decorre da fraternidade, e a liberdade é a consequência das duas outras. Mas esta é a minha opiniao, pessoal e intransmissìvel).
Um abraço fraterno às multiplas e aos leitores.
Allez!

13 julho 2006

Narcisismos

imagem daqui

Lembrei-me hoje, a propósito de outro post abaixo, de (mais) uma tirada genial do Woody Allen.
Numa conferência de imprensa alguém lhe disse que ele era narcisista

- Não sei porque é que dizem isso. Dos personagens da mitologia grega identifico-me muito mais com Zeus

(digam lá que nesta fotografia não parece mesmo o Jorge Silva Melo liofilizado?)

Mais difícil ainda

Quando era miúda tive a colecção de cromos do guiness. Ficava a olhar durante imenso tempo para a imagem do homem que arrastava locomotiva com os dentes, o que tinha o cabelo mais comprido, o sino maior do mundo, a estátua mais pequena e por aí fora. Eram recordes admiráveis que implicavam esforço, dedicação e mérito e mereciam a minha admiração.
Em Portugal existem os recordes absurdos. A árvore de Natal maior do mundo. O maior cortejo de pais natais do planeta. A maior feijoada à portuguesa jamais vista (quem mais se lembraria de fazer esta?!). A maior salada de frutas (não estou a gozar, foi feita pelos alunos da Escola Superior de Turismo). A maior bandeira humana feita só de mulheres (à qual chamaram "a mais bela bandeira do mundo", coisa que é facilmente refutável pelo misógino mais próximo).
Nenhum destes recordes altamente publicitados implica força, capacidade ou engenho. Basta juntar um monte de pessoas para fazerem a mesma coisa. Uns para se vestirem de pais natais e se passearem na rua como se fossem vencedores da maratona, um monte de mulheres a torrar ao sol no estádio universitário, uma série de pessoas para descascar muita fruta. Enfim. Houve um iluminado que teve a ideia e os outros acharam boa. Vá se lá saber porquê.
Bastava incluir a maior alheira de mirandela e a maior cova na areia jamais feita e e estávamos no top para ganhar o prémio "o-povo-que-tem-menos-que-fazer do mundo".
Hoje à hora do almoço comi o meu bacalhau à braz (o melhor do mundo), e vi as notícias (as mais longas da Europa). Soube que vai haver o 2º salão erótico em Lisboa (o maior jamais feito em Portugal) e dei de caras com uma rapariga que falava dos seus feitos com um orgulho que apenas reconheci na cara do Saramago depois do Nobel.
Dizia então a espanhola moça:
" Em Espanha sou muito conhecida por ser acrobata vaginal" (?????!!!!)
E continuou
"Consigo escrever e pintar com a vagina, faço bolinhas de sabão, e além do mais tiro cadeias de metal, agito bandeiras e coisas assim"
(achava eu que pintar com os dedos dos pés já era difícil...)
"já consegui tirar 15 metros de cadeia da minha vagina, mas acho que Lisboa é uma cidade tão bonita que quero bater o meu record e chegar aos 20 metros".
Depois disto, tirar coelhinhos de cartolas passou a ser brincadeira de crianças.

12 julho 2006

Princìpio activo

Sexo.
Basta escrever a palavra para se activarem as audiencias.

Avé Bill

A Fundação Bill e Melinda Gates gastou no ano passado 844 milhões de dólares em saúde e educação. A República Portuguesa gastou 367 milhões durante o mesmo período.
Bendito o fruto do vosso ventre, windows

11 julho 2006

Falemos então de sexo

Já que parece ser o tema da estação (com o calor e os passarinhos a chilrear), apesar de aqui no 8ecoisa9etal não costumarmos falar de sexo, abramos uma excepção. Mas não se entusiasmem porque não veio para ficar. Nós é mais sete palmos de terra que sexo na cidade.

Sexo é bom. Melhor ainda é fazer amor com pica. Mas de qualquer forma, uma queca faz bem a muitas coisas. Ao ego, à pele, aos músculos, ao humor (especialmente ao matinal, que é o que mais precisa de manutenção).

