31 janeiro 2009

Zezito

A fábrica fecha, como tantas outras e, ao que parece, muitos zezitos estão (desculpem-me o português) à rasca.

O fim

Habituada que estou a lidar com crianças que recebo em casa e que me recebem a mim na sala de aula, lá fui integrando a custo o epiteto de "tia" em posição de pronome. Mas, minha amiga múltipla, o fim, percebi-o perto quando, em vez disso, certo dia ouvi um "avó". Daí para cá decidi-me a apostar nos cremes, pílulas, ampolas, tudo o que possa atenuar as marcas que teimam em acentuar-se. E o elixir da eterna juventude que não aparece...

O princípio do fim

Ontem aconteceu.

(chegam dois adolescentes: um sobrinho e um amigo do sobrinho)

o primeiro
- Olá tia.
- Olá F.

o segundo: olha para mim, eu sorrio e é então que ouço..
- Olá tia, está boa?
(FREEZE)
- Podes tratar-me por tu e por M.

Fui-me embora derrotada. E foi assim que levei com o meu primeiro 'olá tia' não-consanguíneo.

Toma lá vai buscar.

Não há fogo sem fumo

Sim, bem sei que a ordem do ditado está invertida mas sempre fui especialista em não acertar num único provérbio da mesma forma como não fixo uma única anedota.
Há uns longíquos anos, confesso que sob efeito de substância psicotrópica levíssima, eu e outra oitoecoisa dissertámos horas a fio acerca da veracidade do dito popular, fosse ele dito de trás para a frente ou da frente para trás. Concluímos de forma lapalissiana que a existência de um (fumo ou fogo) implica sempre a existência do outro (fogo ou fumo, respectivamente).
Ora desculpe-me lá o senhor Sócrates mais o seu tio, primo, mãe, sócios e coisa e tal, mas no caso badaladíssimo do "fripor", cheira-me a esturro, odor que só se sente, como é sabido, se alguma combustão tiver ocorrido ou seja, se tiver havido fogo.
Mas até prova em contrário, claro que se presume a inocência de todos...

Ainda o tempo...



Esta manhã pudemos avistar uns raizitos de sol, bastantes para recarregar algumas baterias que nos ajudem a suportar as agruras de viver esta época de crise. Gracias! Foi de pouca dura mas todo o pouco é muito.




30 janeiro 2009

Notícias do mundo lá fora

Uma estudante americana de 22 anos resolveu vender a sua virgindade. Depois de ter terminado uma licenciatura em Estudos sobre Mulheres, e enquanto aguarda a entrada num mestrado em terapia Familiar e Conjugal, Natalie Dylan decidiu leiloar a sua virgindade no Moonlite Bunny Ranch.
Neste momento, a oferta mais alta é de 3,8 milhões de dólares.
Natalie justifica esta iniciativa como a inversão dos mecanismos que têm subjugado as mulheres. Nas suas palavras: "It became apparent to me that idealized virginity is just a tool to keep women in their place. But then I realized something else: if virginity is considered that valuable, what's to stop me from benefiting from that? It is mine, after all. And the value of my chastity is one level on which men cannot compete with me. I decided to flip the equation, and turn my virginity into something that allows me to gain power and opportunity from men. I took the ancient notion that a woman's virginity is priceless and used it as a vehicle for capitalism."
3,8 milhões de dólares.
Nada se perde, tudo se transforma.

Desafio fio fio

Mais uma corrida, mais uma viagem.
Novo desafio às meninas da casa, inspirado nas caixas de comentários de ontem: pedem-se postas sobre as tias psicopatas.
As postas serão publicadas no próximo dia 5 de Fevereiro. Nos labels deverão escrever "as tias psicopatas".
Vamos nessa, vanessa?

29 janeiro 2009

Diário de demência

Às vezes custa-me lembrar-te. A distância que me impuseste torna-te numa memória longínqua cada vez mais difícil de avivar. Como se na verdade nunca tivesses existido, como se fosse sido eu a inventar-te num rasgo de egoísmo de quem molda um amor à sua medida.
A tua falta mói-me. Em dias iguais a tantos outros, em dias bons em que tudo parece ser estranhamente fácil, em dias maus em que tudo parece ser estranhamente difícil ou em dias piores em que tudo parece horrivelmente insuportável. Em todos os dias, não interessa qual, tu estás lá. Na imagem que assalta a película dos meus olhos no primeiro abrir da manhã, na comichão impertinente atrás da orelha, nas pessoas desconhecidas que me cruzam na rua, nos comboios que corro para apanhar, nas gotas de água que caem do chuveiro, por baixo da minha almofada quando adormeço. És sempre tu, em tudo. És esse fantasma que construí à falta de mais com que te pintar. Pinto-te com pedaços soltos de mim, aqui e ali. Mas já não és tu, já não sei quem és. E a falta encoberta que marcas nos meus dias é falsa, é demente. Custa-me até lembrar-me da tua cara, dos teus olhos húmidos que diziam que me amavam enquanto crescias dentro de mim, dos teus bons dias ou da tua voz. Tudo parece um delírio, uma alucinação de noites de álcool a mais na conta. Na verdade tu nunca exististe. Não te posso cobrar o tempo que não me deste porque tu és mentira e eu sou demência.

assim está a minha vida

Surpresa

Levei anos sem perceber como é que as pessoas se mantinham em relações em que o sexo é assim assim, quando calha. Afinal é facílimo.

