31 março 2007

Saudades

Qualquer tarado é um publicitário em potência

Passo por um outdoor, daqueles enormes, que tem escrito em letras garrafais a encarnado O PRAZER DA CÓPIA E DA IMPRESSÃO, ocupando 2/3 do espaço; o terço restante é povoado por um rapaz e uma rapariga em amena marmelada, com uma enorme fotocopiadora por companhia.
Quer isto dizer que tirar cópias, apesar de ser uma seca, qualifica como uma excelente desculpa para dar uma pinocada ao Jorge da tesouraria? Inovadores estes publicitários; associar sexo a uma das actividades mais estupidificantes do planeta é sem dúvida um golpe de génio. Nunca mais vou olhar para a Sónia da reprografia da mesma forma.

Palavras sábias da minha avó IV

Uma pessoa é uma pessoa, um gato é um bicho...

Videoclip genial

Quando for grande, quero realizar videoclips assim.

30 março 2007

Sobre a Natureza das Coisas

Deambulando pela blogoesfera, descobri aqui um blogue de passagem e leitura obrigatórias. Sobre ciência, visitem o De Rerum Natura. Só li ainda este post com atenção, sobre 'ciência e banha da cobra'. O resto será devidamente apreciado, a seu tempo.

Já cá faltava um espaço destes. Depois do grande 'espalhanço' de 'O Público' nas suas novas opções editoriais (é concebível que tenham extinguido o suplemento 'Mil Folhas'? E que a Laurinda Alves tenha uma página inteirinha - à 6ª feira - onde mais não faz do que escrever banalidades? O novo grafismo nem sequer é merecedor de comentário...), parece que desta vez acertaram nos convites endereçados ao colectivo que ali escreve.

(Obrigada Cassiel, bem sei que é o segundo 'linkanço' esta semana...)

Ainda de doutores e engenheiros


A propósito de senhores engenheiros, lembrei-me de uma história verídica que sempre me faz sorrir. Quatro irmãos, entre os 18 e os 20 e tal anos estavam animadamente a brincar aos carrinhos de rolamentos numa calma rua de um bairro de Cascais. Aparece uma senhora fardada de "criada de serviço" e com um tom algo ríspido, diz-lhes: Importam-se de fazer menos barulho? É que o senhor doutor quer descansar. Vira-se o mais velho dos irmãos, há já algum tempo licenciado e responde-lhe: Ai é? Pois diga-lhe que o Sr. Engenheiro quer brincar de carrinhos de rolamentos.

Titulocracia

Ou a mania nacional dos doutores e o problema do Sr. Engenheiro, que afinal é só Sr. Primeiro Ministro, por Rui Tavares no Público de 28/03/07. Ler aqui.

Direitos por linhas tortas


A água continua a passar por baixo da ponte...Há uns tempos falou-se por aqui no povo cigano e nas dificuldades de integração que existem entre este e os não ciganos. A solução encontrada pela Câmara Municipal do Porto para "integrar" a comunidade cigana de Bacelos num processo de realojamento que considera urgente, revela nitidamente abuso de poder ao não considerar as características étnicas e os interesses desta comunidade na toma de decisão sobre esta situação. É um exemplo práctico de como o poder político, neste caso a Câmara Municipal do Porto, se sobrepõe aos direitos desta comunidade, e vai contra as orientações de outro poder político, a Segurança Social. Leiam mais aqui.

29 março 2007

La Maldita Primavera



Para a Z., querida amiga del alma, de viagens e de muitas primaveras partilhadas e por partilhar. Venham elas como vierem, estamos cá para recebê-las de braços e coração abertos...

PS: Ao ver este vídeo percebi por fim a razão do histerismo dos amigos de Bogotá ao ouvir esta música na festa dos vizinhos. Imagina se a nossa vizinha do lado desse uma festa e pusesse as Doce em altos berros? É lindo!!

Borboletas



"Keep you fingers out of my eye. While I write I like to glance at the butterflies in glass that are all around the walls. The people in memory are pinned to events I can't recall too well, but I'm putting one down to watch him break up, decompose and feed another sort of life". [Genesis, The Lamb Lies Down on Broadway].

And now for something completely different...

French Kisses

Plus je t'embrasse / Plus j'aime t'embrasser! / Plus je t'enlace / Plus j'aime t'enlacer! /Le temps qui passe /Ne peut rien y changer: Mon cœur bat / Quand tu t'en vas / Mais tout va bien / Quand tu reviens {Car...} / Plus je t'embrasse / Plus j'aime t'embrasser! / Je ne peux m'en lasser / Et j'en ai tell'ment envie / Que j'oublie tout dans la vie... / C'est insensé / Ce que j'aime t'embrasser !

28 março 2007

O saco preto

No hospital, a enfermeira estende-lhe um saco preto de plástico resistente: 'Tome, menina'. Ela aceita e pega no saco volumoso. Volta-se para trás e olha pela última vez para o quarto. Vai-se embora, com o som dos passos a baterem no chão de pedra e a ecoarem-lhe nos ouvidos. Não ouve mais nada, só aquele som: clac, clac, clac.

Chega a casa. Senta-se no sofá, leva as mãos à cabeça e apoia-as nela durante minutos que parecem uma eternidade. Acende um cigarro e apaga-o logo a seguir. Ganha coragem e resolve finalmente abrir o saco: tira o conteúdo de dentro do mesmo e dispõe os objectos um por um em cima da mesa em frente ao sofá, num alinhamento perfeito:

- uns óculos
- umas chaves de casa
- uma carteira
- um livro marcado a meio
- um rádio
- uma moldura com o retrato dos filhos
- um lenço de bolso
- uma máquina de barbear
- um necessaire com produtos de higiene

Desbobra a roupa e o pijama e chega-a perto de si. Cheira-a e sente o odor familiar. Fixa então a atenção nos objectos que lhe parecem sorrir tristemente: os óculos que não lerão o livro que já ia a meio, a carteira (que não ousa abrir por lhe parecer uma invasão de privacidade), o rádio que não tocará as mesmas estações, as chaves que não abrirão nunca mais a porta de casa.

Coloca todos os objectos dentro de uma caixa e sela-a com fita adesiva. Vai ao sotão e arruma-a lá. Guarda apenas consigo os óculos. Põe-os no rosto. Por momentos julga ver-se de mão dada, com ele, em direcção a casa. Tira os óculos, que continuam a sorrir tristemente para si, e arruma-os na cómoda. Sai de casa e desce a rua, com o som dos passos a baterem no chão de macadame e a ecoarem-lhe nos ouvidos. Não ouve mais nada, só aquele som: clac, clac, clac.

27 março 2007

calvinizar por aí....

coisinhas giras para animar o dia

O melhor desde o coyote (ouvir com som).

