17 janeiro 2012
11 janeiro 2012
E um feriado pessoal para nos celebrarmos a nós mesmas?
Para mulheres que não desistem de si e de serem bonitas. Falo de nós, globulistas deste gulob em mudança inspiradora.
Por tudo e por nada
Por todas as más palavras que te mereci e as boas que nunca haviam de chegar, as noites em desassossego, os jantares à espera ou com fim trágico, a prepotência com que irrompias pela nossa casa e impunhas os teus humores de fel, pelas vezes que me rasgaste por dentro... apenas quero agora dizer-te que a minha casa é o meu continente e a minha cama demasiado pequena para conter mais que um corpo, o meu.
fotos do fogo
(ou outra forma de contar a guerra colonial)
Fotos do Fogo
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
A guerra deu na tv
foi na retrospectiva
corpo dormente em carne viva
revi p´ra mim o cheio aceso
dos sítios tão remotos
e do corpo ileso
vou-te mostrar as fotos
olha o meu corpo ileso
Olha esta foto, eu aqui
era novo e inocente
"às suas ordens, meu tenente!"
E assim me vi no breu do mato
altivo e folgazão
ou para ser mais exacto
saudoso de outro chão
não se vê no retrato
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
Nesta outra foto, é manhã
olha o nosso sorriso
noite acabou sem ser preciso
sair dos sonhos de outras camas
para empunhar o cospe-fogo e o lança-chamas
estás são e salvo e logo
"viver é bom", proclamas
Eu nesta, não fiquei bem
estou a olhar para o lado
tinham-me dito: eh soldado!
É dia de incendiar aldeias
baralha e volta a dar
o que tiveres de ideias
e tudo o que arder, queimar! no fogo assim te estreias
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
Nesta outra foto, não vou
dar descanso aos teus olhos
não se distinguem os detalhes
mas nota o meu olhar, cintila
atrás da cor do sangue
vou seguindo em fila
e atrás da cor do sangue
soldado não vacila
O meu baptismo de fogo
não se vê nestas fotos
tudo tremeu e os terremotos
costumam desfocar as formas
matamos, chacinamos
violamos, oh, mas
será que não violamos
as ordens e as normas?
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
Álbum das fotos fechado
volto a ser quem não era
como a memória, a primavera
rebenta em flores impensadas
num livro as amassamos
logo após cortadas
já foi há muitos anos
e ainda as mãos geladas
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
quando a recordo
sei que quase logo acordo
a morte dorme parada
nesta morada
aguçadamente escrito pelo sérgio godinho e enternecedoramente cantado por ele, Carlos do Carmo e Camané no ámbum "O Irmão do Meio".
Fotos do Fogo
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
A guerra deu na tv
foi na retrospectiva
corpo dormente em carne viva
revi p´ra mim o cheio aceso
dos sítios tão remotos
e do corpo ileso
vou-te mostrar as fotos
olha o meu corpo ileso
Olha esta foto, eu aqui
era novo e inocente
"às suas ordens, meu tenente!"
E assim me vi no breu do mato
altivo e folgazão
ou para ser mais exacto
saudoso de outro chão
não se vê no retrato
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
Nesta outra foto, é manhã
olha o nosso sorriso
noite acabou sem ser preciso
sair dos sonhos de outras camas
para empunhar o cospe-fogo e o lança-chamas
estás são e salvo e logo
"viver é bom", proclamas
Eu nesta, não fiquei bem
estou a olhar para o lado
tinham-me dito: eh soldado!
É dia de incendiar aldeias
baralha e volta a dar
o que tiveres de ideias
e tudo o que arder, queimar! no fogo assim te estreias
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
Nesta outra foto, não vou
dar descanso aos teus olhos
não se distinguem os detalhes
mas nota o meu olhar, cintila
atrás da cor do sangue
vou seguindo em fila
e atrás da cor do sangue
soldado não vacila
O meu baptismo de fogo
não se vê nestas fotos
tudo tremeu e os terremotos
costumam desfocar as formas
matamos, chacinamos
violamos, oh, mas
será que não violamos
as ordens e as normas?
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
Álbum das fotos fechado
volto a ser quem não era
como a memória, a primavera
rebenta em flores impensadas
num livro as amassamos
logo após cortadas
já foi há muitos anos
e ainda as mãos geladas
Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira
quando a recordo
sei que quase logo acordo
a morte dorme parada
nesta morada
aguçadamente escrito pelo sérgio godinho e enternecedoramente cantado por ele, Carlos do Carmo e Camané no ámbum "O Irmão do Meio".
