28 fevereiro 2007

I'm a fool to want you

Para o Manyfaces.

Uma das melhores duplas de sempre (Chet Baker & Elvis Costello).

Alento nesse coração!

Crónicas desta vida mundana

I
Ela uniu-se a uma amiga para atormentar a vida à mulher do amante. As duas entraram no ritual diário de telefonarem à pobre senhora, dia ou noite, a ofendê-la com todos os nomes pomposos que se lhes ocorriam na altura. A dita senhora chorava de aflição e desconfiava de quem fosse, por isso confrontou o marido. O marido confrontou a amante. A amante uniu-se à amiga e arranjou um esquema para se conseguir ilibar. No dia em que sabia que ia estar num jantar com o amante presente, mandou a amiga ligar à mulher dele a ofendê-la. A mulher ligou ao marido a queixar-se em pleno jantar. E ali estava a amante, sorridente, alheia a tudo e sem culpas no cartório aos olhos do seu querido.
II
Ela sabia que ele andava metido num desses portais de amigos na Internet. Onde se fazem novos conhecimentos e se reatam outros mais antigos. Ela desconfiava que ele andava de novo a contactar com a sua ex-namorada. Mas ele rapidamente enchia-a com a culpa da paranóia e ela calava-se. Um dia ela resolveu-se. Mandou um mail ao namorado usando o endereço da sua ex-namorada. E ele caiu na ratoeira. Respondeu-lhe imediatamente.
III
Ela sabia que ele tinha uma amante. Confiscava-lhe o telemóvel sempre que podia e espiava os números todos. Ele deixava-a fazer isto. Porque o número dela estava camuflado sob o nome dum amigo. Para completar a jogada utilizava sempre um terceiro amigo que servia de intermediário para combinar os encontros com a amante.
IV
Ele sabia que já era. Que já tinha sido. Que ela agora sonhava com outro. Ela tinha a opcção no messenger seleccionada para não gravar as conversas. Ele durante a tarde mudou-lhe os parâmetros à socapa e mais tarde conseguiu apanhar-lhe uma conversa suspeita com o dito. Ela negou sempre tudo e ele nunca conseguiu fugir da ideia de que era obrigado a dar-lhe o benefício da dúvida. Porque não queria chamar-lhe mentirosa. Porque doía muito. Mas ele via na mesma. Via tudo mesmo que ela achasse que não. Via o telemóvel dela em cima da mesa à frente dele, sempre silencioso, parecendo provar a inexistência de outra vida fora dali. Mas ela tinha tudo seguro. Um segundo telemóvel andava sempre enfiado dentro das botas de cano por baixo das calças dela. Em modo vibração, claro. Ele nunca a apanhou.

Alguém sabe?

Como se escreve a palavra colher de sobremesa em inglês?

Houve alguém que veio cá dar com esta pergunta. Duvido que tenha encontrado uma resposta.

com todos


de pescada


de salmão


26 fevereiro 2007

Both Sides Now*

DE UM LADO
Lisboa, algures em Novembro 2006 (jantar com dois amigos, ambos médicos)

- Mas tu és maluca? Afinal já andas há 8 anos nisto. Qual é a tua atracção por esse bando de imprestáveis?
- (…). (...) . (...).
- Aparecem lá no hospital e é tudo deles. Não respeitam as regras, acham que estão acima de tudo e de todos, quando há um deles internado, a frente do hospital torna-se um verdadeiro inferno, vem a família toda, acampam onde podem e só desmobilizam quando o internado tem alta.
- Há uns tempos um colega meu fez uma ecografia a uma miúda de 11 anos e descobriu que ela estava grávida. A miúda parecia ter a estrutura de uma criança de 8 anos. O meu colega, respeitando o sigilo profissional, decidiu não comunicar aos pais a gravidez. À noite, teve que sair pelas traseiras porque a família resolveu fazer-lhe uma ‘espera’.
- Espera?
- Sim, queriam que ele se ‘desbroncasse’. Ele achou que a miúda estava primeiro.
- (…). (...) (...).

Lisboa, Dezembro de 2006 (almoço de família, com irmão e sobrinho)

- Mano, queres ver as fotos que tirei?
- Mostra lá.
(segue-se o visionamento de uma série longa de fotografias)
- Sabes, para mim a solução era muito simples: tiravam-se as crianças a esses bandalhos, entregavam-se para adopção e o resto era tudo gaseado.
- Tia, eu concordo com o pai...
- (…). (...) (...).

Belém, 23.02.2007 (ouvido no café onde vou tomar café, conversavam 2 septuagenárias)

- Eles têm tudo, casa, dinheiro, vivem à conta de todos nós!
- É isso mesmo: grandes carros à porta, havia de ver ó D. G. como é que eles vivem mesmo ali ao pé, onde eu moro.
- Pois é, não trabalham, não fazem nada! Ainda no outro dia, era música até às tantas, aquelas festas que eles fazem e que não têm fim… É música até às tantas e depois não há polícia que se meta ali no meio… É o metes!
- Mas também quem é que os quer para trabalhar? Quem é que quer aquela tropa-fandanga?

DO OUTRO LADO

Vidigueira, Dezembro de 2006 (mulher de 50 anos)

- A Guarda [GNR] manda-nos logo embora, aonde é que havemos de ficar? (...) Não há água para a gente lavar, não há um tanque, não há uma bica para a gente beber água, queremos lavar os moços, não há e depois fecham as bicas.

Vidigueira, Outubro de 2006 (mulher de 70 anos)
- Elas não querem que a gente trabalhe [referindo-se às assistentes sociais]. Ainda na vindima andavam elas de avião à cata de quem andava trabalhando. Em Beja deixam trabalhar, as pessoas de lá deixam elas trabalhar, vão ajudar a encontrar para a gente e tudo. Aqui não gostam (mulher de 70 anos).

