30 setembro 2008

Colisão



Crash into me, Dave Matthews Band.

Sobre o Prós e Contras de ontem

Os afectos são muito importantes mas no seu total só correspondem a uma relação amorosa. Um casamento abrange uma relação amorosa mas também é mais do que isso. É um contrato civil em que duas pessoas, livremente, se obrigam uma perante a outra a constituir família. Para tanto, aceitam um determinado conjunto de direitos e de deveres. É uma obrigação continuada de meios tendo em vista um determinado resultado e quem a assume merece um tratamento diferenciado dos que, querendo a relação amorosa, não querem, contudo, a relação obrigacional.

Ora, uma das partes cumpre aquilo a que se comprometeu e a outra não. Agora, ao contrário de todos os outros contratos, o incumprimento pura e simplesmente deixou de ser relevante para o fim dessa relação contratual. Agora, ao contrário de todos os outros contratos, este incumprimento não tem qualquer tipo de sanção ou de obrigação de reparação perante quem cumpriu.

Muita coisa podia e devia ser alterada na lei antiga, mas a lassidão no cumprimento das obrigações assumidas não deve, nunca, ser premiada. A culpa não pode deixar de ser uma dimensão essencial para aferir o fim deste contrato e a medida da reparação perante a parte que não faltou. Transformar esta lassidão numa conquista tardia de Abril, na verdadeira igualdade entre homens e mulheres, “na dignidade da mulher que não a de 77”, no “l´aire du temps” ou na eliminação da “visão mercantilista da direita sobre o casamento” não pode deixar de ser considerado – pelo menos! – como uma aberração jurídica que se vai traduzir em verdadeiras injustiças e situações de desprotecção gritante para a maior parte do país real.

Aproveitando: o casamento visa a constituição de família mediante uma plena comunhão de vida. A constituição de família implica principalmente a geração de vida e a geração de vida só acontece naturalmente e sem recurso obrigatório a meios ou elementos exteriores a essa relação entre um homem e uma mulher. Não posso subscrever este ou este post.

Quando se fala em direitos fundamentais convém saber de que direitos estamos a falar e não tratar de forma igual o que é, em si mesmo, diferente. E não é uma de questão linguagem inclusiva. São mesmo conceitos absolutamente distintos. A oportunidade de criar um instituto jurídico próprio para estas situações é toda uma outra discussão.

29 setembro 2008

Coisas que não fazem sentido nenhum e não interessam a ninguém

- Comprar um máquina de depilar XPTO e depilar apenas uma perna porque a tarefa é aborrecida, por mais que a debulhadora seja rápida, mas aquilo dá-me seca e até começou a chover e voltei às calças compridas e quero lá saber da pilosidade. Pronto.

- Agarrar num frasco de verniz encarnado e pintar a unha do polegar esquerdo (faltou-me a mestria para as restantes, ou deu-me seca continuar e não tenho acetona em casa) e perguntarem-me: 'o que é isso que tens na mão'? 'Ehrr, é uma instalação artística'.

- Sair de casa e comer uma sopa no café mais próximo, quando tenho um tupperware em casa cheio dela, bem boa, feita por mim.

- Declinar um convite para A festa do ano porque me dá seca escolher roupa, que eu cá se pudesse andava de farda todos os dias.

A entropia instalou-se na minha vida. Agradece-se à múltipla de serviço que esclareça como é que a 2ª lei da termodinâmica se aplica na perfeição ao quotidiano de uma mulher de 38 anos, 3 meses e 14 dias.

28 setembro 2008

IndigNação

A mesma pessoa de sempre ao meu lado. Neste dia como em tantos outros da minha vida. Eu finjo que estou cool e descontraída, até digo umas piadas. Só deixo de gracejar quando a dor me paralisa o ventre e me devolve o pesadelo que estou a enfrentar.

Uma sala de urgências cheia, não há lugar para me/nos sentarmos, escolhemos o chão, passo os olhos pelo seu documento e forço o mais que posso a minha atenção num texto no qual não me consigo concentrar.

Desata um homem novo aos gritos: "Eu quero falar com o chefe da equipa, eu tenho direito, por vossa causa a minha namorada esteve aqui 4horas e meia a perder sangue e o nosso filho morreu"!. As outras mulheres põem a mão, mecanicamente, no ventre, não vão as palavras deste quase-homem azarar-lhes o seu percurso de 40 semanas. Pela demora, pela tristeza, ou por outro motivo qualquer, o rapaz desiste e vai embora, batendo a porta com estrondo.

A enfermeira manda esvaziar os lugares, que não pode ser, duas senhoras sentadas no chão. Sou finalmente chamada.

Sou mesmo tonta, vesti a bata ao contrário. A enfermeira traz a parafernália toda e diz-me: 'escolha a cama'. Escolho a que está mais perto da janela sem saber que esta nunca iria ser aberta. No meu quarto, de 4 camas, em diagonal comigo está uma rapariga ainda menor. Sorri-me e eu a ela. Trocamos nomes e cumprimentos. Levanta-se para ir jantar e ver a sua novela dilecta.

Entubada, olho para o meu carrinho de soro e de analgésicos. Espero pacientemente a visita da médica que porá cobro ao meu sofrimento. Julgava eu. 3horas e meias depois fecham-se as cortinas e administram-me a 1ª das 3 doses de misoprostol. Recomendações de não comer nem de beber uma só gota de água. 'E vai doer'? 'Ai isso não sabemos, as senhoras reagem de maneira muito diferente'.

4:30 am: a dor atingiu o seu pico. Sentada na cama capitulo e aperto pela primeira vez o botão. Vómitos, febre. Nova dose de analgésico via cateter. A noite é longa e passo-a em branco, a jogar uma parvoíce qualquer no meu telemóvel, talvez assim consiga mitigar a dor.