sobre as últimas

Ora bem, deixem lá ver:
Um projecto é chumbado duas vezes. À terceira, leva dois meses a ser apreciado e é aprovado. Governo de gestão? É verdade, mas o processo remonta ao ano 2000. Por um lado, toda a gente se queixa da demora burocrática. Por outro, "eh pá, foi rápido demais, está-se mesmo a ver"!
Não sou fã do Socas, mas tenho alguma experiência com processos deste tipo. Já chateei quem pude a dizer que "todas as deficiências tinham sido todas supridas e que, como tal, não há razão nenhuma para que o processo demore mais de uma semana a ser reanalisado pelos técnicos". E tentei marcar todas as reuniões que podia com toda a gente que podia. E vou atrás e telefono, mando mails que não têm resposta, escrevo cartas que ficam perdidas nas entradas e que, num dia longínquo, serão juntas ao processo e massacro a paciência dos senhores funcionários e dos senhores assessores. Nunca paguei a ninguém nem recebi mais do que o meu ordenado.
E faço-o como o faz toda a gente que tem assuntos para resolver com a Administração Pública. Seja a certidão da secretaria, seja a guia de pagamento, seja a marcação da escritura, seja qualquer coisa que precise de mais do que um balcão de atendimento e, vá, mais do que 5 horas na loja do cidadão.
Dito isto, investigue-se. Mas acalmem-se!

Erros

"Murder is always a mistake... One should never do anything that one cannot talk about after dinner."
Oscar Wilde

26 janeiro 2009

Somos muitos muitos mil

a trabalhar com recibos verdes, a engrossar o precariado silencioso que cresce todos os dias. Aqui podem assinar a petição Há... mas são verdes!, contra esta injustiça em que tantos vivemos há demasiado tempo.

O que é isto?

Uma pessoa aterra no blogger e descobre que tem 'seguidores'.
Arrepio.
Seguidores de quê?

24 janeiro 2009

Isto não é um post

Ideias para um post:

- O tio de Sócrates e a conferência de imprensa (nem pensar que a política é só palhaços)
- Obama (já dei para o assunto)
- O mar hoje de manhã na praia das maçãs (estou sempre a falar do mar)
- António Mega Ferreira mais 3 anos no CCB (trabalho no fds? no way)
- As camélias do meu jardim (demasiado bucólico)
- Fotografar as camélias do meu jardim (não me apetece)
- Post sobre tarefas domésticas (ter que fazê-las e ainda por cima escrever sobre elas?)
- As dores malvadas nas costas (naaaaa... chega de hipocondria)
- A azia existencial (não tenho tido)
- A solidão nos campos de algodão (mais que uma hipótese, é uma rima)

Está bonito isto. Pode ser que a imaginação tenha hibernado. É esperar que a chuva passe.

22 janeiro 2009

Israel e Palestina

conversa de vão de escada

Diz-me a minha vizinha, de seu nome Paquita, com aquela capacidade admirável de jorrar palavras e contar as suas coisas: sabe menina eu tenho 63 anos nunca fui à escola por causa da guerra e depois tive que ajudar a minha mãe a criar os meus irmãos mas eu gosto muito de ler, sobre o egipto, romances, e sobre medicina, isso é aquilo que eu mais gosto, às vezes as minhas amigas viram-se para mim e dizem, ai eu fui operada aos ovários e agora nunca mais posso ter um orgasmo e eu digo-lhes logo, mas vocês em que têm a cabeça, não conhecem o vosso corpo, não sabem que têm um clitoris? é só isso que precisam, e quanto ao surto de tuberculose a menina não se preocupe....

29 - ontem dei por mim a pensar nisto

A Grande Depressão foi em 1929. Em 2009, a crise já se ameaça transformar em depressão. Aos 29 anos, entrei em crise. Será uma cabala da numerologia?

21 janeiro 2009

Que não leve o vento

tão belas palavras:
...Porque nós sabemos que a nossa herança de diversidade é uma força, não uma fraqueza. Nós somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus – e não crentes. Somos moldados por todas as línguas e culturas, vindas de todos os cantos desta Terra; e porque provámos o líquido amargo da guerra civil e da segregação, e emergimos desse capítulo sombrio mais fortes e mais unidos, não podemos deixar de acreditar que velhos ódios um dia passarão; que as linhas da tribo em breve se dissolverão; que à medida que o mundo se torna mais pequeno, a nossa humanidade comum deve revelar-se...

o discurso completo de Obama em português, neste link

Inauguration day 2009


Tenho-me encontrado com muita gente que desdenha a importância deste momento, alegando: eu sou uma céptica, mas não acredito que ele possa fazer grande coisa de diferente... Ao contrário dessas pessoas cépticas, que talvez no fundo sejam demasiado idealistas quando acreditam nas revoluções completamente transformadoras, sinto-me cada vez mais uma idealista pragmática.

Ontem às 17.30 estava eu pespegada em frente à televisão, não quis perder as imagens em directo desse novo dia que ontem foi inaugurado. Vibrei com a quantidade de gente que tomou as ruas e que acredita que pode ter um futuro diferente, que pode incidir e dizer um redondo não ou um sonoro sim às medidas que tomam as pessoas que dirigem o seu país. O discurso de Obama foi realista, pragmático, falou dos momentos graves que atravessam o seu país e o mundo, falou de esperança, de igualdade, dos valores que não nos devemos esquecer que queremos e pelos quais temos de lutar dia a dia nas nossas vidas.

