E eu que tinha pensado que tudo seria igual até ao dia em que o onofre se fosse, e afinal tem de me aparecer uma puta qualquer à esquina. Uma pessoa está sossegada na sua vida, os jantares em frente à televisão, a barriga dele que não pára de crescer, os roncos que me acordam à noite, mas uma pessoa aguenta-se nas curvas, afinal de contas ele não vai para novo e qualquer dia deixa de me acordar à noite e a sentar-se calado na sala a olhar para ontem, qualquer dia sou só eu pela ordem natural das coisas e finalmente estes anos de solidão acompanhada ficam a valer a pena. Estava eu tão sossegada e descubro agora que uma cabra se pavoneia com o onofre pela baixa, contou-me a minha tia que soube por uma mulherzinha qualquer que lhe ligou para casa. Cá para mim é uma amiga daquela mula, o onofre sempre teve um dedinho para escolher mulheres que faz favor, havias de ver a gaja antes de mim, uma dondoca armada em senhora que nem piou quando lhe fui arrancar o homem de casa, o onofre de rabo entre as pernas a fazer a mala, eu a dizer das boas àquela desgraçada que nem uns saltos altos sabia usar e a gaja com cara à banda, cá para mim devia estar com medo que lhe fosse aos cornos, uma cobardolas armada em fina que nem sabe lutar pelo seu homem. De forma que agora fico é muito calada, a putéfia deve estar à espera que eu faça uma cena ao onofre e ele vá a correr para ela, mas está muito enganada. Logo à noite ponho o vestido verde e o meu melhor sorriso e vou encostar-me ao onofre como se ele fosse o último homem da terra, esqueço a barriga, esqueço os quase sessenta anos, esqueço a putéfia que o persegue, e daqui ninguém o arranca nem à lei da bala, o homem é meu e eu não sou de baixar os braços com a primeira lambisgóia que se atreve a mostrar as unhas.
2 comentários:
e já agora, o que pensará o onofre de tudo isto?
banecta, diz o guichet, será uma pista?
pois! eu fiquei a pensar o que pensaria a tia....
Enviar um comentário