30 novembro 2006

Caderneta de cromos



O taxista pedrado que quase dormia ao volante e me obrigou a encurtar a viagem, o taxista evangelizador que ouvia cassetes de cultos da igreja universal de deus, o taxista que organizava festas trance, o taxista-sósia-do-alberto-joão-jardim que garantia que a Madeira não precisava do continente para nada, o taxista que tinha sido bombeiro mas não era estúpido e fugiu dessa perigosa profissão depois de ter levado com uma trave na cabeça que o deixou vinte dias no hospital, o taxista que percebia de bruxedos e desfiava receitas infalíveis (menina, duas gotinhas de sangue da menstruação na bebida de um homem e ele fica louco), o taxista que garantia estar a ser envenenado pela mulher e me fez cheirar a garrafa de água do luso com cheiro a amoníaco.

Alguém tem cromos para a troca?

29 novembro 2006

All I need is a chip and a seat

Aprendi esta frase quando me introduziram no maravilhoso mundo do poker. Para ganhar basta ter uma ficha e um lugar à mesa, porque o poker é um jogo de paciência (saber esperar pelas cartas certas), de timing (saber quando e como apostar) e de controle das expressões corporais (mandar os sinais correctos aos outros jogadores para que isso funcione a nosso favor - seja um bom jogo ou um bluff).
Quanto mais sei sobre o jogo mais me parece que é uma excelente metáfora da vida.

Dr. House

Uma série com um inglês a fazer de americano, um médico cínico e insuportável que é suposto ter charme, especialista em fazer diagnósticos de casos estapafúrdios.
A regra é quanto mais complicado melhor, o diagnóstico inusitado e a cura sempre algo de experimental e potencialmente mortal. Mas no fim curam-se todos e vão-se embora agradecidos.
Uma espécie de Jesus Cristo vs Lázaro, com três apóstolos fixos e dispostos a tudo, em versão americanada. Não se arranja uma última ceia para dar cabo do canastro ao doutor?

28 novembro 2006

Naba

- A sopa ficou doce. O que é que eu faço?
- Esqueceste-te de pôr sal...
- Obrigada, és um génio.
(dois minutos depois)
- O meu problema é que não vinha nenhuma receita de sopas normais na bimby, fiz um cruzamento de sopa normal e receita da bimby.
- Põe sal...
(um minuto depois)
- Pus ervilhas, cebola, alho, courgette e inventei pondo uma cenoura. Acho que a cenoura estragou tudo. Achas que melhora se lhe atirar um nabo?

A alma d@s portugues@s

"A personalidade não é um ideal"- disse Keyserling. E sorriu quando o cavalheiro Fausto, seu guia e seu apoderado de ocasião, lhe perguntou o que pensava dos portugueses.
- A alma dos portugueses é uma das mais complicadas do mundo; enquanto que a dos espanhóis é uma das mais simples. (...)
Keyeserling atribuia ao português uma obstinação de atitudes que não se define senão em momentos-chave e que pode contradizer a rotina duma vida inteira. No geral, ele não participa muito no fenómeno social, concebe-o como um espectáculo, adia o compromisso, ironiza para subverter, mas não deseja modificações irreversíveis. Negoceia, pactua, envolve-se pelo sentimento nas condições das anfibologias. Mas, de repente, já não é o cidadão solícito nem o indivíduo servil. Comete um crime ou torna-se um herói; faz tábua rasa da sua formalidade, revela-se o herege, o mação ou o homem de utopias condicionado à sua oportunidade. Viveu demais pela inércia, recupera-se pela paixão. Keyeserling disse que esta gente complicada possui uma tenacidade comprimida. Acrescente-se que ela tem também a latente vocação da revolta, que corresponde à curiosidade das aspirações, quando não ao fito das ambições.
Agustina Bessa-Luís, Pessoas Felizes, 1975

Excursões

Há anos que me entopem a caixa do correio com publicidade a excursões de 1-2 dias por tuta e meia. No início pensei que era uma agradável viagem que acabava com menos um órgão, para explicar o baixo custo da mesma, para anos mais tarde descobrir que era afinal mais uma estratégia agressiva de marketing de venda de produtos. Ou seja, levam as pessoas nessas viagens e levam o tempo todo a impingir coisas e mais coisas, até que assinem um papel para acabar com a tortura.
Uma realizadora chamada Leonor Noivo decidiu fazer um documentário sobre o tema. A empresa deve ter dado a sua autorização, pois ela foi e filmou algumas dessas excursões. Algures durante o processo quiseram que lhes fossem dadas as cassettes com o material, a realizadora recusou-se e entrou num processo de litígio com eles.
Concorreu ao docLisboa e foi aceite para competição. Parece que informou os organizadores das circunstâncias em que se encontrava, e mesmo assim seguiu para programação.
No dia da exibição os espectadores foram informados que o mesmo tinha sido retirado, e que tal tinha acontecido por ameaça de processo judicial.
O filme nunca viu a luz do dia, e não se sabe onde e quando poderá ser visto.
Joana Amaral Dias fala sobre o tema no texto "censura no doclisboa". Sei de pessoas que andam a pedir explicações à apordoc há semanas sem obterem qualquer resposta, e o assunto não anda a ser discutido em lado nenhum.
Gostava de ver o filme. Gostava que a apordoc tivesse sido coerente. Gostava que a comunicação social falasse sobre isto. Gostava que as empresas não tivessem nada a esconder. Gostava que as que usam processos obscuros para atingirem os seus fins fossem expostas publicamente. Gostava de viver num país onde este tipo de coisas fosse punido e os direitos dos putativos consumidores fossem respeitados.
PS - só há um ponto que ainda não tenho esclarecido, e que me parece de fundamental importância. Só se pode fazer um filme sobre uma instituição que tenha dado o seu consentimento por escrito. Se assim não aconteceu, trata-se de uma situação abusiva por parte da produção/realização do filme. Se não, a empresa nada pode fazer.

Eu e as compras

Vivo num excelente bairro no centro de Lisboa, com metro à porta e dezenas de lojas de comércio tradicional, supermercados e praça. Vejo as senhoras que aqui vivem a fazerem as compras com carrinhos de rodinhas, como a minha avó sempre fez, e tenho andado a pensar em comprar um também - seria mais uma libertação do automóvel, fazer as compras a pé sem ter de carregar com o peso nas mãos. Das vezes em que o fiz ia-me encolhendo pelo caminho, a passos cada vez mais lentos, com vergões encarnados nos dedos levando-os à beira da necrose.
Esta manhã decidi que ia ser diferente. Quero um carrinho.
Passei por uma das lojas do bairro e escolhi um castanho, não muito grande mas decididamente económico, além do mais com as três rodinhas em vez de duas, que me disseram facilitar a subida das escadas (como tenho três andares a pé para chegar a casa achei conveniente).
Pavoneei-me orgulhosa com a minha nova aquisição até ao supermercado, olhando para as senhoras que também o tinham com uma sensação de pertença de quarteirão.
Ao chegar ao supermercado vi o que faziam as outras senhoras: deixa-se o nosso à porta e tira-se um dos deles. Fui imbuída do espírito "o mundo e tudo o que ele contém são meus!", o que se traduziu pelo enchimento compulsivo de tudo e mais alguma coisa para dentro do carro de metal. Paguei as compras e tratei de pôr os pertences na minha nova coqueluche de forma ordenada - as coisas mais pesadas e sólidas em baixo, para darem sustento e forma às que vinham por cima. Como é obvio, não me coube tudo lá dentro; saí do supermercado com o contentor cheio que nem um ovo e mais 4 sacos na mão. Mas orgulhosa.
Uma senhora cruzou-se comigo e começou a dizer "ó dona, ó dona". Não é comigo seguramente, nunca ninguém me tratou assim. Só quando me deu os dois pacotes de folhas de gelatina que eu tinha deixado cair é que percebi que com o carrinho adquiri também o estatuto.
O caminho para casa foi penoso, as compras pareciam pesar mais a cada passo. Troquei algumas vezes os sacos de uma mão para a outra, o peso do carrinho ia aumentando pela estrada fora. Cheguei a casa e quando comecei a subir as escadas não conseguia parar de rir. É que as compras pesam o mesmo, dentro ou fora do carrinho, e a subida até ao terceiro andar revelou-se tarefa hercúlea.
Até para fazer compras de bairro é preciso cabeça.

