13 maio 2011

O corrimao

Nao sei porquê lembrei-me do corrimao das escadas que separavam o rés do chao do primeiro andar, que separava a casa dos meus avós da casa dos meus pais e nossa, dos irmaos. Primeiro foi de metal, anos 70, depois puseram um novo, de madeira. O corrimao separava o andar de cima do andar de baixo. Eu descia por ele abaixo como se fosse um escorrega, descer as escadas era um prazer, era o meu parque de diversoes dentro de casa, passava ali horas, ou a jogar à bola com o meu irmao, um no meio das escadas e o outro em cima. Quando a minha mae se zangava comigo e vinha atrás de mim, eu fugia rapidamente pelo corrimao para o colo seguro do meu avô no andar de baixo. Muitos anos mais tarde, quando os meus avós já nao existiam, o corrimao servia para que a minha mae nele se apoiasse quando subia as escadas, lentamente, toda aquela eternidade que separava a sua cama onde estava a maior parte do tempo, horas e horas olhando para nada, pensando coisas que só ela o sabia,  da porta da rua, de toda a vida de fora que já nao sentia sua, que já nao reconhecia. Agora, o corrimao apoia o homem que já viu muitos sóis e muitas luas e quer continuar a ver mais algumas, quando este desce da solidao da sua casa para a solidao da rua.


O corrimao separou e apoiou muitas vidas nas nossas vida naquela casa. Está bambo, meio torto, mas continua lá entre aqueles dois andares aos que ainda chamo casa, apesar de que deixei de viver lá há muitas casas e muitas vidas atrás. 

1 comentário:

8 e coisa 9 e tal disse...

há certos posts em que eu lamento sempre a falta do botão "gosto". Porque não há nada que se possa ou deva dizer.