13 fevereiro 2010

Marcelo D' Bróculos em Português de Portugal


Marcelo D' Bróculos, nunca tinha estado ali. Uma brisa empestada do sabor ácido de algum citrino apodrecido resgatava as suas narinas impedindo-o de se concentrar no que apostava, só podia ser o mais divino e doce cheiro que alguma vez sentiria, transportado num corpo feminino com tal candura e magia, que Marcelo, como um reflexo incontrolado, quase estendeu a mão para agarrá-lo,  ao passar por si. E a alma dentro daquele corpo tinha um nome. D. Ana Alva, chegava à cidade, sem fortuna, despojada de tudo e da família que a guerra do outro lado do mar lhe tinha roubado sem mesericórdia.
Marcelo D' Bróculos, nunca tinha estado ali, naquele lado das chegadas ao porto de Lisboa mas sabia muito bem o que ali estava a fazer.
O seu casamento com Ana Alva tinha sido previamente acordado, ainda ela era senhora de uma imensidade de bens, favoráveis à muito instável situação financeira da sua própria família, e quebrado o contrato após o seu imprevisto estado de ruína, facto a que Marcelo tinha decidido fechar os olhos, depois de confrontado de antemão com uma fotografia da sua prometida. Por isso, escreveu-lhe e rogou-lhe que viesse na mesma, contra todos os pedidos encarecidos do pai e da mãe e até ameaças de vir a ser o único dos irmãos Bróculos a não ser contemplado em testamento.
Mas Marcelo estava nesta fase, já perdidamente apaixonado, tendo como único senão, o facto de que D. Ana Alva não o conhecia a ele, nem sequer por fotografia, um luxo de escolha somente reservado à ala masculina casadoira. E ali estava ele, naquele impasse, consumido pela ideia de que no momento em que ela desse a volta ao fundo do pontão do cais para voltar vagarosamente a passar por ele, ele teria de a interpelar, apresentar-se e que ela poderia querer fugir para sempre desaparecendo para sempre da sua vida com o seu cheiro a amêndoas doces.
Mas foi em vão que Marcelo se martirizou. D. Ana Alva deu a volta ao pontão, voltou vagarosamente até chegar ao pé dele mas em vez de passar, baixou-se até ao chão para agarrar o que Marcelo depois pode ver, ser a fotografia dela que inadvertidamente lhe tinha caído do bolso.
Olhou-a intensamente recebendo a fotografia de volta e quando ela lhe exibiu um sorriso tão doce como era doce o seu cheiro, ele soube inequivocamente que Ana se viria a chamar Ana Alva D' Bróculos.

2 comentários:

Farinha Amparo disse...

Qual será o cheiro combinado de amêndoas doces com bróculos (ou melhor, d'bróculos)? Algo exótico, não? Quase estranho...

SrPróprio disse...

gostei... bonita historia