Para mim este é um momento histórico, um momento de esperança e de alegria por ver que colectivamente podemos fazer qualquer coisa para mudar os nossos destinos. Só o facto de uma pessoa com a sua história e a cor da sua pele ter chegado à presidência dos EUA e o seu discurso igualitário, já marca uma diferença em relação ao anterior governo do seu país. E acredito que, com todas as dificuldades que vai encontrar, vai continuar a dar o seu melhor. Não vai mudar o mundo, mas pode mudar o rumo do capitalismo selvagem e das discriminações a que quase nos habituámos. Vai ter imensos erros, talvez escândalos, obstáculos. Para além da sua natureza humana que inevitavelmente o vai fazer errar algumas vezes, imagino também que a nem toda a gente agrade esta vitória e que algumas pessoas com muito poder, que só conseguem pensar nos seus interesses pessoais e ignorar que existe o bem comum, vão fazer o possível por continuar a tecer a teia que aprisiona a liberdade, a fraternidade e a igualdade.
Mas além disso, não foi só o Obama quem ontem tomou posse, quem ontem assumiu a responsabilidade de fazer o que estiver ao seu alcance para governar com justiça. Ontem tomaram posse todas as pessoas que estavam nas ruas ou em frente à televisão, nos EUA ou noutros lugares do mundo, que manifestaram o seu compromisso com as mudanças que o seu mundo vai passar, já está a passar.

Obama

Queira Deus (aquele do So help me God com a mão em cima da bíblia) que atrás da grande expectativa não venha a grande desilusão.

20 janeiro 2009

la magie du rêve

Haverá por aí algum leitor ou leitora especialista em interpretação de sonhos? é que ando aqui a dar voltas a um sonho que tive outro dia e não sei que interpretação dar-lhe:

sonhei que tinha feito a depilação das virilhas e que em vez daqueles papelinhos para tirar a cera, tinha usado um tapete da banheira (aqueles que têm ventosas por baixo) e cada poro meu ficou com a forma de uma dessas ventosas e comecei a espremê-los, e de cada um saía um pêlo preto, grosso, enorme e uma bola de puz gigantesca.

Será grave?

recado

- vai dizer à tua mãe que estão a apresentar um filme sobre george bush, de oliver stone.
- mami, um filme dadoduxbobibertone
- obrigada filha, diz que já vou

Sobre "a" tomada de posse

Ninguém vai refilar com a missa, com o juramento em cima da bíblia ou com a benção final?

O tempo é nosso amigo



O tempo é o melhor tema de conversa do mundo. A chuva, o sol, o calor, o frio ou a trovoada podem salvar viagens de elevador, minutos em salas de espera, almoços entediantes, visitas a tias velhas, conversas sobre coisa nenhuma.


Por falar nisso, já repararam na carga de água que está lá fora?

porque mais ninguém trabalha nesta casa

Tenho de ser eu a pôr aqui qualquer coisa, não é?

17 janeiro 2009

Poema

para um sábado de manhã


"Contaram-me que em Nova Iorque,
na esquina da rua vinte e seis com a Broadway,
nos meses de Inverno,
há um homem todas as noites
que, suplicando aos transeuntes,
procura um refúgio para os desamparados que ali se reúnem.
Não é assim que se muda o mundo,
as relações entre os seres humanos não se tornam melhores.
Não é este o modo de encurtar a era da exploração.
No entanto, alguns seres humanos têm cama por uma noite.
Durante toda uma noite estão resguardados do vento
e a neve que lhes estava destinada cai na rua.
Não abandones o livro que to diz, Homem.
Alguns seres humanos têm cama por uma noite,
durante toda uma noite estão resguardados do vento
e a neve que lhes estava destinada cai na rua.
Mas não é assim que se muda o mundo,
as relações entre os seres humanos não se tornam melhores.
Não é este o modo de encurtar a era da exploração."



de Bertolt Brecht, marxista e leitor da Biblia, lido aqui num interessante artigo "a maior riqueza:semelhantes", de Anselmo Borges, Padre e professor de Filosofia.

Música

para uma sexta-feira à noite, Bomba Stereo, banda colombiana de música electrónica (acho eu, que me confundem os estilos musicais...).



16 janeiro 2009

sinais dos tempos

Quem está de luto arrisca-se a ser tomado por gótico.

falsos mitos

Com essa grande rubrica chamada "Ausonia conta-te" (estava a tentar encontar qualquer link explicativo e encontrei este que faz as vezes) aprendi, por exemplo, que nos EUA existe um museu do período. Ou que o falso mito n.º 9 é "não se deve preparar maionese pois existe o risco de ela talhar". Pensando bem, na verdade isto nem é tão falso como isso porque parte de uma premissa que é, ela própria, um mito: fazer maionese!

Ora vejam lá

Faz já parte das minhas leituras quase diárias. O blogue de um homem que se apresenta como casado, pai de filha e monogâmico mas não desmemoriado, e que ali escreve um diário de um bordo de uma vida sexual. Verdade ou não (o que importa isso, afinal?), é um dos blogues mais bem escritos que tenho encontrado nos últimos tempos.