A simple twist of Faith

Para a I., em período de Quaresma, uma entrevista a M. Scorcese sobre o filme The last temptation of Christ (1988).

Mãe e Filha


26 março 2007

Vergonha nacional

Vão ver o que a nossa historiadora de serviço escreveu, porque eu ainda estou em estado de choque desde ontem. Noutra casa, foram lidos hoje os tablóides e conclui-se isto.
(E viva o Aristides de Sousa Mendes!)

História para uma 2ª feira*

"O lavrador siciliano tinha comprado uma horta. Preocupava-o o ter de registá-la, mas o notário acalmou-o: a acta era coisa simples.
No dia seguinte a papelada estava pronta.
- Assine aqui.
- Eu bem pensava... Vamos ter um problema, porque sou analfabeto.
- Problema nenhum. Faça nesta linha uma cruz, é a assinatura, o mesmo que o seu nome. O lavrador risca duas cruzes. O notário irrita-se:
- Homem! Era só uma cruz! O nome.
- Bem ouvi, mas uma é o meu nome, a outra é Dottore."

* História lida (e rida) aqui. Obrigada, Cassiel!

24 março 2007

Filha de fim de semana

Ir ao Jardim Zoológico ver os animais todos ("ó pai, o papa formigas come mesmo formigas?"), dar amendoins aos macacos e elefantes (a tromba assustadora mesmo à frente da minha cara, eu a querer comer o amendoim em vez de o dar àquele animal distante com um prolongamento nojento), uma hora de brincadeira nas mini casinhas em que havia de tudo mas em ponto pequeno.
Ir ao Caledoscópio ver o Bernardo e Bianca, ver as peças infantis do Teatro Aberto todas as semanas e zangar-me com os actores por alterarem o texto ("não é assim pai, não foi isto que disseram na semana passada").
Ir ao circo ver os trapezistas, a rapariga do monociclo, o medo dos palhaços (ainda hoje me assustam as pessoas a quem não consigo ver a cara). O meu pai gostava de jogar flippers numa tasca em frente ao coliseu, lembro-me de ser pequena e os meus olhos estarem ao nível dos bolsos de trás das calças. Queria ver a bola cinzenta a bater nos triângulos que apitavam e davam cor, mas o meu pai não conseguia jogar comigo ao colo.
Aprender músicas de cor com as cassettes no carro, Vinicius, Chico Buarque ("ó pai, ele é mesmo da Holanda?"), Max (o maior madeirense de Portugal), os olhos castanhos do Francisco José dedicados a mim, a minha irmã a chorar porque olhos verdes são ciúme e nada valem para ele.
Os meus olhos agora vêem ombros, já não me leva ao cinema e ao circo só voltei para levar o meu sobrinho. A música, essa, continuamos a cantá-la.

Na livraria

Balcão da livraria. Fila para pagar. Do lado oposto, abeira-se senhor de ar distinto, mesmo inquestionável quanto às suas intenções, livro e nota na mão.
Deve ver mal, pensei. Um pouco mais profunda e até envergonhadamente, como se o fizesse em voz alta, acabei por pensar que talvez fosse daqueles que fazem sempre de conta não verem os demais.

A empregada - O senhor?...

Eu - Desculpe, talvez o senhor não tenha reparado, mas eu já aqui estava.

O senhor com ar distinto - Então o livro fica aí e eu volto depois.

Quão fácil é percebermos quem somos...

23 março 2007

Continua a primavera

- Olá filha
- Olá mãe, então como correram os exames?
- Tenho más noticias, tenho um tumor de 12 cm, vou ser operada na próxima semana.
- ...
Vamos recomeçar o périplo de há dois anos atrás, operação, quimio, cansaço, o corpo a debilitar-se e a esperança a lutar para não desistir de ganhar um pouco mais de tempo à morte inevitável.
Saturno deve estar a passar por aqui...

Allwhat?

Um destes dias tive uma insónia daquelas que, felizmente, duram alguns minutos ou apenas escassas horas.
Sem vontade para levantar o traseiro do sofá, zapei ao jeito da minha cara metade mas nada de interessante se passava. Eis que o relógio da SIC NOTICIAS anunciava 23h59m. Boas notícias! Algo de nutritivo para a mente se iria passar. E asseguro-vos, minhas caras, não haver série Britcom de melhor nível. Há muito, talvez desde que uma operação ao apêndice me levou a fundir-me com o sofá de uma amiga, que não assistia a momentos televisivos tão hilariantes e de crivo nacional. Então, era Serenella e o seu "Casa Cheia" que fazia as minhas delícias. Enfim, efeitos de anestesia...
Primeiro bloco - notícias nacionais. Era mais ou menos este o alinhamento. O escândalo no CDS tendo como música de fundo alguns impropérios que uma senhora insistia em fazer ouvir e Paulo Portas no seu melhor, o olhar acusando a imensa vontade de rasteirar Ribeiro e Castro mas, ainda assim, optando por deixá-lo passar e cumprimentando-o de forma afável. Notícia seguinte, que todos há muito esperávamos e, até, ansiávamos: Santana Lopes diz que quer voltar e que o senhor Mendes não tem capacidade. De imediato nos é dado a saber que o senhor Mendes discorda, afirmando que tudo é mentira, desde os projectos feitos e dados a conhecer para a OTA até à sua incapacidade. Vai mesmo mais longe e afirma sentir-se muito bem! Ainda bem... Surge então um Primeiro Ministro, como sempre, incisivo e de dedo espetado (porquê?) que revela à nação que um país que não investe na educação não é país que se preze e que não está virado para o progresso. A sério?! E tudo culmina com um ministro sardento e sorridente que anuncia a venda a retalho desta nossa manta a alguns estrangeiros interessados numas quantas parcelas. Deste modo, Allgarve é já uma realidade a que se seguirão outras já que temos a possibilidade de fazer o trocadilho também com o ALLentejo e de prosseguir com a região turística do Faroeste, que inclui muralhas de Óbidos e Caldas da Rainha.
Foi então que o bloco noticioso internacional lembrou que, lá fora, o mundo pula e avança e digladia-se séria e ferozmente.
Adormeci.

22 março 2007

A espera


La baigneuse, Léon Spilliaert, 1910.

Quando os minutos parece que têm horas e as horas encerram uma eternidade.

