Estou reclusa em casa. As razões são boas, nada de espirros e fanicos, só mesmo muito trabalho que faço aqui sentada. Uma vez por dia, um passeio higiénico no bairro, mais uma dose de cafeína, os cigarros que ainda não larguei (está quase está quase) e pouco depois regresso à cadeira de onde escrevo. Cinco minutos na rua e tanto mundo à minha frente. O homem redondo que pede uma fatia de bolo de amêndoa e uma bola de gelado de rum com passas que rumina silencioso e só numa mesa do café. Uma mãe que passa com a filha pequena pela mão e diz muito alto 'a professora que vá dar uma volta'. A loiraça descascada que se derrete ao telefone enquanto raspa o verniz do indicador. O cego que chega a casa com o cão guia branco e procura as chaves no bolso. Por cinco minutos tento imaginar estas vidas, tenho pena de não ter perguntado ao homem redondo se alguém o esperaria em casa, gostava de saber porque aquela mãe diz alarvidades tão alto, lamento não poder ver a voz que faz a loiraça derreter (de que falarão?), gostava de saber de que cor é a escuridão do cego quando chega a casa
2 comentários:
Olá
Gostei mt do post :)
Consegui visualizar cada uma das personagens que tão bem descreveste!
Beijinho*
eu sei a resposta: os cegos tem várias explosões de luminosidade dentro dos olhos. Algo que se assemelha a descargas eléctricas. A escuridão dos cegos nem sempre é escura.
Gostei bastante do que li. Da forma como escreveste. É um tom que eu ainda não tinha visto aqui.
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