27 junho 2010

O cavalo marinho


O cavalo marinho é uma raras espécies da natureza (e ainda mais rara nos peixes) em que a sua reprodução se dá por viviparidade, o que significa que as suas crias já nascem independentes dos pais.  Outra particularidade  é a da reprodução estar a cargo dos machos. Estes recebem os ovos que a fêmea lhes dá, fertilizam-nos e cuidam-nos  durante os dois meses da gravidez, até expulsá-los com violentas contorsões. As crias nascem,  sobem à superfície e vai cada um à sua vida,  descendentes e progenitores. 


Na nossa espécie, os seres a quem chamamos filhos ou filhas ou que amamos como tal, criam connosco laços que se estendem no tempo e dependem de nós durante muitos e muitos anos, são os laços sociais que o fazem assim, mas também são os laços afectivos e relacionais que se vão construindo dia a dia, nas presenças, ausências, possibilidades, desejos. Até que um dia que tanto leva a chegar elas sobem à superfície das suas vidas, e nos surpreendemos por que esse dia já está aí.

Na nossa espécie, sofremos dores e alegrias de crescimento durante toda a vida e aprendemos a cuidar, como até aí não tínhamos talvez aprendido, desde o momento a que chamamos filho ou filha a uma criança que partilhará connosco esta vida única que temos, em geral mais curta que comprida.  E nesse encontro, aprendemos a ajudar a crescer em meio da espuma dos dias e do tempo que não se detém para nós. Tentando ensinar, aprendemos também a crescer, a viver,  até ao dia em que, tal como o cavalo marinho,  voltamos à bolsa que nos recebeu e cuidou, voltamos a ser nada para poder ser de novo qualquer coisa.