15 janeiro 2009

Como escolher o nome de uma banda

“— Como é que vocês se chamam? — perguntou o Simon, da soleira da porta, na esperança de que o convidássemos a juntar-se a nós.
— Ainda não nos decidimos por nenhum nome — respondeu o Jim. — Tens alguma sugestão?
Na minha mente, dispararam campainhas de alarme. “Oh, não”, pensei, encaminhamo-nos outra vez para o debate: a eterna discussão sobre “o que havemos de chamar à nossa banda?”. É uma daquelas conversas arriscadas e armadilhadas em que nunca, mas mesmo nunca, nos devemos envolver. Porque, uma vez que nos aventurámos nela, não temos saída possível. As palavras fatais “O que havemos de chamar à nossa banda?”, quando pronunciadas por esta ordem, na verdade constituem um feitiço incrível, capaz de dar sumiço a uma tarde inteira.
— Oh, vá lá — insisti eu —, vamos lá a gravar a cassete. Mal começamos a falar sobre nomes de bandas, já não conseguimos fazer seja o que for.
Houve um sinal de assentimento geral e um acatamento responsável da minha sugestão, até que o Jim, que estava a escrever a etiqueta para a DTA, se intrometeu: — Está bem, mas então o que é que pomos entretanto na etiqueta?
— Bem , eu ainda gosto bastante dos Exaustores.
— Os Exaustores? Não, soa demasiado punk. Como os Stranglers ou os Vibrators.
— Ah, ah, ah — ri-me eu. — Nem pensar. Não vamos voltar a passar por isto. Põe só os nossos apelidos, até ver. Adams and Oates.
— Parece Hall and Oates — observou o Paul, que deambulara até ali a fingir que não se sentia fascinado pelo processo de gravação do nosso primeiro single. — As pessoas vão pensar, “Oh, uau! O Oates separou-se do Hall e arranjou um novo parceiro”, e então vão perceber que se trata de um Oates diferente e atirar a cassete para o lixo.
— Está bem, então os nossos nomes próprios: Michael and Jimmy.
— Assim parece que são dois dos Osmonds.
— Parem, parem já. Estamos a começar aquela conversa outra vez.
Todos concordaram, e eu liguei o equipamento e a guitarra do Jim à corrente. Fez-se um silêncio momentâneo enquanto o equipamento estava a aquecer e, como uma reflexão tardia, acrescentei: — Põe só banda sem nome até ver. — No preciso momento em que acabei de dizer isto, percebi que tinha sido um erro. Fechei os olhos numa expectativa exausta.
— Banda Sem Nome. Agrada-me bastante — opinou o Jim. Houve um murmúrio de concordância em redor do quarto, e eu tentei não dizer nada. Mas foi-me impossível.
— Não. O que eu quero dizer com “banda sem nome” é que a nossa banda ainda não tem nome, não uma cassete dum novo grupo chamado Banda Sem Nome.
— Banda Sem Nome. Soa bem, não acham?
— Acho. Fica no ouvido, não é?
— Tinha de cortar o mal pela raiz. — Lamento muito, mas de certeza não nos vamos chamar Banda Sem Nome. É o pior nome que alguma vez já ouvi.
O Simon tinha um ainda pior.
— E que tal Banda de Apoio?
Ouviu-se um grunhido emitido por mim e pelo Jim que, na qualidade de músicos experimentados, já sabíamos que todas as bandas do mundo tinham, num ou noutro momento, considerado que era incrivelmente excêntrico chamar-se Banda de Apoio.
O entusiasmo do Simon mantinha-se irresoluto. — Porque, estão a ver, sempre que virmos um cartaz para um concerto, já lá têm o vosso nome. Podiam chegar ao pé dos organizadores e dizer: “Somos a Banda de Apoio”. Estão a ver, já têm o nome no cartaz!
— Pois, e quando forem famosos, os cartazes vão dizer Banda de Apoio mais banda de apoio — interveio o Paul —, e vão ter de tocar a dobrar. — Desatou a rir-se.
Enquanto este debate era travado, eu e o Jim meneávamos a cabeça como dois sábios de provecta idade.
— Pois, e se arranjarmos um clube de fãs qualquer? — intrometeu-se o Jim. — Eles vêem “Banda de Apoio” no cartaz e vão assistir ao nosso espectáculo, e é então que descobrem que nós não apenas parecermos ter mudado todas as músicas, mas também que todos os antigos membros da banda se foram embora. Ou isso, ou vêem o nosso nome no cartaz e presumem que não se trata dos Banda de Apoio, mas de outra banda de apoio qualquer. Não deve haver nome pior para uma banda em toda a história da música rock.
— À excepção de Cabeça de Nabiça — sugeri eu.
— Ah, claro. À excepção de Cabeça de Nabiça.
Penso que foi nesse momento que eu me apercebi de que já estávamos embrenhados na conversa sem fuga possível. Fora incapaz de a evitar. Tal como uma das fadas-madrinhas na Bela Adormecida, tinha gritado e advertido em vão enquanto eles caminhavam em estado de transe até à agulha.
— Dar nomes às bandas é fácil — disse o Jim, apesar de todas as provas em contrário. — Lê aí qualquer coisa do jornal.
— Os comissários da União Europeia reiteram exigências de investigação do GATT.
— Hum, entra logo no ouvido.
