Na porta de um dos apartamentos do meu prédio coabitam uma imagem de Nossa Senhora de Fátima com um autocolante que diz não à entrada da Turquia na União Europeia. Gente estranha, pensei eu quando vim para cá morar.
Descobri que quem lá vive é uma senhora com mais de 90 anos que anda sempre sozinha. Muito magra e tímida, encolhe-se toda quando alguém passa por ela, quando a cumprimento na rua não me responde - não me deve reconhecer fora do contexto. Passa muitas horas sentada num banco do jardim em frente ao prédio, gostava de saber no que pensa. Por vezes quando me responde aos bons dias sorri, e nesse sorriso descubro uma alegria quase infantil, e imagino-a de tranças a andar de baloiço. Presumo que a santa mãe seja dela, a declaração de ostracismo de um qualquer neto ou sobrinho.
Um dia vi-a entrar com um rapaz volumoso, moreno, bigode, com um ar malandreco e autoritário. Sem dúvida o autor das afixações, que entretanto tinham aumentado com a publicidade a um campeonato de kick boxing, onde se mostravam 4 galfarros em poses ameaçadoras e possantes. Informação sem dúvida utilíssima aos 8 inquilinos do edifício.
Quando estava a tomar chá em casa dos únicos vizinhos da minha idade descobri que a D. Madalena de seu nome não tem netos e que os autocolantes se devem ao Jorge. Eles vivem mesmo em frente dela e um dia o Jorge começou a aparecer lá por casa. De início a D. Madalena dizia que era o seu sobrinho, e passado uns tempos começou a referir-se a ele apenas como “o Jorge”. O rapaz começou a ser visita habitual.
A senhora que era assídua nos pagamentos do condomínio e seguro começou a ser menos pontual e a acumular dívidas. Um dia a falar com esta vizinha disse “sabe, comecei a ter umas despesas extra. O Jorge acha que eu devo ter telefone, TV cabo, internet... começámos a fazer umas viagens, que o Jorge diz que a vida é para aproveitar enquanto cá estamos... além do mais, coitadinho, precisou de fazer uma operação à vista e como ele não tinha dinheiro eu paguei-lhe. A vida é para aproveitar, sabe”.
Depois da operação à vista o Jorge começou a aparecer menos. A D. Madalena continua a passear sozinha. A vida é para aproveitar enquanto cá estamos.
Descobri que quem lá vive é uma senhora com mais de 90 anos que anda sempre sozinha. Muito magra e tímida, encolhe-se toda quando alguém passa por ela, quando a cumprimento na rua não me responde - não me deve reconhecer fora do contexto. Passa muitas horas sentada num banco do jardim em frente ao prédio, gostava de saber no que pensa. Por vezes quando me responde aos bons dias sorri, e nesse sorriso descubro uma alegria quase infantil, e imagino-a de tranças a andar de baloiço. Presumo que a santa mãe seja dela, a declaração de ostracismo de um qualquer neto ou sobrinho.
Um dia vi-a entrar com um rapaz volumoso, moreno, bigode, com um ar malandreco e autoritário. Sem dúvida o autor das afixações, que entretanto tinham aumentado com a publicidade a um campeonato de kick boxing, onde se mostravam 4 galfarros em poses ameaçadoras e possantes. Informação sem dúvida utilíssima aos 8 inquilinos do edifício.
Quando estava a tomar chá em casa dos únicos vizinhos da minha idade descobri que a D. Madalena de seu nome não tem netos e que os autocolantes se devem ao Jorge. Eles vivem mesmo em frente dela e um dia o Jorge começou a aparecer lá por casa. De início a D. Madalena dizia que era o seu sobrinho, e passado uns tempos começou a referir-se a ele apenas como “o Jorge”. O rapaz começou a ser visita habitual.
A senhora que era assídua nos pagamentos do condomínio e seguro começou a ser menos pontual e a acumular dívidas. Um dia a falar com esta vizinha disse “sabe, comecei a ter umas despesas extra. O Jorge acha que eu devo ter telefone, TV cabo, internet... começámos a fazer umas viagens, que o Jorge diz que a vida é para aproveitar enquanto cá estamos... além do mais, coitadinho, precisou de fazer uma operação à vista e como ele não tinha dinheiro eu paguei-lhe. A vida é para aproveitar, sabe”.
Depois da operação à vista o Jorge começou a aparecer menos. A D. Madalena continua a passear sozinha. A vida é para aproveitar enquanto cá estamos.
2 comentários:
pois enfim...jorges!bah...
Tudo, infelizmente, coerente e dentro do contexto... :S
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