Seixal, Dezembro de 2006 (mulher de 30 anos)

- Antes do 25 de Abril nós não podíamos estar 24 horas no mesmo sítio, pela nossa sociedade. Porque nós não somos nem vindos de África nem da Roménia, nós somos portugueses, sempre fomos portugueses, mas não podíamos estar no nosso país e acho que isso teve muito a ver antes do 25 de Abril, nós não podíamos estar 24 horas no mesmo sítio. A minha avó conta-me imensas vezes essas coisas, que não podia entrar nos cafés. E a minha avó sempre foi sedentarizada, sempre morou em casas, sempre foi muito limpinha, sempre nos deu uma grande educação. (…) O meu avô na altura também já estudava, tinha o 4º ano da altura, era uma pessoa que tinha uma vivência na altura como nós temos hoje em dia, só que não podiam estar 24 horas no mesmo sítio. E foi-nos proibido de falar a nossa língua, talvez por isso tenhamos perdido muita coisa. Não podíamos ir à escola, daí vem a comunidade cigana ser analfabeta, se não podíamos viver 24 horas num sítio, também não poderíamos… E depois aí vem, como no dicionário diz: "Ai meus meninos, os ciganos são os pilha-galinhas!" Nós tínhamos que roubar para comer, porque não tínhamos sequer como fazer negócio. Daí vem todo o nosso estereótipo, eu acho que vem daí, o cigano é ladrão!.

Cuba, Dezembro de 2006 (mulher de 25 anos)

- Uma autoridade, ele ia rasgar-me o pano [oleado] e eu pedi-lhe: <Ó senhor guarda não me faça isso, não me rasgue o pano por favor que isso é a minha vida e dos filhos>. Ele vira-se a mim, queria bater-me e eu com um bebé de semanas ao meu colo.

Évora, Janeiro de 2007 (mulher de 60 anos)

- A gente não sabe porque é que se pena tanto...

(continua – de um lado e de outro)
*título de um álbum de Joni Mitchell

As coisas que o visa não compra ou a prova de que o álcool provoca astigmatismo temporário

Aos 33 anos ter um miúdo dez anos mais novo a fazer-se descaradamente ao piso, com um dos truques mais velhos da história dos engates: "vou deixar o meu casaco no teu carro", precedido de "tu és mais bonita que as outras todas" (sendo que as outras todas eram uma boazonas da idade dele).

Os óscares

Hoje é a noite dos óscares. Lembro-me de imediato da autobiografia do Frank Capra, The name above the title, onde li uma das histórias mais deliciosas sobre o tema:
[ano 1933; o filme "A Lady for a night" de Frank Capra estava nomeado para melhor filme, melhor argumento, melhor realização e melhor actriz]
«Chegou finalmente a altura dos Oscares para as categorias principais - Melhor argumento - o primeiro dos quatro que eu esperava arrebatar. Olhei para a mesa de Riskin. Bob parecia estar calmo mas, de cada vez que aspirava o fumo, era metade do cigarro que desaparecia. Will Rogers anunciou: "... e o Oscar para Melhor Argumento vai para.... (abre o envelope)... Victor Heerman e Sarah Mason por Little Women! Levantem-se e venham cá recebê-lo!"
Fiquei atordoado mas não me dei por vencido. "Parece que vou ter de contentar-me com três", disse estupidamente aos meus amigos, como se fosse preciso explicar-lhes. Pela nossa mesa passou então uma vaga sensação de medo, imediatamente dissipada por Will Rogers. O Oscar que se seguia era para a Melhor Realização! Enquanto Rogers ia lendo as nomeações, levantei à socapa a toalha da mesa para espreitar uma última vez o papel, já todo amarrotado, onde escrevera o discurso de antemão preparado. Mas nem sequer conseguia segurar o papel na mão, quanto mais lê-lo!
Rogers disse meia dúzia de palavras simpáticas dirigidas aos realizadores e depois: "... e o melhor realizador do ano é... o envelope, por favor... (abriu-o e começou a sorrir). Ora, ora, quem havia de dizer! Há muito tempo que trago este jovem debaixo de olho... Assisti à sua evolução a partir do nada... e quando digo do nada, não estou a exagerar. O Oscar não podia ir parar às mãos de uma pessoa mais simpática. VÁ LÁ, FRANK, VEM CÁ BUSCÁ-LO!"
A minha mesa vibrou, de repente, com uma explosão de aplausos. O percurso até à pista de dança ainda era longo, mas lá consegui avançar, esgueirando-me por entre as mesas apinhadas de gente: "Com licença... dá-me licença?... desculpe... obrigado... obrigado...", até chegar à pista. O projector não parava quieto, girando de um lado para o outro à minha procura. "Estou aqui!", gritei, levantando uma das mãos. Depois, afastou-se de repente de mim e foi iluminar um homem que se encontrava no outro extremo da pista - Frank Lloyd! O aplauso era ensurdecedor à medida que o projector acompanhava o percurso de Frank Lloyd desde a pista de dança até ao palco, onde Will Rogers o cumprimentou com um grande abraço e um caloroso aperto de mão. Deixei-me ficar no mesmo sítio, às escuras, completamente petrificado, sem querer acreditar no que me acontecera, até que atrás de mim, uma voz furiosa gritou: "Vamos a baixar a cabeça!"»
No ano seguinte teve a sua vingança: It happened one night, com Clark Gable e Claudette Colbert, foi o primeiro filme da história a ganhar as 5 categorias mais importantes (filme, realizador, argumento, actor e actriz).
[mais em "O nome acima do titulo - uma autobiografia", Frank Capra, ed. Cinemateca]