27 novembro 2006

Quarteto, Alt(m)amente







Fui ontem ao cinema Quarteto, ver o o último filme de Robert Altman (que teve a 'má ideia' de morrer no dia 21 deste mês), A Prairie Home Companion. Gostei do filme e recomendo-o: Meryl Streep faz um papel notável, canta bem que se farta, há uma dupla de cowboys hilariante. Já para não falar em Kevin Kline, perfeito no papel que lhe coube. Não me estico mais em apreciações, não sou crítica de cinema nem nada que se pareça.
Mas não foi só do filme que gostei: gostei de voltar ao Quarteto e de me voltar a sentar naquela sala (mesmo que as cadeiras só tenham melhorado um bocadinho). Antes disso, também gostei de me sentar nos bancos lá fora e de olhar e de achar engraçada a instalação que fizeram no tecto. Enquanto o filme não começava e fumava um pensativo cigarro, lembrei-me das vezes em que vinha de propósito a Lisboa para ver filmes que só mais tarde o Atlântida-Cine, em Carcavelos, começou a passar. Vi ali os primeiros filmes de Almodôvar, os filmes de Tarkovski, as maratonas de cinema no dia de aniversário do Quarteto. As memórias não acabam aqui, mas para o efeito bastam.
No Quarteto, o tempo parece ter parado. A começar pelo preço dos bilhetes: são muito mais baratos, mesmo em dias 'normais'. A rapariga do bar é a mesma, a senhora da bilheteira, a decoração (menos a instalação no tecto e os cartazes nas paredes e os postais de distribuição gratuita). Jurava que vi sentada na sala as mesmas pessoas de há 4 anos.
Quarteto, Alt(m)amente. Vou voltar.

Atrofio de final de dia




Encalhada no trânsito ou encalhada na vida? Boa pergunta. Porra, quero chegar a casa, raisparta a vida, maldita a hora em que troquei o mar por este projecto mal amanhado de cidade. Odeio Novembro, mês aziago, ainda não é natal e já tenho que levar com os cartazes a lembrarem-me que tenho que fazer as incortonáveis compras e eu que odeio lojas e tudo o que seja superfície comercial. E a chuva e o temporal dos últimos dias? Goteiras por todo o lado, a roupa que não seca. E a casa? Ui, que belo pandemónio. Xiça, dor-de-cabeça agora, onde é que está o paracetamol (a porra do ibuprofeno lixa-me o estômago). Este carro parece um cemitério de garrafas vazias, deve haver aí alguma que tenha água, se é que um novo ciclo de vida não se iniciou já dentro dela. Quero lá saber, o-que-não-mata-engorda. Tenho fome, não me apetece cozinhar, não fui às compras, tenho um buraco no estômago, pastilha, é isso. É melhor comer duas. Porra, acabaram-se as pastilhas. Onde é que estão os cigarros? Bib-bip, sms? (quem será). Só me faltava esta agora. Só me faltava esta agora. Só me faltava esta agora. Não era esta a estrada que eu queria, não era esta a cidade que eu queria, não era esta a vida que eu queria.
Há algo de fundamentalmente errado nisto tudo.
Está na altura de me fazer à estrada de novo.

26 novembro 2006

1923-2006

E aqui. E aqui. E aqui.

Morreu o Mário, Viva o Mário

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

(Para o Mattia)

O Ar do Lisboeta

É o título de um poema de Alexandre O'Neill e é também o de um blogue criado em Outubro com a seguinte missão:

Vejam e acrescentem!

24 novembro 2006

O meu gato era assim

Acabo de receber isto por mail. O meu gato era exactamente assim - se viveu 18 anos sem engolir comprimidos, imaginem se o tivesse feito.

Como dar um comprimido a um gato

1. Pegue no gatinho e aninhe-o no seu braço esquerdo como se segurasse um bebé. Coloque o indicador e o polegar da mão direita nos dois lados da boquinha do bichano e aplique uma suave pressão nas bochechas enquanto segura o comprimido na palma da mão. Quando o amorzinho abrir a boca atire o comprimido lá para dentro. Deixe-o fechar a boquita e engolir.
2. Recupere o comprimido do chão e o gato de detrás do sofá. Aninhe o gato no braço esquerdo e repita o processo.
3. Vá buscar o gato ao quarto e deite fora o comprimido meio desfeito.
4. Retire um novo comprimido da embalagem, aninhe o gato no seu braço enquanto lhe segura firmemente as patas traseiras com a mão esquerda. Obrigue o gato a abrir as mandíbulas e empurre o comprimido com o indicador direito até ao fundo da boca. Mantenha a boca do gato fechada enquanto conta até dez.
5. Recupere o comprimido de dentro do aquário e o gato de cima do guarda-fatos. Chame a sua mulher do jardim.
6. Ajoelhe-se no chão com o gato firmemente preso entre os joelhos, segure as patas da frente e de trás. Ignore os rosnados baixos emitidos pelo gato. Peça à sua mulher que segure firmemente a cabeça do gato com uma mão enquanto força a ponta de uma régua para dentro da boca do gato com a outra. Deixe cair o comprimido ao longo da régua e esfregue vigorosamente o pescoço do gato.
7. Vá buscar o gato ao suporte do cortinado e retire outro comprimido da embalagem. Tome nota para comprar outra régua e reparar as cortinas. Cuidadosamente varra os cacos das estatuetas e dos vasos do meio da terra e guarde-os para colar mais tarde.
8. Enrole o gato numa toalha grande e peça à sua mulher para se deitar por cima de forma a que apenas a cabeça do gato apareça por debaixo do sovaco. Coloque o comprimido na ponta de uma palhinha de beber, obrigue o gato a abrir a boca e mantenha-a aberta com um lápis. Assopre o comprimido da palhinha para dentro da boca do gato.
9. Leia a literatura inclusa na embalagem para verificar se o comprimido faz mal a humanos, beba uma cerveja para retirar o gosto da boca. Faça um curativo no antebraço da sua mulher e remova as manchas de sangue da carpete com o auxilio de água fria e sabão.
10. Retire o gato do barracão do vizinho. Vá buscar outro comprimido. Abra outra cerveja. Coloque o gato dentro do armário e feche a porta até ao pescoço de forma a que apenas a cabeça fique de fora. Force a abertura da boca do gato com uma colher de sobremesa. Utilize um elástico como fisga para atirar o comprimido pela garganta do gato abaixo.
11. Vá buscar uma chave de fendas à garagem e coloque a porta do armário de novo nos eixos. Beba a cerveja. Vá buscar uma garrafa de whisky. Encha um copo e beba. Aplique uma compressa fria na bochecha e verifique a data de quando apanhou a última vacina contra o tétano. Aplique compressas de whisky na bochecha para desinfectar. Beba mais um copo. Atire a T-Shirt fora e vá buscar uma nova ao quarto.
12. Telefone aos bombeiros para virem retirar o cabrão do gato de cima da árvore do outro lado da rua. Peça desculpa ao vizinho que se estampou contra a vedação enquanto tentava desviar-se do gato em fuga. Retire o último comprimido de dentro da embalagem.
13. Amarre as patas da frente às patas de trás do filho da p*** do gato, com a mangueira do jardim e de seguida prenda firmemente à perna da mesa da sala de jantar. Vá buscar as luvas de couro para trabalhos à garagem. Empurre o comprimido para dentro da boca da besta seguido de um grande pedaço de carne. Seja suficientemente bruto, segure a cabeça do corno na vertical e despeje-lhe um litro de água pela goela abaixo para que o comprimido desça.
14. Beba o restante whisky. Peça à sua mulher que o conduza às emergências e sente-se muito quieto enquanto o médico lhe cose os dedos, o antebraço e lhe remove os restos do comprimido de dentro do seu olho direito. A caminho de casa contacte a loja das mobílias para encomendar uma nova mesa de jantar.
15. Trate de tudo para que a protectora dos animais venha buscar o cabrão do gato mutante fugido do inferno. Telefone para a loja dos animais e pergunte se têm tartaruguinhas.