10 janeiro 2012
trezentosesessentagraus
Adoro decoraçao, adoro mudar tudo. Gosto de arrastar móveis, repensar espaços, imaginar e ensaiar como os mesmos objectos podem modificar um ambiente de um espaço, gosto de ver tudo a circular e a mudar de sitio, para continuar em frente com a vida mas com uma lufada de ar fresco. Gosto de mudar a minha casa e gosto de mudar as casas das minhas amigas e amigos, ainda que nem sempre a coisa saia bem, como quando dormi na sala da casa de uma amiga e a acordei de madrugada para lhe perguntar se podia mudar uma ou outra coisinha na sala, ao que respondeu que sim meio ensonada e quando acordou na manha seguinte teve um baque e um ataque de surpresa e agrado mas com uma nesga de mau humor, que atribuí à possibilidade de não ter dormido bem por causa do barulho dos móveis a arrastar durante a noite. É a única explicação que encontro para me ter feito voltar a pôr tudo no seu lugar inicial.
à berlinda ao serviço da pátria
Outro dia o meu pai, numa viagem de carro a propósito de umas fotografias de que precisava, contou-me que uma vez, acabado de vir da guerra e precisando de renovar o bilhete de identidade, foi tirar uma fotografia numa qualquer fotomaton. Sentou-se no banquinho giratório ajustado á sua medida, olhou em frente, e não aguentou, desatou a gritar e a correr dali para fora, assustado pelos sucessivos flashes da máquina. O meu pai disse que a minha mãe contava isto como uma história divertida, em que ela se escangalhava a rir (quando ria com gosto a minha mãe era mesmo muito efusiva). Mas ao contrário, continuou ele com um certo pesar, já punha um tom mais sério quando contava a história do senhor neves, quando recém regressado de angola ao serviço da pátria, que uma vez estava num café quando o empregado deixou cair a bandeja grande e metálica no chão e imendiatamente ele se pôs debaixo da mesa. Acho que o meu pai se lamentava por ela reconhecer o senhor neves como um afectado da guerra e não reconhecer nele as consequências da guerra. Com este episódio dei-me conta que ultimamente por uma razão ou por outra, a guerra colonial anda na berlinda da minha vida. Quase todas as minhas amigas têm pais que foram à guerra, que partiram jovens e foram fazer uma guerra que não era sua.. Alguns tentaram ser refugiados em frança ou na suiça mas poucos o conseguiram. A julgar pelo meu pai e pelo que vou pescando dos seus, só muito de quando em quando falam desse tema, até podem analizá-lo, racionalizá-lo enquanto fenómeno politico e social condenável, obviamente com motivos económicos identificáveis, com consequência sociais e até psicológicas para os soldados da guerra, esse ente externo e estranho, mas, portas dentro de casa e de si, fez-se silêncio, já passou, não se fala para que ele não possa viver de novo, a gente tem que ser forte e ninguém quer ser um inválido de guerra, o que lá vai lá vai, os miudos ainda podem ficar impressionados. Ou então contam os seus actos de bravura, elogiam os seus reflexos apurados, a sorte, a camaradagem e as dificuldades com os outros como eles. Pouco dizem sobre o horror do que viveram, ainda que este às vezes se lhes escape surdo nos pesadelos que lhes trazem de novo o que viveram na guiné, moçambique ou angola. Talvez esse não dizer seja uma forma de apagar esse tempo, ou talvez não consigam encontrar dentro de si as palavras para contá-lo sem que volte a fazer-lhes mal. Talvez se tenham convencido de facto que já passou. Mas ela esteve aí, a guerra colonial existiu, a que conhecemos e a que adivinhamos. Afectou os nossos pais, as nossas mães, as nossas familias e até a nós, que tentamos conhecer e compreender melhor a presença surda e muda desse tempo que anda à berlinda nas nossas vidas.
08 janeiro 2012
Alta voltagem
Vou oscilando entre uns minutos na cadeira eléctrica e enfiar os dedos na tomada. Porque eu gosto mesmo é de uma bela descarga.
07 janeiro 2012
O cúmulo da ironia (história verídica com nomes semi fictícios)
Ricardo e Carlos eram dois jovens que em comum tinham o bairro em que moravam e o verem-se convocados para a mesma guerra embora em palcos diferentes. Ricardo, filho de gentes abastadas, iria parar à Guiné, onde o terreno era difícil e as balas, muitas, resultavam em grandes perdas para a nação que Salazar comandava; o outro, menos endinheirado e filho de pai que queria dar-lhe uma lição de vida e ensinar-lhe o que é "ser homem" (expressão sempre dita com vários pontos de exclamação a marcar o orgulho pelo produto final viril), não o poupando a esta tortura, tinha passagem marcada para andar aos tiros em Angola. A família do primeiro moveu influências e solicitou uma troca de postos com Carlos, o que veio a assegurar mediante a oferta de umas quantas notas de mil escudos. Quis o destino que a aventura de Ricardo em Angola não durasse mais de um dia. Haveria de regressar à metrópole, como tantos outros, em posição horizontal e mais rapidamente do que era suposto. Já Carlos cumpriu quase todo o serviço na Guiné até ao dia em que os estilhaços de uma mina o interromperam. E viveu uma vida em permanente conflito consigo próprio, uma vida na qual nunca mais se ergueu em absoluto, mas uma vida cheia e longa.
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