24 fevereiro 2007

Receita: como não se fez uma mulher

Folhear de novo este livro do Mestre Cozinheiro, que ensinava as mulheres “que entravam na vida pelo laço sublime do casamento”, como se até aí não tivessem tido vida, fez-me lembrar como estas mensagens era importantes para as mulheres da geração das minhas avós, da minha mãe e até ainda para as da minha geração. Estas mensagens passavam de mães a filhas, de avós a netas, da mesma forma que se herda o ouro da família, quando o havia. Lembro-me de achar quando era miúda, e até mesmo depois adolescente, que sendo eu rapariga, era bonito e importante saber cozinhar e aprender a “governar uma casa”. Valorizava, e ainda valorizo, o espaço aconchegante da casa, a decoração, receber os amigos e amigas, cozinhar repastos, a intimidade possível na Domus. Mas lembro-me também da ambivalência que sentia em relação a isso, pois se por um lado fui aprendendo e desenvolvendo um verdadeiro gosto pela casa e pela cozinha, por outro comecei a rejeitar tudo o que estava relacionado ao que durante séculos se associou à mulher. Queria ser outra mulher, às vezes até queria era ser homem, pois tinha muito mais graça e eles podiam fazer muito mais coisas que as mulheres. Ia ensaiando coisas que antes eram consideradas só para homens, como o sair à noite sozinha, sair à aventura, ir acampar com os amigos, gostar de matemática e de manuais de instruções, etc. Depois fui descobrindo que podia fazer muitas coisas que queria sem deixar de ser mulher, umas vezes pensando essas fronteiras que nos eram impostas entre o masculino e o feminino, outras esquecendo-as por completo e ensaiando só o ser pessoa. Às vezes aborreciam-me as minhas amigas mulheres quando passavam a vida a falar do amor e dos amores e então só queria estar com os meus amigos homens, onde era possível discutir filosofia e política. Outras vezes aborreciam-me os amigos homens pois eram muito esquemáticos e racionais nas conversas e divertia-me mais com as amigas mulheres que eram muito mais hábeis a ler os comportamentos humanos, a adivinhar o que estava latente por trás dos ditos, a analisar o quotidiano.

Com o tempo, as diferenças entre os amigos e as amigas foram-se diluindo e com estes encontros e ambivalências, fui-me ensaiando e construindo através de tradições mantidas, quebradas, reajustadas, negadas, eliminadas e inventadas, e agora defino-me neste meu corpo carregado de um sexo que reconheço pela sua evidência genital como sendo de mulher, assumo-me como bissexual apesar de que toda a vida só namorei com homens, e emocionalmente, a minha única certeza é que não sou mais do que pessoa, cada vez mais pessoa.

O Mestre Cozinheiro



Fui passar umas curtas férias à casa de campo dos meus pais, onde estão guardadas alguns objectos de estimação familiares. Ao decidir fazer um bolo para acalmar esta ânsia de algo docinho que me dá o trabalho na tese, encontrei uma das relíquias que toda a vida me lembro de ver na cozinha da minha avó: um livro dos anos 40, grosso, de capa cinzenta e páginas amarelecidas, com um ar sério, imponente e o título de “O Mestre Cozinheiro, Tratado Completo de Culinária e Doçaria, de Laura Santos”.
Não resisto a partilhar alguns excertos da introdução desta “jóia”:

“Minha Senhora:

Eis aqui um livro da mais alta utilidade, expressamente composto para todas as donas de casa, senhoras que desejam adquirir sempre mais e melhor, conhecimentos dessa arte que se chama: culinária. Trata-se de um livro recheado de boas receitas que farão as delícias dos paladares mais exigentes. (....) Folheando estas páginas, a dona de casa sentirá como que o desejo de ir experimentando esta ou aquela receita. (...) Como se sabe, desde os tempos mais recuados, a culinária representou um grande papel dentro dos lares donde o fogo eterno do amor não se apagará. Não há dúvidas de que os esposos são sensíveis a iguarias delicadas, gostando da novidade à sua mesa, muito embora essa mesa não seja sumptuosa nem tenha baixela armoriada. (...) Sem dispêndios excessivos, isto é, dentro do orçamento de todos os dias, a dona de casa, com o auxílio deste bom livro, poderá apresentar à sua família, pratos que os seduzam e provoquem até alegria durante o repasto. (...) A nossa arte culinária é rica. Contudo, nem sempre a dona de casa, ou a rapariga, que entra na vida pelo laço sublime do casamento, está apta a realizar os menus mais completos, distintos ou variados. Para essas, e para todas as mulheres em geral, foi composto este livro que ensinará, desde os mais simples aos mais complicados e apetecíveis manjares, numa gradação aliciante de receita que por si só fazem crescer a água na boca. (...) Todas as senhoras devem meditar nas altas vantagens dum profundo conhecimento culinário. (...) Portanto, que nenhuma senhora deixe de ter no seu lar, recomendando às suas amigas, este indispensável manual que contém suculentas receitas de todos os géneros e para todos os paladares. (...)”

Foi um verdadeiro deleite reler estas frases, agora a tantos anos de distância do tempo em que este livro era venerado como uma bíblia e guiava a vida das minhas avós.

Recado



Solo per dirti di no, GianMaria Testa

LA 440

Se fosses uma nota eras o LA, afinada como o diapasão na frequência 440, que serve de guia à afinação de todos os outros instrumentos, por ser a nota mais ouvida na natureza.

