21 fevereiro 2011

Pseudo manifesto

Segundo a wikipedia, a expressão “geração rasca” foi primeiro usada “por Vicente Jorge Silva num editorial do jornal Público em 1994, referindo-se a uma geração de jovens portugueses que frequentava a universidade e manifestava a sua discordância pelas políticas educativas, em particular pelo aumento significativo das propinas universitárias.”

A geração rasca começou, então, por ser a geração que continuava a achar que tudo lhes era devido, sem que nada tivesse um preço. Que tinha direito a tudo sem que nenhuma obrigação fosse associada a tal direito. Ou mesmo que fosse co-relativa, prévia ou necessária a esse direito.

Sucessivos governos, democraticamente eleitos, em mais do que um milagre da multiplicação das rosas, davam tudo a toda a gente, sem nada em troca, "como devia de ser", uma maravilha!

Chegados ao ponto em que eu, não sendo rasca, estou à rasca, só tenho uma pergunta: quem, de boa fé, pode dizer que achava que o sistema era sustentável, racional ou mesmo justo?  Quem, de boa fé, pode dizer que toda a gente só tem direitos?

Proponho, apenas, uma coisa: antes de participar em manifestações de descontentamento – e eu estou na linha da frente desse mesmo descontentamento -, pense primeiro em que tipo de Estado quer.

Leia a Constituição da República Portuguesa – especialmente o art.º 9.º, tarefas fundamentais do Estado. Faça depois o contraponto com os art.º 53.º a 100.º. Pense no que cabe ao Estado directamente e no que deve caber ao Estado regular. Pense em sectores que podem ser concorrenciais entre público e privado ou livres. Pense em como deve o Estado regular. Considere a existência de 13 mil entidades na esfera de consolidação orçamental. Analise as grandes obras públicas projectadas, a sua relação custo/beneficio e ligação com equipamentos existentes. Sobretudo, pense sistematicamente, sabendo que toda a acção tem uma consequência necessária associada e que, tendencialmente, se estende no tempo.

Olhe para o seu recibo de vencimento/ verde. Faça as contas a quanto não recebe e entrega. Faça as contas a impostos, directos e indirectos, e taxas, portagens e afins. Analise as contas de água, gás, luz, PT e faça as contas só ao valor das taxas. Quando andar de transportes pague um bilhete individual e veja o preço. Se tiver carro, faça as contas do preço à semana/km. Veja a taxa moderadora e se tem médico de familia e se pode marcar uma ocnsulta para menos de 3 meses.

Tente perceber quais são os pagamentos que as empresas têm de fazer ao Estado, quantas vezes por ano/trimestre, se esse pagamento é feito com base em recebimentos ou projecções de lucro. Pense no que são "custos de contexto". Pense no seu próprio ambiente de trabalho: se "as coisas" são fáceis ou dificeis; se alguém ajuda a resolver ou se tudo liga o complicómetro. Pense em maneiras de destruir complicómetros. Pense se, quando chega a hora de sair, o trabalho foi feito ou se fica para amanhã ou se fica a fazer horas extraordinárias, não pagas nem reconhecidas. Pense porque o trabalho não ficou feito.

Veja quanto contribui obrigatoriamente para a segurança social, sabendo que quando chegar a vez de nos “reformarmos”, o sistema está tecnicamente falido. Pense em que benefícios sociais são importantes e quem devem abranger. Não se esqueça de contar com o factor demográfico, levando em conta que 2009 foi o ano que em menos nascimento houve desde que há estatísticas em Portugal. Pense porque é que há tão poucos nascimentos.

Gosto do Estado. Acho o Estado imprescindível. Mas mais Estado não é um sinónimo de um bom Estado. E Estado não é, certamente, garantia de felicidade ou de realização individual. Decidi que era de direita quando percebi que, em políticas públicas, entre a liberdade e a igualdade, escolheria sempre a liberdade. E que só sendo verdadeiramente livres, podemos ser verdadeiramente iguais.

A função primordial do Estado é libertar-me.

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