É bom que finalmente as mulheres falem disso. Seja de uma forma mais discreta ou mais aberta, com linguagem elaborada ou com palavrões. Quer dizer que podemos assumir o que somos e falar sobre isso. E todos sabemos quanto isso faz falta. Falar.

Na altura das descobertas sexuais eu e as minhas amigas falávamos de tudo. De como ele nos tinha tocado, de como nós os tínhamos tocado, do que tínhamos gostado mais e menos. Aprendi imenso assim. Sei que há mulheres que não o fazem, e imagino a quantidade de espalhanços que isso deve ter dado.

Tenho uma amiga mais nova que se guardou muito tempo para a “altura ideal”. Dei por mim um dia a dar-lhe uma lição teórica sobre sexo no feminino.

Que ia ser muito agradável, iria ter sensações muito interessantes, mas que era normal não ter orgasmo logo das primeiras vezes, especialmente alguém que se guardou tanto tempo e seguramente teria algumas ideias preconcebidas sobre esse momento.

Expliquei-lhe que era muito importante a confiança no rapaz com quem estava, falar com ele sobre as sensações que lhe provocava o que ele lhe fazia, as vontades de experimentar coisas que ele não tinha tentado. Que o orgasmo vem com a confiança e a entrega, e que a segunda precisa da primeira. E uma vez conquistado o primeiro começa-se à procura dos outros, e a perceber como funciona o nosso corpo.

Que é importante que conheçamos o nosso sexo, as suas curvas, texturas e reentrâncias. É mais escondido e elaborado que o deles, tem muitos matizes e dá prazeres diversos quando usado de maneiras diferentes. E como eles não têm um igual precisam de orientação. Eles NÃO sabem tudo.

Que se deve fazer o que se gosta, nunca nada por obrigação. Não há nada menos atraente do que estar com alguém que não tem prazer no que está a fazer, que se limita a ir fazendo os movimentos sem emoção.

Experimentar de tudo, não repetir se não se gosta (volta-se a aplicar a regra da não obrigação).

Não ter vergonha do corpo, não é preciso ser a Elle MacPhearson ou do Mark Van der Loo para ser desejável.

Quando se souber fazer bem devagar pode-se passar às rapidinhas. Estas dão o prazer de um mini magnum, as outras de uma caixa de 1 litro do santini.

Há tantas outras coisas, mas dependem tanto de cada um/uma. É como as cores, há quem goste sempre das mesmas, aqueles que vão variando, outros que se vestem com todas as cores do arco-íris.

Mas o mais importante mesmo: não há ninguém “bom na cama” no absoluto. Há pessoas que funcionam bem juntas.

Cúmulo do optimismo

Achar que um dia a verificação de palavras trará uma palavra verdadeira, em vez de uma sequência aleatória de letras

UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVA

Tinha uma papagaio. Verde. Com uma grande cabeçorra vermelha. Na verdade era uma papagaia. Comprei-a já quase desidratada, naquelas "magníficas" instalações com que nos brindam 90% das lojas de animais dos centros comerciais. Juntei os meus trocos e comprei-a feliz da vida por ter uma papagaio e por poder tirá-la daquele ambiente.
Depois resolvi comprar um livro sobre papagaios. Essencial. E mais essencial ainda teria sido comprá-lo antes do papagaio. Lá, nas páginas atribuídas à espécie do meu pássaro estavam descritas as suas características básicas, entre elas, uma muitíssimo especial. Era a espécie considerada a mais barulhenta de todas as espécies de papagaios. Momento filmográfico: eu, com o livro na mão, de olhos cerrados a olhar para a minha papagaia, à espera... um, dois, três... ali estava ela... em plenos pulmões... seria uma betoneira? um avião supersónico?... uma avalanche?... um terramoto?... um concerto dos Motorhead no Coliseu dos Recreios? Não! Era a super papagaia...
Nunca tinha ouvido nada assim... francamente indescrítivel o volume e o tom agudo que penetrava como facas aguçadas o interior dos meus tímpanos, o dos amigos que visitavam a casa e o dos vizinhos todos das redondezas...
Mas eu amava aquele pássaro... a sua esperteza igualava o volume dos seus gritos... era uma animal fabuloso...
Um dia, vieram uns senhores a minha casa fazer obras... um deles, o pintor, era surdo que nem uma porta. Eu tinha que repetir as coisas duas e três vezes para ele ouvir... e ele adorava animais, era um querido... e era o delírio absoluto vê-lo a trabalhar com a minha papagaia ao lado a gritar daquela maneira ensurdecedora e ele, sempre de sorriso rasgado: "oh, que passarinho bonito que tu és!", "oh, minha pequenina..., que linda menina...", "tás a cantar?".
Enfim, a relatividade das coisas é absorvente...

