31 outubro 2012
Porque sim!
30 outubro 2012
fio fio fiuuuu fiuuu fiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuu uuuuuuu
iuuuuu, belas adormecidassss....
e que tal um desafio para ajudar a acordar? e os leitores e leitoras que andarem por aí meio adormecidos também podem participar.
o desafio é para continuar a encher o chouriço, salvo seja, do label "medicina musicopática".
Tanto podem ser posts como videos (curtos de preferência), feitos com o telemóvel ou como quiserem.
para quem quiser participar do nosso inestimável público (e ouve-se uma aranha a descer pelo seu fio no meio de uma sala vazia) basta enviar o texto ou video para oitoecoisa@gmail.com e será publicado (devidamente identificado e inserido na nossa licença de creativecommons).
até 1 de dezembro de 2012.
aceitam? alguém tem algum outro desafio para a troca?
e que tal um desafio para ajudar a acordar? e os leitores e leitoras que andarem por aí meio adormecidos também podem participar.
o desafio é para continuar a encher o chouriço, salvo seja, do label "medicina musicopática".
Tanto podem ser posts como videos (curtos de preferência), feitos com o telemóvel ou como quiserem.
para quem quiser participar do nosso inestimável público (e ouve-se uma aranha a descer pelo seu fio no meio de uma sala vazia) basta enviar o texto ou video para oitoecoisa@gmail.com e será publicado (devidamente identificado e inserido na nossa licença de creativecommons).
até 1 de dezembro de 2012.
aceitam? alguém tem algum outro desafio para a troca?
Para os dias em que não se sabe quem se é
Risquei o teu nome de
todos os compêndios de História universal
Rasguei-te de todas as
fotografias
Fechei todas as portas e janelas
por onde pudesses entrar
Cortei estradas, dinamitei
pontes
Cuspi o meu ódio em todos
os rios e mares
Cortei veias (cortei-te as veias!)
Matei-te e gritei a tua morte como
quem ergue o triunfo de uma caçada.
Matei-te. Mas tu não me morreste.
todos os compêndios de História universal
Rasguei-te de todas as
fotografias
Fechei todas as portas e janelas
por onde pudesses entrar
Cortei estradas, dinamitei
pontes
Cuspi o meu ódio em todos
os rios e mares
Cortei veias (cortei-te as veias!)
Matei-te e gritei a tua morte como
quem ergue o triunfo de uma caçada.
Matei-te. Mas tu não me morreste.
22 outubro 2012
Para os dias em que se sabe quem se é
(Ler em voz alta procurando fazer entoações diferentes ou inventando músicas.
Repetir duas ou três vezes ao dia. Pode deixar ao alcance das crianças.)
Eu sou fado, sou guitarra, sou merengue,
bossa nova e funáná.
bossa nova e funáná.
Sou passada,
sou quizomba, sou qualquer.
Sou bolero e tango,
vallenatos e rancheras,
vallenatos e rancheras,
sou Martirio, sou “a pele que
há em mim”
nos dias em forma de assim.
Sou corridinho, sou chorinho,
sou brasil, sou carinho e cafuné.
sou brasil, sou carinho e cafuné.
sou zouc,
salsa
e son,
sou para o que der e vier
Sou jazz, sou soul, sou Aziza,
Sou cumbia, sou vira,
e viro e torno a virar,
a roda vai continuar,
a ver se me entranhas
ou se ficas lá no ar,
ou se ficas lá no ar,
que eu sou fado, sou guitarra,
sou merengue,
sou qualquer
e sou
e sou
só uma.
Para dias de limpeza na casa e/ou de concentração
a flauta mágica de mozart. Pôr o volume em doses generosas, deixar inundar toda a casa e abrir as janelas, faça chuva ou faça sol.
Para as avarias da vida
variações goldeberg (bach). Alternar entre a
primeira e a segunda gravação, duas ou mais vezes ao dia. Pode afetar a condução de veículos.
18 outubro 2012
a insustentável estranheza do eu
Olho-me fixamente no espelho e por
mais que olhe de um lado do outro e de trás, continuo a ver aquela que já não
quero ser mas que continua pegada a este corpo que parece ser meu.
08 outubro 2012
Viúvas cruzadas em linhas de tempo paralelas
Ás vezes, caminhar no meu bairro, onde nasci, cresci e
onde revivo agora, é como caminhar em linhas cruzadas de tempo, onde o passado
se espelha no presente como sacudidelas à memória e à consciência entorpecidas.
