28 maio 2010

pequena história verdadeira


 foto de Yale Joel

Nunca a vi, mas imagino-a. De uma beleza discreta colada à pele, tal como colada à pele tem as roupas que veste. Sempre.
O que vêem nela é mais do que aquilo que aparenta. Os homens por quem ela passa adivinham-lhe as formas perfeitas que a roupa apenas insinua. Os que têm sorte, podem segui-la como cães. Enviam mensagens, suportam o silêncio de dias a fio, alimentam a esperança de que um dia. Um dia.
Até que esse dia acaba por chegar. Bonito menino, tome lá umas horas da minha companhia. Um almoço, um jantar, um concerto. Pouco importa. O que importa é o tempo que ela lhes oferece, deusa descida à terra, linda de morrer e quase tocável. Durante essas horas, eles acreditam que falta pouco. O sorriso dela não mente, não pode mentir. Vai ser hoje, eu sei que vai.
Mas não vai. Não foi. Nunca é.
Ela despede-se e eles não têm coragem para mais. Assistem à partida da deusa, de mãos vazias.Desta vez é que é. Desisto. Este jogo não é para mim.
Dois dias depois, ela desce do olimpo e lembra que existe. Uma mensagem  que pode ser tudo ou se calhar não é nada.
Com o tempo, rapaz, habituas-te à coleira. Agora só tens de sorrir.

1 comentário:

Anónimo disse...

não estarás muito longe da verdade...