Epifania pós sete palmos de terra

Somos todos cães à procura da melhor posição para nos deitarmos.
Alguns acertam logo à primeira, outros têm de dançar atrás da cauda para encontrar o melhor ângulo.

Todo o cais é uma saudade de pedra

Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve como uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

Alvaro de Campos, Ode Marìtima

P.S. Para retomar um tema là atràs que gostei de ler.
Espraiem-se por aì fora.

10 julho 2006

Santa ignorância

Mandaram-me por mail um conjunto de dúvidas dirigidas a um site turístico Sul Africano, as respostas foram dadas pelo administrador do website. Se não é verdade foi muito bem inventado.
P: Costuma fazer vento na África do Sul? Nunca vi na TV que aí chovesse, por isso, como é que as plantas crescem? (GB)
R: Nós importamos todas as plantas completamente crescidas e depois ficamos por aqui sentados a vê-las morrer.
P: Serei capaz de ver elefantes nas ruas? (EUA)
R: Depende daquilo que beber.
P: Quero ir a pé de Durban à Cidade do Cabo. Posso seguir as linhas do comboio? (Suécia)
R: Claro, são só 2 mil Km, leve muita água...
P: É seguro andar a correr pelos arbustos na África do Sul? (Suécia)
R: Então é verdade o que se diz sobre os suecos.
P: Existem caixas Multibanco na África do Sul? Pode-me enviar uma lista das que existem em Joanesburgo, Cidade do Cabo, Knysna e na Baía de Jeffrey? (GB)
R: O seu último escravo morreu de quê?
P: Pode dar-me alguma informação acerca das corridas de Koalas na África do Sul? (EUA)
R: A Aus-trá-lia é aquela ilha grande no meio do Pacífico. Á-fri-ca é aquele continente em forma de triângulo a sul da Europa e não tem... Olhe, esqueça. Claro, as corridas de Koalas são todas as Terças à noite em Hillbrow. Venha nu.
P: Para que direcção fica o Norte na África do Sul? (EUA)
R: Fique de frente para Sul e depois dê uma volta de 90º. Entre em contacto connosco quando cá chegar e nós damo-lhes o resto das instruções.
P: Posso levar talheres para África do Sul? (GB)
R: P'ra quê? Coma com os dedos como nós fazemos.
P: Podem enviar-me o horário do Coro dos Pequenos Cantores de Viena? (EUA)
R: A Aús-tri-a é aquele pequeno país que faz fronteira com a Ale-ma-nha, que é... olhe, esqueça. Claro, o Coro dos Pequenos Cantores de Viena actua todas as Terças à noite em Hillbrow, logo a seguir às corridas de Koalas. Venha nu.
P: Têm perfume na África do Sul? (França)
R: Não, nós não cheiramos mal.
P: Criei um novo produto que é a Fonte da Eterna Juventude. Sabe dizer-me onde a posso vender na África do Sul? (EUA)
R: Em qualquer local onde se reunam muito americanos.
P: Sabe dizer-me onde é que, em África do Sul, a população feminina está em menor número que a masculina? (Itália)
R: Sim, nos clubes gay.
P: Celebram o Natal em África do Sul? (França)
R: Só no Natal.
P: Têm abelhas assassinas na África do Sul? (Alemanha)
R: Ainda não, mas por si, mandamos vir.
P: Existem supermercados na Cidade do Cabo, e existe leite durante todo o ano? (Alemanha)
R: Não, nós somos uma pacífica civilização Vegan de caçadores-recolectores. O leite é ilegal.
P: Por favor envie-me uma lista de todos os médicos em África do Sul que tenham ou consigam arranjar soro* de cascavel.(*Antídoto para dentadas de cascavel) (EUA)
R: As cascaveis vivem na A-mé-ri-ca, que é de onde VOCÊ é. Todas as cobras Sul-Africanas são perfeitamente inofensivas, podem ser facilmente manuseadas e são bons animais de estimação.
P: Estive na África do Sul em 1969, e gostava de contactar a rapariga com quem namorei enquanto estive em Hillbrow. Pode ajudar-me? (EUA)
R: Sim, mas mesmo assim vai ter que continuar a pagar-lhe à hora.
P: Poderei falar Inglês na maioria dos locais para onde for? (EUA)
R: Sim, mas primeiro vai ter que aprender.