Durante tantos anos foste a minha caixa de música. Por entre a folhagem do jardim e as paredes do anexo onde estudavas, aplaudi-te vezes sem conta. Eu e os trolhas que começaram a construir o empreendimento que deu lugar à quinta por trás da nossa casa. Ria-me perdidamente quando terminavas o clair de lune, com os 'bravos e vivas' que angariavas da tua plateia, com os aplausos e comoções vindos desse teu público constituído essencialmente por homens das obras. Prestaste um verdadeiro serviço público de cultura, não duvides

Agora, na curva dos teus 35 anos pergunto-me: o que é feito da minha mana misantropa? Aquela que lia no cimo de uma árvore, que escrevia diarios a um ritmo que envergonharia a Anne Frank, que estimava os animais num afecto só seu?

Não és Eufémia, não nasceste no Alentejo, mas és Catarina e tens o mesmo ímpeto daquela lendária mulher.

Muitos parabéns!

23 fevereiro 2007

Fazei isto em memória de mim


Há duas garantias quando se vai ver um filme de Clint Eastwood: a realização irreprensível e o uso de dois pacotes de lenços de papel durante a segunda parte.

Fui ver As bandeiras dos nossos pais e só me lembrava das palavras de Kurtz, the horror... the horror.
Este filme não é sobre os americanos, nem sobre Iwo Jima, nem sobre a II Guerra Mundial. Aqueles homens são iguais a todos os outros que passaram por qualquer guerra, em qualquer país, de qualquer um dos lados. Não é a luta por ideais, nem pela pátria, nem pelos filhos. É por si e pelo próximo. Cada vez que morre um deles morrem eles também. Dali não sai ninguém inteiro.
Entre 61 e 74 foram 149.000 homens portugueses para as três frentes de guerra (Angola, Moçambique e Guiné), muitos dos quais milicianos. 8.290 não voltaram para casa. As estimativas apontam para 30.000 deficientes e 140.000 com stress pós-traumático. Foi a guerra dos nossos pais.
Pelos que lá ficaram, pelos que voltaram, por nós que nunca passámos por isso e nunca saberemos o que isso significa, um filme a não perder.

Agenda cultural


"O Teatro do Oprimido de Augusto Boal envolve actores e público num processo de reflexão mútua sobre a nossa realidade. Ao contrário do que acontece no teatro convencional, os espectadores podem, no fim da peça, entrar em palco e propôr/actuar possíveis soluções para o problema apresentado.
O teatro como espaço de participação, discussão e análise de ideias."
A peça é apenas um pretexto e a provocação para o que se segue. O Teatro do Oprimido começa quando a representação acaba: nas propostas dos espectadores durante o fórum e quando as pessoas vão para casa, pensar sobre o assunto.
Ontem foi a estreia - seguem-se mais 3 exibições, sempre às quintas às 22h, na Barraca.

22 fevereiro 2007

Uma loja a evitar

Há dias comprei uma máquina de café na loja San Luis no Colombo. Quando cheguei a casa constatei que a compra tinha sido um enorme erro: a máquina despejava água por todos os lados e deixou na minha cozinha um cenário diluviano. Arrumei tudo na caixa e fui até à loja para que me trocassem o bíblico aparelho.
Mas nada disso aconteceu. Os funcionários da San Luis recusaram-se a trocar a máquina ou a devolver o dinheiro porque «tinha sinais de uso». Devo ser um bicho raro, mas a verdade é que não consigo verificar o funcionamento de uma máquina por telepatia e por isso deixei a minha queixa no livro de reclamações do sítio.
Como ainda nada me responderam, voltei à carga com mais um fax pedindo resposta à reclamação e com a certeza de que no passo seguinte meterei na conversa a ASAE e a DECO.
Tudo isto numa loja que tem um enorme placar a prometer qualquer coisa como "tudo pelo cliente", mas sobre a qual podemos descobrir denúncias de incumprimentos e mau serviço aqui, aqui ou aqui.

21 fevereiro 2007

A minha geração

"(...) vai minha geração, reage, diz que não é nada assim, (...) que o teu único defeito é ter demasiadas qualidades e tropeçar nelas".

JP Simões faz um retrato magistral - em letra e em música - da minha geração, no seu mais recente álbum de originais: 1970. 'Estatelei-me docemente contra o céu' depois de o ouvir...

Leiam aqui e ouçam aqui.

20 fevereiro 2007

Nada mau

É com enorme prazer que vos anuncio que alguém aqui chegou porque este blog era a primeira entrada na busca no google para:
"fotos que revelem que descobrir consiste em olhar para o que todo mundo esta vendo e pensar uma coisa diferente"

Celibato

O hálito faz o monge

(em resposta ao post anterior)

Casamento

O hábito faz o monstro.

19 fevereiro 2007

Finalmente a prova científica

Na Scientific American de Dezembro, página 12, o artigo "Voting with the heart"
O grupo de trabalho de ciência política de Charles Taber, da Stony Brook University, NY, USA, fez uma série de experiências para concluir aquilo que há muito se sabe: os eleitores fazem decisões emocionais que racionalizam à posteriori.
"Politics, like religion and war, is all about emotions and feelings", diz o senhor.
A diferença entre a escolha de um clube de futebol e uma intenção de voto é nula; a distinção está na possibilidade de fundamentação do voto em argumentos desenvolvidos DEPOIS de se ter decidido para que se lado ia cair, enquanto que ser benfiquista é um estado de alma que não se explica nem se doutrina.
"It's not that reasoning doesn't happen, but it's just very heavily influenced by automatic reactions to things as simple as «us» or «them»", Charles Taber à revista
A política é uma questão de fé e emoção; se estivesse directamente ligada à inteligência ou à capacidade argumentativa os partidos seriam divididos por escalão de QI.
"Aristotle talked about it. Real politicians have always known people are less thoughtful than emotional", ainda o cientista
E nós, sabemos?

