31 janeiro 2010

que estranha forma de vida

duas amigas sentadas em frente a corações feitos de talheres de plástico retorcido, a descobrirem as sombras e luzes na filigrana daqueles objectos perfeitos, a espantarem-se com os fados que foram compostos só para elas naquela sala onde pessoas e famílias entravam e saíam,
duas amigas encostadas uma à outra, a verem coisas que mais ninguém via nem ouvia,
pessoas e famílias entravam e saíam enquanto o quase choro da comporta se entreabria devagar



Tradutor precisa-se

Lançada (não sei se bem se mal) nos estudos de Ética relacionada com a Educação, deparo-me com a afirmação que não consigo descortinar, de acordo com o meu dicionário redigido no século XXI: "A atenção dada à família tem sido descurada pela própria família."(até aqui tudo bem e subscrevo) "Por outro lado, e fruto dos ritmos de vida da contemporaneidade, o aumento das famílias monoparentais não contribui para a estabilidade que a criança e o jovem deveriam ter ao entrar na escola." Nãããã! É bom de ver que é mesmo nas famílias em que o pai bate na mãe e na avó que as criancinhas aprendem como deve ser.

Ei, e o John??

E assim de repente, de um momento para o outro, desaparece-me o Weissmuller do ecran... Sempre sublimei aquele físico.

Podiam plantar um imbondeiro

Eis aqui mais uns esclarecimentos acerca das intencões dos remodeladores no jardim do Príncipe Real. São apenas "suponhamos" mas afinal, ao que parece, o diagnóstico é fobia a espécies invasoras. Nada que tenha ligação com o imobiliário, portanto...LISBOA S.O.S.: Príncipe Real: uma asneira nunca vem só.#links

autoretrato

As árvores também se abatem?!

É escandalosa a situação no Jardim do Príncipe Real! As imagens falam por si e dizem, baixinho, que os interesses imobiliários não têm tempo a perder. Mas por isto ninguém faz manifestações...http://cidadanialx.blogspot.com/

29 janeiro 2010

PRÓ RAIO QUE OS PARTA!

Andava eu a fazer contas de cabeça, a pensar que se o Governo pedisse que cada cidadão, ou cada cidadão activo, lhe desse, mas dado mesmo, de presente, 10€ ou 15€, podia arrecadar uma soma jeitosa para tentar equilibrar as contas, e estes ***   ****  **** andam a fazer destas?.... e às escondidas??!!....

VulcãoMiosótisPinçaRepública

Tinha uns olhos amendoados, verdes cor do mar. Prometiam o calor de um vulcão em frescos lençóis de algodão. Por maciço desejo, as pernas dele correram e da boca saiu um ofegente “olá” à entrada do comboio.
Ia linda, num branco pérola de corte puro, em direcção à boca entreaberta que nem conseguia balbuciar quando ela lhe chegou.
Ele cortou o cordão um dedo acima da pinça e, no regresso, encheu-lhes a casa de miosótis.

Nem tantos anos depois, ouvia-a explicar a diferença entre sistemas e formas de governo e as virtudes e defeitos da democracia. “Xeque-mate, cara república: sou um rei com a minha rainha.”

bom dia

não tenho tanta certeza que possa ser um bom dia, mas sorrio e digo a frase aprendida há muitos centímetros atrás 
(chama-se a isto boa educação, muita chávena de chá no tempo certo) 
aprendida quando tudo era mais alto do que eu (as cadeiras as mesas as pessoas) e tudo parecia inalcançável, condenando-me ao alpinismo existencial da infância
que, afinal, ainda não desapareceu: as cadeiras as mesas e as pessoas estão agora à minha altura, os meus pés já não ficam suspensos no ar quando me sento, não preciso de escadotes para quase nada
e, no entanto, aqui estou eu em suspenso, sem conseguir chegar onde quero

28 janeiro 2010

Hoje abri a caixa do correio


e em vez de facturas encontrei este livro que queria muito, mas mesmo muito. É bom ter amigos que nos fazem pequenos grandes nadas.

Alguém sabe onde posso comprar uma destas?


Livreluzgregocavalo

Tinha vivido em várias eras, conheceu impérios pequenos e grandes em ascensao e em ruina.  Um dia escreveu na sua máquina do tempo a palavra democracia. Aterrou na grécia antiga e durante o tempo que lá esteve viveu rodeada de panelas, tachos, filhos, os desejos do marido e os dos seus amos. Programou de novo a sua máquina com a mesma palavra. Foi para paris, ano de 1789, mas nunca soube o que era a liberdade, a igualdade ou a fraternidade, só  as panelas, os tachos, os filhos, o  homem que  mandava nela e no negócio onde todos trabalhavam. Reprogramou a sua máquina com a mesma palavra e viu-se  no séc XIX. Desta vez encontrou panelas, tachos, filhos, o tear da fábrica onde trabalhava 14 horas por dia e um homem que todas as noites lhe dizia que o seu corpo e a sua vontade eram sua propriedade. Conseguiu finalmente escapar e insistiu: democracia. Foi parar ao século XXI, votava de quatro em quatro anos, saía de casa para o trabalho onde ganhava menos que o seu colega e onde o chefe lhe punha a mao no rabo cada vez que se encontravam sozinhos, ia do trabalho para casa, onde estavam de novo as  panelas, os tachos e o filho que o seu homem lhe fez para ter a certeza que ela o amava. Um dia, mal viu entrar pela janela a luz do sol nao hesitou e programou de novo a sua máquina: papua nova guiné. Assim que chegou, afundou a máquina no mar, despiu-se, montou um cavalo e galopou livremente. Encontrou uma casa abandonada, fez uma horta, uma laqueaçao de trompas, escreve livros atrás de livros e dorme democraticamente com quem quer, quando quer e como quer.