9:00 am: trocam-se os turnos, nova leva de auxiliares-enfermeir@s-médic@s. Ouço gente que toma banho e que toma o pequeno-almoço. A menina da cama em diagonal acorda e espreguiça-me um bom dia. Continuo para ali sem saber o que estou a fazer ali. Esqueceram-se de mim? Sim, claro que sim. Percebo que qualquer coisa não correu bem. A começar pelas duas doses de misoprostol que a enfermeira do turno da noite se RECUSOU a administrar-me (por considerar que era um 'acto médico'), soube-o mais tarde.

'Não quer ir lavar-se'? 'Isso parece-me uma muito boa ideia, mas com este atrelado não vejo como'. Arrancam-me o cateter do soro e dão-me uma mini-toalha para me secar. A água devolve-me alguma dignidade perdida.

11:00 am: chama-me a enfermeira, 'está cá o senhor doutor e vai vê-la'. Tem um sorriso largo tal como as mãos. 'E então expulsou muito'? 'Nem por isso'. Exames, dúvidas, pressão sobre o ventre. Nada. 'Quer alta'? Como não posso querer alta depois do inferno que passei, primeiro em casa e agora aqui? 'Mas o que lhe sugerem as imagens', atiro eu a medo? 'Não sei, não são conclusivas'. Mas quer um conselho? Vá para casa, era o que diria à minha mulher, à minha mãe, à minha filha!. Agarro-me como posso à sua assertividade.

E foi assim que fui para casa. O pior, não sabia eu, estava ainda para vir: uma semana de tortura a ver as entranhas a cairem-me pernas abaixo, a sangria desatada, a falta de força, as dores físicas. E ainda as outras.

Em suma: tive um aborto espontâneo e num hospital público deram-me alta, longe de reunir condições para ter alta, dando início àquela que foi uma das piores semanas da minha vida. Acenaram-me com uma baixa de um mês como quem acena uma cenoura a um burro, que entretanto declinei (não me servia para nada, também, dado o meu vínculo contratual).

Registo aqui a minha grande interrogação: como é possível que, para se poupar recursos - ao que parece - se induzam abortos quimicamente, deixando a mulher à mercê da sua dor e da sua sorte? Tudo o que possa dizer sobre este inferno que passei será sempre eufemístico: é desumano, é primitivo, não há palavras que descrevam um sofrimento destes. E depois a sempiterna dúvida: será que estou bem? Sim, porque a probabilidade de surgirem complicações ainda são bastante elevadas, nomeadamente infecções, muito comuns.

Agora, resta-me lamber o resto das feridas, maldizer o país onde vivo, onde voto e pago os meus impostos e mandar o Serviço Nacional de Saúde para a puta que o pariu: o Estado Português.

Adenda: a rapariga que partilhava o quarto comigo, teve uma gravidez ectópica. No dia em que tive alta, já lá estava há uma semana internada. Quando chegou ao hospital, tentaram a indução do aborto por via química. Surgiram complicações e a rapariga acabou por fazer uma curetagem, entre outros porque já tinha desenvolvido uma infecção séria. Ainda tinha mais dias de internamento pela frente. Venda-se este país a Espanha. Já.

Ainda a mudança do pneu no feminino

Aconteceu-me por duas vezes ter-me dado conta de um pneu furado e, de ambas, resolvi o assunto na maior das calmas: peguei no telemóvel, contactei a companhia de seguros e, em pouco tempo, um rapaz bem constituído procedia à respectiva operação.
Vergonha? Não tenho nenhuma. Vergonha é roubar, coisa que as seguradoras não se pode dizer que façam mas parece. E já que pago, ao menos que tire partido de alguma coisinha.

Eu, os meus 40 e a Meryl Streep


Sempre adorei fazer anos, anunciá-los, festejá-los... Mas nunca gostei tanto de fazer anos como estes últimos, os 40.
Senti claramente que havia dado início a uma nova etapa da minha vida e assumi uma nova postura, absolutamente mais "zen", irreconhecível, quase, para algumas pessoas que me acompanham de perto. Não é uma máscara, antes uma camada da derme que agora se revela. Creio que entrei na idade da razão e fi-lo a gostar muito de mim própria, sem vaidade mas com orgulho. Acho que estou, aos poucos, a tornar-me uma mulher madura. E aprecio a verdade das mulheres maduras.
Foi isso que, mais uma vez, senti ao ver Merryl Streep representar um papel menor, insuflado e absolutamente iluminado pela sua presença. E chorei (sim, sete e picos, sei que é fácil). Ela é uma força da natureza, sem nunca ter cedido a mudar o seu nariz "pouco comercial", livre de plásticas artificiais, e é linda. E eu, quando crescer, queria ser um bocadinho como ela.

27 setembro 2008

So long, Paul

Morreu hoje Paul Newman. Provavelmente um dos mais bonitos e talentosos actores da indústria cinematográfica Americana. É a vida. Mas neste caso parece-me mais a morte.

Aqui, o trailer de Cat on a Hot Tin Roof (1958), com Elizabeth Taylor. E porque a nostalgia habita esta casa, outros momentos seus aqui.

26 setembro 2008

Nos últimos dias, todos os dias

É o título de um lúcido post da trapezista no Perante o riso geral. Transcrevemos na íntegra e, se for preciso, assinamos por baixo.

