15 abril 2010

a brincar, antes que me esqueça

E agora eu era cirurgiã e inventava a forma de descobrir todas as pessoas que te habitam. Deitava-te numa cama, alisava o teu peito até encontrar o ponto de incisão perfeito e deslizava as tenazes indolores com que te abriria . Pegava o teu coração na minha mão, olhava-o de todos os lados e encontrava uma multidão.  Junto das veias reconhecia o homem duro a quem nada lhe importa, o recitador de certezas inabaláveis, o suicida tranquilo que se ri da desgraça, o encantador de serpentes em frente do seu público. Espreitava o lado das artérias e encontrava o homem sério que evita sorrir para não se desmoronar, o tímido que perde a voz em curvas inesperadas, o marinheiro que não suporta o barulho das ondas. E agora eu era cirurgiã, sentia nos meus dedos as costuras de que és feito, e tudo finalmente estaria no seu lugar.

4 comentários:

joshua disse...

Adorei o brincopoema.

não resistiu ao wiski disse...

A senhora do guichet diz: criscolu.

A mim soa-me a crise no colôn..

Ou seja m.... da g.....!

sete e pico disse...

e digo mais joshua, que bem se brinca neste brincopoema adelaide.

nove e tal disse...

gostei. e muito.