09 julho 2006

A idade dos porquês

Deve haver imensos estudos sobre isso. Estudos sérios, científicos, desapaixonados. E no entanto eu não sei porque é que estas coisas acontecem.

Dizem que são químicos, ou os opostos, ou os complementares. A sorte. Alguns dizem que é por acaso. Outros que existe um plano global que já prevê tudo.

Há quem acredite que é Deus, outros as estrelas. Há quem ache que está escrito nas linhas das mãos, outros que se pode adivinhar com as cartas.

E mesmo assim eu continuo sem saber porquê.

Porque é que algumas pessoas se nos entranham debaixo da pele, que nos prendem com um sorriso sem sequer precisarem de falar. Antes de dizerem o que quer que seja já sabemos que vão ficar cá dentro.

Amigos, namorados, amantes, maridos. Às vezes nem chegam a ser nada disso, apenas fica a pairar a enorme certeza que o outro sentiu o mesmo que nós. Ou a ilusão de que assim é.

O melhor do mundo são as crianças

O meu sobrinho tem 6 anos. Não é para o gabar, mas é uma criança fora de série. O seu calcanhar de aquiles são as actividades físicas, nunca teve nem gosto nem jeito para isso.
Ontem, decerto imbuído pela febre futebolística que tem tomado conta de todos, começou a trocar bolas com um amigo (esse sim, com queda para a coisa) e nem lhe saiam mal os remates. Passado um bocado, o amigo fartou-se do jogo e quis voltar para dentro.
Quando passaram por nós ouvi o diálogo:
- tu já não queres jogar mais à bola comigo porque eu te marquei muitos golos
- quando?!
- quando tu foste beber água, marquei-te 10 golos.
Dizem que o Pauleta é um grande jogador, que tem mais golos no bucho que S. Eusébio dos Aflitos. Como não o vi fazer nada, nem no Europeu nem no Mundial, suponho que tenha sido como o meu sobrinho. Deve ter sido sempre nas alturas em que eu fui beber água.

Dar, receber, retribuir

Esta flor chegou-nos à caixa do correio no dia 24 Junho.
Sò agora demos por ela.
Obrigada sn2!
:)

08 julho 2006

Todos os dias à mesma hora

07.07.2006, 19:53
Ok. A ideia nao é minha, mas é boa.
Hoje era assim.
Amanha nao sei como serà.
Mas estarei no mesmo lugar, à mesma hora.

Queen Joana

Obrigada à Joana, que me iniciou no jogo e me ensinou todos os truques.
Com muita paciencia, é preciso dize-lo.
Grande professora, grande campea!

Don't know much about history

imagem daqui

No caminho para casa cruzei-me com o (what a) wonderful world do Sam Cooke e lembrei-me de uma das cenas de dança mais sensuais da história do cinema.

07 julho 2006

Serviço público de leitura

Comecei por beber licor de hortelã-pimenta e acabei no absinto estreme. A minha embriaguez era pacífica e até certo ponto catedrática. Eu me explico. Se o auditório me favorecia, deixava-me ir em discursos sobre a filosofia da história, alternados com outros discursos sobre a história da filosofia. Estas matérias, que a todo o homem em estado normal, se afiguram áridas e insípidas, a mim pareciam-me deleitosas e lucidíssimas; e os ouvintes, salvo a lisonja, mostravam-se igualmente admirados que instruídos. Não poderemos inferir daqui que as ciências de certa transcendência as devemos à alucinação de certas cabeças?, E que o espírito humano, sem o complemento de outros espíritos, cuja imortalidade ninguém discute, há-de sentir sempre a estreiteza dos seus limites? Não discorro agora a este respeito, por que bebo água há dois anos.
Camilo Castelo Branco, Coração, Cabeça e Estômago