(nos últimos dias, todos os dias) Entro em discussões sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Entro porque interessa. Porque é preciso. Porque de cada vez que alguém agride alguém isso também me diz respeito. Por isso: Paremos todos de dizer que se está a discutir o casamento gay, o casamento homossexual ou o casamento entre homossexuais. O que se está a discutir é o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por agora, em Portugal, dois homossexuais podem casar-se (numa igreja, numa praia, num cartório, no quintal). O que ainda não acontece em Portugal (e note-se que o ainda tem que ter aqui muita força) é o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. O que ainda não acontece em Portugal é o acesso ao casamento civil por parte de todos. Ou seja, o que se discute são direitos fundamentais, não copos de água. Há um sentimento primário que não entendo no meio disto tudo. O que incomoda tanto tanta gente que ao seu lado alguém queira ser feliz? O que incomoda tanto tanta gente que alguém queira comprometer-se perante a lei e o Estado a cumprir como marido ou mulher (como cônjuge)? Porque é que de cada vez que se fala sobre isto há alguém que diz que não acha bem, que lhe faz impressão, que lhe dá nojo? De onde, de que lugar no cérebro, lhe vem esta ideia? Quando Espanha (que nem sequer é bem um país) aprovou a lei que permitia o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o primeiro-ministro José Luis Zapatero disse, perante os deputados, que aquela lei pretendia construir um país "mais decente". Porquê? Porque, para Zapatero, "uma sociedade decente é aquela que não humilha os seus membros". E pronto, é isto, só isto. É só esta a ideia que nos falta perceber. Será que é preciso chamar cá o Zapatero?

10 de Outubro: copiar e enviar mail


Endereços de email dos grupos parlamentares:








Assunto: No dia 10 de Outubro, SIM à liberdade e à igualdade.


No próximo dia 10 de Outubro, a Assembleia da República será chamada a votar projectos que estabelecem finalmente a igualdade no acesso ao casamento.
Esta é uma questão de direitos fundamentais, é uma questão de cidadania, é uma questão que determina a qualidade da nossa democracia. Trata-se de acabar com a humilhação de muitas mulheres e muitos homens que são ainda discriminadas/os na própria lei por causa da sua orientação sexual. Trata-se de afirmar finalmente que gays e lésbicas não são cidadãos e cidadãs de segunda.
A Assembleia da República terá finalmente a oportunidade de afirmar o seu empenho nesta luta pela igualdade e pela liberdade – e a oportunidade de contribuir de forma particularmente simples para a felicidade de muitas pessoas.
O fim da exclusão de gays e lésbicas no acesso ao casamento consegue-se com uma pequena alteração no texto de uma lei, que não implica custos nem afecta a liberdade de outras pessoas. Porém, será um enorme passo no sentido da igualdade e contra a discriminação. E como demonstraram as discussões sobre o voto para as mulheres ou sobre o fim do apartheid racista na África do Sul, o preconceito que existe na sociedade não pode nunca justificar a negação de direitos fundamentais. Pelo contrário, votar contra a igualdade é legitimar e encorajar a discriminação.
Esta votação representa por isso uma enorme responsabilidade, pelas implicações que terá no reforço ou na recusa do preconceito.
Porque recuso a discriminação na lei portuguesa e porque esta é a oportunidade de repor a justiça e cumprir o princípio constitucional da igualdade, seguirei com atenção esta votação - e apelo ao voto favorável de todos os membros deste Grupo Parlamentar e à defesa intransigente da igualdade no próximo dia 10 de Outubro.

24 setembro 2008

poesia

Diz-me ela: Mamã, vou-te ler uma poesia que eu escrevi:

Querida cidade:
cuida do mundo cuidemos do mundo
que à noite vai acontecer uma coisa terrível
vai vir um gigante com ramos de flores
e vamos ter de ir para outra cidade
e depois vamos ter de voltar
porque não vai haver nada nada nada

Digo-me eu: juro que não me lembro de ter andado a falar das teorias sobre o fim do mundo ao pé dela.

Roadmap

Afinal, até e simples.

23 setembro 2008

O Outono a partir da minha janela


Da minha janela, vejo o Equinócio de Outono a amadurecer em forma de romãs. Chegou ontem, e saúdo-o com o standard Autum Leaves interpretado por Dee Daniels.


A propósito, se rectifica



da destruição dos painéis de azulejo de Maria Keil pelo Metropolitano de Lisboa
e desta petição que entretanto assinei
aconselho que primeiro leiam este post que mostra como o que diz e faz por aqui nem sempre cai em saco roto, ainda que por vezes se equivoque.

O casamento e quem vai lá dentro

Sempre que oiço falar em pessoas assexuadas fico a pensar que há alguma coisa na história que está mal contada. Como se não fosse possível viver sem sexo, sem desejo, sem a vontade de mais do que abraços e beijos inocentes.
Aqui encontram a história de um rapaz assexuado, casado com uma rapariga assexuada. Na noite de núpcias, convidaram os amigos para um jogo de scrabble. A única coisa que separa o casamento de Paul e Amanda dos restantes é o facto de não fazerem sexo. Riem-se disso e dizem que daqui a cinco anos serão iguais a todos os casais.

22 setembro 2008

Quase

Disseste 'Fala-me de ti', como se quisesses mesmo saber. Perguntaste ' O que te atrai num homem?', como se a ver se caberias na descrição. Indagaste, 'Qual a melhor forma de chegar a ti?', como se estivesses a planear o teu próximo passo.
Trocamos experiências, memórias, vidas passadas. Tocámo-nos com palavras, com olhares, com sorrisos.
So faltou dizeres 'Vem'. Para acontecermos o mundo.

20 setembro 2008

Amor cerzido

Disseste sai vai-te embora não aguento ter-te por perto e, de repente, a tua frase cresceu como uma malha numa meia preta. Primeiro um ponto branco que se vai deitando ao comprido na perna, ponho um bocado de verniz das unhas e penso que se andar depressa ninguém vai dar por nada. Olho outra vez e o ponto branco já não é só um ponto branco, cabem lá agora as noites em que não olhas para mim, os minutos em que jantamos calados, as manhãs em que és uma ausência com pressa de ir embora. Pego numa agulha e cirzo tudo com as pontas soltas do desamor e sirvo-me a ti de olhos fechados com a certeza de que este tempo passará na sombra dos dias sempre iguais.

gago no espelho é fidel castro



Ou de como o humor pode salvar.