Aviso

Fechei a loja. Fechei a loja para dramas e chatices, estou farto de ser o santo de serviço, sempre pronto para resolver e dar o ombro e o corpo ao manifesto. Vão-se foder com os vossos desgostos, com as vossas maluqueiras, com o caralho dos telefonemas a desoras e as horas de conversas perdidas. Já dei para esse peditório. De hoje em diante, não me venham com as vossas merdas, o dinheiro que não chega, as relações que dão o berro, as mãozinhas aqui e ali a aparar os vossos dias e noites. De hoje em diante, as minhas mãos vão estar nos bolsos, a vasculhar todas as imagens que ainda guardo dela. Uma a uma, hei-de enterrá-las numa vala comum onde aquelas imagens não serão mais do que minúsculas náufragas sem voz.

já que estamos numa de diálogos

as aulas daquele professor eram intragáveis. A turma fazia turnos para não o deixar a falar sozinho na sala. Amostra de um diálogo de corredor:

colega: ó oitoecoisa, vais à aula do santos? 
oitoecoisa: já fui à de terça-feira, não aguento outra esta semana.
colega: pronto, está bem. Eu vou hoje.

mortandade

Ela: Tu quando bebes uns copos ficas saída da casca.
Outra ela: Eu?
Ela: Sim, tu. Mas sempre com a pose de bailarina.
Outra ela: Se o meu exnamorado me visse morria cinco vezes.
Ela: E o meu? Tinha um avc.

CandeiaAlmofadaMuralhasNocturno

Candeia que vai à frente alumia duas vezes. Imagino alguém velho, muito velho, a medir os passos, a estudar o chão e os buracos que ele tem, num caminho escuro e nocturno onde nada se vê e tudo se adivinha. Imagino alguém que avança aos solavancos. Parece que se guia pela vontade de um caminho alcatifado e inventa almofadas que protejam da queda. Por aqui não, posso escorregar e já se sabe que uma queda tem consequências imprevisíveis, um osso partido, uma nódoa negra, uma dor imprecisa que se estende até à mão que carrega a candeia e a faz despedaçar-se no chão. E sem candeia o caminho é escuro e pode não se ver declives e muralhas. E sem candeia são demais os perigos desta vida.
Irritam-me estas frases cheias de sabedoria. A vida tem de ser mais do que uma lição bem estudada.

26 janeiro 2010

Criação & Evolução, S.A.

- Mãe, quem foi o primeiro homem?
- O homo sapiens sapiens. Chamava-se Adão.
- Ah, boa!

Foi você que pediu?



anda daí, querida oito. Está sol e mais dia, menos dia, já os podemos apanhar.

25 janeiro 2010

Espelho mágico, espelho meu



12 anos de liceu, um curso superior, um doutoramento e um MBA depois, sem esquecer um diploma de Técnico de Electrotecnia Aplicada e outros tantos de inglês, alemão e italiano, revejo-me aqui.
Acho que vou plantar morangos.

vou, mas a dançar

As grandes verdades costumam ser simples

E, politiquices à parte, às vezes esqueço-me desta:

"É evidente que não se deve desconsiderar a estupidez, como ensina o prof. Cipolla, sobretudo naquele sentido em que as pessoas não estúpidas subestimam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas, ou em que os não estúpidos se esquecem constantemente que, em qualquer momento, lugar e situação, associar-se com indivíduos estúpidos revela-se, infalivelmente, um erro que se paga muito caro."

Daqui, descoberto por ali.

24 janeiro 2010

1999


Uma das brincadeiras mais giras era sermos as heroínas da série. Eu fazia de médica, gostava do pragmatismo em solucionar, e a minha irmã de Maya, arqueava as sobrancelhas e podia transformar-se em hipopótamo ou poste de luz, o que quer que lhe desse mais jeito.

Espaço 1999 era num futuro distante, sofisticado, brilhante e à boca de sino. Usava-se a expressão depois do ano dois mil para coisas que pareciam, lá está, vetadas às calendas.

Entretanto o tempo passou. Morreu-me a mãe, três avós, dois gatos, nasceu-me um filho, tenho uma coisa em forma de carreira, já vou no quarto carro da minha existência. Começo a ser ridícula quando uso a expressão um rapaz para gente da minha idade. Entrou em vigor um acordo ortográfico que me pôs a escrever cheia de erros, logo a mim que tinha sempre cincos a português.