— Escolhe uma frase.
— O Feudo dos Motociclistas Nórdicos.
— A mim, agrada-me.
— Parece o nome dum bando medonho de heavy-metal. Como Viking Blitzkrieg ou Titan’s Anvil.
— Os Beatles — declarou o Simon jovialmente.
— O quê? — exclamámos os restantes cheios de incredulidade.
— Então, vocês disseram para ler coisas do jornal. Está aqui um artigo sobre os Beatles.
— Porque é que não se chamam Aardvark? Assim, terão a primeira entrada no Book of Rock do New Musical Express — sugeriu o professor de Inglês.
— Ou A1 — ripostou Simon —, só para jogar pelo seguro.
— A1? As pessoas vão passar a vida a ligar para cá a pedirem táxis.
— E que tal Teste Final?
— Oh meu Deus, isso não — protestei eu. — Faz-me lembrar aquela banda da treta, os Teste da Verdade, que nós costumávamos secundar em Godalming. Ainda têm com eles o maldito do meu suporte de microfone.
Em seguida, a conversa passou, como de costume, à próxima fase: a sequência de fogo rápido e contínuo, em que eram apresentados e rejeitados em tempo recorde centenas de nomes.
— O Aroma do Vermelho.
— Não.
— Guarda Republicana de Elite.
— Não.
— Maior que Jesus.
— Não.
— Charlie não Surfa.
— Não.
— Vem Dançar.
— O Amigo Hímen e as Penetrações.
— Não, Simon.
— Mortos à Chegada.
— Não.
— Quem é Billy Shears?
— Não.
— Caídos aos bocados.
— Não.
— Perigo: Pode Conter Malucos.
— Não.
— Deixem os Peixes Nadar.
— Não.
— Os Detritos Gémeos.
— Não.
— Passarão.
— Não.
— O Homem Cuja Cabeça Dilatou.
— Não.
— Os Bastardos Belgas Balofos.
— Não.
— O Som da Música.
— Não.
— Geminados.
— Não.
— Olha a Ravina.
— Não.
— Os Restos.
— Não.
— Os Ácaros dos Tapetes.
— Não.
— Presos Acorrentados.
— Não.
— Aiatola e os xiitas.
— Não.
— Carrinhos de Bebé Armadilhados.
— Não.
— Vinte e Quatro Minutos Desde Tulse Hill.
— Não.
— Au!
— Não.
— Não, quero dizer, Au! Acabei de espetar uma farpa desta cadeira.
Passado um bocado, o cérebro fica entorpecido por andar continuamente à procura de uma combinação original de duas ou três palavras, e, devido à fadiga mental, acabamos por só ser capazes de produzir sons ininteligíveis. — Os blu-blu-blá-blás.
— E que tal uma coisa do género monárquico?
— Já foram todos usados. Já existiram os Queen, os King, o Prince, as Princess. Só nos resta a Duquesa de Kent. Não podemos dar à nossa banda o nome duma miúda chique, que só se pode gabar de ser famosa porque arranja bilhetes de graça para Wimbledon.
— Já sei — exclamou o Simon entusiasmado, criando-nos expectativas injustificadas. — E que tal Hein?
— Hein?
— Não, não é Hein? Não é Hein com um ponto de interrogação. É Hein! Com um ponto de exclamação. Estão a ver, como os Wham! Tipo para chamar a atenção.
Na verdade, ninguém se deu ao trabalho de rejeitar esta ideia, era uma sugestão demasiado medíocre para merecer qualquer comentário. Em vez disso, ignorámo-la até ao esquecimento, e o Simon ficou bastante magoado quando percebeu que todos continuáramos a apresentar outras sugestões sem sequer nos darmos à maçada de reconhecer a dele. Durante cerca duma hora, foi lançado um número infindável de sugestões, como discos de argila a um alvo, e em seguida despedaçados em estilhaços por um de nós. Rejeitámos Os Mísseis, Vai Prá Cadeia, Rocktober e, como seria de esperar, Santa Joana e A Conspiração do Ataque de Caspa. Até que, com o tom grave e sério de quem sabe que finalmente encontrou a resposta certa, o Jim disse: — Lust for Life.
— Lust for Life — reiterei eu em profunda contemplação.
— É uma faixa do Iggy Pop — lembrou o Paul.
— E um filme sobre Van Gogh.
— Eu sei.
O Paul apenas colocara pomposamente estas objecções para receber a decepção de ficar a saber que, afinal, não eram objecções. Repetimos o nome mais algumas vezes e decidimos que ficava Lust for Life. Levara-nos duas horas e meia, mas finalmente podíamos trabalhar um bocado. Liguei o microfone e adoptei a persona de apresentador do Hollywood Bowl.
— Minhas senhoras e meus senhores, esta noite apresentamos o primeiro concerto da digressão norte-americana, já esgotada... estão em primeiro em todas as tabelas de venda do mundo... vindos expressamente de Balham, Inglaterra, eis os Lust for Life.
O Jim e o Simon aplaudiram e assobiaram, e em seguida o Simon levantou o isqueiro aceso no ar. O Paul adoptou uma atitude de altivez indiferente, limitando-se a ficar por ali a ler a Time Out.
— Alguém tem vontade de ir a um concerto amanhã à noite? — perguntou ele de forma algo enigmática.
— Porquê, quem é que vai tocar?
— Estava a pensar em ir ao Half Moon, em Putney. — Abanou o anúncio em frente dos nossos narizes. — Vai tocar uma banda nova chamada Lust for Life.
Fez-se silêncio.
— Maldita corja de plagiadores! — rugiu o Jim. — Gamaram-nos o raio do nome.”