(a primeira parte da entrevista com Claudio Gaspar Dottori pode ser vista aqui)

Uma chávena de chá na blogoesfera

[Driiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim]
- Está lá?
- Viva D. Arlete, é a D. Preciosa.
- Ora, D. Preciosa, bom ouvidos a ouçam! É que vê-la 'tá quieto ó mau! Se nem na praça a encontro já...
- Pois é D. Arlete, é que desde que descobri que posso fazer as compras pelo computador, mando a listinha pelo meu neto, ele trata da encomenda e passado umas horitas aparecem uns moços jeitosos a entregar-me as compritas. Poupam-se-me os bicos de papagaio e os 4 lanços de escadas e ainda aproveito para olhar para a 'mercadoria'...
- Mercadoria? Está-se a referir às compras, D. Preciosa? Hãnnn?
- Deixe lá D. Arlete, deixe lá, que o meu motivo do telefonema é outro.
- Deixe-me adivinhar: é por causa dos nossos cházinhos. Ou da falta deles.
- Agora acertou. Sabe, faz-me falta aquele convívio. Está bem que a D. Hermengarda era uma lunática e só falava ultimamente em rever a Hermenêutica. Depois, parece que descobriu a 'luz' através de um filósofo alemão alinhado com o partido nazi, e desde que foi para a Floresta Negra na Alemanha em busca de mais documentação, nunca mais soubémos nada dela. Nem um postalito enviou, a ingrata.
- E a D. Lurdes? Ó que saudades dela também. Lembra-se do narguilé que o neto lhe tinha trazido de Marrocos? Nunca se esquecia de o levar para os nossos chás. Aliás, a bem da verdade, os chás eram quase sempre em sua casa. E se preparava umas mesas que eram uma categoria, ó se preparava, mesmo em épocas de maior carestia.
- Uma alma generosa, sem dúvida. Mas parece que agora se dedica a uma carreira de cantora a solo. Anda muito ocupada a promover a sua carreira e tourné, ela e um pianista de seu nome Nancy. Até já nem quer que a tratem por 'dona'. Tem um nome artístico que agora não se me lembra a memória.
- O quê?!
- Então, nunca é tarde para começar, não seja preconceituosa.
- Mas quem cantava não era a D. Gertrudes?
- Também, também. Pode ser que queiram fazer uma dupla, nunca se sabe.
- Duvido, a D. Gertrudes é outra a quem perdemos o rasto. A última coisa que soube dela é que andava numa missão no meio da Amazónia. Depois chateou-se com o 'sistema' e abriu um negócio de venda de sumos.
- Olhe D. Arlete, estava aqui a pensar com os meus botões...
- Diga D. Preciosa, sou toda ouvidos, deixe lá afinar o aparelho...
- E se fizéssemos um blogue?
- Um quê?!
- Um blogue. É um sítio onde escrevemos/dizemos umas balivernas e vamos pondo a conversa em dia. Pode ser que as ausentes se animem e apareçam também.
- E que nome daríamos ao gulobe?
- Blogue, be-lo-gue. Eu proponho Oito e Coisa Nove e Tal. É inspirado na canção do António Mafra. Parece-lhe bem?
- Parece-me muito bem.
- O meu neto vai tratar de tudo, então.
- Uma jóia, esse seu neto, uma jóia.

19 setembro 2008

descoberta esquecida

Num repente, um milhão de luzes acenderam-se simultaneamente na minha cabeça. Descobri o que já tinha descoberto há muitos anos e me tinha esquecido:
O amor não é condição suficiente para viver uma relação.

Repeti isto para mim mesma até à exaustão, fiquei uma semana sem falar e, depois, servi-lhe um café, pus-lhe as duas colheres de açúcar que ele gosta e soltei tranquila e lucidamente as palavras há tanto tempo escondidas em emoções confusas e emaranhadas: Amo-te. Muito, demais, amo-te. Dentro de uma semana saio de casa, vou viver comigo mesma, tenho saudades de mim.

18 setembro 2008

Dias em forma de assim

E agora? Onde é que te encontro?

Entrada no carrossel do oito

Há algum tempo que andavam para ver-se, mas por algum motivo ela adiava o contacto. De repente chegou-lhe um sms, apenas com "Quero ver-te". Assim, sem mais nada nem mesmo pontuação. Aquele pedido que soava a ordem, num tom afirmativo que nunca lhe tinha encontrado. Telefonou-lhe, disse que estava a chegar casa.

Não subas. O que é que tens vestido?

Surpreendida, respondeu. Bem, ouviu, vem cá ter, quero ver-te. Ficou gelada, não sabia o que havia de fazer e as palavras nem saiam. Não tinha como dizer não. Ouviste? Sim, estou a ir, foi a única coisa que conseguiu libertar entre dentes.

Conseguiu guiar e estacionar quase por milagre, tremia com a antecipação daquele homem. Tocou a medo à campaínha. Ele abriu e sorveu-a com os olhos. Entra, vamos para a sala.

Enquanto toc toc toc pelo corredor fora sentia-o fixo nos seus ombros, costas, rabo, pernas a menear. Sentou-se a olhar para ele cheia de perguntas nas sobrancelhas.

Fez-lhe uma festa na cara, para que ela sentisse o cheiro da sua mão. Afagou-lhe o cabelo e segurou-a pela nuca. Ficaram a olhar-se em silêncio, e ela soube que seria o que ele quisesse fazer dela nessa noite. Mesmo que não houvesse mais nenhuma.