E ainda assim surpreende-me que me tratem por a senhora no café do bairro. Parece que estou a brincar às tias com o serviço de plástico que recebi no natal passado, eu e a minha irmã a pormos coca cola a fazer de café e plasticina colorida no lugar das unhas. Se me voltarem a chatear ela arqueia as sobrancelhas e vão ver como elas mordem.

porque hoje é domingo



com isto e um bitoque, não há ressaca que resista

22 janeiro 2010

a brincar de manhã

e agora eu era o que quisesse, uma raposa, um copo, o teu cabelo. E agora eu pensava com muita força e o meu corpo era feito de vidro, transparente e grosso, e dentro de mim estava a água que tu beberias sem pensar, uma água como todas as outras, sem cheiro nem sabor nem cor.  E agora eu era o teu cabelo e tu tocavas-me sem saber que cada fio era uma parte de mim, os meus dedos a minha boca as minhas costas. E agora eu pensava com muita força e transformava-me num animal furtivo e desaparecia sem rasto, na certeza de que o chão me levaria para um sítio onde o medo não podia entrar.

21 janeiro 2010

candeeiromesacortinaflor




A luz do candeeiro aquecia a poltrona onde o corpo se afundava despejado de qualquer ideia sentimento ou desejo. Aquele corpo afundava-se todos os dias  ao cair da noite quando deixava para trás as obrigaçoes do trabalho, a voz do chefe, o cronograma. Ficava vazio, só o chá lhe dava o calor que há muito tempo deixara de sentir. Um dia olhou para a flor que uma colega lhe tinha trazido e que tinha esquecida na mesa ao lado da chavéna de chá, pensou, um dia vou morrer como esta flor, morrer nao por ter vivido mas porque a deixaram morrer, um dia vou deixar-me morrer. E percebeu que era isso que desde há várias noites vinha fazendo, deixar-se morrer. Levantou-se, abriu as cortinas, abriu a porta da varanda e espreitou a lua tao próxima do seu décimo andar que dentro de 25 anos seria seu quando terminasse de pagar ao banco todas as hipotecas mais o euribor e o tae e o que entretanto se inventasse. Olhou a lua da sua varanda e voou até ela. Viveu intensamente todos aqueles imensos segundos até alcançar a lua nas pedras da calçada. 

Ainda a tampa



mais aqui

20 janeiro 2010

Eu vou ter, mais coisa menos coisa, 70 anos

E tenho que ser uma velha - ai não que horror, não há velhos! - cidadã sénior independente, saudável, activa e a aproveitar a vida. Quer dizer, nessa altura ainda vou estar trabalhar todo o dia, todos os dias, para me sustentar porque só vou ter reforma aos oitenta e cinco. O problema é que como já não tenho alunos, vou para o desemprego. Não há tecido social, não há tecido económico, não há desenvolvimento. Os empregos são todos públicos e os salários estão todos tabelados pela justa medida da necessidade individual - quer dizer os que fizeram as tabelas estão isentos... . Os impostos estão a 90% para sermos todos iguais e podermos todos contribuir para o bem comum, que nunca explicaram bem qual era. Dos 10% que restam, 8% são a comparticipação obrigatória dos medicamentos, não vá eu ficar doente um dia. Entretanto, querem que vá fazer uma formação em novas tecnologias, daquelas em que nem há computador, são só umas coisas pequeninas encaixadas nos pulsos, mas como tenho taquicardia faz tilt. Vou passar o Natal sozinha porque, afinal, são só mais uns dias de férias que o Estado concedeu e a minha criança vai estar nas Maldivas com o Mauro, o afecto do momento, depois de ter repudiado a Maura. Já não dava, disseram. Ah, e não tenho netos. Davam muito trabalho, eram permanentes, era uma responsabilidade. Podiam comprometer os voucher de viagens da agência nacional do lazer, dados lá no emprego. Foi assim que elas foram para as Maldivas. E a Maura, na altura, não queria usar o voucher saúde para fazer inseminação com os genes do Bruno, preferiu fazer o implante da copa D. Com o aborto livre deixou de haver crianças para a adoptar. Bem, dizem que agora vão abrir umas casas para onde os miúdos vão e quem quiser pode ficar com eles durante uns tempos, para permitir que todos os cidadãos possam, em condições de verdadeira igualdade, experimentar a "parentalidade".

Ridículo? Talvez. Mas se dissesse à minha Avó, quando ela tinha 30 e tal anos, que eu ia escrever num sítio imaterial, acedido por satélite, ou que tinha "amigos do facebook" ela diria exactamente o mesmo.