Uma manhã primaveril

- o que é que estás a fazer?
- estou no metro, tenho de ir à agência pagar o seguro do carro.
- tens mesmo de fazer isso agora?
- sim, estou sem seguro do carro há 3 semanas, já não posso pagar por multibanco, tenho mesmo de ir lá. Porquê?
- porque acho que tens de vir para aqui...
- o que é que aconteceu?
- é o pai
- onde é que ele está? onde é que tu estás?
- tem calma, ouve
- o que é que se passa com o pai?
- fez agora uma colonoscopia...
- o quê?
- o pai fez uma colonoscopia, foi agora fazer uma TAC. Disseram que tem uma massa...
- o quê?
- o pai não te queria dizer para não te preocupar, mas acabou de sair de um exame e entrou logo noutro, querem ver o que é que há mais...
- o que é que tu me estás a dizer?
- vem para cá por favor...
- é aquilo que eu penso, não é?
- sim. o pai tem um cancro.

21 março 2007

Prima Donna


The return of Spring (William Bouguereau)

Uma Prima Donna, é o que nos tem saído esta Primavera: um fim-de-semana maravilhoso, seguido de um frio de rachar... Mesmo assim celebramos o seu início, esperando por muitos e muitos dias primaveris!


A poesia está onde quisermos!

Em Santo Tirso os poetas invadem os Mosteiros e as palavras habitam cada canto da cidade.

Descubram tudo aqui.

Que bom haver lugares assim!

19 março 2007

Do além

Hoje apareceu-me um link insólito em cima da caixa de entrada do gmail. "Irish undertaker offers webcasts of funeral services". Já posso morrer descansada, há um cangalheiro algures na Irlanda disposto a transmitir pela internet o meu velório e enterro, para que os meus entes queridos e leitores do blog me possam acompanhar até à minha última morada sem se incomodarem em sair de casa. Era um assunto que teimava em não me deixar dormir à noite, vai daqui aquele abraço para o google por me ter fornecido esta informação preciosa.

Perguntar não ofende?

Como a minha mala não apareceu no tapete rolante do meu vôo, fui à secção dos perdidos e achados. O senhor disse-me para não me preocupar que ia de imediato averiguar o que se passava; sentou-se ao computador e começou a digitar numas teclas. Levantou a cabeça, sorriu-me com um ar solícito e perguntou:

- o seu avião já aterrou?

A primeira vez

Este domingo tinha um programa de rachar. Ir passar o dia a casa de uns amigos no Alentejo, no meio das laranjeiras. Com o sol que estava nada mais que aprazível.
Para nos distribuirmos entre os vários carros e partirmos juntos pela estrada fora combinámos no Cais do Sodré pelas 10h30 e daí partiríamos para o idílio campestre. Saio de casa com uma amiga, passamos a buscar outro na Almirante Reis, e quando descemos pela baixa encontramos todas as estradas fechadas para nos dirigirmos ao sítio marcado. Sem perceber o porquê de tanta comoção, páro, baixo a janela e interrogo o senhor agente da autoridade. É a maratona, diz-me. Se quero apanhar a ponte 25 de Abril tenho de ir ao Marquês, ao Cais do Sodré só chego se for a pé.
Telefonemas para cá e para lá, mudamos o ponto de encontro para Santa Apolónia, onde conseguimos todos chegar em quatro rodas.
Chegados lá vemos que os corredores andam ufanos para a frente e para trás pela avenida marginal, saímos do carro e ficamos a vê-los passar enquanto fumamos o primeiro cigarro do dia. Como alguém decide passar a sua manhã de domingo a correr 42 Km é coisa que nos ultrapassa, que já sonhamos com a sesta à sombra de um chaparro.
Um dos amigos que vem de carro da linha de Cascais avisa-nos que, ao contrário da informação dada pela PSP, todas as entradas para a ponte 25 de Abril estão cortadas, e que nos vai buscar ao Lux para seguirmos pela Vasco da Gama. Olhamos para o panorama que se estende à nossa frente e concluímos que vamos ter de atravessar as duas vias da maratona para chegar ao seu carro.
Dois com mochilas às costas, eu com a mousse de limão, outra com a caixa dos brigadeiros e o quinto com duas garrafas de litro e meio de água, aventuramo-nos à passagem para o outro lado da rua.
A primeira faixa afigura-se-nos fácil; basta corrermos no mesmo sentido que os maratonistas e irmos guinando para a direita. Este grupo improvável de corredores junta-se então aos demais e chegamos ao separador central; metade está feito.
Para atravessarmos a segunda faixa terá de ser contra a corrente, o que dificulta um pouco o nosso movimento. Olho para os homens e mulheres de número ao peito, suados e cansados, uns de bigode outros de boné, alguns de ipod. Olham para nós, incrédulos em relação às nossas intenções. Agarro bem a mousse, seria uma desgraça deixá-la cair e partir uma perna ao etíope de turno que teria o azar de escorregar por cima da delícia de leite condensado e vitamina C.
Encho-me de coragem e velocidade, eles não param tenho de me fazer à vida e lá vou eu voando entre a massa.
Conseguimos passar incólumes e sem provocar qualquer entorse aos estafados participantes, a polícia ignorou-nos olimpicamente e a banda que tocava Xutos & Pontapés com umas colunas a sair de um camião continuou impassível à nossa presença.
Foi a primeira vez que participei numa prova desportiva. Fiquei emocionada.

Como é possível?

Transcrevo na íntegra um mail que acabo de receber e que me deixou sem palavras:

"Nos últimos dias, as mensagens de ódio racista proliferaram nas paredes da Faculdade de Letras. “Portugal aos portugueses” ou “Fascismo é solução” são algumas das frases escolhidas pela extrema-direita para a sua propaganda e ameaça. Também não faltaram as “chamas” do Partido Nacional Renovador (PNR). Pelo caminho, foram destruídos todos os murais ou outro tipo de comunicação (das mais diversas organizações) entendida como “comunista” – o facto era assinalado pelos próprios censores, ao lado das “emendas” efectuadas.

Ora, hoje alguns estudantes da faculdade, em conjunto com a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), decidiram-se por uma acção pública: pintar um mural contra a ameaça do racismo e da violência.
A verdade é que o mural não foi terminado, porque a polícia não o permitiu. Ainda mais preocupante é o facto de hoje se terem juntado, numa atitude claramente ameaçadora, com todo o à-vontade, várias dezenas de skins na faculdade de Letras. A mensagem era clara: ameaçar, condicionar, amordaçar; impôr a cultura do medo, à custa da impunidade – basta dizer que se deram ao luxo de tirar fotografias a todas as pessoas envolvidas na pintura do mural! E isto, “nas barbas” da polícia, que esteve sempre mais ocupada a impedir que o mural chegasse ao fim!

Tendo em conta estes preocupantes acontecimentos, o SOS Racismo gostaria de deixar claro que:

1 – Este novo “palco” para os skins representa uma importante ameaça, que deve preocupar toda a comunidade escolar. Não é possível aceitar que esta realidade se torne “normal” ou “aceitável”.