And you want to travel with him
And you want to travel blind
And you think maybe you'll trust him
For he's touched your perfect body with his mind.

O meu gato preto

Perdi o meu gato. O meu gato preto de pelo grande e cauda de raposa. Saltou da janela e não voltei a encontrá-lo mais em lado nenhum. O meu gato era o último sobrevivente de vários gatos que fui tendo ao longo da vida. Uns desaparecidos por doença, outros também perdidos nas ruas por serem mais aventureiros mas todos eles por uma razão comum. Por lhes ter sempre dado a liberdade de escolha de poderem ficar ou partir. Não faço ideia se esta é a melhor forma de ter gatos e nem sequer me parece muito poética agora que perdi o meu e que sinto saudades dele e sabendo que ele não vai poder sobreviver muito tempo sem a minha ajuda. Não sei se hei-de ficar triste por mim ou por ele. Não sei que forma de egoísmo é este.

consultório 8 e coisa

"qual o tipo de sexo que os homens portugueses gostam?"
Mulheres e homens portugueses, respondam a este lancinante e científico apelo que trouxe alguém googlando até aqui.

outra conversa num corredor de faculdade

- Desde que trabalhei numa ong de ambiente, mudei a minha opinião sobre o terrorismo.
- Explica lá isso.
- Eu admiro e respeito o terrorismo. Um gajo matar-se por uma causa em que acredita, eu aplaudo isso pá. Agora a corrupção é que não. Antes um bombista suicida que um funcionário de câmara corrupto.

17 setembro 2008

conversa num corredor de faculdade

- este é o meu blogue onde podes ver os meus trabalhos, artes plásticas e escrita, cenas que eu ponho lá.
- e em que corrente te enquadras?
- a minha cena não tem corrente, faço o que sinto e o que me sai.
- não pode ser, tens de ter uma corrente com a qual te identificas mais.
- opa não sei, sou bué inculto.

Very hush-hush

Uma festa fetichista em Lisboa. A descobrir.

Les uns et les autres

(M. perguntou-me sobre a dirty boulevard. A personalidade múltipla cruzou-se com a esclerose múltipla mas as palavras desataram-se e este é o relato muito livre a partir da história de M.)


Quando começou a ler não queria acreditar. Num relâmpago voltou tudo. A dor, a mágoa, os roubos, o choro. A incompreensão do mundo, das pessoas, da vida, das razões ou da falta delas. A incredulidade. A esperança sucessivamente espezinhada. As mentiras com tantas máscaras. A sanidade a fugir. Até o medo físico. Outra vez aquela sensação das pernas a desfazerem-se e ela com as crias a escorregarem do colo. O pânico do sangue gelado, o ouvir um choro ao longe e o coração a querer sair pela cabeça. E o cansaço, aquele cansaço…!

M. foi peão avançado numa guerra sem regras nem tréguas, que não queria nem compreendia. M. foi porta estandarte, drum boy, oficial de aprovisionamento, capelão, guarda costas, revisor de contas e fiscal de linha. M. rilhou o dente e abriu as pernas. M. foi à doutora e fez tudo o que ela lhe dizia para ir fazendo como “co-terapeuta” que era. M. inventou milhares de receitas diferentes de esparguete, deu banhos com água aquecida em panelas, reciclou fraldas e tapou as cáries com pastilha elástica enquanto cantava canções de embalar. Todos os dias M. afinava o sorriso ao espelho e ia trabalhar.

M. pensava que se aguentasse tudo, se cumprisse à risca, se não falhasse nunca, se encobrisse sempre, a vida ia-se compor. M. aprendeu da pior maneira o primeiro passo: a impotência perante a dependência química.

Hoje M. tem uma nova vida, onde já ensaia uns - ainda tímidos - passos. Compreendeu que não há só uma maneira de ajudar os outros e que tem o dever de se ajudar a si própria. Compreendeu que cometeu um erro primário ao não perguntar a cura a quem tem as mesmas cicatrizes. E “só por hoje” não vai tentar resolver todos os seus problemas ao mesmo tempo.

The “Dirty Boulevard”… A crowded place!

16 setembro 2008

Hoje à noite na SIC

Como uma pessoa dá cabo da sua vida por 250 mil, 25 mil, 10 mil euros. Ou menos.

14 setembro 2008

Fantasia setextual


A adolescência tem fases muito difíceis e há altura em que absolutamente ninguém nos compreende, como quando as minhas amigas da escola me destroçaram mi primer amor, pois enquanto elas contavam animadamente os mais infinitos detalhes das suas paixões pelo paul newman, pelo tipo dos duran duran, e por mais uns que eu nunca lhes aprendi os nomes, e sonhavam deliciadas com os seus sex simbols, eu tinha que guardar para mim todos os momentos da minha paixão com o Michel In, pois de duas veces que tentei contar alguma coisa gozaram tanto comigo que nunca mais me apeteceu contar-lhes nada.
Imaginava-me com ele a correr o mundo, a ver o pôr do sol no niagara, a ver nova york desde cima e desde dentro, pois o Michel podia mudar de tamanho pelo menos tantas vezes quanto a das imagens que eu via com a sua figura. E quando ficava mais ou menos do meu tamanho... ai.... que até se me voltam os calores de quando eu acreditava e sonhava com o príncipe da minha vida.... tal como os golfinhos e as baleias, o meu mais que completamente tudo, que eu na altura gostava de paixões de caixão à cova, sacava o órgão, o desejo, e muito conhecimento adquirido, juntávamos os meus e, aiiiiii..... foram umas belas noites, é o que vos digo, e ainda que depois disso já me apaixonei algumas vezes, o mais sexy boneco insuflável composto de rodas por fora e por dentro de prazeres a descobrir, é um dos amores de quem nunca me separei, ainda hoje continuamos a encontrarmo-nos de vez quando para viver os prazeres do amor e do sexo.