E o pai natal chega dia 24 à noite, sem falta

na minha caixa de email

23 novembro 2006

Ao lado

Oiço as vozes ali ao lado e as conversas que me invadem o silêncio. Estou cansada da gente que entra e sai sem reparar que estou aqui sentada. Talvez me tenha tornado uma coisa parecida com aquela cómoda. Em vez de bonecos de loiça tenho o anel da minha avó, no lugar da moldura de prata tenho estas mãos que riscam o ar ao compasso das conversas. Se eu me levantasse e saísse, será que alguém iria reparar na minha ausência?

22 novembro 2006

A amizade é a coisa mai' linda

No domingo recebi um mail com este jogo:

Descreve-me numa só palavra (apenas uma). Não podes escrever mais que uma palavra apenas. Manda a palavra para mim, somente para mim. Depois, manda esta mensagem para os teus amigos e vê como é estranho e interessante saberes o que as pessoas pensam a teu respeito. No mínimo um jogo curioso. Faz apenas responder (reply) e manda a minha palavra. O jogo começa agora. Não é tão fácil como pensas!
No ínicio não liguei, depois resolvi encaminhar o jogo para os meus contactos - amigos e família. Queria ver-me sintetizada na tal palavra. Queria coligi-las todas e perceber melhor o que pensavam a meu respeito. Comecei a receber respostas. Entretanto, a palavra que eu mais queria - a da minha melhor amiga - tardava em chegar. Fiquei impaciente. Pus-me em contacto com ela, reclamei a resposta, fiz chantagem, pus em causa a amizade e o conhecimento dela sobre mim. Ontem, no final da noite, recebi a almejada resposta. Publico-a com o seu consentimento e digam-me lá se não vale a pena ter uma amiga assim:
Pedistemequetedescrevessenumasópalavramasconfessoquenãoconsigo
ninguémconsegueencerrarninguémnumasópalavramesmoquetenhamuitas
sílabasetuésumapalavracommuitassílabasasílabainteligenteasílababrilhante
asílabadestravadaasílabaaceleradaasílabamelancólicaasílabamalucaasílaba
sagresasílabapoemasasílabamemóriaasílabaamigadedezasseisanosasílaba
osgaasílabamudançadecasaedevidaasílabaentusiasmadaasílabavencida
asílabarisoasílabaentendimentojátantassílabasqueficastontaaleristo
ninguémconsegueencerrarninguémnumapalavramuitomenosalguém
dequemsegostatantocomoeudeti.
P.S.1 Na primeira versão do post tinha separado as palavras com hífens para melhor leitura. Hoje fundi o texto novamente porque a minha amiga prefere assim.
p.S.2 (O que ela queria era chamar-me maluca)
P.S.3 A amizade é a coisa mai' linda!
P.S.4 Adoro-te amiguinha!

Acende campaínhas

esclarecimento por correio electrónico

Devido à velocidade da luz ser superior à do som, algumas pessoas parecem inteligentes até as ouvirmos.

a apoplexia do silêncio

Altero o meu estado, despejo o que há no saco, descubro o que há de intacto nas coisas, nos traços, nos espaços, nos caminhos, na sombra dos passos. Resumo tudo em algumas palavras, em alguns gestos, alguns inesperados, parece que sinto na tua expressão, o verão a destilar-se em mim, em ti, sobre nós, em grandes pedaços de pensamento abstracto, nem lapsos, em vácuo, sem nada no meio do teu corpo e do meu. Assim de uma assentada, quase tudo o que já era, foi, quase tudo o que já havia sido ainda era, quase tudo o que parecia ser também seria. A tua nudez na minha pele branca, o teu suor na minha boca, nos membros dormentes do cansaço do dia, o nosso som recortado pela luz a entrar da janela, eternos, eterno, eterna, desmaiados.

perguntas

Mãe, o que é o imperialismo? Mãe, o que é o fascismo?

(bem me parecia que não era boa ideia ter um cartaz do PREC na sala)

21 novembro 2006

Maniqueísmos informáticos

Os cookies são bons ou maus?

(se são bons, porque é que são bloquedos se o nível de segurança é médio alto?
se são maus, porque é que os tenho de aceitar para ver os mails?)

A verdade da mentira

Uma vez perguntei-lhe porque é que não me tinha pedido para subir ao seu apartamento. Respondeu-me "porque sou parvo". Guardei religiosamente esse sms durante muito tempo. Na altura estava-se a fazer de interessante mas afinal de contas foi a única verdade que me disse durante toda a nossa relação.

20 novembro 2006

Sim, pelo direito à vida

Aproxima-se o referendo e por essa blogosfera fora aumentam as postas sobre o tema, uns a favor do sim, outros acérrimos defensores do não. Eu confesso que já não tenho paciência para argumentar o tema, a minha veia democrática colapsa quando ouço falar na humanidade do embrião, na consciência que as mulheres devem ter para proteger-se de uma gravidez não desejada, no direito à vida. Dá-me vómitos, arrepios, eczemas e outras coisas piores. Não suporto a hipocrisia das organizações que defendem o direito à vida e que, pretendendo ser coerentes, criam organizações para apoiar a mulher grávida. Mas então a defesa da vida do bebé acaba no momento do seu nascimento? Se um filho ou filha é para toda a vida como é que se podem desejar que ele ou ela nasçam sem ser desejados, queridos, sonhados? Mas não vou argumentar se é uma questão do direito ou da ética, dos direitos das mulheres sobre o seu corpo ou da vida do embrião, enfim, deixo isso para outros bloggers que o farão melhor que eu.
Mas pela importância do tema também não quero deixar passar em branco esta fase pré-referendo, por isso vou contar a minha vivência pessoal.

