23 outubro 2011
Da janela da frente para a minha
Do prédio em frente, umas janelas abaixo, saíu esta manha à varanda. Camisa de dormir descomposta e pantufas vermelhas, os cotovelos apoiados no varandim suportando um corpo hoje agastado, percebi que chorava, enquanto a chuva lá fora, e o choro, a princípio discreto, ía-se tornando mais intenso e descontrolado.
Encontro-a de novo, horas mais tarde, corpo atirado numa cadeira, a mesma camisa, as mesmas pantufas vermelhas e uma dor que já nao consegue calar.
Chora, leva as maos aos olhos com fervor, fala sozinha, afaga os cabelos despenteados, as maos que entalam a camisa por entre as pernas, chora de novo, torna a falar. E ninguém a ouve, ninguém excepto eu, que percebo a sua dor, que me encontro nela e com ela me inquieto. Seja lá o que for que lhe aconteceu, é contra o vazio que luta, o corpo incapaz de se erguer daquela cadeira.
E eu a vê-la e com vontade de a abraçar e de lhe dizer que a dor que sente vai ser mais pequenina daqui por uns tempos. Sem que ela sequer suspeite.
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1 comentário:
confirmo que estava mesmo triste a senhora, mas agora parece que já está bem, deve ter sentido o teu abraço imaginado que a reconfortou.
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