13 setembro 2008

Só por hoje

Continua o relato da A. na série The Dirty Boulevard.

Esta época coincidiu com um momento em que estava desempregada. Andava tão desesperada, que já estava por tudo. Fazia o que quer que fosse para me tentar salvar. Pelo menos assim o pensava durante uma boa parte do dia. A outra já se sabe, a não-vontade era maior que eu.

Um dia ganhei coragem e resolvi ligar para o número que encontrei na lista telefónica e que estava atribuído aos NA. Atendeu-me uma máquina e deixei recado. Fui contactada no próprio dia, à noite, por uma voz feminina e simpática. Marcámos encontro para o dia seguinte.

À hora combinada lá estava eu e lá estava ela. Gostei dela, assim, à primeira vista. A medo, titubeando, expliquei-lhe o meu percurso, contei-lhe a minha história e o meu desespero. Ela sorria, sorria sempre. Contou-me, então, a sua história. Muito mais nova do que eu à data deste relato, tinha passado por um ‘fundo de poço’ que eu não pensei que pudesse existir. E agora ali estava, à minha frente, segura, generosa, recuperada há já tantos anos. E disposta a ajudar pessoas na mesma situação que a sua, outrora, que a minha, agora. Por ela e pela sua manifesta generosidade enfrentei uma sala cheia de gente sentada à volta de uma mesa. Era uma sala cedida por uma igreja, onde uma nuvem espessa de fumo pairava sobre as cabeças dos presentes.

Sentei-me. Olhei em volta, vi um painel com a oração da serenidade e outro com os 12 passos. Não tive tempo de perceber ou de olhar sequer para quem me rodeava, a sessão começou logo. Naquele dia não havia tema, pelo que os participantes eram livres de partilhar o que quisessem. À cabeceira da mesa, um veterano NA conduzia a sessão, lia as regras e passava folhas de papel plastificadas, apelando à plateia que lesse este ou aquele parágrafo. A mim calhou-me ler qualquer coisa que não me lembro e a voz saiu-me trémula, embargada, pudera, 20 pares de olhos postos em mim. Sabiam que era a minha primeira vez ali.

Depois, começaram as apresentações. Abriu o moderador-veterano NA, “Olá o meu nome é F. e sou toxicodependente em recuperação há 20 anos”. Responde a plateia: “Olá F.”. Chegou a minha vez e lá balbuciei o mantra. Tive dúvidas na palavra recuperação, estava tão angustiada que sabia que mal pusesse o pé fora daquela sala, iria consumir.

De acordo com as regras, ninguém era obrigado a partilhar se não sentisse vontade de o fazer, e se alguém novo no grupo - o meu caso - o quisesse fazer, teria que esperar e fazê-lo no fim. Mantive-me calada. Não tinha nada para dizer, mas ouvi com muita atenção o que me disseram:

O executivo, pai de família, consumidor compulsivo e arrependido, a loura de cigarro pendurado nos lábios a relatar uma orgia de sexo e cocaína e a rematar no fim ‘e sabem que mais? Gostei’, o mecânico de automóveis obeso que desatou num pranto de lágrimas e arrependimento, a jovem da margem sul tatuada e a transbordar um optimismo de plástico, dois tipos com ar carcomido e calados, braços cruzados, fumando cigarro atrás de cigarro, com a cabeça em mais uma dose de cavalo e muito pouco na sessão, um tipo adormecido de um sono opiáceo no fim da mesa.

A sessão terminou e culmina com um abraço entre os participantes. Calha-me na rifa o mecânico obeso que quase que me esmaga contra o seu peito e me encharca com o seu suor e lágrimas. Saio de lá de dentro, num misto de repulsa e confusão.

Pela minha recém-amiga frequentei mais sessões e fui variando os locais, regra geral, salas em igrejas. No entanto, nunca consegui aderir à filosofia NA e acreditar naquela proto-religião, feita de porta-chaves a assinalar os dias-meses-anos de recuperação, e de mantras e de confissões duvidosas. Não considero que este passo tenha sido decisivo na minha recuperação. Mas foi um dos muitos passos que dei, numa longa caminhada feita de avanços e de retrocessos. (...) Mas este não é um juízo de valor, não tenho nada contra os NA, simplesmente não funcionou comigo.

Valeu, contudo, o facto de ter conhecido a minha amiga. Há uns anos, telefonei-lhe. Já não se lembrava de mim, e foram precisos uns bons 10 minutos de conversa até me conseguir situar. Contei-lhe que me tinha safado e que me tinha lembrado dela, que lhe queria agradecer o que tinha feito por mim. Quase que a posso imaginar do outro lado da linha. A sorrir.

A vizinha do lado



Para as minhas queridas múltiplas. Porque, como na música de Dorival Caimmy na voz de Roberta de Sá, este blogue ainda mexe com o meu juízo.

Mexe com as cadeiras p'ra cá, mexe com as cadeiras p'ra lá... Mexe com o juízo do homem que vai trabalhar.
:)

The end of love

Sempre me considerei uma pessoa leal. Por isso, continuo a passar todos os dias lá por casa. Pergunto-lhe 'como estás', não obstante o quase-silêncio, tento perceber se tem passado bem. Verifico a correspondência, vejo se há alguma coisa importante para tratar/responder. Deito fora a publicidade, separando-a no improvisado ecoponto caseiro.

Depois sento-me e inicio uma quase-conversa. Não há vez que não lhe diga: 'Anima-te. Ainda és tão novo, tens a vida pela frente, um mundo de sonhos e de desejos por cumprir. Vais capitular agora?'.