Há mais de dez anos atrás fiquei grávida, tinha vinte e poucos anos, ainda não tinha acabado o meu curso, andava louca de amores por um homem muito especial, mas casado, com filhos e mulher. Naqueles arrebatos de loucura desenfreada e de sexo místico, uma das noites achei que o preservativo era desnecessário, que nada nos iria passar a nós, ao nosso amor protegido pelos deuses. Acho que quando se é jovem pensa-se que se é imortal e incólume aos males dos mundo, o mundo é hoje e agora e o amanhã nada passará. Resultado, teste da gravidez positivo. O mundo desabou, ainda tentei durante uns dias fazer de conta que não era nada comigo mas não foi possível, andava num tal estado de elevação, parecia que pairava no ar, e ele adivinhou o que me estava a passar sem que eu o dissesse. Ainda sonhámos durante uns dias em como seria se tivéssemos o bebé, se fosse uma menina, pois ele só tinha rapazes com a sua mulher, em como contaríamos à minha família (os meus pais) e à sua (mulher e filhos) da nossa alegria e da nova criança que aí estava para vir e que queríamos que fosse amada por todos. Enfim, sonhámos e iludi-me por um tempo, até que de repente tive um ataque de realidade e pensei em tudo aquilo que ainda queria fazer, na minha ânsia de descobrir o mundo, a mim, de liberdade, de viajar, nas possibilidades reais da nossa relação. E é aí que ele me diz Tu é que sabes, eu faço o que tu quiseres fazer... Esta frase foi crucial na minha decisão, não foi claro o único factor mas fez-me cá dentro um click, um aperto no peito. Então e ele, qual é que era o papel que ele estava disposto a assumir e a dar, qual era a sua vontade, apenas um reflexo da minha? Acho que começou aí o meu desamor por ele que ainda mais confirmava a minha decisão.
E através de uma amiga que tinha uma amiga que sabia de uma médica que fazia anjinhos, como dizia a minha avó que era sábia e que já tinha passado pelo mesmo, lá fui, determinada a fazer o que tinha que ser feito acompanhada por duas amigas. A última coisa que vi antes de entrar para a sala foi a Serenela Andrade a dizer que alguém tinha ficado alapardado, em vez de apardalado, e isso foi o mote para ter um ataque de riso, como sempre acontece quando fico muito nervosa ou tensa com alguma coisa.
Hoje mais de dez anos passados, claro que sinto a culpa e o desconforto, não se fica incólume, sofrem-se dores físicas e psicológicas, na altura e até muito tempo depois, senti remorsos, martirizei-me pensando em como seria se tivesse ido para a frente com a gravidez, como seria a criança, enfim. Mas bem feitas as contas e a prova dos nove, olhando para trás na minha vida, não me arrependo de ter abortado, assim com todas as letras, a minha vida teria sido muito diferente e não como a sonhei e desejei. E ainda mais reforço este meu não arrependimento tendo agora uma filha que foi muito desejada e sabendo tudo o que implica a gravidez, o nascimento e a criação de uma criança. Fiz uma opção, e tive a sorte de não ter sido julgada e condenada por tribunais e leis que ainda acreditam que o direito à vida é o direito a nascer.
Eu também acredito no direito à vida, mas a uma vida mais além da possibilidade de respirar este ar que nos rodeia. Acredito que cada criança quando nasce tem o direito de ser desejada e amada e que cada mulher e cada homem quando ficam grávidos têm direito a escolher qual o projecto de vida que desejam, têm direito a querer ser ou a não querer ser pai e mãe. E mais não digo. Agora só resta esperar pelo referendo.

19 novembro 2006

O melhor dos anos 80

O plurai dos animales

Aliás, O plurão dos animãos, melhor, o plurãe dos animães, ou ainda, o pluril dos animões. Um pouco de gramática nunca fez mal nenhum a ninguém. Por isso, chamamos a atenção ao ouvinte inteligente, para o plural dos mamíferos.
Note que, se o plural de chacal é chacais, o plural de cavalos poderia ser cavais. Mas não é - é cavalos. Nesse caso, o plural de leão deveria ser leálos. Mas não é - é leões. Logo, o plural de cão, poderia ser cões. Mas, mais uma vez, não é - é cães. Então, o plural de leão poderia ser leães ou leais. Mas é leões, como já vimos. Nesse caso, o plural de chacal deveria ser chacões, ou chacães ou chacálos - mas é chacais. Vai daí, o plural de cão, deveria ser cais, ou cãos, ou mesmo calos.
E chegou a altura de entrarmos em linha de conta com a noção de conjunto, para tentar facilitar as coisas. Sabe-se que um conjunto de porcos é uma vara. Nesse caso, um conjunto de touros deveria ser uma tara. Mas não é - é uma manada. Então, um conjunto de camelos deveria ser uma camada, mas é uma cáfila. Então, um conjunto de lobos deveria uma lófila, mas é uma alcateia. Pelo que um conjunto de cães poderia ser uma caneia - mas é uma matilha. De onde se deduz que um conjunto de bestas deveria ser uma bestilha - mas é uma récua.
Como se vê, esta história do plural dos mamíferos tem muito que se lhe diga. No entanto, no que respeita ao homem - que, como se sabe, também é um mamífero - as coisas são muito mais fáceis. Assim, o plural de homem pode ser homens, gajos, tipos, fulanos, ou mesmo filhos da mãe. No mesmo sentido, um conjunto de homens pode ser um grupo, uma manada, uma cáfila, um bando, uma quadrilha, um pelotão, uma companhia, uma cambada,, uma maralha, uma multidão, uma manifestação, um monte, uma molhada, um ajuntamento, uma concentração ou ainda uma mole imensa.

*texto publicado na revista PÃO COM MANTEIGA, N5, Outubro de 1981

18 novembro 2006

Natureza feminina

Depois da casa me ter atacado com formigas, pombos, baratas alemãs e moscas rastejantes, voltou à carga ontem à noite.

Tive um jantar com umas amigas cá em casa para experimentar esse novo e fabuloso electrodoméstico chamado bimby (espécie de robot do cozinha que faz tudo por nós, especialmente desenhado para nabas da gastronomia como eu), quando durante o repasto fomos atacadas por um insecto que parecia o cruzamento entre uma vespa, uma libelinha e o Freddy Krueger - de início fiquei estupefacta mas depois horrorizada com o bicho. Foi-se esconder atrás da máquina do café, uma delas propôs que o atirássemos para o chão para esmagar com o sapato, quando o fizeram uma delas zumba com a botifarra, e a criatura começou a levantar-se qual fenix das cinzas, o que provocou em mim o horror dos filmes americanos, pensando que ele atacaria com mais poderes, o que resultou em gritos lancinantes misturados com risos pela situação. Felizmente uma delas acaba de chegar dos seus seis anos de Timor e resolveu o assunto com uma sapatada mais bem dada, embrulhou o cadáver em rolo de cozinha e ala para o caixote do lixo.

No fim da noite enquanto arrumávamos a dita maravilha do mundo moderno, descobri um ratinho pequenino, cinzento, morto em cima do balcão da minha cozinha - coisa perfeitamente inaudita desde que aqui vivo. Da estupefacção passei ao grito, de novo, seguido de risos incontroláveis encostada obviamente à parede contrária ao cadáver. Fui incapaz de pegar na criatura, inspirou-me a mais profunda repulsa e a reacção que apenas conhecia dos filmes idiotas - gritos. Não conseguia fazer outra coisa. Gritava e ria, ria tanto que parecia que chorava. De novo a nossa lorosae de serviço tratou da exumação de mais um corpo abandonado pela anima, e assim puderam ir para casa alegres e tranquilas.

Julgarão os bichos que eu sou a Dra. Doolittle? Ou deverei doar a casa à Sociedade Protectora dos Animais, já que vêm todos cá ter pelo próprio pé?

17 novembro 2006

A saga continua

Continua a saga do protesto contra a campanha de promoção de produtos de limpeza dirigidos a mulheres e a meninas do hipermercado Feira Nova (ver aqui, aqui, aqui e aqui)

Hoje recebi a resposta da CIDM:
Exma Senhora,

A Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (CIDM) e, nos termos do Decreto-Lei nº 161/91, de 9 de Maio, um organismo vocacionado para a intervenção em todas as áreas com incidência na situação das mulheres e da igualdade, que tem como objectivo permanente, entre outros, contribuir para que mulheres e homens gozem das mesmas oportunidades, direitos e dignidade, cabendo-lhe, consequentemente, tomar posição relativamente a questões que afectem a situação das mulheres.

A promoção da igualdade entre mulheres e homens é parte integrante da promoção dos direitos humanos, que inclem o direito de mulheres e homens participarem plenamente, como parceiros iguais, em todos os aspectos da vida; sem igualdade não pode existir uma sociedade plenamente respeitadora dos seres humanos, justa e democrática.

