31 agosto 2009

amor castrado


Durante toda a minha infância e adolescência sempre me apaixonei pelo sexo oposto. Nunca me passou pela cabeça outra coisa, aliás, confesso que nem sabia que isso era possível, estava rodeada da heterosexualidade, a minha família, os meus amigos e amigas, a televisão, tudo, tudo era heterosexual. Na adolescência e no principio da idade adulta, ás vezes ouvia comentar que nao sei quem era homosexual, e isso era dito de uma forma que marcava uma diferença, um desvio à norma. Gozava-se com isso. Quando tinha 20 e poucos anos o meu melhor amigo assumiu-se homosexual e isso foi para mim um choque, tive uma noite de insónia â conta disso (o que em mim é uma coisa rara), mas depois do choque inicial aceitei a coisa perfeitamente e através dele conheci mais pessoas homosexuais, homens e mulheres iguais a todos os outros e esta condição passou a ser uma coisa natural e naturalizada. Comecei a ficar incomodada quando ouvia as pessoas gozarem com quem saía de la norma heteresexual e a aperceber-me através de outros o que implica assumir uma relação com uma pessoa do mesmo sexo, as dificuldades e a discriminação que isso trás consigo. Ouvi histórias de pais e mães que tiveram desgostos enormes ao descobrirem que os seus filhos ou filhas eram homosexuais, que os deserdaram, que cortaram relações, como se de um crime se tratasse. Ouvi histórias de pessoas que toda a vida negaram a sua sexualidade para não sofrer essa estigmatizaçao. Sair do armário é uma posição de coragem também , não é fácil assumir uma orientação sexual diferente num meio ainda tão hostil. E hoje pela primeira vez em quase 4 décadas de vida sonhei toda a noite que estava perdidamente apaixonada por uma mulher, demos um beijo ao de leve na boca e isso levou-me ao céu. Ao acordar, senti pena por ser só um sonho e pus-me a pensar em tudo isto. Terei eu coragem de na vida real de deixar-me apaixonar por uma mulher, sabendo que terei que me enfrentar à discriminação e ao gozo de quem ainda não aceita o amor nas suas múltiplas formas?

5 comentários:

dançando sambinha disse...

oito, em uma de tuas formas....

nao deixes que ninguém castre os teus sonhos. Nao importa a forma, ainda que é verdade que é un meio hostil, mas nao poden fechar as portas al teu coraçao, a la teua paixao, al amor.

Nao importa sair o no sair de um armario. Importa os teus sentimentos. A tua vida. Isso e o mais importante.

Se fiel a tu misma. As teus sentimentos.

(desculpe, eu me apaixione lendo o teu post)

Leo Mandoki, Jr. disse...

...tens q experimentar...não deves estar a espera...faz com que aconteça e dps logo se vê...eu já fiz isso

Sophia disse...

Sempre ouvi dizer que o amor é cego.. e nunca me pareceu que a paixão se preocupasse com tabus ou dogmatismos. Por isso se calhar se houver amor/paixão esse tipo de racionalismos deixa de ser problema..?

sem-se-ver disse...

sorri imenso com o final deste post.

querida, nós nunca (é a minha sincera opinião) decidimos se nos apaixonamos ou não. seja por mulher ou por homem. se nos apaixonamos, foi porque foi 'beyond my control'. não é?

donde, talvez fosse preferível colocar-se a questão de uma outra forma: se está disponível para abrir os seus braços e o seu corpo a uma mulher. porque, se antes se tiver apaixonado por ela, entregar-se-á naturalmente (e provavelmente) a ela.

porque o que pode acontecer é apaixonar-se e decidir não se envolver com ela. pelos receios que aqui descreve. o que é diferente do que escreveu. :-)

os amores difíceis - estes, por um homem casado, por alguém muito mais novo, por alguém muito mais velho, enfim, casos que podem ser mais problemáticos - são-no pelos motivos que cada um trará.

é contudo minha convicção que quando o coração e a mente decidem 'what the hell' e abandonar-se a um deles, não há receios que nos tolham.

os relatos de amores homossexuais bem provam como a estigmatiação é real e penosa, as vezes, mesmo trágica. mas muitos há também que demonstram que nem a estigmatização é tanta assim (pode ser tanta assim), nem é tão insuportável assim. que tais amores sobrevivem a tudo isto, se, enquanto amores, forem reais, sinceros e pacíficos - na cabeça de cada qual. e é esta a origem de todas as nossas tempestades e de todas as nossas bonanças.

e, no fundo, só ela.

8 e coisa 9 e tal disse...

até agora ainda nao me aconteceu, mas se algum dia me apaixonar por uma mulher estarei muito mais encorajada pelos vosso comentários :)

um abraço