in “O melhor que um homem pode ter”,
John O’Farrell
Editorial Presença

14 janeiro 2009

primeiro o msg

depois o mundo:

"Amigas, eu hoje passei-me e... fui para o messenger!!! Para cúmulo, só a na prise comunicou comigo. Preciso de treinar mas por este andar qualquer dia até já mudo lâmpadas e depois, quem sabe, pneus... bjs e toca a comparecer."(num mail de hoje à tarde)

Há esperança para a infoconfusãonatural...

Palavras sábias... do RAP

"Se pudesse tornava-me uma espécie de "testemunha de jeová" do ateísmo. "
(Ricardo Araújo Pereira dixit)
E contava comigo para transportar a pastinha. Custa-me muito entender que deuses que em tanta circunstância se revelam ao Homem não se irem com tudo o que o que este faz em seu nome. Não creio...

13 janeiro 2009

Desperdício com oito letras

Não suporto reuniões de trabalho. Não há maior inutilidade do que passar três horas a dar a volta ao bilhar grande com conversa de treta para afinal tudo ficar na mesma. No fim, uma mão cheia de minutos que podia ter sido usada a fazer palavras cruzadas. Sempre se treinava a ginástica lexical.

12 janeiro 2009

A importância de um broche

Jack: From where do you know him?

Marion: We have known ourselves for a long time and had something together once. I believe that I blew one for him. Nothing further.

Jack: Somebody one blows is nothing further?

Marion: Nothing further compared with that, what happens in the world otherwise. George Bush, the war in the Iraq, the bird-flu... A Blowjob. is on the other hand.. If one considers...

Jack: Beautiful transition.

Marion: A rather unimportant event, do you not find?

Jack: No, actually not. After all, chance has a Blowjob America on a healthy democracy destroyed!

Two days in Paris

Outro clássico

um tuga pra uma camone
- i lave iu
e ela: do you mean it? (minete, percebeu ele)
e ele: if you broche it

Receita


leve e baixa em calorias, Brochetas de Pollo.

Pronto

Por causa da pregadeira, demos cabo do sitemer.
C'a granda broche.

O broche é um broche

Cortando o clima que para aqui vai, tenho de dizer esta enormidade: um broche é uma peça de joalharia. Pregadeira, alfinete de peito (imagem que, aliás, sempre me arrepiou, esta de ter um alfinete espetado no peito!) ou outras variações em si bemol são apenas tentativas de um falso pudor para evitar a palavra que hoje é mais usada para designar o felácio. Quando alguém diz: “que alfinete tão giro!”, há sempre um certo inuendo, um meio segundo de silêncio transpirado antes do “gostas? é giro, não é?”.

Ainda hoje estou para descobrir porque raio foi feita esta associação de significados. Qual é a relação entre as duas coisas? Nenhuma. Recuso-me a ser refém do “all´s sex” e a não dizer broche. Digo “broche” como quem diz “água”. Entro numa ourivesaria e pergunto "Quanto custa aquele broche de águas marinhas e cristais de rocha que está na montra?”. Estou a tomar chá com respeitáveis octogenárias - com os cabelos brancos, já ralos, levemente colorados de um certo tom de roxo que já nem se deve fabricar - e perguntou “Tia, esse broche era da Avó X?”. Ela responde, com a naturalidade longe do atrevimento dos tempos, “não querida, este fui eu que comprei”. Estou a arranjar-me e as minhas filhas perguntam-me “Mãe, hoje vais pôr este broche?” ou pergunto “Mãe, posso levar este broche?”. Passo tardes de sol com a minha Avó a saquear o cofre e a experimentar colares, anéis e broches, então ainda postos em cima do bibe do colégio e hoje depositados num estojo que envelheceu e se desconjunta na minha gaveta.

Um broche tem sempre uma história. Ao contrário do sexo. Ao pé do coração só se põe o que se gosta muito.

Interrompemos para publicidade

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Ementa



Espera por mim aí. Se prometeres que não olhas eu prometo que aterro em ti com a boca que te vai prender até não conseguires mais do que um suspiro resignado à beira da agonia.

Um clássico

The Brooch experience

- Laidis and géntlemene, senhoras e senhores, bem vindos ao fabuloso, maravilhoso, novíssimo hotel The Brooch Experience! Aqui estamos nesta noite de estreia absoluta desta cadeia mundial de hoteis designados exclusivamente para vosso belo prazer, onde todas as vossas necessidades, fantasias ou meras curiosidades serão satisfeitas a qualquer hora, a todos os minutos, num piscar de olhos! Aqui ao meu lado, esta estonteante beleza cortará a fita que vos levará à nossa tour de ante-estreia programada para esta maravilhosa multidão presente na minha frente e composta por um núcleo de prestigiados jornalistas da imprensa e televisão para onde estamos a transmitir em directo e gente VIP no geral. Aqui deste pódio onde me encontro, posso desde já agradecer a presença da excelentíssima Paula Bobone, que vejo ali de cabeça no ar e caneta na mão, prontinha para tirar as suas notas de desagrado. Antes de partirmos para esta aventura, aqui fico então ao vosso dispor para responder desde já a algumas perguntas. Quem é o primeiro?

- Senhor Brooch, uma das novidades de que se fala, é a deste hotel não ter propriamente quartos temáticos à escolha mas sim ambientes e categorias onde o cliente se pode enquadrar. Quer explicar?
- Pois com certeza, essa será uma das grandes novidades do The Brooch Experience! De facto, o cliente ao chegar aqui define-se imediatamente dentro de uma das categorias disponíveis. A saber, o casal de namorados, os casados à procura de uma noite romântica, os amantes, o caso de uma noite, o que procura satisfazer um fétiche, etc..., depois deste passo, os nossos clientes são de imediato levados para zonas simuladoras de aventura, que podem ser, um elevador, uma cabine telefónica, um cadillac, enfim, são dezenas as hipóteses, devo dizer-lhe que temos uma zona que até simula um cemitério, para aqueles mais dados aos mistérios da vida e da morte. Mais perguntas?
- Sim, senhor Brooch, também se tem andado por aí a falar que existirão zonas de baile, por assim dizer, onde se podem fazer trocas de casais ou mesmo encontrar à disposição mulheres ou homens, conforme o gosto, prontos a satisfazer a clientela com favores...
- Bem, bem, bem, o que por aí vai na boca do povo! De facto, um cliente pode chegar aqui sozinho e desejar uma bela noite de prazer. Há que ter todas as opcções pensadas e em aberto quando se trata de um sítio que pretendemos ser o mais inovador possível.
- Isso é uma maneira muito delicada de tapar o sol com a peneira, no fundo o senhor está a descrever um bordel.
- Mas que obscenidade, senhor jornalista! Eu garanto-lhe que isto nao é nenhum bordel, ou eu não me chame Brooch!