A publicidade constitui, numa sociedade de massas, um meio priveligiado e eficaz de perpetuação e/ou de criação de padrões de comportamento e de mentalidades, pelo que a publicidade não se faz sem regras que visam a disciplina e a preservação dos valores éticos de uma sociedade de direito, estando entre eles a dignidade da pessoa humana em geral e das mulheres em particular.

O Código da Publicidade (CP), aprovado pelo Decreto-Lei nº330/90, de 23 de Outubro, estabelece no artigo 3º, o conceito de publicidade e no artigo 7º do citado Código encontra-se preceituado um dos príncipios por que se rege a publicidade que é o príncipio da licitude.

Pelo referido, o artigo 7º do Código da Publicidade estabelece no nº 1que "é proibida a publicidade, que pela sua forma, objecto ou fim, ofenda os valores, princípios e instituições fundamentais constitucionalmente consagrados" e no nº 2 d) que "é proibida a publicidade que contenha qualquer discriminação em relação à raça, língua, território de origem, religião ou sexo".

O príncipio da publicidade lícita tem como fundamento os príncipios consagrados constitucionalmente, os quais devem ser respeitados sob pena de ilicitude.

Entre os príncipios consagrados constitucionalmente, contam-se o de Portugal ser uma República baseada na dignidade da pessoa humana (artº 1º) e o de constituirem tarefas fundamentais do Estado a promoção da igualdade real entre os portugueses(artº9 alínea d))e a promoção da igualdade entre homens e mulheres (artº9 alínea h)) e ainda a consagração do príncipio da igualdade, com a proibição expressa da discriminação em razão do sexo (artº13).

Acresce, com relevo para o estatuto jurídico da mulher, que a lei fundamental portuguesa consagra a igualdade nos direitos de constituir família e de contrair casamento (artº 36 nº 1), bem como a igualdade dos conjuges quanto à capacidade civil e política (artº 36 nº3).

Para além deste regime constitucional e legal, saliente-se que Portugal é subscritor de inúmeros documentos internacionais e comunitários em que os temas dos direitos humanos, da publicidade e da imagem da mulher na publicidade são expressamente mencionados, visando a defesa e protecção dos direitos das mulheres, tais como a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, a Resolução do Conselho da União Europeia e dos representantes dos Estados Membros, reunidos em Conselho, de 5 de Outubro de 1995, a Recomendação do Comité de Ministros dos Estados-Membros.

Conclui-se que a publicidade não pode atentar contra a dignidade da pessoa humana nem ser discriminatória em razão, por exemplo do sexo, o que limita a utilização abusiva da imagem da mulher na publicidade e quando assim acontece, há lugar ao apuramento da responsabilidade objectiva dos intervenientes na mensagem publicitária.

Em relação à promoção de produtos de limpeza, efectuada pelo Hipermercado Feira Nova, de que a D. Ana Paula Silvestre, nos dá conhecimento, verifico que já fez chegar a sua reclamação sobre esta situação não só ao Hipermercado em causa, mas também ao organismo que recepciona e encaminha as reclamações dos consumidores individuais e que é o Instituto do Consumidor.

Pode, no entanto, se assim o entender, enviar a sua reclamação para a Provedoria de Justiça, Rua Pau da Bandeira, nº9, 1249-088 Lisboa.

Esperando tê-la elucidado, mantenho a disponibilidade para quaisquer esclarecimentos adicionais.

Com os melhores cumprimentos,

a Vice-Presidente
Manifestando a minha parca comprensão sobre qual de facto a opinião desta entidade sobre este caso concreto, escrevi de novo um email a esta entidade solicitando um parecer concreto sobre esta situação especifica. Também reenviei esta resposta da CIDM ao Instituto do Consumidor e ao Hipermercado Feira Nova, dos quais ainda não tive qualquer tipo de resposta.
Confesso que começo a sentir-me cansada deste tipo de exercício de cidadania...

Tou a perceber...

Um famoso serial killer norte americano andou durante anos, livre e tranquilo a passear por todo o país conseguindo matar, ao longo da sua jornada psicótica e cariz sexual, 38 pessoas, cada uma de forma mais original que a outra e deixando pistas por todo o lado atrás de si. Na sua peugada estavam quase todas as forças policiais americanas mas ninguém parecia conseguir apanhar o homem mesmo até quando o dito senhor se resolveu esquecer de um dos ténis que calçava num dos locais de crime, qual Cinderela from the Dark side. A partir desse momento o seu fim estaria perto não fosse a competitividade e a mesquinhez de valores humanos falarem sempre mais alto. A força policial que naquele estado, tinha a seu cargo este caso fez o favor de não comunicar às outras parcerias o achado do sapato, guardando a prova só para si, esperançados talvez que o homem pudesse voltar a atacar por ali e que fossem eles a receber a atenção dos media e a medalha de louvor, pelo que o assassino pode assim andar mais uns anitos à solta a ceifar outras vidas.

Já em Portugal, apesar de menos grave, gostava de focar a "eficaz" cooperação entre os departamentos internos das repartições de Finanças através de um diálogo girissímo e tão acolhedor que tive oportunidade de ter com duas das funcionárias. Deve ser o espírito de Natal que nos torna mais sensíveis. podia ser pior. Podia ter estado a chover.

Depois de tirar a senha azul respeitante aos pagamentos do IVA e de esperar uma hora para ser atendida.

- Boa tarde, recebi uma notificação duma execução fiscal em curso sobre uma dívida ao IVA. Acontece que tenho aqui uma fotocópia comprovativa de liquidação de todas as dívidas existentes no ano de 2004.

- Pois, mas aqui no computador diz que tem uma execução pendente respeitante a declarações do ano de 99.

- Como pode ser isso se em 2004 deram como findas todas as minha dívidas?

- Bem , isso já não é connosco, é ali com o balcão de execuções fiscais.

Depois de tirar a senha verde respeitante ao atendimento para as execuções finais e de esperar mais outra hora para ser atendida.

- Bem, estou a tentar perceber porque é que recebo informação vossa em 2004 a dizer que já não existem nenhuns pagamentos pendentes e no entanto acabo de receber informação a dizer que afinal há....

- Pois há, de 99..

- ok, e como pode isso ser possível, então ando a receber informações contraditórias.

- Não porque você até pode já ter pago tudo respeitante ao IVA mas entretanto ter execuções fiscais pendentes que passaram para nós.

- Bom, nesse caso seria lógico que me tivessem avisada disso logo em 2004 e não anos depois.

- Ah isso, pois, mas é que isso não é assunto deles...

- O que me está então a dizer é que não existe interacção nenhuma entre vocês e eles, é isso? O que me está a dizer é que eu se por acaso uma pessoa tiver a sorte de se dirigir primeiro ao balcão do IVA descobre que não tem quaisquer dívidas ao Estado mas se por outro lado tiver o azar de vir a este balcão em primeiro lugar, então a história é outra e descobre que afinal tem dívidas até ao pescoço que entretanto já atingiram valores inimagináveis por causa dos juros de mora, etc..

- E muita sorte já tem a senhora que agora até temos os computadores ligados em rede Nacional, quando eu vim para cá trabalhar nem havia nada disso, tá a perceber?

Tou. Tou.