Olha, querido blogue, é verdade que a chama da paixão se apagou. É verdade que foste tudo para mim e é importante que saibas isso. Mas mantenho a minha promessa: prometo controlar as estatísticas do sitemeter sempre que me for possível.

Tua sempre,

Oitoecoisa

12 setembro 2008

a sondagem, primeiro comentário

Desta sondagem, que não pretende de todo ser uma evidência científica, poderíamos adiantar uma conclusão, há muitas mulheres que ainda não mudam pneus, mas já algumas que o fazem sempre sozinhas ou que não recorrem sempre a um homem, ou seja que já não têm a ideia que sem ele seria impossível mudar um pneu.

Claro que não vem mal nenhum ao mundo por pedir ajuda a um homem, alguns deles também sabem mudar pneus, outros não saberão. O problema estaria se considerássemos que só eles têm capacidade para mudar um pneu.

Das poucas vezes que mudei pneus, com a ajuda só de mulheres ou de homens, descobri que se nunca tivesse mudado um pneu não teria tido a possibilidade de gozar esse momento, de mudar uma roda vazia que me deixou a meio do caminho e de esfalfar-me para que poder arrancar de novo e seguir o meu caminho.

E para aquelas mulheres que não sabem mudar um pneu, aqui têm um link útil, e alguma dúvida escrevam-nos, que a nossa múltipla que conhece tão bem o mundo da mecânica certamente responderá.

Elogios

Guiava eu calmamente o meu Fiat 600 pela Av Infante D Henrique quando, de repente, um carro acelerando na faixa do BUS decide virar subitamente para a faixa onde me encontrava. A colisão foi muito violenta e o meu velho e dedicado Fiat foi projectado para o passeio, onde embateu contra uma árvore, e cuspido de volta para a estrada, onde veio a parar, espalmadinho que nem uma panqueca.
Ao sair do carro, verifiquei que o depósito de combustível se tinha rompido, derramando gasolina por baixo do retorcido chassis moribundo. Imediatamente abri o capô e, enquanto tentava desligar os bornes da bateria, para evitar possíveis curto-circuitos (nunca se sabe, com 12 V), apareceu um polícia, um rapaz novo, mais novo que eu.

Polícia: 'Então, menina o que aconteceu?'
Eu : 'Olhe, Sr. Agente, foi um louco que me bateu e fugiu'
Polícia: 'Não se preocupe que os meus colegas já o apanharam ali à frente. Mas o que está a fazer?'
Eu: 'A retirar os bornes da bateria do carro'(o que é que lhe parecia??)
Polícia: 'Ah, pois, mas posso dizer-lhe uma coisa?'
Eu: 'Hun?'
Polícia: 'É que a menina tem umas sardas muito engraçadas'.

11 setembro 2008

Mecânica Feminina

Durante muitos anos guiei um velhinho Fiat 600, que me transportava lenta, mas fidedignamente pelas ruas de Lisboa. Os seus 30 anos de uso intensivo aliados aos muitos kilómetros percorridos começavam já a pesar, obrigando-me a tirar uma especialização rápida em mecânica automóvel, em muito ajudada por livros como 'Como resolver problemas na autoestrada', 'O manual do mecânico de fim de semana' ou 'O que fazer? Mecânica Automóvel' e por colegas, com mais ou menos jeito e vocação.

Foi assim que aprendi, e executei, por várias vezes e com afinco, a limpeza das velas, tendo por vezes de as retirar e voltar a colocar, a afinação do Klaxon, ou buzina, com retoques discretos e carinhosos no solenóide, a mudança do filtro de ar, a afinação - manual - da intensidade e alinhamento dos faróis, e isto para não falar nas restantes tarefas de manutenção, como verificação da pressão de pneus, do nível do óleo, incluindo a sua substituição e a montagem e desmontagem da bateria, colocando-a, sempre que necessário, à carga num circuito dedicado.

Um dia, por ter detectado que dois cilindros estavam isolados, vi-me obrigada a verificar o estado das velas. Removi-as, escovei-as, mergulhei-as em dicloroetileno para remoção da sujidade mais difícil e estava a verificar e rectificar o espaçamento dos eléctrodos com um 'apalpa-fugas' quando passa um homem e me diz:

'Então menina, ficou sem gasolina, foi?'

09 setembro 2008

fio fio

aproxima-se o fim da sondagem só para mulheres, alguma vez mudou o pneu de carro sozinha ou só com a ajuda de outra(s) mulheres?
Entretanto soubemos de fonte fidedigna, ou seja da voz do próprio, que anda por aí um nerdleitor a votar sempre que pode, ou seja várias vezes ao longo do dia, na opção peço sempre ajuda a um homem, pelo que, assim sendo, não se terá em grande apreciação esse item na leitura dos resultados.
Mas o motivo deste post é desafiar as minhas múltiplas a arrotarem, como só elas o sabem fazer, umas postinhas de pescada, salmonete sem salmonelas e pargo do bom sobre este tão profícuo tema, sendo que, em cada posta deverá ser feita referência à roda do carro, já esteja ela furada ou preparadinha para mais uns kilométros.
Apertam aí o bacalhau?

programa de fim de semana

Um dia:

Pergunta ela, animada pela descoberta das perguntas para perguntar o mundo.

como se chama onde vendem sapatos?
- sapataria

como se llama onde vendem o pão?
- padaria.

Outro dia:

Acorda de manhã e diz:

sabes mamã, eu gostava de ser diferente, gostava de ser cor-de-rosa e poder entrar dentro de la televisión para brincar com os Litle Einesteines e o Pororo. Tu podias vir comigo e íamos ir as duas à Diferenceria.
- Também eu queria lá ir querida, tan bien yo. Seria um programão!

08 setembro 2008

comer, prazer e emagrecer

Comentando o meu propósito de dieta, diz-me a Marta: Mas então o grande objectivo de uma pessoa que quer fazer dieta drástica é arranjar "receitas boas, saborosas"?! Não augura nada de bom...