19 janeiro 2010

Last night I dreamt I went to Boulevard again

Já não ia lá há muito tempo. As mesmas sombras esguias, os mesmos espelhos com reflexos distorcidos, os mesmos esgotos a céu aberto. O mesmo cheiro a suor podre. Chegaram-me notícias de uma amiga da M. que estava perdida, sem culpa, lá no meio do inferno. A meio do caminho ainda pensei em salvar todos. Incendiar tudo aquilo, deixar um mar de chamas lavar as chagas. “Eu dou-vos o inferno e é já! Morram todos, seus filhos da puta!!” Ia acender o fósforo, chegá-lo à palha, quando uns olhos pretos olharam para mim, cá para dentro. Era um dos filhos dessa rua. Pequenino. Muito pequenino, ainda. Tinha vindo com a mãe à procura do pai. Ou melhor, a mãe tinha-o levado enquanto ia procurar o pai. Se chegasse à palha, ele não tinha como sair dali, ficava preso, ia arder juntamente com o choldra, o chulo e o xuto.
“Quantos se escondem naquele recanto à minha frente, naquela esquina à direita sem saída e na carrinha familiar último modelo lá ao fundo? Se não forem muitos posso pegar-lhes ao colo e correr.” A mãe agarrou-o primeiro. Estava perdida. Era a amiga de M e era a ela que tinha de tirar dali. “Que se lixe! Por cada um que sai há mais cem a entrar naquela rua de saída esconsa. Não há fogo nenhum que os liberte antes. Que se consumam a si próprios até quererem”. Mãe e filho desceram a rua. Quantas vezes mais irão voltar?

A minha vizinha

Da janela da minha cozinha vê-se a cozinha da minha vizinha.
A minha vizinha tem a pele clarinha o cabelo cor de avelã e uma franja pequenina.
Às vezes vejo-a a varrer a cozinha e quando ela cozinha cheira sempre bem.
Tem muita roupa preta e cuecas coloridas e às bolinhas , partilho o meu estendal com a minha vizinha.
Tem também uma gata laranja que fala com o meu gato preto á janela.
Já a vi a cortar o cabelo a si própria e gosta de andar nua pela casa, são algumas coisas que sei da minha vizinha.
Às vezes vão rapazes lá a casa, mas há um que vai mais vezes que os outros por isso presumo que seja o de quem ela mais gosta, a minha vizinha.
No outro dia depois de uma conversa acesa com ele via-a a fumar na cozinha. Não sei se chorava mas tinha um ar triste a minha vizinha.
Às vezes vejo-a escrever numa máquina de escrever muito antiga lá ao fundo na sala, depois do corredor, depois da cozinha.
Gosto da minha vizinha.
Quem sabe se um dia não verei da cozinha dela a minha.

Há uma frase

de uma canção. Essa frase diz

Já sei que hei-de arder na tua fogueira. Mas será sempre (sempre) à minha maneira

Mas o que é que se faz depois de se saber isto?

18 janeiro 2010

A tampa

A pior tampa é a que se dá por medo. Um dia, mais cedo, mais tarde, quando menos se espera, ela volta. E tem a seguinte palavra escrita na testa: cobarde.

PlásticoVidroTimidezAgulha

Quem és tu às vezes, não sei se pareces ou és, às vezes és e pareces, és vidro e pareces plástico,  ou então és plástico, mas atiro a pedra estrategicamente e estilhaças como o vidro. Tu em todas as ocasiões em que penso que existir definido com toda a clareza era importante. Eu olharia e eras vidro. E eras mesmo. Tu olharias para mim e eu não seria a linha e a agulha ao mesmo tempo. Seria somente uma ou outra. E seria mesmo. Mas depois percebo que nada pode ser assim. Percebo-o neste momento exacto em que sou inequivocamente a flor desprotegida e frágil a precisar que olhes e  vejas uma parede de betão. E esta imprevisibilidade da vida instala-se assim de mansinho na sombra da minha timidez e surpreendentemente dá-me alento.

!...

- Vamos brincar com a barbie?
- Agora não.
- E com a Bloom?
- Também não.
- Cubos?
- Não...
- Cartas?
- Não!
- Vá lá...
- Mãe, já disse que não...

Cheque

Quero continuar a estar contigo em sítios bonitos, com as pessoas à volta a piscarem o olho ao nosso ar cúmplice e transgressor.
Quero continuar a ouvir os elogios que me fazes, as virtudes com que me descreves, os planos que tens para mim e para a minha vida.
Quero continuar a partilhar contigo alegrias e tristezas, tempos passados e projectos futuros, falar de pessoas, coisas, sentimentos, paixões, desilusões, sonhos e pesadelos.
Quero continuar a ver-te, a cheirar-te, a sentir-te junto a mim, colado a mim, dentro de mim, todos os minutos e horas de todos os dias de todas as semanas de todos os meses do ano e contigo saber que somos um só em mente e espírito, e, quem sabe, um dia também em corpo, pois por ora não tenho coragem para te pedir que sejas só meu e que eu seja só tua.  

Tem mais encanto

A melhor maneira de despedir um amante é fazer amor com ele depois de explicados os argumentos reais ou inventados para a tampa. O ego fica menos combalido e é da maneira que se vai fazendo o plano poupança flirt. Nunca se sabe o dia de amanhã.

17 janeiro 2010

Piadinha

Por que razão os homens gostam de mulheres vestidas de cabedal?
Porque cheira a carro novo.