16 novembro 2006

A vida sem jaulas

Hoje várias centenas de estudantes fizeram greve protestando contra as (j)aulas de substituição. Há muitos anos já que não sou estudante de secundário, mas se fosse também hoje teria feito greve. Primeiro porque aceito os seus argumentos, corroborados por muitos professores, de que estas aulas estão mal organizadas e apesar de haver fichas de trabalho, um professor de uma disciplina não está em condições para dar uma aula de outra, se o estudante tiver dúvidas emperra logo aí o processo educativo. E em segundo lugar porque me lembro do quão importantes foram os “furos” que tínhamos para poder conversar com os colegas, ir ao café da esquina, brincar, rever a matéria para os testes, enfim, viver um mundo não tão controlado onde éramos nós que tínhamos que criar a nossa própria organização. Concordo que hajam actividades para os estudantes possam escolher como ocupar o seu tempo livre, mas também concordo que cada vez mais temos que dar valor ao tempo livre, aprender a não fazer nada, a deitar na relva de papo para o ar, a deixar rolar a conversa e a não querer controlar tanto a vida, sem com isso deixarmos de nos importar com ela.

Também servirá para blogs?

15 novembro 2006

O cha(rro) das cinco nas caixas de comentários

- D. Preciosa, vai mais uma passa?
- Espere aí que ainda estou a enrolar este. Comprei esta bolota ontem no bairro, dizem que é uma categoria. Vem do Cazaquistão.
- D. Hermengarda, ainda bem que chegou. Vem mesmo a tempo, vamos estrear o narguilé novo que o meu neto me trouxe de Marrocos. Aquele menino é um santo, sempre a pensar na avó. Nada como os caretas dos pais, que nem um copinho de licor beirão bebem depois do almoço.
- Ai, D. Preciosa, não me diga nada. Ainda ontem estive a discutir com a minha filha as qualidades terapêuticas da cannabis e veja lá que ela me disse que eu ainda ia acabar a arrumar carros ali para os lados de Santos.
- Minhas amigas, os nossos filhos não percebem nada. Eles não viveram a noite escura do fascismo e não sabem o que são as conquistas de Abril. São subprodutos do neocapitalismo galopante e da sociedade de consumo imperialista. Sempre a censurar, sempre a dizer mal. Vsssssssssss. Este produto é mesmo do melhor.
- D. Arlete, não seja garganeira, dê cá disso antes que comece a queimar unha.
- Vsssssss. O que é que estávamos mesmo a dizer?
- Vsssssss. Não me lembro.
- Vsssssss. Eu também não.
- Vsssssss. O que é que isso interessa?

Lápis azul - o regresso


O blogue acordou 'fino' hoje...
Andaram a dar uns tapas na pantera? Ou será da chuva?
Tomem lá disto!
:P

Expressões finas

Ri-te, ri-te - quando descobrires que a vaselina tem areia até choras.

alguém tem para a troca?

14 novembro 2006

Poesia vadia

Fotos Câmara Clara

Hoje lanço-vos um repto: deixem na caixa de comentários uma frase/verso/poema de que gostem.

13 novembro 2006

O trabalho III

- Olha, apresento-te a M, advogada, o C. Engenheiro e esta é a P.... desculpa, tu és?
- Muito prazer, P, Desempregada com D grande.
(Sorrisos amarelos)

Numa sociedade que se fundamenta no trabalho, estar desempregado é ser uma ave rara?

O trabalho II

- Então ‘tás boa?
- Estou, ando a trabalhar muito...

Trabalhar muito é sinal de estar bem?

O trabalho I

“- Então já sabe alguma coisa do seu trabalho?
- Não, ainda nada, agora disseram que tenho que meter férias e só depois é que sei se continuo lá ou não. Eu tenho ido trabalhar fins de semanas e feriados, sem cobrar por isso, para que eles vejam que eu de facto tenho muito interesse em continuar lá, mas não sei... Os meus filhos já se andam a queixar que nunca me vêm.”*

As empresas ganham, os/as trabalhadores/as e a sociedade perdem.

*conversa ouvida num café

Lembranças

Vivi numa cidade onde me cruzava frequentemente com um rapaz que pedia dinheiro para comprar cães-guia para uma associação de cegos, sempre na mesma esquina movimentada. Ele era muito insistente, chato mesmo, e como nunca vi mais ninguém da mesma associação em lado nenhum comecei a pensar que era um agarrado com imaginação e veia para o dramatismo.
Um dia em que estava muito neura com a vida, ia para casa com os olhos cheios de lágrimas e a alma de tristeza, ele veio-me pedir a fatídica contribuição. Disse-lhe hoje não é um bom dia, deixa-me em paz. Ele parou, pôs-me as mãos nos ombros, olhou bem para mim e convidou-me para ir tomar café. Sorri, respondi que não me parecia boa ideia. "A mim também não, mas queria fazer-te sorrir e consegui". Deu-me um beijo na cara e foi-se embora.
Lembro-me muitas vezes dele. Hoje, por exemplo.

12 novembro 2006

Plagiadores e piratas

Nunca consegui ler o blog que apresentava provas do plágio de MST no "Equador" - quando lá fui pela primeira vez encontrei um elogio ao autor português, da segunda uma page not found, da terceira uma página vazia. Parece que o dito texto e respectivos comentários têm andado de casa em casa, explusos por um qualquer polícia virtual que não quer que o assunto esteja no quadro de anuncios.
Em vários blogs se fala deste assunto. Eu não tenho nada a dizer sobre os ditos livros, já que não li nenhum dos dois.
O tema plágio, no entanto, parece-me muito interessante. Pessoas crescidas que copiam textos de outros e os tentam passar por seus parecem-me sempre bastante idiotas. Estarão demasiado confiantes na mediocridade/ignorância geral, que impedirá decerto a sua revelação? Rezarão aos santinhos para não serem descobertos? Ou viverão na tranquilidade da sua superioridade intelectual?
E depois, quando são descobertos, porque raio tentam sempre ou denegrir o acusador ou apresentar desculpas trémulas para o acontecido? Entre o "resolver à paulada" e o "nem me dei conta que tinha copiado, inspirei-me no texto mas pelos vistos decorei-o" a minha reacção é a mesma: para quê?
(Para quem tenha curiosidade, descobri o dito blog aqui. Até à proxima expulsão.)

11 novembro 2006

No infinito cruzam-se as paralelas

- Opá, onde é que tu vais?
- Olha, vou para norte.
- E tu, para onde vais?
- Vou para sul.
- Ok. Lá nos encontraremos.

10 novembro 2006

Dúvida

Por que será que nos bancos as pessoas falam entre si com a mesma cerimónia sussurrada dos velórios?

Crise chinesa

A palavra "crise" em mandarim não existe. Dependendo do contexto em que é utilizada pode significar "perigo" ou "oportunidade".
Na realidade, as nossas crises deviam ser vistas assim - uma alteração ao normal percurso das coisas, que em vez do nos congelar pensamento e acção pelo perigo potencial que representam, podem e devem servir como oportunidade para mudar. Mudar de vida, de casa, de carro, de namorado, de amigos, de emprego, de cidade, de país. Ou tentar a mudança na continuidade - mas a História diz-nos que esta não tem sido muito eficaz.

09 novembro 2006

08 novembro 2006

O fim do mês como problema politico

Entre o cá dentro e o lá fora, mais um artigo de Rui Tavares.

just relax...and watch.

Deus, Darwin, criacionistas, evolucionistas, acho que nenhum deles estaria a contar com a poderosa máquina "destrucionista" que somos nós.
Deve mesmo ter corrido mal a puta da experiência porque ele há dias em que não parece haver retorno possível...para este tanto de nós...

O amanhã chegou

Ainda bem que existe um amanhã que se transforma em hoje, para nos ajudar a acreditar que nem sempre tudo fica na mesma.

Quem tem medo do lobo mau?