2 – Infelizmente, as respostas de quem tem responsabilidades deixam muito a desejar. Já no ano passado, quando o SOS Racismo alertou o Conselho Directivo, em reunião a nosso pedido, para o crescimento da extrema-direita dentro da faculdade e o perigo que isso representa, este órgão não revelou nenhum interesse pelo assunto. E hoje, o Conselho Directivo da Faculdade de Letras apenas se mobilizou para proibir a pintura do mural de hoje, mas nunca demonstrou preocupação com as mensagens de ódio dos skins. Esperamos não ter de ouvir este órgão, no futuro, lamentar a violência e o ódio na faculdade, quando podia e devia ter-se interessado a tempo!

3 – A impunidade com que foi possível hoje, na presença da polícia, várias dezenas de skins fazerem a sua demonstração de força é um sinal muito inquietante. Não parece normal que a PSP tenha “convidado” a retirar-se quem pintava o mural, mas tenha deixado cerca de 50 skins no interior e nas imediações da faculdade, em pose ameaçadora, bebendo cerveja, fazendo uma espécie de “guarda” a um dos bares da faculdade, enquanto ia distribuindo panfletos.

4 – Fica, mais uma vez, clara a ligação entre o movimento skinhead e o PNR!

5 – O SOS Racismo vem há muito alertando para o perigo e a impunidade que caracterizam o crescimento da extrema-direita em Portugal. Para estas pessoas, a violência e o ódio são a dimensão essencial da política. Quantas mais vítimas serão necessárias para que se desenhe finalmente um combate a esta triste realidade?

6 – Em pleno “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos”, em que vão abundando os discursos de circunstância sobre igualdade e a necessidade de combater as discriminações, seria mais útil ver quem tem responsabilidades empenhar-se no desmantelamento desta rede criminosa – tráfico de armas, de droga, “cobranças difíceis”, violência frequente, etc. – de ameaça, ódio e morte.


Pelo SOS Racismo,
José Falcão".

Human(a)

Sabe bem voltar a ouvir os temas que fizeram parte da (minha) adolescência. Human League era uma das minhas bandas fétiche por volta dos meus 13 anos. E hoje, dia em que me sinto infra-humana, esta música vem mesmo a calhar. E vivam os anos 80!



Cenas da vida conjugal (I)

Queridaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...
- Sim, amor?
- Olha lá sabes o que é que se passa com o comando da televisão? É que não funciona... Estou há que tempos a tentar ligar o maldito aparelho e nada...
- Eu não! Sabes que raramente ligo a televisão... [hummm] Olha, o comando funciona com que pilhas?
- Acho que são AA...
- Então vai ali à gaveta da cómoda e tira as do meu vibrador. Mas não te esqueças de as repor amanhã, ok?
- [Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr.....]

16 março 2007

História de uma viagem entre duas quase cidades

Percorro todos os dias os cerca de 80 km que me transportam de uma cidade do litoral à Beira.
Ontem, dia do consumidor, o autocarro que me conduz ao destino atrasou cerca de 50 minutos. Os passageiros impacientes barafustavam: "isto só acontece neste país! Se estivessemos na Alemanha ou em França nada disto acontecia". Resolvi entrar no gabinete da empresa e escrever uma reclamação.
Chego cá fora e pergunto a uma senhora: "porque é que não faz uma reclamação e pede o reembolso do bilhete?". Ela respondeu-me: "Ó menina, é que eu não sei escrever".

[Escrevi-lhe a reclamação que ela ditou com as palavras que sabe dizer e não escrever.]

[...]

Por motivos de obras, encerrei o cérebro. Preciso de uma nova concepção do mundo.

15 março 2007

14 março 2007

A minha Parede*


Vista da Marginal, com antigo Sanatório da Parede, ao fundo.

Por volta de 1940, chega mais um núcleo familiar à Parede. Mudaram de morada e de cidade por causa da doença de um dos filhos. Naquela época, dizia a medicina que o iodo e os ares marítimos eram favoráveis à boa recuperação das doenças pulmonares. Mais tarde, revelou-se o contrário: aqueles 'ares' eram tudo menos benignos. Hoje, o antigo sanatório transformou-se num hospital ortopédico.

Assim chegou a família do meu pai à Parede.

Esta é a minha Parede, daqui, de mim.

*este post é para o -pirata vermelho.

Fotoben





Todos os dias visito o Fotoben para ver as suas belíssimas imagens. Quando for grande, quero fotografar assim (espera aí, eu já sou 'grande'... Fica a expressão). Esta gota no pinheiro veio daqui e a (minha) praia da Parede daqui.

13 março 2007

Uma inverdade conveniente

Esta semana Nuno Crato no Expresso fala-nos de coisas estranhas em que as pessoas acreditam; detenho-me numa afirmação no mínimo insólita, proferida numa palestra em que se falava de conseguir fazer sorrir moléculas de água.

Foi mostrada uma gota de água, apresentada como sendo "uma molécula". De seguida, a imagem de um cristal de água que seria o que teria acontecido à dita cuja depois de uma amena cavaqueira: estava a sorrir. Queria com isso demonstrar que se as moléculas de água sorriem com dois dedos de conversa, e sendo nós constituídos por 70% de água, basta falar às pessoas para que elas sorriam.
A ser verdade daria pano para mangas; para já, fazer sorrir as moléculas apenas com bla bla bla parece-me demasiado fácil. Se assim fosse, morreríamos a rir com o 70x7, a TV rural, os directos do parlamento e os documentários sobre a fome em África. Já para não falar das gargalhadas histéricas que provocariam os discursos de Fidel (7h horas a falar daria uma alegria suprema ao H2O). Cheira-me que deve ser necessário dizer uma ou duas larachas para que elas sucumbam a esse fenómeno.
Além do mais, a mudança de estado físico de líquido a sólido com a alegria abre perspectivas muito interessantes e alguns perigos.
Por um lado, se assim fosse quem se risse derivado ao sorriso das moléculas de água transformar-se-ia em bloco de gelo, o que seria sem dúvida uma maçada.
Por outro, seria uma forma de combater o aquecimento global; mandava-se o Jon Stewart para o pólo norte e o Ricardo Araújo Pereira para o pólo sul, gritavam um par de asneiras para o oceano e BUM, formavam-se uns fiordes maravilhosos. Adeus degelo dos pólos.
De um ponto de vista mais caseiro, para se ter gelo para gin tónico na ausência de congelador bastaria encher uma cuvette com água e ler-lhe o segundo livro de anedotas do António Sala, ou pô-la em frente à televisão para ver os Monty Python, conforme o grau de exigência artística da fonte termal.

Telejornal com filho

- Quem é este?
- É o adjunto do ministro.
- O que é que isso quer dizer?
- Quer dizer que é o braço direito do ministro.
- E quem é o braço esquerdo?