Estou na paragem de autocarro, de novo em dia de greve de metro, e vejo-as
atravessar a estrada a caminho da Igreja.
Passam de braço dado, cada uma apoiando na outra as dores
das muitas idades dos seus corpos, as duas vestidas de negro carregado e
púdico, escondido. Parecem iguais às viúvas do meu bairro de há 30 e muitos
anos atrás, quando eu era uma miuda e quase todas as mulheres avós eram viúvas,
a dona antónia do sr brás cuja cara juro que vi no céu em forma de nuvem no dia
em que morreu, a augusta do nogueira que morreu levado pelo cancro, a dona
firmina, a dona brilhante e tantas outras. Passam, antes como agora, com aquele
ar de que lhes pesa a vida, a existência,
circunscrevendo-se num mundo de hábitos enraizados e repetidos no dia a
dia de dar continuidade a um morto e suportar o peso de um corpo. Se hoje são
octogenárias, quando eu era criança. deveriam andar nos 50. Ou seja, poderiam
ser quase da minha geração actual, podiam ser eu, qualquer uma de nós hoje.
Dentro de uns anos também vamos ser as velhas, as senhoras maiores do futuro,
vamos ser amanhã uma parte do que somos hoje. É um bilhete faz favor, que me
esqueci outra vez de carregar o cartão. Eu só desejo que ainda que nos possa
pesar o corpo, não nos pese a existência.
da importância das costas
Tenho umas ervilhas com ovos escalfados ao lume e
enquanto espero que fiquem no ponto, queria comentar-vos uma coisa de interesse
público para a humanidade, ou pelo menos para mais de metade da mesma, ou pelo
menos para umas tantas…e é que não são uma, nem duas, nem três as mulheres que
se queixam que muitos homens ignoram por completo as suas costas e nem festas,
nem caricias nem massagens a esta zona tão importante do nosso corpo, nem no
acto sexual nem fora dele. Alguns parecem desconhecer ainda que para além de
vagina, clitoris e mamas, as mulheres temos costas e nelas temos omoplatas,
coluna, ombros, ancas, lombares, muitas curvas e concâvos, muitos caminhos por
onde as vossas mãos, lingua, cara, cabelo, tronco, pernas, pénis podem
percorrer, saborear-se e deleitar-nos. Explorem-nos, perguntem-nos, ouçam-nos,
conquistem-nos e percam-nos, percam-se em nós e verão como pode ser simples
chegar ao céu sem sair da terra.
06 outubro 2012
ebulição
Em mim tudo está tenso, os meus ovários, as minhas
mamas, as minhas veias acumulam
sangue que as pressiona e me pressiona. Tudo me parece negro, o mundo é um
lugar inóspito e sem sentido. Abro a janela para o mundo e no écran dou-me
conta de que o país e a sua bandeira estão ao contrário, há um congresso de alternativas
democráticas que discutem não sei que alternativas, há gente desesperada, há
gente com raiva, a violência parece estar preso por um débil fio, há ministros rodeados de
guardas costas com medo de sair à rua, o caldeirão da nossa vida ferve, ferve,
ferve. O sangue escorre-me por
entre as pernas e tudo se distensiona em mim, recupero o meu corpo, recupero a
cordura, esboço um sorriso. Mas lá fora tudo continua em tensa calma, ferve,
ferve, ferve.
05 outubro 2012
Uma manhã
Sentei-me ao lado dela no autocarro. No colo, um caderno onde escrevia furiosamente.
2ª feira
pão € 1,60
legumes € 3,80
3ª feira
pilhas relógio pedro € 3,40
passe € 35
Encolhi-me na pornografia da minha riqueza. Sim, ando de autocarro. Sim, não compro roupa há meses. Sim, também sinto que o bolso encolhe a cada dia. Mas ainda não faço conta aos cêntimos do dia.
Tenho vergonha e medo e raiva do mundo em que vivemos.
03 outubro 2012
retratos
Ás vezes penso em ti, és um retrato a preto e branco guardado no hábito da minha memória e que pretende ser presença na minha realidade
multicromática. Não existes.
Uma manhã, num autocarro.