Em 2005 fizeram um inquérito nos EUA para perceber quanto é que as pessoas acreditavam na teoria da evolução das espécies de Darwin.
31% dos católicos, 32% dos protestantes e uns enormes 70% dos cristãos evangélicos creem firmemente que o mundo tal como o vemos hoje foi criado por Deus pai nosso senhor em 6 dias, e que ao 7º descansou (coitado).
29% dos que gostam dos democratas e 60 % dos que votam republicanos também acreditam que a Biblia não engana, como o algodão. Estranhamente, apenas 44% dos democratas e 11% dos republicanos estão convictos das teorias da evolução, o que significa que há imensa gente que não sabe/não responde, não vá um raio cair-lhes em cima da cabeça.
Como é que havemos de ficar chocados com os professores que se recusam a ensinar o evolucionismo, por oposição ao creacionismo, se metade do país está de acordo com eles?
Se metade de um país, seja por convicções religiosas ou por conservacionismo político-social, não consegue conceber como correcta uma teoria que tem mais de 100 anos e provas científicas irrefutáveis a seu favor, o que podemos esperar deles como povo?
País mais avançado do mundo? My ass.

Um dia

As orelhas são a parte do corpo em que podemos ver os mortos. Não sorriem e têm sempre o mesmo tom ceroso dos cadáveres. Um dia deixará de haver diferença entre a orelha e o resto de nós.

07 novembro 2006

Manchete

cavaco silva acusa mário soares de ter robado a croa

Fonte: Jornal da Manhã Portugal

Ficha técnica: propriedade, edição e redacção do meu filho de 6 anos

06 novembro 2006

Passa ao outro e não ao mesmo

Aquando do protesto contra a campanha do hipermercado Feira Nova de produtos de limpeza dirigida a mulheres e meninas, (e que tanta celeuma e controvérsia gerou) enviei o email com o mesmo texto aqui publicado a vários organismos.
Este é o actual estado da situação:
A DECO respondeu amavelmente e encaminhou o protesto para o Instituto do Consumidor:

Ex.ma Senhora,

Acusamos a recepção do e-mail de V. Ex.ª, agradecendo o facto de nos ter informado sobre a reclamação apresentada junto do Feira Nova Hipermercados, situação que mereceu a nossa especial atenção.

A fiscalização do cumprimento das regras referentes às técnicas de comunicação assim como os respectivos processos de contra-ordenação compete ao
Instituto do Consumidor (Praça Duque de Saldanha, 31, 1069-013 Lisboa), onde poderá denunciar a situação.

Com os melhores cumprimentos.

O Serviço de InformaçãoDeco / Proteste
Também algum tempo depois a CITE respondeu gentilmente ao meu email:

Exma. Senhora,
Na sequência do e.mail remetido por V.Exa, sobre o assunto em epígrafe, informo o seguinte:
A Comissão para Igualdade no trabalho e no Emprego ( CITE ) é uma entidade tripartida, criada em 1979, formada por representantes governamentais e dos parceiros sociais, e que tem como objectivos promover a igualdade e a não discriminação entre homens e mulheres no trabalho, no emprego e na formação profissional, a protecção da maternidade e da paternidade e a conciliação da actividade profissional com a vida familiar, no sector privado e no sector público. ( artº 494 da Lei nº 35/2004, de 21 de Julho)

De acordo com os n.ºs 1 e 2 do artigo 22.º do Código do Trabalho, todos os trabalhadores têm direito à igualdade de oportunidades e de tratamento no que se refere ao acesso ao emprego, à formação e promoção profissionais e às condições de trabalho e nenhum trabalhador ou candidato a emprego pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão, nomeadamente, (…) de sexo.

Por esta razão, no que diz respeito a anúncios de oferta de emprego e outras formas de publicidade ligadas à pré-selecção e ao recrutamento, consagra o n.º 2 do artigo 27.º do mesmo Código que tais anúncios e formas de publicidade não podem conter, directa ou indirectamente, qualquer restrição, especificação ou preferência baseada no sexo.
No exercício das suas competências e atribuições, a CITE procede regularmente à análise de anúncios de oferta de emprego, no sentido de detectar eventuais práticas discriminatórias.

Conquanto o anúncio referido por V.Exa. incorpore nítidos estereótipos de género, apresenta cariz publicitário, o que o coloca fora do âmbito das competências da CITE.
Dado ter sido a sua mensagem igualmente enviada à Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (CIDM), dispensamos–nos de proceder ao seu reencaminhamento para esse mecanismo de igualdade de género.

Com os melhores cumprimentos,

A Presidente
Até ao momento aguardo resposta do Instituto do Consumidor, da CIDM e do próprio hipermercado Feira Nova, pelo que enviei um novo email solicitando que se pronunciem sobre este assunto.
Pode ser que isto seja gasto de energia, pode ser que não dê em nada, pode ser que sim, pode ser que não...

Arranja-me um emprego

Arranja-me um emprego com horários, colegas a quem se diz bom dia boa tarde, almoços comidos numa pressa vagarosa, empregos em que o trabalho não vai para casa comigo, em que o telemóvel é pago, o carro é novo, em que o fim-de-semana é fim-de-semana a sério, quero ser funcionária, ter um chefe, não me importo se ele ou ela for chato, quero que mandem em mim e me digam agora trabalhas agora descansas agora almoças agora irritas-te agora não fazes absolutamente nada.

Amanhã

foto aqui
Amanhã há eleições nos Estados Unidos da América.
Pelo menos hoje ainda podemos acreditar que alguma coisa pode mudar no governo deste país que se toma como senhor do mundo e acreditar que a cidadania estado unidense não se deixará enganar mais uma vez.

05 novembro 2006

Disco riscado

Cresci à custa de tanto falar contigo e tu comigo.
Juntas descobríamos o mundo, adivinhávamos o sentido do universo, deitávamo-nos na relva e olhávamos para as estrelas que nos pareciam sorrir lá em cima, só para nós. Adormecíamos ao som de uma lengalenga secreta que tínhamos inventado. E que resultava. Jurávamos que nunca a revelaríamos a nínguem (eu nunca a revelei).
Tu sabias tocar guitarra e eu olhava-te fascinada a dedilhar aquele instrumento que aprendeste sem que ninguém to tivesse ensinado. Eu martelava-te sonatas mal estudadas no piano que tu aplaudias, sempre. Cantávamos a duas vozes, que acabavam por ser só uma. Tu eras eu e eu tu, o espelho onde as nossas almas se reflectiam limpidamente. Éramos tão diferentes, éramos tão iguais.
A mania que tinhas de desmontar máquinas. E eu, de tua assistente, chateada da vida, enquanto tu teimosamente achavas que resolvias sózinha problemas mecânicos e eléctricos. E resolvias mesmo (menos o motor do carro que desmontaste).
As tardes passadas no Aleixo, tu empenhada em mecância quântica, eu em qualquer teoria social maçadora. Tu a reduzires as minhas questões existenciais a uma simples equação, eu a mostrar-te o avesso das ideias, das palavras. O mar a bater, ora bravo, ora tranquilo. Como nós.
A ceia fundamental antes de ir dormir, uma marca de chocolate só tua, outra só minha, era o único ponto em que divergíamos. Enquanto a manteiga escorria por entre torradas e dedos, fazíamos o balanço do dia e virávamos mais uma página das nossas vidas. Até à próxima ceia, cacau e torradas, sempre o mesmo ritual.
Quando é que desces a montanha, largas os mosquitos e a humidade peganhenta?
Tenho saudades tuas.

Alexandre

Aproveitando o bom tempo abro as janelas todas para arejar. Oiço uma voz de miúdo "Alexandre, anda à janela para te mostrar o que encontrei!"
Com essa frase voo 20 anos até a um passado onde procurava passagens secretas, descobria tesouros, partilhava entusiasmos.
Enquanto o Alexandre não vem, aparece também o irmão mais novo, excitado com a ideia de também fazer parte desta descoberta. Durante a espera, percebem que entre os prédios faz eco. "ECOOO! ECO, ECO, ECO".
O divertido que era quando o ar nos devolvia o nosso próprio som, em repetições cortadas e insistentes. Equivalente ao prazer de ver a pedra fazer ricochete 3 vezes seguidas na água.
Hoje gostava de ser o Alexandre.