12 março 2007

O trabalho liberta

Acabo de ver uma reportagem arrepiante no noticiário da SIC. Crianças entre os 7 e os 11 anos que diziam ter de fazer os trabalhos de casa para ficarem mais espertos, virem a ter bons empregos e terem uma vida boa. A maioria deles diz que não tem tempo para brincar, um deles diz que apenas às 2ª e 4ª o faz, e que além do mais os TPC são sempre mais importantes que as brincadeiras. Quando chegam a casa primeiro trabalhos e só depois, e se sobrar tempo, podem brincar.
Uma menina dizia "com os trabalhos aprende-se muita coisa". "E com as brincadeiras?" "Com essas já não sei"
A um menino perguntavam-lhe quando é que ele ia ter tempo para brincar. Ele parou, pensou e respondeu "quando for grande brinco com os meus filhos".
Um dos mais velhos dizia que a professora marca mais trabalhos quando eles se portam mal nas aulas. Sem dúvida um estímulo ao aumento da produtividade, considerar o TPC como castigo. Eles assim ficam tranquilos como bovinos, a alergia à labuta é que ninguém lhes tira.
Isto não me parece um grande estímulo ao aumento da natalidade. Será que a reportagem foi feita em Auschwitz?

Nas costas do sofá

ah ganda simão!!

(como diria o manyfaces, intelectuais reprimidos uni-vos)

Os dias da rádio

foto cedida por câmara clara

Tenho um especial apego e afeição por aparelhos de rádio, gosto que herdei do meu pai. Lembro-me de o ver dirigir-se para a sua gigantesca pilha de rádios (onde ouvia emissões em onda curta, média e longa), de modo a ouvir - religiosamente - o noticiário da BBC, ao meio-dia, todos os dias da sua vida. Este era um hobby que trazia desde os seus tempos de juventude: aos 18 anos ia-se mantendo a par das notícias sobre a II Guerra Mundial, na emissora Rádio Clube Português, naquela época sediada na Parede (ainda lá estão os emissores).

Mais tarde, fazia-me ouvir as comunicações entre navios. Houve um dia em que sintonizámos as emissões da Rádio Galo Negro (de Savimbi), em pleno período de guerra. Soube certa altura, numa conversa, que sabia as frequências para ouvir conversas entre telemóveis, na altura em que estes apareceram. Um dos meus irmãos insistiu com o meu pai para que ele as revelasse. Nunca o fez, era um homem de princípios.

Hoje, num passeio pelo bairro onde moro descobri uma loja de 'reparações de todo o tipo de material eléctrico e electrónico'. Entrei na loja e vi um senhor por trás de um balcão que conversava com outro, por entre uma profusão de - sobretudo - televisões.

- Boa tarde. O senhor conserta aparelhos de rádio?
- Depende da marca, mas traga-me o aparelho que eu logo vejo o que posso fazer.
- Bom, na realidade tenho dois aparelhos de rádio: um muito antigo, que gostava tanto de ver recuperado.
Os olhos do senhor brilharam:
- Como é o aparelho? É de madeira?
- Sim, de madeira, com uma rede à frente e a válulas.
- Ena, esse deve ser dos bons! [fala-me de uma série de marcas, as quais não retenho os nomes]. Traga, traga que tenho para aí umas válvulas e logo vejo o que se arranja.
- Tenho também um aparelho - esse mais moderno - digital. Não sei porquê não liga, não me parece que seja a fonte de alimentação. Noutras circunstâncias tê-lo-ia deixado assim, não lhe ligaria mais, mas foi o último rádio que o meu pai comprou e tenho-lhe uma estima especial.
- Sabe, hoje em dia este tipo de material, à primeira falha ou estrago, e o pessoal já não quer saber. Rapidamente compram um novo aparelho, um modelo acima e mais novo. É o usa-e-deita-fora. Eu cá não sou assim!
- Pois eu também não... Acha que me consegue consertar os rádios?
- Traga, traga. Vou ali depois para a minha oficina na cave e logo se vê.
- Desculpe a curiosidade: o senhor trabalha há muitos anos neste ramo?
- Desde os 14 anos. E há 45 anos estabelecido nesta zona.
- Passo por cá amanhã e muito obrigada.
- Obrigado eu, menina. Até amanhã.
Vim para casa a sonhar com o meu aparelho de rádio a válvulas. Se tiver arranjo, talvez consiga sintonizar depois 'Os Parodiantes de Lisboa' e 'Quando o Telefone Toca'. Nunca se sabe...

P.S. Sempre pensei em visitar o 'Museu da rádio'. Estupidamente fui adiando o momento. Agora parece que fechou...

11 março 2007

Lei de Murphy - teoria e prática

Saímos todos juntos da festa. Beijinhos, despedidas, cada um para o seu carro. Quando estava a arrancar oiço buzinadelas insistentes, volto para ver o que se passa. O carro deles não pegava, devia ser bateria. Ligamos ao Manel, ele tem cabos, que volte para trás.
Digo-lhes que se as luzes do carro funcionam não pode ser bateria, mas como sou rapariga ninguém me liga nenhuma.
Chega o Manel, quando vê que as luzes se acendem conclui que os cabos são inúteis porque se há corrente para os faróis a bateria não é a causa do problema. Não digo nada, mas fico contente por confirmar que os meus rudimentos de mecânica aprendidos com o mini de 20 anos como primeiro carro me terem preparado para a vida na estrada.
Tens gasolina, pergunta o douto Manel. Que sim, que acabou de entrar na reserva mas que ainda dá para 50 Km. E o óleo tens visto? Acho que sim, foi a resposta. Tememos que o carro esteja gripado e dado assim o triste pio. Controlam o nível, o óleo já viu melhores dias mas ainda há uma quantidade razoável.
Esgotadas as opções do senso comum, como a máquina insistia em não arrancar, telefona-se ao maravilhoso ACP. Nome, matrícula, marca, modelo e cor do carro, onde se está. "estou na praia das maçãs". "Na areia?", pergunta a voz do outro lado, certa de ter encontrado o diagnóstico correcto para a maleita que os aflige. "Não minha senhora, isso é o nome da localidade".
45 minutos depois chegam os técnicos ao local. "Então o que é que se passa?" "O carro não pega e não percebemos porquê". O senhor de farda senta-se no lugar do condutor, dá a volta à chave e o mui estupor decidiu funcionar à primeira.
Como conheço de gingeira este corolário da Lei de Murphy, sempre que oiço um barulhinho estranho no meu carro entro numa oficina. Não lhes peço para fazer nada, mas o efeito psicológico num objecto sem sistema nervoso tem um poder milagroso impossível de ignorar.