Num banco de dois lugares eu e um senhor de 80 anos que parecia ter 60. De pé, junto ao nosso assento, um tipo de quarentas, jeans rasgado de cima a baixo e uma camisola que lhe deixava ver o umbigo, com um headphones por onde ele e toda a gente ouvia rock a abrir e uma rapariga que devia ter 30 mas parecia de 40 e que falava ao telemóvel com voz estridente e despachada. Nos instersticios, magotes de gente a tentar chegar a algum sitio em dia de greve do Metro. O senhor levanta-se abruptamente, pousa todos os seus papéis no banco põe-se a procurar o seu bilhete. O autocarro curva para um lado, curva para o outro e o senhor tambaleia para um lado, tambaleia para o outro. Eu em sobressalto atenta a ver se o podia agarrar, o tipo do rock e a rapariga também, os 3 a fazer um cordão de segurança à volta do senhor, algumas pessoas à nossa volta também atentas ao iminente desiquilibrio do senhor. Depois de muito procurar ao ritmo das curvas, arranques e travagens, o senhor resolve ir até ao motorista contar-lhe a sua situação, a rapariga dispõe-se a ir com ele e resolver já tudo, não se preocupe, vai ver que tudo tem solução, tudo isto sempre em voz muito alta, o que ajuda a que todo o autocarro já esteja inteirado da situação do senhor e participe também na missão “à procura do bilhete perdido”. Entretanto o senhor encontra o bilhete, que afinal nunca tinha saído do bolso das calças e senta-se de novo ao meu lado, contente.
Depois de um minuto de contentamento colectivo, ouve-se: pois, hoje em dia as pessoas já não estão dispostas a ajudar ninguém, e começa-se a dissertar sobre esta certeza agora colectiva. E o senhor ajudado concorda, agora anda tudo muito individualista, já ninguém ajuda ninguém. A rapariga estrondosamente prestável, diz: o que me consola é o meu paizinho que me diz, ó filha, tu és uma santa!, tens um lugarzinho no céu à tua espera. O senhor conta uma desgraça recente, o meu carro avariou numa estrada do algarve e ninguém parou, é inacreditável. Mas num momento, fica em silêncio, pára, pensa e diz: mas a verdade é que eu também não pararia, a gente sabe lá, hoje em dia há tanta gente a querer fazer mal, ainda outro dia contou-me um vizinho meu que parou o carro na autoestrada… e continua com o tema da desgraça em que está este mundo.
Chega a minha paragem, desço do autocarro, e lá dentro fica o senhor com o seu bilhete no bolso, a rapariga despachada e alma caridosa com lugar no céu, o rapaz do rock que mais coisa menos vai precisar dos serviços da Sonatone e mais outras tantas pessoas solidárias que também procuraram o bilhete ou estiveram com atenção para o senhor não cair, a falar da desgraça em que está este país, o mundo, ninguém ajuda ninguém.
01 outubro 2012
Telelavores boa tarde, em que posso ajudar?
- Boa tarde, ouvi dizer que a Telelavores tem um serviço de xailes por encomenda.
- Sim senhora, confirmo. Trabalhamos com os melhores materiais e executamos o modelo que os clientes desejam.
- Então faça a fineza de tomar nota do meu pedido. Eu queria um xaile negro BDSM. De lã virgem, claro.
- Tem preferência pelo material das franjas do xaile? Podem ser em cabedal?
- Franjas, só em vinil.É que o meu escravo é vegan.
de um porto italiano ao futuro
Recentemente resolvi comparar os dvds do Marco para mostrar à minha filha e recordar a série que tanto me tinha presa à televisao sofrendo pelo míudo que nao encontrava nunca a mãe. Nem tinham passados 10 minutos do primeiro episódio e já estava eu a correr para a casa de banho, a chorar convulsivamente, carpindo memórias que pensava esquecidas, perante o olhar espantado da minha filha. Ao terceiro episódio lá recuperei e comecei a seguir a história. É curioso, quando era míuda não tinha reparado que o Marco tinha de trabalhar para sobreviver, que bebia vinho, que além de ir à escola tinha de trabalhar em casa para poder ajudar a sua familia e que estava separado da sua mãe porque ela teve de imigrar para poder ganhar dinheiro para a familia. Ou que queria ser médico quando fosse grande e às vezes parecia um homem pequenino e não um menino, ainda que o seu macaquinho puxava-o para as macacadas próprias das crianças.
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