25 dezembro 2008

Qualquer coisa de especial

Todos os anos traziam aquela altura do ano que tanta angústia lhe causava. Mais uma vez teria que enfrentar outro Natal e o entusiasmo alheio que este acarta nas outras pessoas. Como era difícil ter que rasgar um sorriso aos outros que se divertem com compras e enfeites pirosos. Como explicar-lhes que o seu Natal se fazia à volta de uma mesa que continha palavrões com primorosas descrições das actividades sexuais de todos os vizinhos do quarteirão. No seu Natal não se trocavam prendas e não se ansiava a chegada do Pai Natal. Esperava-se antes o primeiro estalo atlético de mão puxada até as costas, coreografado à imagem dos filmes que passavam na televisão ou o primeiro a abrir a sessão de discussões, adaptada a um concurso de amplitude vocal que faria rir como um idiota qualquer pessoa que afirme gostar do Natal. Eram assim as suas consoadas, sem nada de natalício mas com muito de agitação.
Não havia como gostar do Natal pensava para si. Resolveu pois fazer um esforço e tentar encontrar qualquer coisa de tão encantadora naquela época como as outras pessoas a faziam querer acreditar. Reviu metodicamente todas as etapas das maratonas natalícias ultrapassadas até então e encontrou uma mesa onde não se trocavam presentes mas afectos em voz alta e bem gesticulados para que todos os entendessem sem falsas pretensões ou ironias. Afinal o seu Natal até tinha qualquer coisa de especial.

1 comentário:

dizia ela baixinho disse...

ora bem.

um beijo gelado a tod@s