E eu que tinha pensado que tudo seria igual até ao dia em que o onofre se fosse, e afinal tem de me aparecer uma puta qualquer à esquina. Uma pessoa está sossegada na sua vida, os jantares em frente à televisão, a barriga dele que não pára de crescer, os roncos que me acordam à noite, mas uma pessoa aguenta-se nas curvas, afinal de contas ele não vai para novo e qualquer dia deixa de me acordar à noite e a sentar-se calado na sala a olhar para ontem, qualquer dia sou só eu pela ordem natural das coisas e finalmente estes anos de solidão acompanhada ficam a valer a pena. Estava eu tão sossegada e descubro agora que uma cabra se pavoneia com o onofre pela baixa, contou-me a minha tia que soube por uma mulherzinha qualquer que lhe ligou para casa. Cá para mim é uma amiga daquela mula, o onofre sempre teve um dedinho para escolher mulheres que faz favor, havias de ver a gaja antes de mim, uma dondoca armada em senhora que nem piou quando lhe fui arrancar o homem de casa, o onofre de rabo entre as pernas a fazer a mala, eu a dizer das boas àquela desgraçada que nem uns saltos altos sabia usar e a gaja com cara à banda, cá para mim devia estar com medo que lhe fosse aos cornos, uma cobardolas armada em fina que nem sabe lutar pelo seu homem. De forma que agora fico é muito calada, a putéfia deve estar à espera que eu faça uma cena ao onofre e ele vá a correr para ela, mas está muito enganada. Logo à noite ponho o vestido verde e o meu melhor sorriso e vou encostar-me ao onofre como se ele fosse o último homem da terra, esqueço a barriga, esqueço os quase sessenta anos, esqueço a putéfia que o persegue, e daqui ninguém o arranca nem à lei da bala, o homem é meu e eu não sou de baixar os braços com a primeira lambisgóia que se atreve a mostrar as unhas.
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12 junho 2009
09 junho 2009
A senhora
Ele dizia que era divorciado, que vivia com uma filha crescida que andava deprimida, dormia em minha casa mas nunca me levou à dele porque a rapariga sofria dos nervos e não suportava ver o pai feliz e acompanhado. Um dia uma colega contou-me tudo à hora do almoço: ele era casado com uma labisgóia qualquer. A folha de alface até se me encravou na garganta, mas mesmo assim consegui fazer perguntas apesar da falta de ar ou de chão ou dos dois, e fiquei a saber que aquela cabra era muito falada, diz que já tinha dormido com tudo o que era homem lá do serviço mas que lhe saiu a sorte grande com aquele homem mais velho, com dinheiro a rodos e quinze anos a mais. Eu não sou parva nenhuma e comigo ninguém faz farinha, eu não ia deixar o onofre lá porque era casado. Descobri o telefone da tia daquela ordinária e fingi-me amiga da cabra. A mulher disse que a belinha estava de férias com ele, o sacana tinha-me dito que ia a um congresso e eu burra fui na cantiga e vai-se a ver estava com aquela puta a apanhar sol. A tia era outra que tal, uma ordinária como a sobrinha, então vê lá que me disse que a belinha agora estava bem na vida, que quando o onofre fosse desta para melhor ela podia deixar de trabalhar à conta do dinheiro com que ficava. Eu não me aguentei e meti veneno, que estava preocupada com a sobrinha porque sabia que o onofre estava muito apaixonado por uma rapariga mais nova, que era visto com ela na baixa e só faltava babar-se a passear o novo amor que parecia manequim de tão bonita que era. Deixei a tia com a pulga atrás da orelha e desliguei. De modos que agora estou aqui à espera do onofre, um homem como aqueles não tem lugar ao pé de uma desgraçada como aquela mula, o que ele precisa é de uma senhora. E senhoras só eu e a minha mãe.
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