O tempo do já

O tempo é um bem precioso nos nossos dias, fazem tudo para facilitar-nos a vida e não perder tempo com as coisas domésticas. Já há feijões e grãos enlatados para não termos que os demolhar, comida congelada e refeições prontas a usar, e até a gelatina, sobremesa rápida e fácil de fazer, é agora vendida em forma de gellyjá, fica pronta em 5 minutos. Mais do que uma gelatina vendem-nos tempo. Quando inventarão produtos que nos façam trabalhar menos horas e ganhar tempo para nós?

10 março 2007

Metropolis


Metropolis, Fritz Lang (aqui)

Chegou a altura da valsa.

Meia lua de sorriso (e um adeus)

Foto N.F.

Perigo de Vida

É grande o risco da palavra no tempo
maior mesmo talvez que no mar
Eu fui a margem do dia despedir um amigo
e não houve no cais
iniciativa verbal que edificasse
uma só tenda para o nosso coração
Éramos peregrinos
que deixam a saudade de turistas
ausentes na rua de Outono
Morríamos contra a curva dos dias
a morte rotativa e provisória

Tivesse a própria palavra lábios
e nenhum clima poderia
arrefecer-lhe o coração
Tivesse ela lábios e não seria
tão grave o risco no tempo e no mar

Ruy Belo
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Foi um dos últimos poemas que postaste. Só hoje soube da tua partida. Não sei porquê, só me consigo lembrar do teu sorriso em foma de meia lua. E das noites na Fala-Só. E outra vez do teu sorriso. Levaste a concertina, ao menos?

09 março 2007

Três viagens

A primeira: tarde de Lisboa, taxista curvado de mãos duras. Comecei a trabalhar aos 8 anos no campo, a acartar pedra. Aprendi várias artes, trabalhei toda a vida. E agora, com setenta e oito anos, nunca gastei um tostão da minha reforma, continuo sempre a trabalhar. Se parasse, ia beber a pensão para as mesas do jardim com os outros velhos.
A segunda: fim do dia numa Lisboa caótica. Um taxista redondo, de nuca rapada, explicou-me que há 32 anos guiava um táxi. Um gajo aprende a lidar com os bandidos. No meu carro nunca entram pretos nem ciganos.
A terceira: três da manhã guiada por um taxista brasileiro. Chegou há seis anos casado, agora está sozinho. É muito duro estar longe, por isso volto ao Brasil todos os anos. Só no ano passado não fui. Perdi o meu pai e perdi a coragem.

El miedo global

Los que trabajan tienen miedo de perder el trabajo. Los que no trabajan tienen miedo de no encontrar nunca trabajo. Quien no tiene miedo al hambre, tiene miedo a la comida. Los automovilistas tienen miedo de caminar y los peatones tienen miedo de ser atropellados. La democracia tiene miedo de recordar y el lenguaje tiene miedo de decir. Los civiles tienen miedo a los militares, los militares tienen miedo a la falta de armas. Las armas tienen miedo a la falta de guerras. Es el tiempo del miedo. Miedo de la mujer a la violencia del hombre y miedo del hombre a la mujer sin miedo.

Eduardo Galeano

El lenguaje

En la época victoriana, no se podían mencionar los pantalones en presencia de una señorita. Hoy, por hoy, no queda bien decir ciertas cosas en presencia de la opinión pública: El capitalismo luce el nombre artístico de economía de mercado, el imperialismo se llama globalización. Las víctimas del imperialismo se llaman países en vías de desarrollo, es como llamar niños a los enanos. El oportunismo se llama pragmatismo, la traición se llama realismo.Los pobres se llaman carentes, o carenciados, o personas de escasos recursos. La expulsión de los niños pobres del sistema educativo se conoce bajo el nombre de deserción escolar. El derecho del patrón a despedir al obrero sin indemnización ni explicación se llama flexibilización del mercado laboral. El lenguaje oficial reconoce los derechos de las mujeres entre los derechos de las minorías, como si la mitad masculina de la humanidad fuera la mayoría. En lugar de dictadura militar, se dice proceso. Las torturas se llaman apremios ilegales, o también presiones físicas y psicológicas. Cuando los ladrones son de buena familia, no son ladrones, sino cleptómanos. El saqueo de los fondos públicos por los políticos corruptos responde al nombre de enriquecimiento ilícito. Se llaman accidentes los crímenes que cometen los automóviles. Para decir ciegos, se dice no videntes, un negro es un hombre de color. Donde dice larga y penosa enfermedad, debe leerse cáncer o SIDA. Repentina dolencia significa infarto, nunca se dice muerte, sino desaparición física. Tampoco son muertos los seres humanos aniquilados en las operaciones militares. Los muertos en batalla son bajas, y los civiles que la ligan sin comerla ni beberla, son daños colaterales. En 1995, cuando las explosiones nucleares de Francia en el Pacífico sur, el embajador francés en Nueva Zelanda declaró: "No me gusta esa palabra bomba, no son bombas, Son artefactos que explotan". Se llaman Convivir algunas de las bandas que asesinan gente en Colombia, a la sombra de la protección militar. Dignidad era el nombre de uno de los campos de concentración de la dictadura chilena y Libertad la mayor cárcel de la dictadura uruguaya. Se llama Paz y Justicia el grupo paramilitar que, en 1997, acribilló por la espalda a cuarenta y cinco campesinos, casi todos mujeres y niños, mientras rezaban en una iglesia del pueblo de Acteal, en Chiapas.

alegrias da maternidade

Há várias semanas tinha combinado, ia finalmente desoprimir-me, ver a minha múltipla nas suas lides de actriz experimental, ver as minhas amigas, dançar. Tudo ia bem, fui jantar com dois amigos, fomos para o teatro, comprámos os bilhetes, os amigos começaram a chegar, que bom sair de casa, há tanto tempo! Quando se está em casa muito tempo, qualquer coisa fora desta é uma festa, a cidade iluminada, as lojas fechadas com as montras iluminadas, os abraços de quem não se vê há muito tempo, uma imperial fresquinha, o tumulto de um teatro cheio, as filas de gente para chegar ao nosso lugar. Sentámo-nos, fecharam as luzes, o espectáculo vai começar, que excitação... trimmm, merda, o telemóvel, esqueci-me de o desligar, é de minha casa, sim, o que se passa? A filha está com febre e com dificuldades em respirar, derivado à tosse com que anda. Pode não ser nada de grave, pode ser que sim, não dá para ter dúvidas. Despedidas rápidas, atabalhoadas, rumo a casa com a certeza de que não posso deixar de ir e fodida por ter de o fazer. Malditas alegrias da maternidade.

O dia em que eu matei um frigorífico em Granada (parte I)



Naquele dia resolvi dizer para mim mesma: Basta! Há meses e meses que não me pagavam a renda. Ora, uma pessoa não vive do ar, convenhamos, sobretudo se está fora do seu país, longe do seu entourage, sem outros recursos, sem nada.

