28 fevereiro 2009
Coisas do diabo
Jacques Brel compôs esta canção e interpretou-a de forma divinal. É sempre bom ouvi-lo e ver como o mundo continua tão na mesma.
e hoje é assim...
A prova faz-se já aqui ao lado
27 fevereiro 2009
Hoje, no Diário de Notícias
Preocupados com a segurança ou comportamento dos filhos, os pais estão a recorrer aos serviços de detectives privados para seguirem os passos dos filhos. Desde câmaras ocultas até receber todas as conversas dos filhos, nada é esquecido.
Preocupados?
O que me choca não é só os pais quererem controlar os filhos e não saberem o que o direito à privacidade significa. O que me choca é eles não perceberem que há nesta ansiedade de controlar alguma neurose. E que a maior parte das vezes saberem das coisas não mudará nada. O que me choca é eles acharem que os filhos vão fazer coisas que não resultam da educação que lhes foi dada. O que me choca mesmo muito é achar-se que os miúdos nascem estróinas, nascem maus, têm o seu feitiozinho muito próprio. Os miúdos são todos resultado do que está à volta deles quando nascem e enquanto crescem. Devem ser responsabilizados quando fazem asneiras, claro, mas também têm direito a fazê-las. Devem ser responsabilizados quando cometem crimes, claro, mas também é preciso perceber como é que chegaram ali. Vamos convencer-nos de uma vez de que educar uma criança não é para todos (e que dá muito trabalho) ou vamos continuar a gastar toneladas de dinheiro na gestão de danos?
26 fevereiro 2009
A suspensão da descrença
foto via câmara clara
Embora de amor me incendeie
o fugaz prazer não estorva o meu desejo;
exalto a chama do Amor
e o meu coração só renega
aquele amar que o amor ofende.
Felizardos!
Saí então de casa de sorriso estampado no rosto, até porque tinha que deixar entender que esse não é, também, o meu clube. Descobri, então, a enorme capacidade de contágio desta coisa da felicidade. Entrei no ginásio, cumprimentei como de costume quem estava atrás do balcão e ouvi a bonita declaração por parte de recepcionista "Faz-me bem vê-la, sempre com esse ar tão feliz!".
Aliás, a prova de que as estatísticas não mentem é o facto de, nesta nossa diminuta multiplicidade, duas de nós terem sido identificadas pelos seus pares como felizes raparigas.
Tenham um bom dia e façam o favor de serem felizes!
dificuldades educacionais
24 fevereiro 2009
O carregamento
- Quem (olho para um lado e para o outro)???
- A M. (eu), sempre com o seu carregamento de felicidade atrás!
- EU?
- Sim! De todas as pessoas é aquela que nunca muda, traz sempre esse carregamento de felicidade e boa-disposição consigo...
- Senhor A., importava-se de repetir isso que disse aqui para o meu amigo?
- Não me importo nada: a menina M. anda sempre com o mesmo carregamento de felicidade e boa-disposição. Todos, todos, todos os dias.
- Hummm, hummm (anui o meu amigo).
- Tem a certeza do que está a dizer, senhor A.?
- A certeza absoluta.
- Não se vai arrepender do que disse?
- Não vou. Eu conheço as pessoas, ando há muito anos nisto.
Não sei o que se passa comigo. Logo eu, que arrasto uma pata podre de melancolia desde que me conheço, que bebo azia existencial logo pela manhã, que não há a porra de um dia em que diga 'este é o dia', que vivo entre taquicardias, ansiedades e angústias, foi calhar-me mais este fardo: o de passar aos outros a imagem daquilo que certamente não sou.
23 fevereiro 2009
21 fevereiro 2009
Outros olhares
imagem daqui
A guerra contra as uniões oficiais de pessoas homossexuais parte do princípio de que estas não são pessoas normais. Os homossexuais são todos uns larilas que só pensam em sexo, engates em lugares públicos, e se passeiam de calças de licra e pochete. É uma questão paralela à do racismo. Há pessoas que não suportam negros porque consideram que são todos ladrões e criminosos. Tomar a parte pelo todo é um recurso de estilo que me faz muita impressão fora da literatura, e não penso que seja coisa própria de uma civilização num estádio tão avançado, o que me leva a questionar tal estádio.