Já a minha avó me dizia

imagem daqui


O broche é uma arte ao alcance de todxs nós, e como tal, vai-se aperfeiçoando. O meu primeiro amor chamava-me a rainha do bobó. É preciso dizer que eu era a sua primeira namorada a sério, ou seja com sexo, e que isso era na altura em que eu tinha os dentes todos e a coisa corria bem, era rara a mordidela ou o roçar entre dois dentes com um buraco no meio. Com os anos a mais e os dentes a menos, passei a ter de aperfeiçoar a arte para dissimular e atenuar estas pequenas e às vezes afiladas contingências, que são, enfim, menos agradáveis nos jogos do amor e do prazer. Aprendi pequenos truques como o copo de água ou de chá de hortelã ao lado ou de quando em quando um halls mentoliptus negro. E com o homem que amo e com quem partilho o corpo e a vida, descobri a importância dos testículos, apêndice ao que durante alguns anos não tinha dado a suficiente atenção. Os testículos, minhas amigas e amigos leitores que se também se dedicam a esta arte (sim, há mais mundo para além dxs retretistas, há umx brochista em cada umx de nós), os testículos, monostículos ou trestículos, são um elemento fundamental na arte do broche. Passar-lhes com a língua suavezinho, várias vezes, cobri-los todos, lambê-los, pô-los na boca, primeiro pouco a pouco depois todos, ao mesmo tempo que se vai acariciando e lambendo também o pénis suave, demoradamente, na horizontal e na vertical, preparar-se para descobrir novas profundezas na garganta e novos prazeres na boca, é de si todo um prazer, que duplica, retriplica ou quintuplica se o visado se delicia e vai aos céus, às estrelas ou ao espaço siderau. A boca é talvez das zona mais erógenas que temos, com ela beijamos, lambemos, chupamos, saboreamos o nosso amor, nos excitamos e sentimos prazer sexual, carnal e até espiritual. Já dizia a minha avó, a tal que era sábia, mamada a mamada, enche a boca o papo.

Redacção


O broche. O broche dá-nos o leite, que em geral não bebo mas que em caso de maior intensidade da fome mundial sabemos que nos dá calorias e que nos pode salvar da inanição, que é antidepressivo, ansiolítico, energético, estimulante do sistema imunológico, além de levar à longevidade. Se calhar, tenho de mudar os meus hábitos alimentares.

Quem vê caras

Estávamos já a meio da noite na discoteca da praia, onde se cruzam três gerações de veraneantes aficcionados à pequena aldeia que continua a resistir ainda e sempre aos invasores (o mau tempo constante e as ondas de 3 metros de altura costumam chegar para afastar os que procuram paz e descanso no mês de Agosto).

Uns amigos dos meus tios vêm contar-me da sua epifania da noite, fermentada em whiskey malte 12 anos. A tua irmã tem uma beleza moderna, vê-se que é uma miúda do seu tempo; mas tu, tu tens uma beleza distinta, intemporal, poder-se-ia imaginar-te em qualquer século com qualquer roupa e estarias sempre bem.

Está a dizer que tenho cara de camafeu?

Fica aflito, não, não é nada disso, estou a dizer que és bonita.

Sim, eu percebi, mas um camafeu daqueles de pôr ao peito, tipo broche, acha que tenho cara de broche?

(silêncio consternado e estupefacção total)

Também não é isso que estou querer dizer, estou a falar daquelas pregadeiras com caras antigas... olhe, quer um golinho do meu gin tónico?

A vida por um broche

Ainda há meia dúzia de dias, durante mais uma silenciosa ceia entrecortada pelo ruído da mastigação, ele lhe tinha perguntado "Nunca mais usaste a pregadeira que te ofereci há anos, aquela cheia de brilhantes azuis. Lembras-te?"

Se se lembra! Ofereceu-lha no exacto momento em que Juliana tinha já tomado a resolução de fazer malas e paritr. Chegou a casa e, sem mais, passou-lhe uma mão por detrás do pescoço, a outra agarrando-lhe firme a cintura. Deu-lhe um beijo, e outro, sussurrou-lhe juras de amor e palavras doces. E ela... presa por um broche pejado de pedrinhas azuis e de brilhantes translúcidos.

Há muito que repousa, o broche, na gaveta da mesa de cabeceira, há tantos anos quantos os que desacreditou na possibilidade de ser verdadeiramente feliz. De então para cá vieram os filhos, em número par, as obrigações, os encargos com os créditos, os gritos "motivados pelo stress e pelo cansaço" ou por qualquer palavra fora de sítio dita por ela ou pelos miúdos, as conversas reiteradas em que o epicentro era sempre um eu que não o dela, o corpo colado no sofá, o jantar servido uns dias a horas outros a deshoras mas sempre de acordo com as horas que eram as dele. O sexo sem prazer e o prazer de ver sofrer. As festas pouco festivas porque ele era pouco festivaleiro...