18 fevereiro 2007

É só garganta

Decidi mudar fotos no Hi5. Entro na página para carregar as ditas e aparece-me a seguinte mensagem:
"Não carregues fotos que revelem nudez, animais de estimação, celebridades ou imagens com direitos de autor. Se infringires estas condições, a tua conta será eliminada."
Celebridades eu entendo - não vou usurpar imagens de outras pessoas para me definir. As que têm direitos de autor também, pelo mesmo motivo.
A nudez já é discutível, se me der na telha mostrar-me como me puseram ao mundo creio que é um problema meu.
Agora o que me deu mesmo cabo da cabeça foi a parte dos animais de estimação. Não posso postar fotos com o meu cão, gato, canário, periquito, iguana ou cágado? Porque alguém se pode excitar a vê-los? Para defender o seu direito à imagem?
Fiquei cheia de vontade de pôr um Grand Danois só para ver o que me acontecia. Nem um raiozinho em cima da cabeça para amostra.

17 fevereiro 2007

desafio

Recebi hoje mesmo este vídeo por mail. Alguns, muitos de vocês provavelmente já o viram. Por favor, em caso de extrema sensibilidade talvez seja melhor quem nunca viu não chegar sequer a ver. Não pretendo de modo algum que possam ter o resto de dia de merda que tive depois de o ter visto.
Desejo sim, lançar este debate para a mesa e claro que tive este vídeo em conta no meu parecer. Não quero racionalizar, não quero nada, somente deixar-me ir ao sabor do vento como uma mãe que defende um filho contra tudo e todos sem necessidade sequer de justificações e poder oferecer morte igual.

Que fazer quando as palavras não chegam para descrever um acto? Qualquer uma me parece vazia e sem significado....

http://www.hi5.com/friend/video/displayViewVideo.do?videoId=2157390&ownerId=64342616

O novo engate boçal

Abro o msn, tenho vários contactos conhecidos que me adicionaram e quase sem ver aceito toda a gente. Olho melhor e verifico que ali no meio está um caramelo que eu não sei quem é, ainda para mais com um erro de ortografia na frase de apresentação. Será um amigo meu? Fico intrigada.
Passado um bocado o rapaz fica online; decido falar com ele para descobrir quem é.
"conheço-te?"
"sim, do Hi5"
"desculpa?"
"sim, vi as tuas fotografias no hi5, gostei, adicionei-te. Assim podemos falar e conhecer-nos. Tenho um problema electrico cá em casa e esta coisa está sempre a cair, foda-se"
Hum, boa frase para me impressionar.
"olha, lamento, mas o meu msn é pessoal, uso apenas para falar com família e amigos, não adiciono pessoas que não conheço"
"mas podemos conhecer-nos melhor assim, podemos ficar amigos e quem sabe...."
"não deves ter percebido bem. Eu não converso com estranhos, não te conheço de parte alguma, não faço ideia quem sejas, e este msn é pessoal"
"sim, mas posso fazer parte dos teus amigos, é sempre bom conhecer pessoas novas"
Ele muda de fotografia. Está sentado numa poltrona de pernas abertas. O que tu queres sei eu.
Bloqueei-o. Exclui-o dos contactos. Haja santa paciência.

Porquê eu?

Já falei das newsletter que me enchem a caixa de mails, como a dica da semana, as promoções da telepizza, o sr. Silva canalizador, a virgem a chorar pela despenalização do aborto, as viagens de ida e volta a S. Bartolomeu do Assobio por tuta e meia e a prestação de serviços do limpa chaminés (que deve viver num filme da Mary Poppins, ainda não percebeu que temos todos exaustores através dos quais não pode passar) me enchem a caixa de correio normal.
Ora, esta noite recebi um anúncio ainda mais insólito.
«O Governo Regional da Madeira, aprovou em Março de 2006 uma "Estratégia Regional para a Qualidade" a ser implementada num horizonte temporal de cinco anos.»
Primeira surpresa. Alberto João allez. Continuemos.
« Neste sentido, a [uma associação sem fins lucrativos] vai realizar uma Campanha Nacional, denominada "Certificar para Ganhar o Futuro", tendo como principais objectivos, afirmar a importância da certificação para o desenvolvimento e crescimento das organizações em Portugal e promover o debate, à escala nacional, sobre assuntos relevantes para o desenvolvimento sustentável da economia portuguesa.»
Hum.
«A Região Autónoma da Madeira é considerada, pela [dita associação], como um mercado estratégico pelo que esta Campanha Nacional, terá início com a realização de um Seminário no próximo dia 2 de Março, no Museu Casa da Luz, Funchal.»
Olha que azar, eu vivo em Lisboa...
«A entrada neste seminário é gratuita e as inscrições são limitadas. »
o bold não é meu
«Convictos do interesse da realização deste Seminário e do contributo que poderá ter para a melhoria do tecido empresarial português, será uma honra para a [sempre a mesma associação], ter a satisfação de cumprimentar V. Exa. durante este evento.»
Pois aproveito este espacinho para dizer muito obrigado, mas infelizmente não terão a satisfação de cumprimentar esta excelência. Como raio alguém pensou que o tecido empresarial fosse coisa que me interessasse, ainda para mais para um seminário na Madeira, é algo que me ultrapassa. Eu cá não certifico nada, e se o Governo Regional da Madeira quer desenvolver estratégias para a qualidade cá estaremos para ver.
A parte mais intrigante do mail vem no fim: «A mensagem que acabou de receber é um e-mail informativo, não podendo por isso, em caso algum, ser considerada como SPAM.»
Aqui, o bold é meu.