A decisão estava tomada, nada de hesitações e de voltar atrás: empunhei uma faca de gume bem afiado (daquelas que brilham na ponta, como nos desenhos animados) e dirigi-me ao local onde teria de executar, sem dó nem piedade, o desalojamento de várias criaturas.

[rewind]

É Junho e fazem mais de 40º lá fora, à sombra. Moro em Granada (Andaluzia, sul de Espanha), num bairro periférico chamado 'Zaidin'. Maldita a hora em que me precipitei no aluguer desta casa. Devia ter sido mais perseverante e escrupulosa na procura do cubiculum vitae: por exemplo, podia ter insistido nos bairros de 'Albaicín' ou 'Sacromonte' (oh, so fashion & typical!). Mas não: o dinheiro falou mais alto. 35 mil 'pelas' por mês e tens aí um T3 todo mobilado (é melhor passar à frente a descrição da mobília, duvido que as alminhas mais sensíveis resistissem ao que para ali ia). Ok, vejamos o lado positivo: neste bairro, as 'tapas' são extra-large, a acompanhar as cañas. Mas creio que é tudo. Caraças, pode uma dose de boquerones bem servida servir de desempate ou escolha quanto a um bairro? Naaaaa... Erros meus, má fortuna, etc.

Adiante. Amanhã tenho que preparar um jantar português (porque insistem em pedir-me estas coisas? Eu, que nem cozinho assim tão bem...) e para tal tive que me ir abastecer de víveres e outros que tais. O problema é SÓ este: esta malta bebe cum'ó camandro e eu preciso de espaço livre no congelador, sobretudo para gelo. Mas espaço é coisa que não há. Não há espaço livre por uma razão muito simples: desde que fui morar para o Zaidin, o frigorífico e respectivo congelador albergam toda uma família de esquimós e toda uma colónia de pinguins. Se abrir a porta do congelador e olhar bem lá para dentro, lá os vejo, todos contentes, nas suas tarefas mundanas: a pescar peixe, a tomar os seus banhos... Observo os mergulhos, reparo nas fogueiras onde assam o peixe... Assim não pode ser! Afinal quem é que manda aqui? Já falei a bem, já falei a mal, fiz ultimatums vários: Nada... E as rendas que me devem? Pois é! Olha, é hoje! Mostra-lhes lá que és descendente daquele lusitano maldiposto - o Viriato - e que tens séculos e séculos de resistência a Castela. Sim, mostra-lhes que és uma portuguesa!

De faca em riste, dirijo-me ao refrigerador e começo a apunhalar a parte superior, dando início à árdua tarefa de desincrustrar as camadas neolíticas de gelo. Pumba, pumba, pumba, até que... pfffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff...

[Pffffffffffffffff (penso - e ouço- eu)? Ó c'um caraças, queres ver que isto deu barraca? O que aconteceu? SERÁ QUE MATEI O FRIGORÍFICO?! Ah pois quer-me parecer que sim! Só ouço pffffffffffffs por todos os lados... Ai, ai, ai, e agora? Ponho o ouvido perto do buraco e descubro a malfadada origem do pfffffffff. Coloco o dedo indicador no sítio por onde se escapa o fréon e o ruído cessa. E agora, camandro? Não posso continuar assim e aqui, o dedo congela e depois? Já sei, vou comprar uma cena de silicone ali a uma loja que conheço a ver se serve de remendo. Saio de casa e abasteço-me do dito. Coloco uma porção generosa de silicone no identificado buraco. Estou quase a suspirar de alívio (já para não falar em transpirar), quando começo a ouvir: pfffffffffffffffffffffffffffffffff... Novamente...
[continua]

Questão: o que acham os leitores que aconteceu?

08 março 2007

História de uma tragédia mansa

Sou ouvinte assídua do programa 'História Devida', na Antena1. Ouçam a história de uma tragédia mansa ou crónica de um desempregado, por Mário Costa, lida por David Fonseca.
Ouvir mais aqui.

Inquietação

Mais uma vez JP Simões, interpretando o tema de José Mário Branco 'Inquietação', encontrado aqui.

No ano em que ambos fazemos 37 anos, esperemos que 'mais vivos que mortos', tal como JMB em FMI, apesar das nossas sempiternas inquietações. "Porquê não sei, porquê não sei, porquê não sei ainda... (é que há sempre qualquer coisa a acontecer...)".

Bom dia



Para as minhas queridas múltiplas e leitores, rios de amor!

(Rivers of love, Lisa Ekdhal)

07 março 2007

Actualizações

Aumentei o número de artistas todos portugueses. Para a/o anónima/o fã do João Cardoso e mais uns pós.

06 março 2007

jogo aberto

Abriu um Spa aqui perto da minha casa. Inscrevi-me para um tratamento corporal completo. Antes que o verão chegue, claro. Não há photoshop na praia, é uma pena.

05 março 2007

Redundância (II)


Foi-me oferecida esta linda flor, em água gelada.
Devolvo o gesto, redundantemente. Outra vez.
:)

Lições do abismo*

Saio de casa e bato a porta com força, muita força. Só espero que aquele sacana ouça o bater da porta. Preciso de espairecer depois da noite de ontem. Desço a rua em passo estugado, os braços a balançarem e a empurrarem o resto do corpo. Respira, controla-te, o ar vai-te fazer bem. Lembra-te daquela respiração das grávidas que ensaiavas com a tua irmã. Continuo a descer a rampa e…

- Ó bacana! Vfiuuuuu, vfiuuuuuuuuu…

[Olho em todas as direcções à procura do grito e dos assobios. Que porra, estou a ver cada vez pior, de facto não vejo um corno, tenho mas é que me concentrar no som. Mas de onde é que ele vem? Olho e volto a olhar e volto a olhar…]

- Ó chavala! Aqui, pá! Não me ‘tás a ver? Ouve lá, trouxeste o que te pedi no outro dia?

[Eeeeeeeeeeh. Não posso acreditar, o Gustavo, era o que mais me faltava…Seja. Avanço na sua direcção]

- Então Gustavo, tudo bem? ‘Tá-se? Epá, desculpa lá, mas ando aí com uns desatinos com um mitra de um vizinho que me tem dado cabo da paciência e ainda não tive tempo para nada, nem sequer para tratar das minhas cenas… ‘Tou mesmo fodida… Desculpa, mas ainda não te pude desenrascar, estou em falta contigo…

- Ouve lá, mas quem é o bacano que te anda a melgar? Queres que vá lá dar-lhe uns aplicativos? Hum? Quem é o caramelo? Diz lá, que eu vou lá com uns chavalos e tratamos da saúde ao gajo…

- Caga nisso Gustavo, eu sou da paz. Não quero cá mais confusões, já sou crescidinha e desenrasco-me sozinha. E para inferno têm-me bastado estes últimos dias. Aliás, tu já deves saber da cena com o meu ‘sócio’…

- Pois é, miúda, tu metes-te em cada uma… ‘Dasse…

- Diz o roto ao nu! Olha, caga nisso…

[Reparo então no braço dele, que vai esfregando vigorosamente, um risco de sangue vai percorrendo o antebraço, ao mesmo tempo que as pálpebras vão cedendo à lei da gravidade]

- Gustavo, foda-se, o que é que combinámos, porra? Que merda é essa aí no teu braço? Ó caralho, vou ter que chamar o 112! Olha o teu estado, meu!