"Lembras-te? Por que não o usas? Vai-te bem com os olhos e quase nunca o pões." Não calha, respondeu ela, habituada que estava a meias palavras, frases curtas.

De então para cá apenas lhe calharam as prendas que ela própria escolhia por ocasião do Natal ou do aniversário. Nunca mais foi surpreendida, nem nunca mais esperou sê-lo.

E agora ali estava ele, caído, corpito mirrado, depois de mais uma das cenas de gritaria a que a havia habituado.
Foi o coração, assegurava o clínico, Não aguentou.

Foi então buscá-lo à gaveta onde o havia enterrado. Juliana olhou-se ao espelho. As rugas já não enganavam o tempo. Também já não queria enganar ninguém. Naquele dia os brilhantes iam, de certeza, com os seus olhos e com o azul petróleo do seu casaco. E Juliana saía para a rua disposta a apanhar o primeiro transporte que a levasse para longe dali.

11 janeiro 2009

10 janeiro 2009

Corte e costura



Pego na caixa e sento-me a estudar o trabalho que me espera. Olho de um lado e de outro até decorar as medidas. Dizem que não se pode mudar ninguém, mas eu não acredito. Começo pela vaidade e corto aquele pedaço ali, entre o queixo e o peito, aquele pedaço que te faz dizeres-me que nunca encontrarei ninguém como tu. Pego num resto de tristeza que herdei da minha avó e prego-a no teu ombro, e livro-me do peso que carrego. Não posso esquecer a minha fotografia e coso-a ao lado esquerdo do teu peito.
Agora posso ir-me embora. Já não és a pessoa que amei.

Little shop of horror

Ou o que um bisturi e uma cabeça doente fazem a uma pessoa.

08 janeiro 2009

palavras sábias do meu amigo luisca

às vezes insistimos em que estamos à espera de um navio, e esperamos e esperamos pelo navio que há-de chegar. E entretanto passa um avião, um barco a motor, carros, bicicletes, e insistimos em esperar pelo navio que não chega.

Sinto-me

...uma chouriça com pernas e com o neurónio congelado.

07 janeiro 2009

Uma revista mais

Eu sou jornalista. E devia aplaudir de pé todas as publicações como a Caça e Pesca, a Playboy (sobre a chegada desta revista a Portugal falaremos melhor um dia destes), a Casa Cláudia Ideias ou a Maxi Tuning (fica também prometido um post com os melhores títulos de revistas do país) pela coragem com que se vão aguentando no mercado ou pela originalidade com que abordam leitores tão exigentes como os caçadores e as miúdas que passam a adolescência a contar peças para o enxoval. Mas hoje recebi na minha caixa de emails uma revista que merece um destaque especial. Porque eu ia morrendo a rir e ainda não sei se esse não era precisamente o objectivo da publicação. Parece que a Servilusa Agências Funerárias SA tem uma revista. Isso. Agências Funerárias. Como se chama a revista das agências funerárias? Ah, pois, tem um nome e não é mau. I-Nova. Nova? Tipo para gente nova? Hum... Quem vai ler a revista? Eu não sou. Credo. Deus me livre.

06 janeiro 2009

Boa pergunta

- Mãe, há alguém que não goste de meninas ou de meninos? Há alguém que seja nadossexual?

05 janeiro 2009

Só no meu prédio

Desço as escadas e cruzo-me com a vizinha do 1º esquerdo. Cumprimentamo-nos e ela bate à porta da vizinha da frente.
- Quem é?, pergunta uma voz do lado de dentro.
- É a Alegria.

Desafio fio fio


Desafio as minhas queridas múltiplas a escreverem uma ou várias postas a partir desta imagem. Tal como da outra vez, o conteúdo fica à imaginação de cada uma.
As postas serão publicadas todas no mesmo dia, a próxima segunda-feira, dia 12 de Janeiro.
Nos labels deverão escrever "brooch brosche collana".
Vamos nessa?

02 janeiro 2009

A mesa de cabeceira

Há uns tempos, explorámos os insondáveis mistérios das malas das mulheres.
Hoje lançamos um novo desafio: a gaveta da mesa de cabeceira.
Deixamos uma inspiradora amostra:
-um fio de ouro
- colares de tartaruga
- cartas de tarot
- preservativos
- vibrador
- um saco com colecção de moedas (coisa para 900 gr)
- cromos de futebol
- ID sensation warming liquid

E vocês, o que têm vocês na mesa de cabeceira?

Labels gamados #1

É melhor rir agora que amanhã posso ter cieiro.

(encontrado aqui)

01 janeiro 2009

Venham mais 8 e coisa 9 e tal momentos destes

[Ok, estou atrasada nos balanços de fim-de-ano, blogue incluído. Considerem-me num fuso horário diferente e o desacerto justificar-se-á.]

O que importa

Cada ano tem o seu momento especial e em 2008, para mim, este foi o grande momento do oitoecoisa. Esta posta gerou o MC L7C (acrónimo de Movimento Cívico - Leve a Sete à Colômbia).

Seguindo os links acima indicados, é possível testemunhar que tiros no escuro e/ou ideias desviadas das mais comuns são viáveis.


O que desejo

Que em 2009 se multipliquem muitos mais destes gestos, não necessariamente na forma, antes na sua essência. Na blogoesfera e fora dela.

Obrigada a tod@s os que por aqui passam e nos lêem.
Um bom, excelente, 2009.

E já agora... BOM ANO!


Porque hoje é Dia Mundial Da Paz

Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos
Muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade