08 julho 2009

Juraci-a vidente contente e a profecia final

Juraci não cabia em si de contente. A vida corria-lhe de feição. Clientes naquela parte do mundo não lhe faltavam e a memória dos tempos vividos na pátria lusa, desvanecia-se dia após dia sem querer deixar rasto. Tinham passado sensivelmente três anos desde a sua chegada a Istambul . Juraci - A vidente contente, retirou os pés da água, banhados pela corrente fresca do Mar Negro, e secou-os à toalha distraída pelo gritos de alegria do Professor Uganbanga que brincava por ali, em correrias com o cão Kasparov.
Mas nem tudo eram rosas, descobriu Juraci, quando ao fim da tarde desse mesmo dia, a sua querida e indispensável bola de cristal, modelo"ver sem limites 6.5", já com os upgrades do último trimestre feitos, lhe revelou algo de inesperado. O final do mundo, marcado para uma data tão específica que Juraci não teve como ignorá-la. 21 de Dezembro de 2012 era a data marcada para o final da espécie humana e do planeta terra e era também a data de aniversário do seu casamento com Uganbanga. Juraci sabia que a sua bola não se enganava. Nunca. Por isso resolveu encarar a coisa como um facto consumado. Quando Uganbanga a olhou ternamente enquanto mordia um morango encharcado em moet & chandon, já tarde na noite, deitados no seu quarto, Juraci contou-lhe a profecia. A sua reacção foi absolutamente serena tendo em conta a sua crença na imortalidade e limitou-se a endireitar os óculos na cana do nariz com um sorriso.
- Nesse dia, vou amar-te da mesma forma que te amo hoje.
Era no fundo o que interessava. Essa era uma premonição para a qual não necessitava de bola nenhuma. Aninhou-se, calma e em paz nos braços de Uganbanga sem desejar saber de mais coisa nenhuma.
Deitado aos seus pés, enrolado na manta de pêlo de carneiro, Kasparov espirrou, alertando-os para a sua presença. Juraci riu-se e fez-lhe uma festa carinhosa na cabeça. Spaciba, respondeu ele, voltando a fechar os olhos.

3 comentários:

sete e pico disse...

lá está em casa de ferreiros, o amor é o que dá pau...

(gosto das historias desta vidente sempre contente)

gerou-se a confusão natural disse...

Gosto da tranquilidade. Mas já eu, preferia que nenhuma bola de cristal me alertasse para o que quer que fosse. Que o fim do (meu) mundo seja inesperado é o que eu considero um santo fim

na prise és bestial disse...

tinha saudades da juraci.