11 setembro 2008

Mecânica Feminina

Durante muitos anos guiei um velhinho Fiat 600, que me transportava lenta, mas fidedignamente pelas ruas de Lisboa. Os seus 30 anos de uso intensivo aliados aos muitos kilómetros percorridos começavam já a pesar, obrigando-me a tirar uma especialização rápida em mecânica automóvel, em muito ajudada por livros como 'Como resolver problemas na autoestrada', 'O manual do mecânico de fim de semana' ou 'O que fazer? Mecânica Automóvel' e por colegas, com mais ou menos jeito e vocação.

Foi assim que aprendi, e executei, por várias vezes e com afinco, a limpeza das velas, tendo por vezes de as retirar e voltar a colocar, a afinação do Klaxon, ou buzina, com retoques discretos e carinhosos no solenóide, a mudança do filtro de ar, a afinação - manual - da intensidade e alinhamento dos faróis, e isto para não falar nas restantes tarefas de manutenção, como verificação da pressão de pneus, do nível do óleo, incluindo a sua substituição e a montagem e desmontagem da bateria, colocando-a, sempre que necessário, à carga num circuito dedicado.

Um dia, por ter detectado que dois cilindros estavam isolados, vi-me obrigada a verificar o estado das velas. Removi-as, escovei-as, mergulhei-as em dicloroetileno para remoção da sujidade mais difícil e estava a verificar e rectificar o espaçamento dos eléctrodos com um 'apalpa-fugas' quando passa um homem e me diz:

'Então menina, ficou sem gasolina, foi?'

12 comentários:

sem-se-ver disse...

fez-me lembrar o meu mini velhinho de 10 anos, e a minha relação com ele... não tão especializada quanto a sua (vide episódio dos cilindros), mas quanto ao resto, foi tudo... além do radiador que quando estava furado me obrigava a parar para repôr a água de 15 em 15 kms :-))

Anónimo disse...

apalpa-folgas, sff

d. inês sequiosa disse...

ah ganda oito, assim deitas por terra a teoria de que as mulheres são as donzelas em perigo da mecânica. Até mergulhas coisas em dicloroetileno...

foi dançar a bossa nova disse...

Mais: rectifica o espaçamento dos eléctrodos com um apalpa fugas! Valente!!

Anónimo disse...

para a composição ficar "au point" só faltou a referência ao "bendix".

Assim, dou 4 em 5.

Muito bom

Anónimo disse...

"...Eu não sei de onde sai
tanta gente a precisar de um coração
que me toma por um anjo,
nem pergunta se desejo
a sua afeição..."
Lili& O America, JP Simões, 1970

Anónimo disse...

Foi nesse episódio que descobriu que era lésbica?

dizia ela baixinho disse...

anónimo de cima,

que grande associação!

(como é que não me lembrei disso antes?)

publique-se já na Nature, não vá alguém gamar-lhe a ideia.

querida oito, explica lá, sff, aquela cena do acelerador de partículas e da reprodução do big bang, assim em versão contada ao povo e às crianças, pode ser?
mui agradecida.

sete e pico disse...

À ganda oito!
sempre quis saber mais de mecânica mas tive a confiança para ser autodidacta nisso, mas já temos mais um tema para a conversa do proximo jantar.

E já agora, junto-me à dizia ela baixinho, não queres dar um lamiré sobre a experiencia do bigbang num tunel em baixo da terra?

sete e pico disse...

terá sido o anónimo quem te perguntou se tinhas ficado sem gasolina?

Anónimo disse...

O anônimo teria perguntado se a menina necessitava de ajuda.

Ainda bem que falaram no CERN. Estava admirado não falarem nisso. E reparem na injustiça: um dos funcionários desse instituto, nos tempos livres, até criou algo que mudou o vosso dia-a-dia...

foi dançar a bossa nova disse...

Anónimo, não sei se o funcionário que criou o sistema WWW, como sistema integrado de comunicação/disponibilidade interna de dados, o fez no seu tempo livre, mas em todo o caso, aqui fica o louvor!