[Gustavo levanta os olhos, de um verde líquido e translúcido e sorri]

- Epá, acabei de dar uma ‘mista’, sabes como é, o vício é como uma amante: leva-nos a puta do tempo, do dinheiro e da saúde…

- Ia, muito bem visto! Ao ponto de empenhares a tua vida, a tua família – e aqui nem sequer estou a falar dos teus pais – estou a falar da tua mulher e das tuas 2 filhas pequenas, da puta de toda a merda de oportunidades que tens tido e deitas fora? Foda-se, também eu começo a perder a paciência… Ouve lá, estás branco! Onde é que fizeste essa merda? Partilhaste a ‘bomba’ com alguém? O que é que meteste?

- Caga nisso, chavala… Foi só meia de cavalo e meia de branca, ‘tá-se… Foi ali com o F. mas o gajo disse-me que estava ‘limpo’. Aquela merda ardeu na carica para os dois e pronto…

- SÓ?! Porra que não sei como é que estás vivo. Desculpa a franqueza… Essa merda levava qualquer outro ao tapete. Se ainda te aguentas em pé, tens mas é que ver essa merda como um sinal… Porra, nem que seja pelas tuas filhas, pensa nelas…

- Ia, elas são lindas, penso nelas todos os dias e choro, choro com saudades dela e da minha mangolé… São tão lindas, tenho tantas saudades delas… Mas a porra deste vício é mais forte do que o meu amor… [Pausa] Miúda, tu és uma bacana, gramo de ti, sabias? Esta merda do cavalo e da branca é que tiram a pica toda, senão… De qualquer maneira, sabes que não deixava que ninguém te fizesse mal, não sabes? Vem-me cá contar mais cenas dessas que eu digo-te…

- Gustavo, anda ali limpar essa cena, olha o hematoma que tens, ainda te entopes todo e aí é que já não vês ninguém, nem sequer a mim... E aí é que não te posso desenrascar de todo.

[Numa casa-de-banho, faço o curativo possível]

- Agora vai dormir. Já estás com a broa, q.b. Amanhã falamos. Venho aqui ter contigo à mesma hora.
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Epílogo - No dia a seguir encontrei-me com o Gustavo – nome fictício - e desenrasquei-o, tal como estava combinado. Nunca mais o vi. Penso nele muitas vezes. Uma vez tive este sonho: tinha entrado num num programa de recuperação e tinha-se safado. Resgatou a confiança da família e voltou a viver com a mulher e com as duas filhas, que entretanto voltaram de África. Gustavo trabalha para uma associação que lida com seropositivos e toxicodependentes. Somos amigos até hoje. Ainda me chama ‘miúda’ (embora já não queira prestar contas com todos os que se atravessam no meu caminho).
Era isto que eu queria que tivesse acontecido ao Gustavo.
*De uma frase de Jules Verne, parfois il faut prendre des lessons d'abîme.

Imortalidade

Não gosto de ver debaixo do nome de alguém data-tracinho-vazio entre parêntesis; parece que o tipógrafo está à espera que a pessoa entregue a alma ao criador para preencher, finalmente, o espaço em branco.
Há algumas pessoas que nunca vão ter esse buraco cheio. Como este texto o demonstra.

02 março 2007

E se o Che Guevara fosse feio?

As feias que me desculpem, mas a beleza é fundamental, dizia o Vinicius. Uma frase cheia de machismo, apenas porque dita por um homem sobre as mulheres. No entanto, é uma frase independente de género.

Por muito que não se queira, a beleza é um factor muito importante na aproximação dos outros. A beleza é muito poderosa. Pode fazer toda a diferença na mitificação de pessoas, seja na vida privada ou pública.
Che Guevara ficou para sempre um ícone não apenas pelo que fez, mas quase tudo pela sua imagem. A famosa fotografia que, de tão estampada em t-shirts, já não se pode ver. A bóina, o charuto, a farda. A fotografia do seu corpo morto, a lembrar o cristo de Mantegna, lindo até inanimado, o cordeiro de Deus da revolução. E se ele fosse feio, teria ficado alguma coisa desses tempos de Cuba, para além da eternidade castrense?
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Um tio meu ouviu numa livraria duas raparigas a conversarem: "vou comprar este livro" "achas que é bom?" "não sei, mas o escritor é lindo".
Por acaso, o escritor é mesmo muito bom; não sei é se alguma delas chegou a perceber isso.
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O meu ex-namorado, que parecia ter sido esculpido por Miguel Ângelo, ia aos arames quando lhe dizia deliciada "és tão bonito"; respondia sempre "sou só isso?". Pois claro que não, mas ajudava.
Lembro-me de ler que o Marlon Brando ficou feliz quando partiu o nariz. "Agora vão deixar de me achar perfeito e ouvir o que eu tenho para dizer". Continuou a ser um sex symbol, e ninguém deixou de lhe dar valor por isso.
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Tenho amigas intelectuais para quem a beleza é uma coisa superficial, cuja apreciação deve ser reprimida e de evitar em categorizações. Os giros são aqueles com cabeças que nos interessam, as carinhas larocas e os corpos danone são para as tontas que não têm mais nada com que se preocupar. Levei durante anos olhares de desdém pelas minhas apreciações estéticas dos homens, e bocas foleiras de cada vez que aparecia um homem bonito na sala "estava-se mesmo a ver que lhe ias achar graça", como se fosse um vírus para o qual elas eram imunes.
Foi por isso que recebi com grande alegria um telefonema de uma dessa mulheres, ao descobrir o prazer estético-lúdico-sensual na apreciação de homens com corpos harmoniosos e caras agradáveis, numa época em que esteve muito perto (sortuda) de vários espécimes atraentes. "Percebo-te". Não há nada como o empirismo.

Inversão

Para onde vão os vivos depois de morrermos?

01 março 2007

Cantam (algumas d)as nossas almas

Com um dia de atraso, mas cá vai: parabéns ao glorioso!!! 103 anos a aquecer corações.

E que melhor presente que comprar um cativo para ir à catedral?