14 dezembro 2008

capitalismo ao fundo, água...

Sou uma mulher pouco informada e não estou a par das actualidades políticas nacionais ou internacionais. Dentro da minha borbulhinha, vou ouvindo as pessoas falando, leio as noticias daqueles jornais gratuitos do metro e de quando em quando consigo ver um noticiário sem cair fulminada no sofá. Mas é impossível não ouvir falar da crise financeira mundial que anda na boca de toda a gente, ou não notar a insistência das notícias que mostram preocupação pela redução do consumo, ou as que todos os dias anunciam um novo banco que pede para ser salvo, ou os novos planos para salvar-nos da catástrofe mundial que se avizinha, ou as mais e mais pessoas desempregadas e as outras tantas com cada vez mais medo a perder o emprego. O sistema económico que durante anos especulou com o valor do dinheiro que produzimos, pede agora ao estado que o salve e o estado que antes lhe dava mais e mais reduções dos direitos laborais e sociais das pessoas que o alimentavam, solta agora grandes quantidade de dinheiro para salvá-lo da ruína. A nós, habitantes consumidorxs e produtorxs, dizem-nos que temos de consumir para salvar o mundo, prometem-nos que tudo vai ser como antes. Mas continuam a dizer-nos que temos de consumir para salvar o sistema que já está podre por toda a forma de produção e de consumo que construiu e que o vem devorando por dentro, que nos vem devorando por dentro. Todos os dias toneladas de comida são deitadas fora nas grandes cidades e todos os dias alguém morre de fome noutro lugar do planeta ou mesmo perto de nós. Todos os dias um peixe, uma tartaruga ou um golfinho morrem envenenados com um saco de plástico e todos os dias embrulhamos as nossas compras em resmas deles. O sistema económico está em ruptura porque durante muitos e muitos anos criou uma engrenagem doentia para os seres humanos e para o planeta onde vivemos, o sistema económico está podre porque nos seduziu com o verbo ter e nos fez esquecer de construir o verbo ser.
Não é consumindo mais que vamos salvar um sistema económico e uma ordem mundial que há muito tempo está moribunda, nem o planeta que habitamos, nem sequer a qualquer de nós. Ao contrário, é precisamente consumindo menos, dizendo que não queremos este sistema, conhecendo e fazendo reais os nossos direitos e xs dxs otrxs, equilibrando a distribuição das riquezas, respeitando e protegendo a natureza, admirando e aproveitando a diversidade social e cultural das pessoas com que nos encontramos, sendo mais felizes num dia de sol num banco de um jardim e não debaixo das luzes eléctricas de um centro comercial. Reinventando a solidariedade e a amizade e não perseguindo a competição sem ética.
Que se afunde de uma vez este sistema em que vivemos, e saibamos aproveitar as oportunidades de inventar-nos diferentes.

3 comentários:

jj.amarante disse...

Parece que não lhe tem feito grande falta essa tal de informação...
Nos anos 70 diziam, nessa altura em francês, que vinha aí a civilização dos loisirs. Afinal veio mas foi a dos workaholics. Quando é que as pessoas começarão a dizer que querem trabalhar menos?

mm disse...

concordo, concordo (com o post).
Só não bato palmas porque é triste que seja esta a sociedade e que os telejornais e jornais estejam mais interessaos em lavagens ao cérebro que em informação - eles anunciam que em Portugal o parque automóvel é menor que não sei em que país da Europa, como se isso fosse uma calamidade, qd no fundo só quer dizer que não precisamos, que deveríamos ainda ter menos carros e quem tem mais é que está mal.
Só mesmo uma crise a sério é que proteje o ambiente. Esta conseguiu pouco. E não falo por mim (que também ando de bolsos vazios).

Anónimo disse...

"Quando é que as pessoas começarão a dizer que querem trabalhar menos?"
chama-se movimento slow ... mas é opção q cá só tem quem pode