16 janeiro 2010

interlúdio poético II

Tapa a tampa com a peneira
Deixa-te estar sem eira nem beira
Canta boleros e janeiras
Depois manda x tampista apanhar na regueifa
E parte para nova ceifa

interludio poético I

Põe a tampa debaixo da manta
Desenha a tampa em manga
Deixa-te ficar trogamanga e songamanga
Mergulha-a na molhanga
E depois convence-te: 
porque é que eu quero uma tampa 
se posso ter uma bimby ?

Abrigo de senhoras

Uma noite qualquer na cidade, talvez chovesse e fizesse frio. Talvez não fosse uma noite qualquer, porque havia uma garrafa de vinho e três copos de pé alto, talvez não fosse uma noite qualquer porque ali estavam três mulheres que riam de si mesmas e dos seus desencontros.

Ela:  o melhor é ficar calada e parada, mas tampas ambíguas fazem-me comichão no céu da boca, mais vale um não redondo que consigo arrumar na gaveta.
Outra ela: à custa desse cabrão, já fumei três cigarros de seguida. Tu enervas-te e eu enervo-me por solidariedade. Acho que lhe vou apresentar a conta.
Ainda outra ela: estava eu tão tranquila com os meus amantes e fui apanhada na curva por este que agora se foi, do historial de mérito passei para o peito aberto onde ele entrou. Agora bateu com a porta, fala uma língua que eu não compreendo e estou aqui a fingir que não tenho paciência, que já dei para este peditório, que fico melhor assim.
Uma delas: olha, se te consola eu tenho a tampa mais estúpida do mundo. O meu amante búlgaro encontrou-me numa paragem de eléctrico e explicou-me, em inglês e a gaguejar, que não podia estar mais comigo porque tinha uma micose.

Nessa noite na cidade, naquela casa antiga transformada em abrigo de senhoras, beberam-se copos de vinho ao som de um rosário de gargalhadas e suspiros e músicas cantadas em coro.

Gosto de ti mas não dá...

Ela gosta dele, não sabe, mas supõe-se que muito.
Ele gosta dela, não sabe, mas talvez mais do que imagina.
Querem estar um com o outro pois tal como dois imãs de polaridades diferentes se atraem e fazem sentido juntos.
Ela habituou-se a estar sem ele.
Ele não aguenta muito tempo sem a ver.
Ele tomou uma decisão que ela não compreende.
Ela não encontra sentido naquilo que ele quer.
Ele fica surpreendido dela pensar nele todos os dias.
Ela fica surpreendida de ele se surpreender e de pensar nela também.
E assim vão caminhando juntos ainda que pareça que em separado se encontram.
E assim vão caminhando separados com encontros e desencontros, com conversas e desconversas, com tentações frustradas de não se poderem tocar mas de fazerem amor com os olhos com as palavras com os pequenos toques inesperados no braço e debaixo da mesa.
Ela não sabe se ele sabe o quanto lhe custa não o ver e vê-lo, falar com ele e não falarem, ele existir na sua vida e as tentativas que ela faz para ele se afastar.
Ele acusa-a de ela não pensar nele e naquilo que ele sente.
Mas que pode ela fazer se a espinha grossa que lhe está cravada na garganta não teima em sair?

O que fazer com panelas, tampas e afins

15 janeiro 2010

se um dia alguém

se um dia alguém, num sítio qualquer, aparecer de mãos nos bolsos como quem não quer nada, e te der o que esperavas (mesmo que não saibas o que isso é até ao exacto momento em que o descobres)
se esse dia um dia chegar, vais ter medo (mesmo que o disfarces)
se esse dia um dia chegar, vais ter medo que a vida deixe de ser só tua

TelhadoMarNoiteLaranja

Do cimo do meu telhado vê-se o mar.
Às vezes subo até lá na tentativa de acalmar um espirito turbulento que não reconheço ser meu mas que me habita.
De noite acompanha-me sempre um ser. Sempre.
Um ser que como uma mancha me abraça, fala comigo, ouve-me, deixa-me chorar e rir no seu colo.
Na sua mão, ou algo que identifico como uma mão tem uma laranja, redonda, cheirosa e pouco brilhante.
Nunca lhe pergunto por que tem sempre aquela laranja na mão. Às vezes sinto que há coisas que não se devem perguntar.
Ontem subi de novo ao telhado mas subi sozinha. Lá estava aquela mancha amiga.
Sentada, brincava com a sua laranja como uma criança perdida nos seu pensamentos.
Ontem fui ter com ela, não fui por mim e fui sozinha.
Sentei-me ao seu lado e ficamos em silêncio muito tempo. Encostei-me a ela um pouco e, como velhos amigos que somos, ficamos enroscados a contemplar o mar e os reflexos que a lua nova faz nele.
Perguntei-lhe - Porque tens sempre essa laranja? e ela disse -Esta laranja é tua! Deu-ma e eu recebi-a nas minhas mãos fechadas em concha.
A mancha levantou-se devagar como um velho muito velho que faz tudo lentamente porque a vida se vai acimentando nas suas costas e senti um carinho profundo no seu olhar, ou naquilo que identifico como olhar. E ela, a mancha, foi caminhando lânguida pelos telhados da cidade, com os seus passos largos, lentos, densos.
Ainda tenho a laranja debaixo da almofada...
Sinceramente não sei o que lhe fazer.

retrato com amigas, ainda

para quem estivesse preocupado com a reacção das minhas amigas ao retrato que delas fiz:

o encontro das culpadas dos maus caminhos por onde ando deu-se ontem e foi bonita a festa.