06 julho 2006

A direita

uma das mãos que escreve os posts.

e as listas de supermercado.
e assina os cheques.
e mete as mudanças do carro.
e abre a porta de casa.
e mexe a pasta que coze.
e usa a colher de sopa.
e passa as páginas dos livros.
e põe este ponto final.

Free as a bird

Para variar de assunto.
Para lembrar que a liberdade é - agora e sempre - uma das coisas mais lindas.
E obrigada a quem disso me lembrou.

Paladar

Ontem descobri o que sentiram os alemães, ingleses, holandeses, brasileiros, ucranianos, argentinos, espanhois, ganeses, suecos, mexicanos, australianos e suiços.

Chama-se amargo de boca.

Caligrafia del Origen



"Huella sobre piedra, corteza, arcilla; tiempo detenido a través del verano, el viento, la lluvia y las lunas que se sucenden. Escritura, lazo que une o separa."
Jenaro Mejia Kintana é um pintor Colombiano, nascido em Urabá, terra da banana, da guerra, dos deslocados internos e de almas mágicas que só lá se podem encontrar. Trabalhou durante muito tempo como agricultor e mais tarde como ajudante na administração das grandes herdades produtoras e exportadoras de bananas para este nosso continente. Sabe tudo sobre estas plantações e jura que sabe quando as bananeiras vão parir. Como todos os que aí vivem não ficou imune à guerra e sempre se dedicou a pintar o que lhe ia na alma e no pensamento, a sua forma de ver o mundo, a dor e a beleza que encontra no seu país.
Esta é apenas uma das suas obras.

05 julho 2006

Odasssss

foto daqui

odasssss, a alho, ais ta atam os alditos anceses, e eu que inha antas espeanças ara oingo...


Olfacto

Os holandeses perderam o pio.
Os ingleses dizem que o Rooney levou o vermelho por causa do Cristiano, e querem-lhe fazer a folha.
Os franceses dizem que os portugueses não jogam à bola, só sabem atirar-se para o chão e fazer fita.
Cheira-me que se acabarão os subsídios da União Europeia se ganharmos o mundial.

04 julho 2006

Equilibrio

Foto daqui
Quando se muda de casa fica-se com a vida suspensa, com o quotidiano metido em caixas, fechado com fita adesiva. Pelo menos até voltar a tirar outra vez a vida, objecto a objecto e a reordená-la.
E mais uma vez confirmei, cada amigo/a nosso vale mais que um Pai Natal.

Sofro de mundialite aguda

O médico diz que passa depois de 9 de Julho

Palavras que me arrepiam

5 estrelas
fofinha
obrigadão
obrigadinha
princípio de esgotamento
aleijar (nas suas várias conjugações)

Música no coração

Se forem aqui podem ver e ouvir telediscos dos anos 80. Lembro-me do Adam Curry e do countdown que nos fez descobrir o maravilhoso mundo dos videos de música.
Oiço o footloose e lembro-me de ter visto o filme no cinema Turim com as minhas amigas para festejar os meus anos (fazia 10 ou 11), e volta-me a emoção de ter adorado o filme sem me ter apaixonado pelo protagonista.
Oiço o Up where we belong que me leva até ao primeiro slow com o rapaz de quem gostava no 2º ano do ciclo. Chamava-se Tiago, tinha uns olhos castanhos enormes e pestanudos que me faziam sorrir sem motivo. Um dia escreveu na mão o meu nome dentro de um coração e percebi que ele também gostava de mim. Nunca mais me esqueci dele e nem um beijo na boca demos.
Quanto ao Blue Jean... bem, sempre achei que o David Bowie a cantava só para mim.

Sorte do caraças

Chegar ao carro 5 minutos antes da Polícia Municipal multar e bloquear todos os carros da rua

Com o coraçao nas maos

Primeiro foram os pés. Agora as maos.
Pelo menos jà tenho titulo.
Nao tenho é tiles nem acentos.
Nao se pode ter tudo.
Enfim.