20 fevereiro 2009
a crise do crédito
The Crisis of Credit Visualized from Jonathan Jarvis on Vimeo.
Descoberto via Blasfémias.
faça um intervalo
Tribus de L'OMO / Hans Silvester
Nunca é tarde
19 fevereiro 2009
suspiros da vida quotidiana
18 fevereiro 2009
Sim
"If homossexuals are allowed their civil rights, so would prostitutes or thieves or anyonee else".
As ideias de Anita Bryant não são muito diferentes das ideias dos opositores ao casamento entre pessoas do mesmo. Seriam apenas risíveis, se não fossem perigosas.
Adenda
17 fevereiro 2009
16 fevereiro 2009
15 fevereiro 2009
pretextos para brincar com polaroides inventadas
Tem noventa e um anos e passou uma vida inteira sem que ninguém se lembrasse de lhe oferecer um ramo de flores. Ontem foi a primeira vez.
domingo
Ouço caetano veloso, o amor escraviza mas é a única libertação. Eu a não querer já acreditar no amor, a querer acreditar na possibilidade da libertação e ele insiste, meu amor, acredite, que se pode viver assim p’ranóis...
Às vezes os cantores deviam ir dar uma grande volta ao bilhar grande, ou para o diabo que os carregue, ou mesmo pró caralho que os foda.
..................
mamã queres um bocadinho de pizza?,
quero,
toma, tchéc, tchuque.
14 fevereiro 2009
Quando as galinhas ainda tinham dentes
Ora bem, estava eu a remoer as memórias desse tempo indolor:
numa tarde de tédio, na casa-de-banho, abro o armário gigante e pego nuns objectos estranhos e não identificados, sinto-lhes a textura, viro-os de um lado e do outro. Faz-se luz e sorrio. Vou-me embora com os O.E.N.I. na mão
Irmã mais velha: olha lá, o que é isso?
Irmã mais nova (eu): o quê?
Irmã mais velha: isso que tens aí nos pés?
Irmã mais nova (eu): isto? (olho para os então O.E.N.I.) então... são pantufas!
Irmã mais velha: PANTUFAS???
Irmã mais nova (eu): sim, até tinham uma faixa para colar e tudo!
Irmã mais velha: vamos lá conversar.
e foi assim - pelas palavras da minha irmã - que soube da coisa-que-não-tem-nome. prefiro chamar-lhe a 'cabrona'.
Errata
13 fevereiro 2009
O gajedo
12 fevereiro 2009
11 fevereiro 2009
via mail
10 fevereiro 2009
09 fevereiro 2009
palavras sábias
Mesmo com toda a fama, com toda a brahma
Com toda a cama, com toda a lama
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa chama
Mesmo com todo o emblema, todo o problema
Todo o sistema, todo Ipanema
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa gema
Mesmo com o nada feito, com a sala escura
Com um nó no peito, com a cara dura
Não tem mais jeito, a gente não tem cura
Mesmo com o todavia, com todo dia
Com todo ia, todo não ia
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa guia
Mesmo com todo rock, com todo pop
Com todo estoque, com todo Ibope
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando esse toque
Mesmo com toda sanha, toda façanha
Toda picanha, toda campanha
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa manha
Mesmo com toda estima, com toda esgrima
Com todo clima, com tudo em cima
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa rima
Mesmo com toda cédula, com toda célula
Com toda súmula, com toda sílaba
A gente vai levando, a gente vai tocando, a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula !
Estava com a neura
08 fevereiro 2009
06 fevereiro 2009
05 fevereiro 2009
Arsenic and old lace
Mortimer volta a casa para dizer às tias que se vai casar. Descobre então que aquelas senhoras amorosas se têm dedicado a matar por envenenamento homens velhinhos e solitários, para "os ajudar a encontrar a paz".
um bicho impertinente
- Diga, diga.
- Mas não pode contar à tia Lurdes.
- Tá jurado.
- A tia Maria tem andado a pensar numa maneira de mandar matar o papagaio dela.
- Cruzes, credo! Toda a gente sabe que a tia Lurdes vive para aquele animal. Já viu bem a sala dela? Se não fosse a ausência de grades, diria que ela própria vive dentro de uma enorme gaiola. Eu sei que a tia Maria detesta viver assim e até pensa arranjar uma salinha só para ela lá em casa, mas daí até querer matar o bicho...