E agora?

Uma das doenças que mais se teme é o cancro. E com razão, já que é a segunda maior causa de morte em todo o mundo, e ao contrário das demais doenças mortais a incidência nos últimos 50 anos não tem diminuido (ou seja, actualmente morrem as mesmas pessoas por cancro que em todas as décadas anteriores).
Ao ler o dn online encontro a notícia de um homem que ganhou uma causa judicial contra um médico que lhe teria feito um diagnóstico errado. Fez-lhe a ablação total da próstata para eliminar o cancro que lhe afectaria esse órgão, conforme as análises da biopsia. Ora, quem não tem próstata tem imensos problemas, entre os quais impotência e incontinência, mas entre entregar a alma ao criador e aprender a viver com isso se calhar escolhe-se a segunda.
A questão levantou-se quando o senhor, não sei porquê, começou a desconfiar que se calhar não teria o tal carcinoma, e num processo insólito em Portugal conseguiu provar que tinha razão. O médico apresentou a biopsia em causa, que era portadora da doença, mas ficou demonstrado que essa não era coerente com o ADN do senhor, e que a que lhe pertencia estava sã como um pero.
O médico foi condenado a pagar 100 mil euros ao doente, que por sua vez continuou impotente e incontinente.
Folgo muito que tenha sido possível provar o erro, e a tentativa de indemnização que nunca cobrirá os danos sofridos mas é a única aproximação possível.
No entanto, como vamos todos nós encarar os diagnósticos que nos são feitos a partir de agora?

Aos dois anos e dois meses, I. disse pela primeira vez a palavra medo. Ontem fomos ao museu da marioneta e assustou-se com o cenário escuro onde ressaltavam as marionetas de vários países, algumas com um ar talvez assustador para uma criança pequena. O medo é agora uma forma para estar mais juntinha do pai e da mãe, para ir aprendendo o aconchego dos corpos como forma de fazer face a este (novo) sentimento.
A sua bisavó dizia que quem tem cú, tem medo e a sua mãe deseja-lhe que nunca aprenda o medo à felicidade.

Gene engonhante



Sempre ouvi o meu pai dizer que em Portugal tinha caído a bomba engonhante, parece que nada anda para a frente, cada coisa que se move pesa toneladas. Sempre ouvi dizer que estamos em crise, Portugal está em crise, o Governo está em crise, os valores estão em crise. De tanto nos dizerem isso, já acreditamos mecanicamente, sem perguntas, sem soluções, quase sem esperança. Nascemos e desnascemos com o gene da crise eterna entranhado no ADN nacional. Precisamos de mais investigação cientifica que alie a manipulação genética à política, pelo menos até irmos descobrindo que a genética nacional só muda quando aumentarmos a nossa cidadania.

04 novembro 2006

Traduções selvagens

Hoje descobri uma coisa linda. Houve quem viesse aqui ao 8ecoisa, mas não conhecendo o idioma mas entrevendo a enorme qualidade que estaria a perder, pediu a tradução ao google. Entre pérolas como "the garrafita already sings here" (a garrafita já cá canta) dei com esta posta que é bem mais cómica na tradução do que no português em que o escrevi. Qualquer semelhança com o original é pura coincidencia...

The lawyer, the dentist, loving of them and its woman

- You walk disappeared very.
- Therefore, I have walked entertained.
- You have new namorada is?
- Yes, a lawyer. She is not pretty, but she has other qualities that interest me very.
- I am contented. Then and the Clear one?
- Already it said to it that the things are not well between us.
- And that one another one of the Port?
- Also I continue to leave with it. She is funny that if satiated.
- Three namoradas are workmanship. It must give a trabalhão.
- A dentist also Has, amuses me.
- But never you get tired yourself of this?
- You know, to the end of a time you perceive that the people are all equal ones.
- Clearly, the people are same all equal ones. E with how many more floors more you feel sózinho. They are only special when in we get passionate them for them. I do not perceive as she is that you obtain to live thus.
- Nor I.

03 novembro 2006

Linearidade

Do meu coração ao teu, há uma estrada seguida.

Canseira

Andou o Dr. Richard Kimble à procura do maneta durante tantos anos, quando bastava chamar o Harrison Ford para resolver o assunto em três penadas.

23 minutos de espera

A bengala sobe a rua agarrada ao homem, a pastilha mastiga a rapariga do umbigo míope, muros altos e pintados, janelas absortas, um trovão afinal muito perto, um dois três quatro taxis, qualquer coisa que acaba não sei onde.

01 novembro 2006

Mau feitio

Sempre que vejo e oiço a Sofia Coppola parece-me que ela fugiu pela porta de trás de uma Cerci qualquer.

a propósito de gatos


Tinha que sair para comprar tabaco num dos cafés que ficam por baixo das arcadas da minha rua, são pelo menos 5 cafés/pastelaria todos seguidos e todos eles com esplanada, é espantoso, parece aquele episódio do Astérix do Domínio dos deuses em que de repente todos os habitantes da aldeia começam a abrir antiquários e peixarias. Bem, mesmo antes de sair de casa apanho a minha gata Carlota em flagrante delito a defecar no chão da cozinha, tadinha, tinha o balneário sujo e decidiu que era ali mesmo. Ainda assim, sentindo a culpa pelo desabafo da gata não podia deixar passar aquilo em branco. Apanhei-a pelo cachaço de surpresa, a gata encolheu-se e dei-lhe a palmada merecida no rabiosque com um firme, Não! Aqui não, Carlota!. Voltei a poisar a gata no chão que fugiu a sete patas, desaparecendo da minha vista pela varanda e depois saí finalmente para comprar o Lucky strike.
Sentia-me num dia bom, daqueles dias em que acordas e te sentes com o melhor ar quando olhas no espelho, olheiras nem vê-las, um ar fresco, sedutor, a escolha de roupa perfeita, ..sei lá, um rol de emoções e nada melhor para o comprovar que saires para o meio da rua, passares por aquelas esplanadas todas e notares os olhares das pessoas a cairem em ti, sobretudo o público masculino, até ao ponto em que tu pensas para ti mesma, irra, que devo estar mesmo com um ar fixe hoje!! Depois foi meter o pé ao degrau de entrada do café e estancar em surdina absoluta. Ao olhar para as mãos para confirmar que tinha trazido a carteira os meus olhos não queriam acreditar. Estava literalmente toda cagada de cima a baixo, camisola, calças, até um cagalhoto minúsculo se tinha resolvido colar no atacador do sapato. Um flashback de milésimas de segundos correu na minha cabeça. A sacana da gata com o susto que apanhou a meio do serviço, acabou o resto em cima de mim e eu com a pressa de sair nem tinha dado por nada. Pé ante pé, fiz marcha atrás e fui dar a volta toda à rotunda para não ter que passar de novo nas esplanadas, com os braços cruzados à frente da roupa e toda encolhida, até casa e direito à banheira. Nem olhei para o espelho mais, chiça, que aquilo era fixe de mais, até para um dia bom daqueles.

Casos da vida real

Um professor de física no 1º ano de um curso superior apresentou um problema que envolvia uma esfera 50% submersa num líquido.
Um dos alunos estava um pouco confuso e pediu para ser esclarecido quanto à situação apresentada. O tranquilo professor explicou que se estava 50% submersa era porque essa era a parte que se encontrava dentro do líquido. Para melhor aplicar as fórmulas que tinha decorado, o aluno perguntou então "50% vem em que unidades?"
A burrice num estado assim tão puro é quase enternecedora.