16 fevereiro 2007

14 fevereiro 2007

Palavras sábias da Confucia

Arrumar a casa ajuda a arrumar os miolos

SOS voz amiga

Há 6 dias sem net; mudei da PT para a clix, tinham-me dito que todo o meu equipamento funcionaria sem problemas mudando para esta nova rede, mais barata e funcional, mas foi-se a ver e mudaram-me o serviço de um dia para o outro e o router wireless com 2 meses de vida tão somente ficou mudo, surdo e cego. Uma desgraça nunca vem só, lá diz o povo.
Desde então tenho dependido da bondade de estranhos, ou seja "deixa-me lá usar o teu pc para ver os mails". Ou telefonar desesperada aos amigos informáticos a ver quem me acode. Até agora a bem aventurança ainda não me bateu à porta.
Aproveito este bocadinho em que roubei uma ligação à net aqui na repartição para fazer o apelo: alguém sabe como é que se desbloqueia a porra de um router que está bloqueado para a sapo? Ou alguém quer comprar um router wireless para o sapo (e ser-lhe fiel), simpático e bonitinho, com dois meses tão somente de uso, um só utilizador (bem sei que é menos apelativo que um anuncio de ha umas semanas atras, mas é o que se arranja)? Ou alguém tem um a mais que me queira oferecer e que funcione com a clix? Já estou por tudo, quero é voltar a ter net, que é um dos meus instrumentos de trabalho.
Ou, como me dizia o amigo nerd, não é por mim, é para poder voltar a postar.

Da ciência e outros demónios

Tempos estranhos estes em que me vejo rodeada por amigos alternativos. Sinto-me pré-histórica: como carne, tomo medicamentos, não faço acupunctura, vou a médicos convencionais, tive o meu filho no hospital, não colo grãos de mostarda na orelha para equilibrar as energias. Pior ainda: sou uma pré-histórica chata, faço perguntas sobre as certezas que têm, sorrio do modo automático com que demonizam tudo o que vem da medicina moderna.
Nos últimos tempos, as conversas vão quase sempre parar ao mesmo tema, última moda que tomou conta de grande parte das pessoas que eu conheço: ter os filhos em casa. Conheço várias pessoas, mais ou menos próximas, que compraram a cassete do rosário de motivos para esta escolha: a humanização do parto, a recusa da medicalização de um processo natural, o regresso à natureza. Compreendo as queixas contra a forma como as mulheres são tratadas nas maternidades, concordo que somos muitas vezes tratadas como corpos anónimos desligados das pessoas que somos, sei que é urgente mudar muito do que actualmente existe em Portugal. Mas sei também que o parto não é um acontecimento simples, sei que podem surgir complicações, sei que a medicina não é o monstro que alguns pintam, sei que Portugal tem das mais baixas taxas de morte materna e peri-natal do sul da Europa.
O que me choca é que, para alguns destes meus amigos, os avanços e conquistas da ciência são absolutamente proibidos: a indução do parto é um erro, a epidural é uma armadilha inaceitável. Os mais audazes prescindem mesmo da vigilância durante a gravidez e limitam-se a encontros com doulas e parteiras. Repetem que se deve seguir o que o corpo diz e o que a natureza manda. Esquecem que a natureza é imperfeita e que a medicina pode corrigir algumas imperfeições que surjam no caminho.
Tudo isto remete para a liberdade individual de fazermos as escolhas que muito bem entendemos. Mais do que os caminhos que se escolhem, o que me impressiona é a forma automática e acrítica como estas escolhas podem ser feitas. Lembro-me de uns amigos que escolheram ter o filho em casa aos quarenta anos, recusaram a vigilância durante a gravidez, defenderam contra tudo e contra todos o regresso à natureza. Ignoraram os riscos do parto, deixaram passar os prazos, esconderam os sintomas de um problema que apareceu. E acabaram num hospital, a fazer uma cesariana que salvou as duas vidas que poderiam ter desaparecido se tivessem ficado em casa.
Há dias, contaram-me a história heróica de uns amigos de amigos que vivem numa quinta com os seus dois filhos. Nascidos em casa, os filhos não foram vacinados. A justificação é de antologia: as crianças vivem saudáveis e felizes no meio da natureza; as doenças perigosas só existem na cidade. Se, por um acaso improvável, as crianças adoecem, estes heróis modernos encharcam-nos em chás e mezinhas. Recusam-se a usar antibióticos, por uma razão simples: «anti» significa contra, «bio» significa vida. Ajudados pela etimologia, afirmam que o antibiótico mata. Resta saber quem mata, mas esse é um pormenor irrelevante.
Pré-histórica e chata, dão-me vontade de rir estes heróis dos tempos modernos, trespassados por agulhas e agarrados a grânulos homeopáticos, que combatem cegamente o que se recusam a conhecer. E agora, pelo sim pelo não, bebo uma tisana, agarro-me ao cristal com propriedades terapêuticas e espero que a fúria dos deuses não se abata sobre mim.

Que título?


Às vezes a vida é isto mesmo: não sabermos interpretar o que temos à frente dos olhos. Esta imagem é um reflexo disso: captou-me a atenção e pelo inusitado da cena decidi 'capturá-la'. O que lhe hei-de chamar, não faço ideia.

13 fevereiro 2007

Mas afinal

quantas vidas temos de viver antes de morrer?

12 fevereiro 2007

Auto-defesa



É sempre bom saber algumas técnicas simples de auto-defesa, acessíveis a qualquer mulher, que ele anda por aí muito magano...

Le déserteur


B. Vian, aqui

Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter

Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer .

(Boris Vian)



Para o J., que não gosta de armas.

Estou contente!

Este referendo fez-me sentir um novo alento de esperança para este país, afinal não quisemos manter a hipocrisia que caía sobre o aborto clandestino. Ganhou a democracia e ganharam as mulheres que a partir de agora poderão decidir sobre a sua maternidade sem o estigma da clandestinidade e da ilegalidade em cima.