A pergunta que todas faziam: que puta és tu?

Que bom ser puta.

14 janeiro 2010

da importância de um salto


Ao contrário da maioria das pessoas eu tive três avós. A minha terceira avó era a minha vizinha do lado, era costureira e chamava-se dona brilhante. Ria muito e adorava dançar, fazia muitas viagens com grupos excursionistas de reformados, ia a bailes populares e era sempre a primeira a entrar na pista e a última a sair. Quando eu era miúda chamava-a tá, antes de passar definitivamente ao dona brilhante o que muito a desgostou e com toda a razão, só agora percebo porquê, às vezes quando somos crianças não nos damos conta da importância que o nosso afecto tem para as outras pessoas que nos são próximas, nem da importância que tem nas nossas vidas futuras o afecto que nos dedicam essas mesmas pessoas.

Sem a casa da dona brilhante eu nao seria a mesma pessoa que sou hoje, sem a sua cadeirinha de costureira com aquela gaveta por baixo com todos os rolos de linhas que eu ordenava por cores e tamanhos, sem esse espaço que ela me dava para poder ordenar as suas linhas e a minha cabeça, sem as histórias que ela me contava enquanto eu ordenava a gaveta ou aprendia infrutiferamente a costurar, a minha vida nao teria sido a mesma.

Ela falava-me de beijos, adorava que as pessoas se beijassem, o seu marido tinha morrido há muitos muitos anos, sempre foi uma mulher viúva desde que a minha memória alcança. Falava-me do amor entre mulheres, coisa em que eu nunca tinha pensado, as minhas outras avós eram todas puritanas, com um catolicismo só disfarçado pelas simpatias comunistas dos meus avôs e do meu pai, e, como nessa altura comunismo e catolicismo eram tidos como incompatíveis, eram mais reservadas na sua fé, ainda que mantivessem colados à pele todos os preconceitos que a igreja reserva para as pessoas que se enamoram de outras do seu mesmo sexo. A tá falou-me pela primeira vez do aborto, das fazedoras de anjos como ela chamava às mulheres que salvavam a outras de uma maternidade indesejada. Falava-me da minha bisavó que eu nunca conheci e das maldades da minha outra avó, falava-me de tudo e sobretudo, ouvia-me, e eu sabia que podia saltar sempre que quisesse o muro que separava a minha casa da sua, onde ela abrigava generosa e amorosamente a minha infância. 

ÁguaFurtivoAltivezSonho

Acordei e tenho sede. Uma sede que não passa, uma sede que foi entrando por mim dentro como um ladrão furtivo. Um ladrão que abriu a porta de um sonho qualquer, talvez aquele em que o rio era feito de barulhos metálicos e habitado por pássaros antigos que se alimentavam de água. Um ladrão feito da sede que se instalou em mim, na esquina do ombro direito e na altivez dos meus gestos ensaiados. Uma sede que invade tudo e  me faz beber a água que me arrancará da noite e dos ladrões que a povoam.

13 janeiro 2010

nova ordem mundial



No quiosque dos jornais e revistas:


Menina(5 anos): Senhor, quanto custa o dvd da barbie e as tres mosqueteiras?
Senhor: 19.99 euros
Menina (indignada): E porquê é que as coisas sao tao caras nesta cidade? Está mal, as coisas nao deveriam ser tao caras, deveriam pôr as coisas mais baratas porque assim as pessoas mais pobres nao podem comprá-las, só as pessoas ricas é que podem.
Senhor (rindo-se atrapalhado): tens razao minha querida, quem sabe um dia o mundo possa ser diferente.

No regresso a casa:

Menina: Mama, nao devia haver pessoas com muito dinheiro e outras com pouco, todas deveriam ter o mesmo. Os ricos deveriam dar metade do seu dinheiro aos pobres e assim já todos tinham dinheiro.
Mama: Estou perfeitamente de acordo contigo minha querida, mas diz-me, onde é que tu ouviste isso?
Menina: Pensei, fui eu que pensei tudo aqui na minha cabeça.

ChaminéPapelRisoBarco



uma chaminé risonha
saúda um barco de papel
que atraca no porto.
finalmente.

barba



ao almoço, um pai em choque anafilático com uma filha. Motivo: ele tem cara rapada, ela gosta de homens com barba.

Entre o horror e a resignação, o pai acaba a conversa:

- Se te apanhasses na Sierra Maestra, marchava tudo.