Ó Marta, não diga isso, não me agoire a dieta, que esta é a segunda vez na minha vida que me proponho a ela. Agradeço-lhe a recomendação sobre o exercício físico, mas já agora aproveito a ocasião para explicar qual o sentido de uma dieta drástica para mim.

É drástica porque tem que dar bons resultados, mas estes não têm que ser imediatos, se dentro de um mês tiver perdido um quilo e dentro de dois anos 15 estarei contente.

É drástica porque tenho que mudar de hábitos, tanto alimentares, por isso é dieta, como de vida, por isso sei que tenho de fazer mais exercício físico (até sou feliz quando o pratico, tenho é dificuldade em integrá-lo como uma rotina), e deixar de fumar, mau hábito que tenho desde há muuuiitos anos.

Cheguei à conclusão que os hábitos que tenho actualmente não estão a dar muito resultado e estão a prejudicar a minha saúde, não tanto a actual, mas como a que virá num futuro relativamente próximo (é certo que ninguém sabe o que lhe vai passar amanhã, mas não quero pensar no pior mas sim que quero chegar a velha com alguma qualidade de vida).

Mas o drástico para mim não significa dor, nem sofrimento, nem sentimento de privação ou sacrifício. Ao contrário, todas as mudanças, sempre que possível, têm que vir (também) acompanhadas de prazer e alegria, que eu tenho uma tendência para o hedonismo, que muito prezo e que não gostaria de perder.
E a comida para mim é um prazer, além de uma necessidade para o meu bem e para o bem dos outros pois fico extremamente irritável quando tenho fome), um verdadeiro prazer, até tenho uma amiga que diz que eu sou a única pessoa que ela conhece que canta quando come, de tão contente que fico. Por gostar tanto de comer e dos sabores, é que quero agora ajudar o meu corpo a sentir novos sabores, a deliciar-se com a descoberta de novos prazeres em alimentos e pratos que sejam bons para a saúde. Tenho uma vantagem, acho que gosto tanto de um cozido à portuguesa ou de um ensopado de borrego como de sushi ou de legumes cozidos no vapor acompanhados de tofu ligeiramente regados con molho de soja con laranja. Por isso quero conhecer receitas boas, saborosas e práticas que possam ser uma alternativa para os meus hábitos alimentares.
Para que eu possa ter muitos anos de vida e muitos dias em festa. E estar mais tu cá tu lá com o tamanho 38-40.

8 e coisa, um blogue ao seu dispôr

Alguém chegou até nós com uma questão que não sabemos responder. Pedimos, por isso, a colaboração do estimável público para o esclarecimento da seguinte pergunta:
"O que posso passar no teclado do meu computador para tirar mancha de acetona?"

07 setembro 2008

Alfa e Beto

imagem daqui

Soriano é professor e vive numa zona muito turbulenta na região do Magdalena Medio na Colômbia (turbulenta quer dizer que é muito perigosa e que há actores armados de todos os lados). Como nessa zona o acesso a muitas aldeias só pode ser feito de burro, pois mais nenhum outro tipo de transporte lá pode chegar, ele arranjou dois destes animais, o Alfa e o Beto, para poder fazer chegar os livros a quem deles necessita, ao mesmo tempo que vai dando as suas aulas. Só tem duas condições, têm de lavar as mãos e não podem escrever nas páginas dos livros.
O Biblioburro já faz parte da Rede Nacional de Bibliotecas da Colômbia e agora é também o título de um documentário que está a ser realizado por um outro colombiano que vive em Bruxelas, e em que Soriano é o actor principal.
Mesmo no meio da guerra, há sempre alguém que não desiste de acreditar na paz. E de construi-la no seu dia a dia.

mais informações em www.eltiempo.com

04 setembro 2008

Grão a grão

enche a trabalhadora precária o papo... Hoje deram-me a notícia que me estendem o contrato por mais um mês. Acho que o meu futuro está nos negócios, instabilidade por instabilidade...

Não diria melhor

"Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa

03 setembro 2008

esta semana, no Oito e Coisa


Minhas queridas múltiplas, comecei uma dieta, ou melhor, ainda não comecei a sério, ainda não fui ao/à nutricionista mas estou já a ter cuidado com a alimentação, tenho que emagrecer vários quilos (bota vários nisso!).

Por isso, e como este blog ainda não tem uma única receita, quero pedir-lhes postinhas com receitas boas e saudáveis, para ver se consigo não andar deprimida com a segunda dieta da minha vida (a primeira foi há 20 anos com o herbalife e correu malissimo, até desmaei e tudo, mas isso acho que foi da mistura com os shots de vodka).

Se os leitores e leitoras também quiserem enviar receitas podem fazê-lo para o email que nós publicaremos ou claro, para a caixa de comentários mais perto de si.

Um abraço desta que se despesa...



PS: tags: esta semana, no oito e coisa, sff

02 setembro 2008

às vezes

há músicas que me fazem isto, fico a cantá-las e a ouvi-las mesmo quando não as oiço e canto.



eles são os vampire weekend e a música chama-se oxford comma

01 setembro 2008

Escolhe o teu peixe, não mordas o anzol

www.greenpeace.pt


A Greenpeace Portugal apresentou recentemente um estudo sobre o peixe vendido nos supermercados portugueses e conclui que nenhum dos 5 grupos de supermercados estudados vende peixe obtido de forma sustentável. De todos os supermercados, o que obteve melhor qualificação foi o Lidl.

Se clikarem na imagem podem ler mais sobre esta campanha e também pressionar os supermercados para que deixem de vender as espécies de peixe que estão na lista vermelha da Greenpeace e para desenvolverem uma política de compra sustentável.