Os resultados de ontem devem-se a toda a sociedade civil, blogosfera incluida, que se conseguiu mobilizar por esta causa, de um lado ou do outro da decisão. Mas deveram-se também a todas as mulheres e homens que desde há muitas décadas não deixaram de acreditar e de lutar pelo momento que ontem se fez realidade. E não pude deixar de recordar Àlvaro Cunhal, cuja tese de mestrado em 1940, realizada na prisão onde estava detido por ser prisioneiro político, foi precisamente sobre o flagelo do aborto clandestino em Portugal, em particular nas classes trabalhadoras de baixos recursos. A todos/as esses "cotas", um grande Obrigada.

Agora, um novo trabalho se avizinha, o de contribuir para uma boa legislação da nova lei, diminuindo o número de abortos, promovendo mais eficazmente os direitos sexuais e reproductivos de homens e mulheres, combatendo os problemas sociais que dificultam a escolha de uma maternidade/paternidade desejada.

11 fevereiro 2007

Respirar (III)


Parede, 11 Fevereiro 2007.

Depois de ir votar, parei e vi a minha flor preferida: a piteira (flor de um cacto, que dizem que nasce quando o cacto morre). Espero que hoje floresça uma nova consciência.

08 fevereiro 2007

Eu dava-te com a etiqueta...




Como é que é possível, pergunto eu, que existam pessoas capazes de nos fazer questionar até valores mais básicos e essenciais como o direito à liberdade de expressão?
Esta criatura chamada assunção cabral (em letras pequenas, sim.) que não é de todo de raça sofisticada mas antes uma aberração traiçoeira da natureza que faço questão de não cheirar nem de longe nem de perto, este estupor de gentinha pérfida e carregada de maldade dentro do corpo e de um desrespeito absoluto por todas as formas de vida que infelizmente são obrigadas a coabitar o mesmo ambiente sórdido que ela cria à volta dela, merece-me apenas uma única simpatia : a possibilidade de imaginá-la dentro duma sala trancada com dois gatos assanhados e duas cadelas com cio. Esta criatura merece o nosso medo e o nosso pânico. Quanto à senhora Ana Isabel Lima : Tenha dó! Vá-se curar! Francamente, não percebo o que é pior, o calibre de estupidez da sua pergunta ou existir alguém que se dê ao trabalho de lhe responder.

Opinião dourada

Há convicções que temos que pensamos inabaláveis. No entanto, a vida reserva-nos algumas surpresas, e sempre quando menos as esperamos.

Nunca pensei que chegasse este dia. Mas ele está aí. Concordo com o Valentim Loureiro.

Venha daí o meu microondas.

07 fevereiro 2007

Os artistas são todos portugueses

Na blogosfera há muitas maneiras de se mostrar a beleza, normalmente no feminino. Nós por cá apreciamos no masculino, e com tanta sorte que nem precisamos de sair das nossas fronteiras, sem olhar a idade ou a profissão. Ora vejam.

O caso do anónimo de Aveiro

Há quem dedique horas a procurar no google a expressão 'sim ao aborto'. É o caso do anónimo de Aveiro, que entrou por esta via neste blogue à 1:03 a.m., gastando a sua noite a encharcar os blogues que defendem o sim com o corte e costura de um argumentário infindável.

Defendemos o direito à expressão de opiniões diferentes, mas não podemos assisitir em silêncio a afirmações surdas como esta, por ser o vivo retrato de uma estratégia desonesta e autoritária. Resta-nos esperar que, ganhando o sim, não se multipliquem manobras terroristas deste (e doutros) calibres.

Nós bem dizíamos que era preciso uma manobra de reanimação da honestidade intelectual dos partidários do não.

MSN killed the telephone star, ou da existência mediada por computador

Ontem à noite estive com um amigo com quem falava há semanas apenas por msn e mail; com uma amiga com quem tenho falado por sms e mail. E falo todos os dias com algumas das minhas melhores amigas por msn, duas das quais verei esta sexta ao fim de algumas semanas sem sequer nos ouvirmos a voz.
Esta modernice de se comunicar por computador em vez de ouvir o som das pessoas, ou falar ao telefone sem ver ou sentir o outro, com voz e olhos e expressão corporal. Os olhos dizem sempre mais que as palavras, assim fica-se na meia dose.
Faz-me lembrar um filme de 95, Denise calls up. Um grupo de amigos passava o tempo todo a comunicar apenas por telefone e fax, todas as relações incluíndo as sexuais eram feitas por intermédio do fabuloso aparelho do sr. Bell, e quando chegava a hora de se verem em carne e osso dava-lhes o friozinho no estômago.
É muito prático e útil o msn, mas também perigoso. Denise calls up versão Bill Gates.
Diremos que não temos tempo, que estamos muito ocupados, que assim aproveitamos os bocadinhos livres sem grandes complicações. Por mim continuo a preferir os beijinhos da chegada e da despedida em vez dos olá e até logo que me aparecem no rectângulo do écran, as cervejas partilhadas em vez da fúria da escrita, os sorrisos cúmplices em vez das piscadelas de olhos standard, e os risos ao vivo em vez dos "hehehe". Mas também a mim me foge o pézinho para o chinelo do windows - com a desculpa de ter amigos longe de Lisboa, de aproveitar os intervalos para café com companhia ou de partilhar serões sem sair do meu sofá.
É como passar na casa partida sem ganhar dois contos; avança-se mas sem enriquecer.

06 fevereiro 2007

dia 11 está quase

Aproxima-se o dia em que todos e todas teremos de escolher se somos contra ou a favor da despenalização do aborto até às 10 semanas de gravidez, realizado por opção da mulher, em estabelecimentos de saúde legalmente autorizados. Como diz o Rui Tavares, uma pergunta honesta que merece uma resposta honesta.