11 janeiro 2010

MadrugadaMorangoMadeixaAntena

A madrugada abriu-se no sol, o sol abriu-se nas minhas mãos, nos teus dedos, nas minhas mãos que varreram as madeixas do teu cabelo, o sol que sabia a uma tarde de morangos, doce, doce, doce, o sol, como uma antena a antever o meu sorriso espelhado no teu olhar soberbo.

retrato com amigas

olho à minha volta e descubro que ando em más companhias.
Eu que sou uma mulher séria, não tenho ouvidos e sou irrepreensível em tudo o que faço, rodeio-me de amigas que me levam por maus caminhos e me obrigam a pensar fazer sentir coisas tão diferentes da minha natureza pura.
Estas são as minhas amigas, verdadeiras culpadas de tudo o que me acontece:

a puta à paisana, que veste roupa de mulher séria
a puta distante, que tem a mania que nada lhe importa
a puta anita, de certezas cândidas e ar quase inocente
a puta rufia, que tem um coração mole por baixo das palavras duras
a puta leoa, que não tem medo de nada e tem medo de tudo
a puta teórica, que foge da prática com toda a força que tem
a puta aranha, que não faz nada sem a sua teia
a puta irónica, que se ri de tudo e todas
a puta santa, que se deixou disso até cair em tentação

Ali no meio estou eu, desviada dos bons caminhos por um bando de destravadas.
Onde será a estrada para a redenção?

10 janeiro 2010

PáTúnelGeiserTerra

Era uma vez uma pá, feita de metal e madeira, que passava os dias a cavar a terra. Na sua vida de pá já tinha conhecido solos argilosos, já tinha suportado terra cheia de pedras e arestas, já tinha carregado terra barrenta que se colava ao seu corpo. Entre o metal e a madeira, a pá guardava restos das terras que tinha escavado, marcas minúsculas que se tornaram a sua segunda pele e que não a deixavam esquecer tudo o que tinha ficado atrás de si.
Com tanta terra conhecida, tanta pedra revolvida, a pá julgava estar preparada para tudo. Mas as pás também se enganam.
Um dia, quiseram usá-la para fazer um túnel. Não era um túnel comum, daqueles que começam num ponto, atravessam por baixo dos nossos pés e reaparecerem num ponto mais distante. A pá espreitou os planos e descobriu que o túnel iria directo ao centro da terra, um sítio habitado por um mar de chamas líquidas, geisers e lava, e por monstros de um só olho e pernas para o ar que povoavam os mapas antigos do mundo desconhecido. Pela primeira vez na sua vida de pá, teve medo do que aí viria. Susteve a  respiração e mergulhou num lago de água a ferver. Lembrou-se do poeta  e fechou os olhos em frente ao precipício: uma pá não chora nem tem medo. Uma pá escava. Sempre.

maldita incoerência




Sou uma pessoa que defende que o consumo é uma forma de alienaçao, que apregoa que deste lado do mundo consumimos muito mais do que aquilo que precisamos, que se preocupa seriamente porque o nosso planeta está seriamente ameaçado por esta forma de vida em que o ter é mais importante que o ser, que defende o comércio justo e responsável, que compra quase tudo no bairro e abomina as grandes superficies. Apanho móveis na rua, a minha filha tem poucos brinquedos, alguns deles também  apanhados na rua ou herdados, troco roupa com as amigas, estou inscrita no freecycle onde dou e aproveito muitas coisas, reciclo tudo e mais alguma coisa desde há muitos anos, e contudo, contudo, nao consigo ir ao ikea sem comprar imeeeeeensos objectos que de facto nao necessito, sem gastar muito mais do que aquilo que tinha calculado depois de passar horas na internet a planificar a minha compra, sem pôr em causa o meu casamento só porque o meu marido nao conseguia perceber porque raios queria eu comprar uma mesa e 4 cadeiras que estavam baratissimas e que ficariam super bem na cozinha onde já lá há uma mesa e 4 cadeiras que nos servem muito bem e sao bonitas. O ikea dá cabo de mim, o ikea transtorna-me, o ikea anula-me as ideias e os ideais. Morra o ikea morra pim! 

09 janeiro 2010

Desafio fio fio



Dia 16 de Janeiro, com a label 'quem as não tem', desafio as minhas múltiplas a postarem sobre a imagem que aqui deixo. Vamos nessa?

08 janeiro 2010

caféalmofadamantaareia

Hoje apareceste, nao sei quem és exatamente mas eras tu de certeza, apareceste nua na cama onde eu dormia com o meu homem, dizias tenho frio, como diz a minha filha quando se quer meter na nossa cama. A tua nudez parecia imensa apesar da tua magreza, o teu sexo depilado era uma montanha majestosa que me invadiu os olhos e me entrou pelo corpo dentro, uma montanha imensa que eu nao era capaz de escalar apesar de todo o desejo de alcançar o teu cume. Convidei-te a deitar e de montanha transformaste-te num imenso areal com dunas. Pedi ao meu homem que brincasse com a tua areia e a transformasse num castelo, que revolvesse as tuas ondas como tao bem o faz comigo, eu nao era capaz, nao sei tocar um corpo igual ao meu, nao conheço o corpo feminino, é para mim um misterio maior que a fisica quantica. Timidamente disse, dá-me os teus pés, e com toda a sabedoria que as minhas maos gretadas sao capazes, massajeei os teus pés devagar, explorando cada milimetro, enquanto olhava deleitada esse areal como uma praia exótica das costas do Indico. O despertador tocou, procurei debaixo da manta e já nao estavas lá, partiste de novo para o fundo do meu inconsciente mas nem as duas chavénas de café que já tomei conseguiram apagar a força da natureza que entrou em mim.

