03 dezembro 2011

Pedro

A idade faz-nos estas coisas, traz a recordação do que nas nossas vidas valeu a pena e extrai dela aquilo que não valeu, nem uma pena nem nada, nem um chavo sequer.
Hoje é dia 3 do último mês do ano e lembro, por ser o dia dos seus anos, um dos grandes amores da minha vida.
E falar de amores não é uma banalidade. Quando se leva pelo menos metade de uma vida às costas, a palavra amor é uma constelação onde poucas estrelas cabem. E ele cabe não pelo amor que lhe tive, que foi muito mas repleto de adolescência tardia, mas mais, muito mais, por aquele que ele me dedicou. Hoje reconheço essa grandeza com muita saudade. É sempre assim, só anos passados se consegue dar o devido valor ao que se deixou fugir.
O Pedro era um homem de palco mas cheio de medo das luzes. Único na forma como contava anedotas e tão capaz de papéis cómicos, tão a jeito da sua fisionomia, como de papéis dramáticos que me faziam chorar de comoção quando subia a palco. Um homem bonito e que sabia provocar o riso nos que o rodeavam mas que chorava muitas vezes em silêncio. Um homem com uma só cara.
Um dia escolheu voar e eu sabia que um dia havia de ser essa a escolha. Conhecia-o e entendi-o como um gesto de coragem. O derradeiro mas, talvez, o único gesto de coragem que teve perante uma vida que não ia com ele e com a qual ele travava uma luta desigual. Quando o telefone tocou eu quase que já sabia que notícia ele me trazia do outro lado do fio.
Parabéns meu amigo, parabéns meu amor. Hoje eu brindo à tua vida, da qual eu me honro ter feito parte, e que foi enorme.

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