- Nem diga mais. Também estava perplexo com a situação até saber das razões que estavam por trás disto.
- E que razões podem estar estar por trás duma insanidade destas?
- Bom, a verdade é que a nossa querida e mais que púdica tia também tem o seu lado tão fresquinho como o orvalho matinal. Desde há uns tempos, aproveitando a ida da tia Lurdes a um congresso de videntes, que anda a enfiar-se com o carteiro lá em casa, e olhe que ele nem tocava duas vezes. Parece que aquilo aquecia mais que um forno.
- E que tem o pobre bicho a ver com o assunto?
- Ainda não percebeu? A tia Maria anda horrorizada que o papagaio meta a boca no trombone. Parece que ele apanhou todas as trocas e baldrocas de juras de amor e afins que andaram por ali a soar casa fora.
- Aiii, benza-me Deus! Mas que história terrível. E não se pode simplesmente calar o bicho?
- A tia Maria não tem tentado outra coisa. Todos os dias passa horas a tentar ensinar-lhe o repertório todo do José Cid mas o bicho limita-se a aprender as melodias e usa as mesmas palavras proibidas. É como um argumento adaptado, percebe?
- Ai, que horror.
- Pois, assim é. Olhe, vou lá passar em casa dela agora mesmo para saber novidades.
- Está bem, veja se amanhã me diz qualquer coisa.
Em casa da tia.
- Ó tia Maria, já resolveu a questão do papagaio? Não me diga que já deu cabo do pobre bicho.
- Não consegui matar o bicho filho e o macaco e a banana do José Cid não venceram a casmurrice do papagaio.
- Então como fez?
- Filho, encontrei uma arma invencível! Apresentei-lhe o repertório do Tó Zé Brito e foi de vez!
- Curou o bicho?
- Curei o bicho!
Irene é quem manda!
Chama-se Irene, e para além de minha tia é minha madrinha. O que transporta em si um peso emocional e geracional bem mais corrosivo do que um simples grau de parentesco, porque reza o ditado que quem põe a mão põe a condição. E assim é, a minha tia e madrinha Irene põe mão, condição, amor, tudo e nada numa breve actuação de quem entra e sai da ribalta sempre com a mesma postura incomensuravelmente firme. Para ela tudo é revestido a uma camada espelhada a pragmatismo. Tudo é absolutamente linear e não há problematização possível. A guerra acaba-se matando todos e ninguém fica para contar, devia haver mais gays e lésbicas para castrar conservadorismos alheios de chá das cinco, a violência doméstica é uma punição merecida porque quem apanha e não leva é porque é fraco e não tem pujança para dar um murro na mesa ou no conjugue, o dinheiro é um bem necessário e o melhor mesmo é adjudicá-lo ao amor e a melhor receita para o amor é experimentá-lo de todas as formas e feitios pois a experiência faz a prática e o que se quer mesmo é um amor feito a sexo bem treinado e não a utopias de 'viveram felizes para sempre'.
As conversas são regradas aos pormenores mais intimos e inusitados. Da nossa vida já sabemos nós e é uma chatice. Bom bom, é saber da vida dos outros. É uma terapia, segundo ela, que aliada ao mal-dizer, nos traz não só noites bem dormidas como também auto estima. A auto estima é sempre construída por comparação e sentirmo-nos melhor que os outros é sempre reconfortante. E assim são as coisas, simples e lineares. Não há discussão possível, nada se põe em perspectiva e assim se leva a vida. E no meio de tanto loucura imersa numa ditadura quase que cómica, resta só uma certeza: na minha tia psicopata há também muito amor porque quem põe a mão põe a condição.
A tia M.
Passou a usar um aparelho nos ouvidos que insista em apitar estridentemente nos chás de domingo e abafava a conversa de torrada, onde pouco participava. Passou, também, a usar umas estranhas palas de cartão em cima dos aros dos óculos grossos, porque a luz a incomodava. Foi ela própria que as desenhou e recortou no cartão de uma embalagem, acho que de farinha. Depois, tiraram-na da sua grande casa isolada e puseram-na num apartamento.