07 janeiro 2010

em caso de crises existenciais

ponha play de oito em oito horas:

queria estar aqui



tenho saudades do verão e deste sítio

depois de ler os mails lá de longe cheguei à brilhante conclusão:

FILHA DA PUTA!
TENHO-TE UMA RAIVA QUE É MELHOR NÃO ME APARECERES À FRENTE!!

(só não percebo porque não me deixaste sossegada este tempo todo se sabias o que sabias. e de todas as vezes que eu estava quase a desistir tu voltavas a insistir com a tua conversa que podia ser qualquer coisa até aquilo que eu queria ouvir.)

mete as tuas palavras no cu.........

06 janeiro 2010

Por que el alma prende fuego

cuando deja de amar...


Lhasa de Sela-El Desierto
Vezi mai multe video din Muzica

A brincar, claro

E agora eu era uma máquina perfeita que ninguém conseguia desmontar, uma máquina sólida feita de ruídos e silêncios desordenados. Encostavas o ouvido ao meu braço feito parede de metal e não ouvias nada, procuravas no ângulo recto da minha coxa e tentavas decifrar um cortejo quase imperceptível de barulhos metálicos. E agora eu era uma máquina lisa, sem brechas nem mossas, e a tua presença não era mais do que o calor de um corpo vencido pela solidão do metal.

05 janeiro 2010

Legenda para a imagem lá em cima


rambutan, o fruto mais estranhamente bonito que já experimentei.
(Esclarecida, querida múltipla?)

que planta é esta?

Legenda na fotografia, sff, que de botânica não pesco nada...

Ainda mal o ano começou

e já andam umas múltiplas em limpezas de primavera e outras a oferecerem-se para tareias. Isto promete.

04 janeiro 2010

maçãs, mais maçãs

Comecei por te ver.
E ouvi o que me querias dizer.
De seguida toquei a tua pele. Cheiravas bem. Demais.
Amanhã vou provar-te. Quero-te tanto que já sinto o teu sabor.
Depois vou mastigar-te devagar, devagarinho, desfazer-te em pedacinhos pequenos e engolir-te todo, inteirinho, para que faças parte de mim todos os dias, horas, minutos e segundos da minha vida, que passará a ser também a tua, pois só assim poderemos ficar juntos para sempre.

E por falar em amor......

Como é que me entras assim na vida e sem escrúpulos me desarrumas a sala, a dispensa e o quarto?
Como é que me dizes as coisas que disseste e brincas às expectativas como se fosse um concurso da tv?
Como é que mantiveste uma corda imaginária onde eu fazia equilibrismo?
Como é que tens a lata de seres como és?
És egoista, és cruel, és irresponsável, tens soberba e sobretudo és FRACO.
Quase que adivinho que me vais dizer que nunca me enganaste e que eu estou a dramatizar.
Quase que adivinho eu a dizer-te que as palavras não são vãs e que é preciso ter cuidado com elas.
Sorry.......mas hoje não me apetece nada, mas mesmo nada, ser civilizada.
E sabes porquê?
Porque hoje sinto que me magoaste.

collage




Escolhe de mim tudo o que quiseres meu amor, recorta-me o amor paciente, às vezes desiludido, às vezes esperançador que há tantos anos te dou, recorta-me as horas em que espero em que chegues a casa cansada para aquecer-te com o meu corpo, recorta-me as palavras que te vomito, que te sussurro, que te grito e que ricocheteiam no teu silêncio, recorta-me em pedacinhos pequeninos, em pedaços grandes, combina as cores como tu quiseres, cola-me nesta nova vida que temos e que já nao é igual à vida de antes porque nós já nao somos nós e somos outros, recorta-me, recorta-te, cola-nos num novo quadro, pendura-nos na mesa de cabeceira, em frente ao poliban, em cima da mesa onde todos os dias tomamos o pequeno almoço, queres mais café meu amor? Só nao faças de conta que tudo está igual, que o tempo nao passou por nós, que o nosso amor tudo aguenta porque nao é verdade, nao é verdade, o nosso amor está aos pedaços.  

Gostava mesmo

De ser tradutora.

03 janeiro 2010

a melhor passagem de ano de todos os anos foi onde eu estava

numa casa no meio de penhascos e verde e oliveiras, em horas elásticas de danças e desejos e túneis e gargalhadas, treze pessoas que se encontraram na casa de um fantasma inventado e a deixaram povoada pelo tempo fora do tempo que lá viveram.