De que é que falamos quando falamos de cabelo?

- Filha, o que é que tens?
- Nada, é o meu cabelo, estou horrível.
- Mas está bem assim.
- Não pai, não está nada, não vê que faz um remoinho aqui, e que está todo ponta acima ponta abaixo, não o consigo pentear nem com gel nem com nada.
- Eu acho que está bem.
- Não está nada, estou horrível, e tenho um jantar e não o consigo pentear, e não sei que mais hei-de fazer.
- Experimenta com água, é o que eu faço sempre. Um bocado de água, passas com o pente e fica óptimo.
- Pois, o pai resolve sempre tudo com água, acha que com isso fica sempre tudo bem. Mas não fica pai, não fica.
- Filha, o que é que tens?
- Nada pai. É só que me irrita essa mania de resolver tudo com água. A água não resolve tudo. Há coisas que a água não consegue fazer passar. E o meu cabelo não fica melhor se lhe puser água como o seu, fica pior, fica com ar pesado e sujo e feio e mau.
- O que é que se passa?
- Nada. Estou farta disto. O meu cabelo está horrível e o pai não percebe, acha que posso resolver com água. E não posso. Não posso, não vê? Não posso.
- Oh filha...

03 julho 2006

código da estrada I

Confesso tudo. Confesso os crimes, os castigos, os impossíveis e os imaginários e até mesmo aqueles que fiz.
Confesso. Tudo. Confesso o que vi e o que não vi, que estive lá e onde nunca estive. Confesso tudo e nem questiono.
Nada. Não questiono nada. Não questiono onde estive, onde estiveste, onde isto vai parar nem sequer o que significa.
Não questiono nada. Não questiono o concreto, o absoluto nem o abstracto. Não questiono nada porque a tudo lhe dei o nome de "inquestionável". Porque me convém.
Convém-me. Convém-me não saber nada e convém-me não mostrar nada. Convém-me não ter medo e o medo é consequência do saber. Convém-me não ter incertezas e a incerteza é consequência do não saber. Por isso não questiono.
E como não questiono nada, tudo é possível, por isso confesso. Confesso tudo.
Existe apenas um senão. Eu, como alguém já disse antes de mim, "Não sou um nem sou o outro (...)".

Que nome se dà a este post?

Nunca percebi muito bem o culto pelos pés.
Mas estes pareceram-me bonitos, ontem.

02 julho 2006

Os latinos

Gosto de Itália. Gosto da comida italiana. Gosto dos italianos.

Não é que os homens sejam mais bonitos do que os nossos, porque não o são, mas têm mais graça, sabem-no e fazem-se valer disso. Metem-se com as miúdas sem serem ordinários, dizem ciao bella mesmo a quem é um chaço, chamam “maniglie del amore” (manilhas de amor) ao que nós apelidamos de antipáticos “pneus”. Quando uma rapariga tem olhos ligeiramente convergentes dizem que tem “strabismo di venere” (estrabismo de vénus) e é considerado sexy. E todas sabemos que não há nada mais perigoso que ser amada pelos nossos defeitos, caímos como umas patas.

Têm o país mais bonito do mundo, a língua mais doce do planeta e os museus mais bem fornecidos do universo. Apesar de se lamentarem das coisas que não funcionam, têm orgulho no que são. Como os espanhóis e os franceses.

Somos latinos como eles. Temos tantas qualidades desperdiçadas, como se fosse um país em depressão permanente – só vemos os defeitos e as faltas, com incapacidade de reparar no bom que temos e usá-lo em nosso proveito.

Espero que as vitórias da equipa nacional nos possam fazer reconquistar o espírito de orgulho nacional e pessoal. Mesmo que comece numa bola pode-se passar ao resto.

Por mim era Mourinho à Presidência já. Haviam de ver como tudo se punha nos eixos em 3 tempos.

1
2
3
já está

Herois do mar

fotografia de Allevon
Foi assim no inìcio, melhor ainda no fim.
Grande Ricardo, grande selecçao!

01 julho 2006