Eis a história da minha desgraça: o meu piano foi afinado hoje e – claro! – fiquei logo cheia de vontade de estudar! Estava eu a verificar a afinação, quando reparo num passarinho, provavelmente caído do seu ninho. Lá espantei os gatos mais de mil vezes, com a ajuda da minha filha. Depois, à falta de melhor, enfiei-o num transporte de gatos. Entretanto achei que o bicho podia morrer de frio, e pu-lo dentro da casa do piano.
As crianças enfim alimentadas e a dormir, e eu regressada ao estudo. E não é que o safado já tinha conseguido sair do transporte?! E assim o encontrei, a piar como se não houvesse amanhã. À falta de um conta-gotas, deixei-lhe água numa tetina de biberão (que o bicho, aliás, achou muito interessante). Dei-lhe pão e abriu tanto o bico que achei que me levava o dedo. Mas agora já não come mais. Será que vai morrer de indigestão?!
Fiz-lhe uma cama numa caixa aberta de cartão, com um babete antigo, relva e uns pauzinhos, mas a criatura foi para outro canto dormir. Depois, começo a estudar, e ele a piar… Peguei no bicho e pu-lo em cima da cadeira, de modo a avaliar os seus progressos na arte de voar. Abriu as asas e… caiu.
Dou por mim a sentir-me (ainda mais) culpada por estar a fazer barulho, não vá o malvado morrer ao som de Chopin. Vou tentar o silent mode, vá lá que o meu piano tem a opção de se transformar num piano eléctrico – nunca se sabe quando vai haver um passarinho cardíaco a precisar de ajuda! (Segunda tentativa de estudo... Raio do passarinho). E quando dei por mim a desejar-lhe boa noite achei o cúmulo, isto não pode ser normal!
Chamámos-lhe Fallen.
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