13 agosto 2008

Intermitência #3

(…)
Acordou sufocado, como quem nada no fundo do mar em busca de ar. Levantou-se desgrenhado e decidiu sair. Apanhar ar fresco e respirar fundo. Antes de sair abriu uma gaveta dela, aquela onde costumavam estar os seus pequenos tesouros que só agora lhes percebia o valor. Queria qualquer coisa que o pudesse ajudar a procurá-la. Encontrou um bilhete de cinema, o seu colar preferido, a pregadeira que lhe ofereceu no aniversário, fotografias, as cartas que lhe havia enviado e uma outra que ela não chegara a enviar. O destinatário era ele, estava escrita a tinta negra e junto tinha um caracol de cabelo dela.
Abriu-a, cuidadoso. Leu-a devagar para poder digerir cada palavra.

Olá meu querido.
Como tens andado?
Escrevo-te porque gostava que soubesses como a minha cabeça se ocupa involuntariamente contigo. Todos os dias deambulo por ti. Adivinho os teus dias e embalo o teu sono. Preencho as horas dispersa, enquanto os meus pensamentos se atiram para o precipício que és tu. Esse fantasma em que te tornaste.
Estou cansada. Fazes-me falta porra. Não consigo deixar de pensar em ti. Apetece-me fazer amor contigo como costumávamos fazer. O que te parece? Aproveitamos o escuro do meu quarto e depois esquecemos. Tenho saudades do teu toque, do encaixe perfeito dos meus lábios no canto do teu olho com o teu nariz, da curva perfeita das tuas costas, da parte de trás dos teus joelhos. Queria outra vez esse amor erecto que envolve em espasmos de corpos suados, a tua mão a sufocar a minha boca e os teus olhos perdidos nos meus.
Quero acordar e soltar-me deste aperto no coração. Odeio-te por esta agonia, por teres sido o meu presente envenenado.
Conto-te um segredo. Mais um. Mas não digas a ninguém…
Envenenar-me-ia de novo. Inconsequente na loucura desse amar.
Um beijo.

P.S. Um dia será tarde demais.

2 comentários:

Anónimo disse...

Fico à espera da Intermitência #4 :)

Anónimo disse...

adoraria... um encaixe perfeito...