Pouco antes de ser a primeira dos meus mortos, passou uma tarde lá em casa, com 99 anos, já encolhida, muito pequenina, numa estranha e morna beatitude com o meu cão psicopata. Nunca mais esqueci esse quadro. Aos meus olhos de 10 ou 11 anos, pareceu-me um recorte no mundo. Dois malucos intratáveis, ternos apenas entre si mesmos.
De vez em quando, falávamos nela e na sua estranheza. Com os anos, fui sendo apresentada à sua longa vida, aos seus pequenos grandes feitos feitos aos outros em silêncio e na altura em que é preciso. Sim, era psicopata. Mulher forte e generosa que teve a coragem de não negociar consigo própria ou com os outros só para tornar a vida mais fácil e que, assim, atravessou destemidamente dois séculos e duas guerras mundiais. Os meus estranhos presentes de anos eram, afinal, tesouros dela e são dos melhores que hoje tenho. “À sua, Tia M. A minha querida tia psicopata!”
Por falar em patas
Variações ao tema de hoje
Interlúdio musical
Eu matar não gosto muito mas saudades é diferente
É como matar as pulgas
alivia a gente
entra o bombo.....
cronocidio
as meninas
- é melhor chamar o pai.
- não sei.
- mas doi-te muito?
- não sei.
- pai!
abro-te a porta do carro e entras lá para dentro. a luz coada do fim de tarde confere uma aura de mistério ao que está prestes a acontecer. volto para dentro e sento-me no nosso canto a morder os dedos. que a hora das branduras te acompanhe no que se há-de seguir.
somos as duas meninas. mas tu quiseste abandonar essa condição mais cedo e eu disse-te para não o fazeres, teimaste comigo e disseste que não. e é por isso que agora estou aqui a morder os dedos. de vez em quando escapo-me para o jardim e fumo um cigarro, depois volto para dentro e volto a morder os dedos e volto para fora e fumo outro cigarro...
ouço o deslizar do carro rua abaixo. ponho-me de pé e ajeito-me para receber a notícia. as chaves de casa, os passos firmes.
- olá pai.
- olá filha.
- e como foi?
- é menina. chama-se Maria.
A chávena
04 fevereiro 2009
Boletim metereológico internacional
Está frio, isso sim!
Em Barcelona foram-se embora os aguaceiros que não deixavam a roupa secar e fez um dia de sol, até o frio se derreteu. Dá gosto andar na rua.
03 fevereiro 2009
Já o tempo se habitua
A estar alerta
Não há luz Que não resista
À noite cega
Já a rosa Perde o cheiro
E a cor vermelha
Cai a flor Da laranjeira
À cova incerta
Água mole Água bendita
Fresca serra
Lava a língua Lava a lama
Lava a guerra
Já o tempo Se acostuma
À cova funda
Já tem cama E sepultura
Toda a terra
Nem o voo Do milhano
Ao vento leste
Nem a rota Da gaivota
Ao vento norte
Nem toda A força do pano
Todo o ano
Quebra a proa Do mais forte
Nem a morte
Já o mundo Se não lembra
De cantigas
Tanta areia Suja tanta
Erva daninha
A nenhuma Porta aberta
Chega a lua
Cai a flor Da laranjeira
À cova incerta
Nem o voo Do milhano ...
Entre as vilas E as muralhas
Da moirama
Sobre a espiga E sobre a palha
Que derrama
Sobre as ondas Sobre a praia
Já o tempo
Perde a fala E perde o riso
Perde o amor
O José Afonso, para além de ser um dos melhores compositores portugueses, era um letrista como há poucos.
02 fevereiro 2009
Minutos de ócio
o povo é sábio
Casar com Muçulmano é sarilho todo o ano.
Casar com Judeu cuidado com o que é teu.
Casar com Jeová nem a tua mãe te salvará.
Casar com Adventista é pior que ir ao dentista.
Casar com Hindu só se já o tiveres visto nu.
Casar com Luterano é pior que muçulmano.
Casar com Budista nem que o teu pai insista.
Casar com Agnóstico só se for bom para o negócio.
Casar com Baptista faz mal à vista.
Casar com Ateu ficas pior que camafeu.