Ou se vota Sim ou se vota Não. Se o Não ganhar não se pode alterar a lei e manter-se-á a hipocrisia em relação ao aborto clandestino. Se 50% + 1 dos eleitores portugueses for às urnas e votar SIM, então tem de se trabalhar o projecto lei para proteger as mulheres que optam pela interrupção voluntária da gravidez e também para reduzir o número de abortos em Portugal, e aí continuará o debate, quer com os deputados e deputadas da Assembleia da República, quer com a sociedade civil que se mobilizar para ajudar a construir a nova lei.

Negar a realidade do aborto clandestino, que é mais velha que a minha tetravó, e criminalizar as mulheres que o fazem, é meter a cabeça na areia e isso é com as avestruzes.

Por aqui, já somos sete e picos, oito e coisa, nove e tal a votar Sim.

Bruno Bozzetto



Vejam estas magníficas animações de Bruno Bozzetto:

Sobre a vida em andares, clicar aqui.

Sobre a criação do mundo, clicar aqui.

Sobre os estereótipos, clicar aqui.

Sobre a liberdade, clicar aqui.

Sobre a diferença, clicar aqui.

(Obrigada, Sn2).

otorrino precisa-se



Pergunto-me se terei entendido bem a proposta lançada pelos que vão votar não apesar de serem contra a criminalização das mulheres que optam pelo aborto: se o não ganhar, como somos todos muito democráticos, o aborto continua a ser crime, abrem-se processos contra as mulheres que continuam a ser consideradas como criminosas aos olhos da lei e da sociedade, mas nunca se aplicará nenhuma pena.

Onde terei eu deixado o telefone do otorrino?!Isto deve ser cera...

04 fevereiro 2007

Usos

Num acesso de mau feitio, disse um dia que as revistas cor de rosa apenas me serviriam para limpar o rabo no deserto.

Hoje, pensando melhor, mudei de ideias. Não me apeteceria arriscar ficar com o nariz da Bibá Pitta ou a melena de um qualquer Câmara Pereira tatuados nas minhas partes baixas.

03 fevereiro 2007

Uma questão de género?

Foi com alguma perplexidade e consternação que descobri que sou um homem por dentro.


Fui ao Pavilhão do conhecimento e fiz os jogos interactivos da exposição "uma questão de sexo"; todos os meus resultados positivos eram em actividades para os quais os homens têm em geral mais afinidade e talento, e os negativos os predominantemente femininos.
Há já alguns anos que os meus amigos me dizem ser diferente da maioria das mulheres, e as minhas amigas que penso como um homem. Agora descobri porquê: sou um homem gay num corpo de mulher.
Já despachei a questão de saber quem sou; falta saber o que faço aqui, quem me abandonou e de quem me esqueci.

02 fevereiro 2007

Aula de dúvidas

Acendo um cigarro na paragem do autocarro e ele finalmente aparece.
Haverá maneira de aplicar esta lei da embirração ao sentido da vida?

Outras infâncias (II)



Andou atrás de mim durante um par de horas a pedir-me um 'retrato'. Neguei-lho até ser vencida pela sua insistência (naquele dia não era suposto fotografar crianças).
De uma série de cerca de 500 fotos, esta foi a que mais me impressionou: esta fotografia é alma, do princípio ao fim.

01 fevereiro 2007

They make me laugh


Tenho umas paixões intelectuais assolapadas e do mais variado que há; de direita e de esquerda, radicais e moderados, conservadores e liberais, altos, baixos, gordos, magros, com bigode, com barba e sem pêlo. Como o homem da regisconta.


Pus-me a pensar e única coisa que todos eles têm em comum é a capacidade de expôr as suas ideias claramente, com inteligência e honestidade - e mais que nada com muita graça. Pelo menos para mim.


Outra coisa que têm em comum é que não quero conhecer nenhum deles, para que a magia não se perca. As paixões são coisas muito importantes na vida das pessoas, e eu não me quero dar ao luxo que me partam o coração descobrindo que a inteligência não é assim tanta, a honestidade discutível e a graça se perca.


Prefiro admirá-los ao longe e rir-me sozinha com o que dizem e escrevem. E como sou uma atada, nem um piropo lhes mando.

Eu, o cabelo e os homens

Eu já mudei de cor de cabelo várias vezes, já fui morena, moreníssima, loira, loira platinada, loira com madeixas, ruiva caju, ruiva tímida, ruiva cor de laranja. De todas essas formas capilares, nenhuma fez tanto sucesso junto dos homens do que o amarelo, em todos os seus vários tons e matizes.
Dava-se um fenómeno estranhíssimo, havia muito mais homens a olhar para mim na rua e quando falavam comigo notava-se que mal ouviam o que lhes dizia - tanto fazia que estivesse a discorrer sobre a fusão fria, a guerra do golfo ou o último filme do Van Damme, apenas acenavam com a cabeça radiografando-me o corpo todo.
Na altura falei com outras loiras que me disseram a mesma coisa, uma delas resumiu o assunto dizendo que para os homens as loiras têm um letreiro na testa que diz "quero que me saltes para cima".
Suponho que venha dos estereotipos que nos são apresentados, as loiras são boazonas e burras, as morenas menos desejáveis mas mais inteligentes. Ora como eu mantive sempre a mesma cara, corpo e QI independentemente da cor e comprimento do cabelo, concluo que o cabelo representa um papel crucial na categorização que os outros fazem de nós à primeira vista.
Fiquei cheia de pena das loiras, que para além das provações normais que as mulheres têm de passar para se afirmarem no trabalho e na sociedade, têm ainda o preconceito loira burra e comestível.
Pela parte que me toca prefiro ser morena. As minhas feições e o meu corpo são os mesmos, mas os homens que se aproximam não só ouvem de facto o que lhes estou a dizer como são muito mais interessantes - e não tenho que levar com os olhares "morre cabra" das mulheres com namorado/marido ao lado.