Pediu-me que nos encontrássemos. Queria dar-me o manuscrito do livro que acabou de escrever e que vai ser publicado depois do verão. Tal como eu - e como tantas outras pessoas da nossa geração -, também ele teve um pai que esteve na guerra. Com a morte do pai, começou a falar com camaradas, a estudar fotografias. O livro é filho disso.
Não nos conhecíamos até àquela tarde. Quando cheguei, um homem alto aproximou-se e disse estou aqui. E estava. Deu-me o envelope com as provas do livro. A sombra era curta, o calor era muito. Ele queria falar. E falou. Os olhos azuis, as mãos grandes que mostravam fotografias e papéis, as histórias que contava. Até que numa curva da história, os olhos ficaram ainda mais azuis, as palavras deixaram de ser pronunciadas, uma raiva ou desespero ou tristeza apareceu a mordê-lo por dentro. O homem estava a chorar.
Agora tenho o livro à minha frente. Lá dentro, está o homem que tropeçou numa curva da história em frente a uma estranha.