17 outubro 2008

A minha Alexandria

Nunca fui muito exigente. Bastava-me a selecção das minhas irmãs para me dar por satisfeita. Elas, furiosas da vida, eu contente porque poupava a mesada para nova compra de livros.

As sucessivas mudanças de casa fizeram com que me desfizesse sempre do que considerava mais acessório: a roupa e respectiva purga. Era tão bonita de se ver, eu até tinha um certo gozo malvado nisso. Ia tudo: sapatos, calças, saias, camisas, t-shirts, os tailleurs empandeirados por uma das minhas executivas manas ... As malas, os cintos, tudo. A cada mudança ficava num estado minimal de roupa. Leve e feliz.

Houve um dia, no entanto, em que o destino me traíu: aquilo que eu mais amava acabou por ficar numa casa onde morei por muitos poucos, tão poucos, meses. Sem hipótese de resgatar o que lá ficou.

Metade de mim continua nesse sítio sem nome. A minha alma habita o que ali ficou e, desde então, nunca mais encontrei o que demorei uma vida de 38 anos a construir:

Os meus livros (há quem lhe chame biblioteca).

E isto vale bem mais do que mil roupeiros de roupa de 3,5x2.

1 comentário:

Anónimo disse...

Compreendo bem...